quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

"Age Of Lowered Expectations" - SAVE PLUTO!

Não espere aqui nenhum tipo de protesto formal contra o fato de astrônomos terem tirado de Plutão o status de planeta. Nem sons espaciais, viajantes vindos dos confins gelados do universo. Provavelmente o nome da banda, ‘Salve Plutão’, é só uma piada para tempos de ecologistas preocupados com tanta seiva derramada. E parte da diversão do pop afiado do power trio de Nova Iorque – que prefere falar de temas mais profundos, como garotos que correm atrás de garotas e invariavelmente tropeçam pelo caminho.

Shawn Moynihan (vocal e guitarra), Alan Miller (guitarra, vocal, teclados) e Gautam Peri (baixo, guitarra, vocal e teclados) apresentam seu álbum debute calcado em um power pop moderno, que às vezes esbarra ora no pop rock ora no rock alternativo. Talvez por isso mesmo, estejam mais aptos às paradas de sucesso – que recebem melhor sonoridades menos recheadas de referências retrô ou sessentistas.

Abre o disco “Impressed”, com riffs potentes escalando as estruturas pop da canção e explodindo no refrão colante, já deixando a chapa quente para a melodia ganchuda de “Everything You Need”, seu baixo sinuoso e chorus perfeito. “All Fall Down” chega plácida cheia de efeito nas guitarras feito um Travis da vida, mas depois atocha pressão no pedal de distorção. A autoria das composições é dividida pelos três integrantes, onde cada um canta seu rebento, o que traz uma certa diversidade de idéias e soluções melódicas.

“What If” tem pinta de hit, com suas doses calculadas de teor pop e rock. Ingredientes dispostos de maneira diferente em “Red Letter Day”, que traça toda a canção em linha rocker e adoça a receita no refrão. A pontada punk rock vem em “Where Did All Go Wrong?” e a ironia volta em “Worst Song Ever” – que apesar de se dizer “pior”, tem alguns dos melhores vocais e melodias do álbum. Falando em boas melodias, “When I Get There” traz o clima das bandas alternativas dos 90 e a bela acústica “Blinded” cativa e embala nos acordes do violão.

www.myspace.com/saveplutoonline

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Entrevista Exclusiva - The Red Button: "Grandes gravadoras minam sua criatividade e ainda levam seu dinheiro. Música pop deve ser espontânea!"


Em 2007 não houve site, blog, fórum, revista - que aborde o power pop - que não tenha se encantado com o álbum debute do The Red Button She’s About To Cross My Mind. O melhor do sixtie pop, não produzido nos sixties, estava ali. E, por trás das empolgantes canções pop perfeitas, estão dois artistas que já haviam editado seus próprios álbuns – seja em outras bandas, seja em carreira solo – e que uniram os talentos para formar o grupo: Seth Swirsky e Mike Ruekberg.

Conversamos com exclusividade, desde Los Angeles, com uma das metades da banda, o prolífico Seth Swirsky, que além de estar no Red Button, escreve livros sobre baseball, produz filmes em vídeo, pinta, faz peças com diferentes técnicas artísticas e compõe canções para pop stars como Rufus Wainwright, Al Green, Tina Turner, Celine Dion, Olívia Newton-John, Eric Carmem, entre outros. Swirsky falou de suas influências, processo de composição, sobre a repercussão positiva do álbum, o que ele pensa dos que chamam as bandas retrô de ‘derivativas’ e até revela seu candidato à presidência dos Estados Unidos. E para não perder a fama de super ativo, avisa que, ainda este ano, sairão o segundo disco Red Button e seu novo álbum solo.

Power Pop Station: Quando os Beatles se separaram, você tinha 10 anos de idade. Como a British Invasion e o sixtie pop influenciaram seu interesse musical naquela época?

Seth Swirsky: Música pop me faz feliz. E isso desde que eu era criança, quando minha mãe comprou singles de grupos como Mamas and Papas, Bob Dylan, só para citar alguns. Ela costumava colocar por horas a fio aquelas músicas incríveis, e repeti-las, de novo e de novo. E eu ficava deitado na cama ouvindo. Sempre AMEI canções pop – me sinto atraído por canções muito melódicas, simples, com belas harmonias, elas me fazem sentir bem.

PPS: Suas referências artísticas e musicais ficam muitas claras quando você ouve as músicas do Red Button. Mas alguns críticos musicais podem chamar o som da banda de “derivativo” ou “revivalista” O que você acha disso?

Swirsky: Eu não tento escrever uma “canção beatle”, mas esse é o estilo onde eu consigo escrever minhas melhores canções. Mais importante, eu apenas adoro as músicas que me fazem querer cantá-las – então eu não julgo se são derivativas ou não; eu julgo uma canção pela sua habilidade de me querer fazer tocá-la repetidas vezes, porque isso me transporta para um lugar feliz. Uma grande canção é uma grande canção. Os argumentos dessas pessoas, que julgam se bandas são derivativas ou não, são simplórios para mim; eu pergunto para elas: “vocês curtem as músicas ou não? – isso é tudo que importa. Isto te dá prazer?” Se a resposta for sim, quem se importa se isso é derivativo ou não? Eu apenas sempre me preocupo em escrever boas canções.

PPS: A maioria de nós sequer existia quando o pop sessentista dominava o mundo. Então, She’s About To Cross My Mind soa instigante e com muito frescor para a nova geração interessada em grandes canções pop. Talvez a palavra ‘retrô’ não faça muito sentido para essas pessoas...

Swirsky: Bacana... bem, se o Red Button passa um bom sentimento para as pessoas, fico feliz!

PPS: Você é reconhecidamente um hit maker – tendo escrito canções para vários artistas do mainstream. Por outro lado “She’s About...” saiu de forma independente. As grandes gravadoras não mostraram interesse me lançar o disco ou você não estava interessado em lançá-lo por uma major?

Swirsky – Eu não estava interessado em majors. Eles tiram a diversão em se fazer um disco. Nós gostamos de decidir quais canções devem estar no disco – assim como nós adoramos fazer a capa do álbum. Toda decisão de uma gravadora é tomada depois de dez reuniões! Isso é loucura. Música pop deve ser espontânea: você sente algo, escreve uma canção sobre isso no violão, você grava isso. Próxima emoção, próxima canção… Gravadoras minam a criatividade e ainda levam a maior parte do seu dinheiro.

PPS: Falando sobre o mainstream, porque você acha que o power pop não alcança o topo com sua enorme capacidade pop? É muito derivativo, não é afiado o bastante para a juventude de hoje em dia ou o quê?

Swirsky: Ótima pergunta... Mmmmm... A música reflete o tempo em que você vive. Antes, as pessoas tinham mais tempo para curtir canções, em oposição a hoje em dia, onde seu Blackberry e seu parceiro precisam da sua atenção – assim, música AGORA é mais sobre um pano de fundo da sua vida, um “papel de parede”. Mas ainda existem algumas canções pop procurando seu espaço no meio disso tudo.

PPS: Que bandas você está escutando em casa atualmente?
Swirsky: The Clientele, The Afternoons, Keren Ann são meus três favoritos no momento. Canções fortes e melódicas, grandes vocais e grandes vibrações – todos os três são deliciosos.

PPS: Norman Smith (engenheiro de som e produtor da EMI nos anos 60) disse que se o Red Button tivesse aparecido nos anos sessenta, ele teria assinado um contrato com vocês... não hoje?

Swirsky: Acho que o espírito da citação de Norman foi que nós nos encaixaríamos perfeitamente àquela época, em que ele estava fazendo a história do rock sendo o principal engenheiro de som dos Beatles por cinco anos e produzindo os três primeiros álbuns do Pink Floyd. Isto é um grande elogio para Mike e eu.

PPS: Seth, você é músico, compositor, escritor, vídeo-maker, pintor, artista-plástico... Seu dia tem 30 horas?

Swirsky: Bem, eu me levanto às 7:30h toda manhã e vou dormir depois da 3:00h da madrugada. Então, estou mexendo nos vários projetos que tenho – você sempre tem de levar as coisas adiante por você mesmo.

PPS: Não satisfeito, você ainda escreve sobre política em um blog... A propósito, qual o seu candidato nas próximas eleições americanas para presidente?

Swirsky: O mundo está muito complicado atualmente, difícil de navegar. Então, acho que alguém com muita experiência é alguém que devemos procurar. E, este ano, suponho que este seja John McCain.

PPS: Como começou sua parceria com Mike Ruekberg? Fale-nos sobre seu processo de composição.

Swirsky: Nos conhecemos nas sessões de gravação do meu primeiro álbum solo Instant Pleasure, em 2003. Nós temos uma maneira legal de composição: eu escrevo o começo da maioria das canções – os ganchos, alguns versos, alguma letra. Ele pega isso e finaliza as músicas. Às vezes ele escreve toda a letra, novos versos, pontes. Eu trago muito de Paul McCartney com um pouco de Donovan, enquanto ele traz bastante de John Lennon e um pouco de Elvis Costello. Mix divertido, hein? Claro que não somos esses artistas nem pretendemos ser. Mas, obviamente – e não temos vergonha disso – somos muito influenciados por eles. Depois de concordarmos se gostamos da canção, Mike grava a música (ele é nosso produtor). Então eu canto, toco guitarra e piano. É um processo divertido.

PPS: “Hopes Up” e “Gonna Me You Mine” são duas da melhores canções do ano. A perfeição pop delas talvez não alcancem o topo da paradas atuais, mas você acha que estas músicas poderiam ser um grande sucesso comercial 40 nos atrás?

Swirsky: Eu acho que teríamos tido a chance de ser Top 10 naqueles anos. Mas, eu gosto que o álbum tenha saído agora e não naquele tempo. Ele vem de uma emoção honesta de ‘agora’ – eu nunca penso “e se” ou “poderia ter sido”. Apenas fico feliz de podermos ter feito o álbum.

PPS: She’s About… aparece nas listas de “melhores do ano” dos principais sites/blogs de power pop de todo o mundo. O que você achou dessa repercussão?

Swirsky: Fiquei muito emocionado. Fico feliz de imaginar as pessoas cantando nossas músicas.

PPS: E os meios de comunicação ‘poderosos’, você sabe o que eles acharam do disco?

Swirsky: Nós tivemos ótimas críticas, o que, é claro, me deixou feliz. Mas, eu não presto muita atenção para qualquer um deles: fico muito mais feliz compondo, cantando e gravando. Alguns grandes meios escreveram sobre nós: The L.A. Times, Uncut Magazine, Amplifier, Shindig. É divertido ser resenhado, é divertido que tenham gostado – e mais divertido ainda é criar.

PPS: Vocês já estão trabalhando no novo álbum? Se sim, conte-nos a respeito da novas músicas e quando pretendem lançá-lo.

Swirsky: O novo disco do Red Button está praticamente pronto. Vem recheado de canções melódicas. Não será o mesmo que o primeiro álbum – provavelmente um pouco ‘menos Rickenbacker’. Mas, para nós, é tudo baseado em canções – se você pode cantá-las ou não. É assim que nós vamos escolhendo nossas músicas e, até agora, estamos extremamente felizes com o que gravamos. O disco deve sair no outono de 2008 – talvez setembro ou outubro. Tivemos muita diversão gravando este disco, assim como no tivemos no primeiro.

PPS: Me parece que você também já prepara seu próximo álbum solo...

Swirsky: Tem um cara chamado Rick Gallego, que tem uma banda, o Cloud Eleven. Eu descobri sua música quase ao mesmo tempo do lançamento do álbum do Red Button em 2007. Me apaixonei pelo som (e canções!). Então, nos tornamos amigos. Ele é um cara sensacional. Tenho umas canções que acho que são mais para mim que para o Red Button, então decidi fazer meu segundo disco solo (Instant Pleasure foi o meu primeiro, lançado em 2004). Perguntei ao Rick se ele gostaria de produzi-lo e ele disse que SIM. Não gravamos nada ainda – apenas reunimos algumas canções – mas planejamos começar no mês que vem e imagino que deverão estar disponíveis no outono. Estou muito feliz com as canções que estarão no disco. Será um álbum simples, honesto – e terá a participação de algumas estrelas convidadas, então, fiquem ligados no meu site, Seth.com, para mais informações.

PPS: Deixe uma mensagem para seus fãs brasileiros!

Swirsky: Eu tenho muitos amigos brasileiros – o povo mais “pra cima” que conheço – realmente divertidos! Todo AMOR para vocês.

http://www.theredbutton.net/
www.myspace.com/theredbuttonband
http://www.seth.com/

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

"Makes You Look Around": THE TRIPWIRES!

Seattle continua sendo lembrada como a cidade do grunge, mesmo 14 anos depois de ter sido o estilo enterrado junto com seu ídolo máximo, Kurt Cobain. No Brasil talvez pouca gente saiba que no início dos mesmos anos 90 - que elevaram o rock de flanelas ao topo das paradas - surgiam em Seattle bandas de altíssimo teor pop, guitarras flamejantes e nenhum reconhecimento comercial. Da cidade, inclusive, veio uma das grandes forças que ajudaram a reerguer o power pop nos EUA e no mundo: o Posies. Na mesma época pipocavam na cidade preciosidades como Fastbacks, Young Fresh Fellows, Minus 5, SuperDeluxe, Model Rockets... E é do núcleo duro desta última que surgiu o Tripwires.

O guitarrista, cantor e compositor John Ramberg havia entregue, com seu Model Rockets, um dos melhores discos de power pop de 2002: “Tell The Kids The Cops Are Here”. Agora, com o Tripwires, mudou a proposta sonora, mas continua com a verve pop intacta. Para este “Makes You Look Around”, recrutou os chapas de outros projetos Johnny Sangster para a guitarra, Jim Sangster para o baixo e Mark Pickerel para bateria. Contou ainda com o auxílio luxuoso do onipresente Scott McCaughey (Minus 5, Young Fresh Fellows, R.E.M...)

Já na faixa de abertura fica claro que o Tripwires não é o Model Rockets. “Lessonpony” rasga com um rock clássico de guitarras insinuantes e traços de blues na massa instrumental. “Arm Twister” segue na linha básica do rock de raiz, mas lampeja a criatividade pop de Ramberg no refrão, deixando o caminho aberto para os vocais harmônicos e clima de canção pop perfeita de “Big Electric Light.” “I Don’t Care Who You Are” soa como canção nova do Model Rockets, recriando a aura dourada do power pop clássico e estendendo a atmosfera à gema pop de menos de três minutos “Comedienne”.

E aqui todo mundo se pergunta porque Ramberg não carregou com mais carinho a mão no pop – como fazia na ex-banda – já que continua mostrando a sua capacidade em manipular belas melodias? Então aqui vai a resposta: “I Hear This Music” vem com um dos refrões mais inspirados e cativantes da temporada, para acompanhar de joelhos – doídos, porém agradecidos. “Johnny Get Gone” é roquinho despretensioso, mas gracioso na voz sempre agradável de Ramberg. Que indica a intenção cristalina na diferença de proposta do Tripwires em relação ao Model Rockets quando escolhe o rock envenenado de Chuck Berry “Tulane” para coverizar e o rockabilly animado de “Sold Yer Guitar Blues” para encerrar o álbum.

www.thetripwires.com
www.myspace.com/thetripwires

domingo, 17 de fevereiro de 2008

"Can You Hear The Myracle Brah?"- MYRACLE BRAH!

Não deve ser fácil levar o nome de uma banda nas costas. Além da enorme energia criativa dispendida, autor e obra acabam se confundindo, se fundindo numa coisa só. Ou não... Se a tal banda for na verdade um trabalho solo travestido de “grupo”, a transpiração permanece alta, mas o autor É a obra. Caso do cantor-compositor-produtor de Baltimore Andy Bopp e seu Myracle Brah. “Banda”, aliás, já considerada clássica no power pop moderno. Chegando ao sexto álbum com Can You Hear The Myracle Brah?, Bopp continua impressionando com sua capacidade em compor canções pop perfeitas, singelas e emocionais ao mesmo tempo. É como alguém já disse por aí, sua voz soa “meio Alex Chilton meio John Lennon”. Chilton pela emotividade que coloca nas interpretações e Lennon pelo timbre e o dom de dominar os meandros da composição pop. Claro fica que, as maiores referências do Myracle Brah, são a trinca mágica dos três Bs: Beatles-Badfinger-Big Star. Mas quem conhece a discografia da banda sabe que o Miyracle Brah soa a... Myracle Brah.

Andy Bopp toca todos os instrumentos no novo disco (a não ser a bateria, a cargo de Greg Schroeder, que também toca no Starbelly) e, como de costume, assina a produção.
Abrindo o álbum, “No More Words” traz sonoridade clássica, acordes brilhantes, clima emocional em pouco mais de dois minutos. “First Kiss” é guiada pelo piano seguido pela guitarra acústica e a voz indefectível de Bopp, que aparece pairando soberana com um mero pedido de desculpas. O riff inicial já prenuncia um hit de alto calibre, confirmado no refrão emotivo e pop de “Big Mistake”. “Tran Sister” inverte o clima, atocha a distorção e bate com vontade pouco comum na discografia do grupo. Segue-se uma tríade de canções comoventes que contam estórias de amor e despedidas, mas sem perder o apelo pop: “The Night Belongs To You; “Angellen” e “Goodbye World”.

Bopp aciona novamente sua bipolaridade musical, solta as guitarras invocadas, manda espancar a bateria para dizer que no fundo, no fundo “Big Kids Wanna Rock”. Aí, claro, para logo depois aliviar na balada, pontuada por uma slide guitar, “Run To The Voices”. E se é rock que os garotos grandes querem, Bopp despeja o rockão setentista valvulado neles: “You’re Full Of Strangers”. Um pouco de distorção e boas melodias na cadenciada “A Traveling Song”. Mais uma tríade, agora de power pops perfeitos: a levada contagiante e o refrão colante de “Best Friend”; a batida de piano envolvente e a melodia graciosamente bela e ingênua de “Hurry Now”; e a maestria pop entremeada pela energia das guitarras em “Walking On Water”. Fechando o disco, mais um rock de beira de estrada, poeirento e com cheiro de whisky barato, “You’re My Heaven”.
E Andy Bopp mostra sua versatilidade, não só tecnicamente como compositor, mas na facilidade em captar ambiências emocionais, hora tão carregadas, bonitas e simples, hora desleixadas, leves e divertidas. Mais um disco clássico para o panteão do power pop.

www.myspace.com/andybopprock

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

"Automat": AUTOMAT!

Se você for à página pessoal do líder do Automat, David Doll, e bater o olho nas três primeiras linhas do seu perfil, já vai ter desvendado a que veio o cantor-compositor inglês. Diz lá: “No mundo de David, os Beatles continuam trabalhando duro no disco sucessor de Let It Be e os Monkees estão na terceira temporada da sua série de TV...” Aí você vai pensar: “esse cara deve ser um coroa nostálgico vivendo do passado...” bom, aí eu te digo: garanto que ele não tem trinta primaveras... Mas tudo isso é para dizer que este é mais um jovem enfeitiçado pelas belas melodias e simplicidade instrumental criadas há mais de 40 anos atrás.

A história do álbum, lançado em 2007, na verdade começa em 2005, quando Doll lançou um EP como artista solo e que já continha quatro músicas deste álbum debut do Automat (nome, aliás, que remete a bandas eletrônicas...). Nove músicas mais – todas de autoria de Doll – e o disco de estréia sob o novo nome estava na praça. E o que surpreende aqui é o fato de o grupo ser de Londres, a cidade dos grandes hypes e que normalmente não acolhe bem bandas com o perfil – retrô? - de Doll, e, por extensão, do Automat.

E quem se importa com isso? “I Don’t Mind”, faixa de abertura, já chega cheia de pose pop, com refrão adesivo e radiofônico, mostrando o quanto a mídia inglesa perde virando as costas para o power pop local. Para eles, Doll deixa o “la-la-la” da canção... Imprimindo seu vocal com personalidade, o líder do Automat capricha no teor melódico, sem exagerar na distorção e ganha outra vez no refrão campeão de “Everything I Wanted”. Apesar do gosto - que alguns chamariam de “ultrapassado” - de Doll, modernizar o passado é evolução: guitarras espetando a trama melódica até todo mundo cantar junto no ‘sha-la-la-la’ contagiante de “Comeback Special”.

Em “Long Way To Go”, se o baixo imprime distorção, os violões acompanham os passeios da guitarra, as harmonias vocais flutuam serenas e as melodias abençoam o artesanato pop do compositor. “Sleep” traz outro refrão candidato a hit - para confirmar o que o próprio Doll disse: ele gosta de canções que te dão vontade de ouvir outra vez, outra vez e outra vez. “Whatever Happened” é balada acústica das harmonias angelicais e “Round and Round” a balada das grandes audiências e isqueiros acesos no refrão. A belíssima instrumental bônus, ataca nos riffs de guitarras torneados por ‘uh-uh-uhs’ querubínicos.
Que não anunciam em lugar nenhum o melhor segredo guardado de Londres...
Tomara só que ninguém conte a David Doll que o sonho acabou, os Monkees desceram das árvores e os Beatles já bateram asa. Porque queremos mais Automat, e em breve.

www.myspace.com/automatmusic
www.myspace.com/daviddoll
www.daviddoll.com

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

"Nobody Likes A Winner": THE BREAKUP SOCIETY!

A frase “só sei que nada sei” aplica-se como uma luva quando achamos que já vimos tudo. Porque, de repente, do nada, aparece uma banda que já estava lá a pelo menos um disco e... passou em brancas nuvens pelo nosso pretenso “conhecimento enciclopédico de power pop”. E isso acontece pelo menos... todo dia!
É o caso da banda de Phoenix, Arizona, The Breakup Society, que teve seu álbum debut James At 35 elogiado por toda a crítica e que trazia pelo menos um hit impressionante: “Robin Zander”. Como antes tarde do que nunca, aqui o segundo disco do grupo liderado por Ed Masley, Nobody Likes A Winner que foi gravado no deserto de Mesa, no Arizona, mas em nada tem de árido ou escaldante em suas composições. Ao contrário, a brisa das boas melodias sopra generosa.

A faixa de abertura, que é também faixa título, revela o vocal rascante de Masley e sua facilidade em criar harmonizações vocais intrincadas. Com mais de cinco minutos de duração, o opus pop “How Failure Saved Me From Myself” lembra as canções climáticas e cheias de nuances do álbum do Minus 5 com o Wilco. “13th Angry Man” canaliza e libera energia rocker acumulada. “This Little Tragedy” traz clima de certa tristeza mas, ao mesmo tempo, de acalento, como quando reencontramos pessoas amadas. Rock simples e direto só para pogar e acompanhar o refrão: “Another Candlelit Night”.

“By A Thread” é cantada por Scott McCaughey, integrante do Minus 5, Young Fresh Fellows e músico que acompanha o REM em turnês e no estúdio. Talvez aqui se explique porque a sonoridade do Breakup Society se aproxima tanto, em vários momentos, da do Minus 5. O que não é diferente nesta canção, de belíssimas melodias e passagens instrumentais. Características estendidas à também agradável “I Didn’t Mean To Wreck Your Day”. Os trumpetes do refrão de “Forget The Past” casam bem com a batida “alternativa noventista”. A singela e delicada “This Doesn’t Matter” dá boa noite encerrando o álbum sob um manto celestial de violinos.

www.thebreakupsociety.com
www.myspace.com/thebreakupsociety

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

"Obsessed": DAVID BROOKINGS!

“Casamentos, festas privadas, apresentação em barzinhos, e show acústico, qualquer coisa que você precise – nas possibilidades de um show acústico solo – por favor, mande uma mensagem”. Não sei se, lendo o anúncio acima, me pergunto a quantas anda a justiça divina – porque a humana nunca existiu - se, mesmo no país das oportunidades, o talento foi sobrepujado pelo negócio; ou se, é simplesmente mais um músico tentando ganhar a vida e sustentar a família. Talvez um pouco de tudo isso.

Alguns meses atrás, entrevistei o cantor compositor de Memphis David Brookings aqui no Power Pop Station. Tinha ficado intrigado com um sujeito que é guia turístico do mítico Sun Studio (onde ele gravou os três álbuns anteriores e vende seus CDs aos visitantes), faz seus bicos como no anúncio acima – retirado do seu MySpace - e ao mesmo tempo é um artesão da canção pop perfeita. Na verdade, continuo.

Assim como os outros discos, - que venderam pouco mais de mil cópias cada - Brookings gravou por conta própria este Obsessed. Vocais, guitarras e algum piano ficaram por sua conta, enquanto o resto da instrumentação foi divido com amigos.
Abre o álbum “I’m Not Afraid”, que tem haver com seguir em frente, agora com uma família completa, mesmo sem saber o que te espreita. Guitarras brilhantes, melodia envolvente, lembrando sempre que ronda a influência Beatles, mas que a voz agradável e doce de Brookings já dá personalidade à sua música. “Get Behind Me” prepara trama melódica contagiante, refrão pop até a medula emendando na belíssima acústica e reflexiva “Obsessed” – e mais uma canção que não deixa o dedo sair do repeat. “Distance To Get Closer” que o próprio Brookings chama de “rock psicodélico”, mas vai mais prum roquinho de balanço sessentista, sem estados alterados.

Melodia cantarolante, harmonias vocais adornando o refrão, guitarras espetando de leve, batida vigorosa e “I’m In The Future Today” é… power pop! Depois, valsa-pop-sessentista com direito a piano e 'la-la-las': “Tough Crowd”. Arranjo de cordas, e um teclado barroco para a onírica “What’s Wrong With Nikki?”. E neste ponto, nós é que perguntamos: o que há de errado com as pessoas? Como David Brookings pode estar se apresentando em casamentos enquanto Britney Spears está milionária? “They Don’t Want You Around” poderia tranqüilamente estrelar qualquer trilha de seriado americano, “Don’t Get Sad” embalar o coração de milhões pelo mundo afora e “The Festival” escalar paradas pop e fazer todo mundo cantar seus ‘na-na-na-nas’. Não nesse mundo, meu chapa. “When It Goes Down” possa talvez refletir a insatisfação de Brookings com isso tudo, mas se esmera para fazer a competência pop da canção se sobressair. Até entrar a sutileza acústica, tocada pela inspiração, na homenagem à filha “McKinley Gail”, encerrando Obsessed.
E eu fiquei aqui pensando: quanto será que custa trazer David Brookings pro meu casório?

www.davidbrookings.net
www.myspace.com/davidbrookings

domingo, 3 de fevereiro de 2008

4-Track Demos: "Where You Are - EP" e "The Adam Daniel Frequency" - ADAM DANIEL!

Depois de assombrar o mundo (power) pop com o lançamento de Blue Pop (1999), um dos clássicos dos anos 90, o americano Adam Daniel ficou sumido do cenário musical.
Reapareceu em 2006 com um EP e um álbum, numa espécie de série ‘4-track demos’. Ambos disponibilizados apenas para download e no próprio ano de lançamento (graças à gentileza de Adam, consegui cópias em CD). Até hoje muitos fãs de Daniel imaginam que Blue Pop é seu único trabalho, mesmo considerando que os títulos a seguir sejam titulados como trabalhos demo – o próprio artista conta os discos como parte de sua discografia.

Where You Are basicamente reúne meia-dúzia de baladas guiadas por piano em tons melancólicos, mas que deixam vestígios do estilo autoral de Daniel já percebidos em Blue Pop. Destaque para as belas “Star Dust (2002)”, “Lullaby” e “Soundtrack”. Mais empolgante é o álbum (ou coletânea de demos) The Adam Daniel Frequency. Que já abre com uma pegada meio jazzy e despeja adrenalina no refrão de “Cameo”. “It’s Automatic” entraria fácil em Blue Pop, com sua melodia leve e feita para as ondas do rádio. A climática de refrão envolvente “Breathe”, atesta que Adam conseguiu cunhar estilo próprio. Outra que tem cara de clássico, e que seria destaque até em no disco de 99, é “Supernova”, acordes contagiantes, melodia forte e memorável – emociona.

“Captain Hallucination” acelera a levada na batida ritmada e refrão perfeito. E o desfile de gemas pop continua - e assusta pelo fato de como podem ter passado despercebidas por mais de um ano: “Fade Right Out”, “Gently”, “Here Right Now”. No todo, 14 canções que, na verdade – do modo como foram disponibilizadas - devem ser um apanhado de músicas produzidas de maneira esparsa ou sobras de Blue Pop. Porque Adam Daniel está trabalhando em suas novas composições, e, essas sim, deverão ser consideradas seu “novo álbum”.

www.adamdaniel.com
www.myspace.com/adamdanielmedia