quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

"Jigsaw Days": THE WELL WISHERS!

Se existe alguém no power pop que “joga nas 11”, esse é Jeff Shelton. Líder da cultuada e veterana banda de São Francisco Spinning Jennies, Shelton tem sua própria carreira solo com o The Well Wishers e ainda leva um programa de rádio chamado The Power Pop Show (onde toca as principais novidades do power pop mundial e faz entrevistas com músicos do estilo). É o verdadeiro power popper que está na frente e atrás do balcão: é artista e fã. Não é a toa que ele me mesmo se define, em seu programa de rádio, como ‘Mr. Power Pop’.

Com o The Well Wishers, Shelton chega ao quarto álbum Jigsaw Days, gravado em seu estúdio, e que contou com o baterista dos Jennies, Nick Laquintano. Depois de um trabalho mais rascante no disco de 2007 How I Won The War, Jeff devolveu um pouco de doçura ao Well Wishers. Que traz como maior referência o fundamental Posies. Em diversas faixas a voz de Shelton, e os cacoetes vocais, chegam muito perto do timbre de Ken Stringfellow.

Como já fica claro na faixa que abre o disco “Heroes”: poderia fácil se uma canção clássica dos Posies. Crescendos, melodias envolventes e guitarras brilhantes. “All The Suckers” segue a trilha e novamente remete à banda de Seattle. “Conscience Breaking Down” vem com uma batida extremamente contagiante e, na bela acústica “Florida”, Shelton apresenta suas credenciais como grande compositor pop.

A distorção cai matando em “Moving Mountains”, mas não faz tantos estragos: a suave voz de Shelton trata de domar as guitarras nervosas. Outra que soa como um clássico dos Posies é a melódica e emocional “Love Lies”. “I Don’t Know” e “Poor Old Man” confirmam a paixão obsessiva de Shelton pelas melodias adesivas adornadas por camadas de guitarras distorcidas. O que é muito compreensível, afinal de contas, ele não é o Mr Power Pop?

www.myspace.com/thewellwishers
www.myspace.com/powerpopshow

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

"Popmonster": GREG POPE!

Das margens do rio Cumberland, ruge o álbum mais aclamado de 2008 no mundo power pop. Dizem que a unanimidade é burra, mas a força descomunal deste verdadeiro monstro pop mostrou que, à vezes, a unanimidade é inevitável. Fruto da mente de Greg Pope – líder da banda de Nashville Edmund’s Crown – Popmonster consegue um impressionante equilíbrio entre o poder vigoroso e sem firulas do rock com a delicadeza e o contágio imediato das melodias pop.

Pope tocou todos os instrumentos, fez todas as vozes e produziu sua cria, como ele diz, pessoalmente. Não se escondeu sob as cortinas da superprodução: pelo contrário, deixou que tudo soasse o mais natural e cru, de forma que as composições se sobressaíssem pela própria essência. E Greg Pope conseguiu que o álbum soasse... clássico! São chimbals chiando agressivos e concentrando energia contra vocais harmônicos dispersando a tensão; são guitarras cuspindo distorção contra melodias adoráveis que adesivam corações.

E assim abre o disco a flamejante e energética “Sky Burn Down”, que parece ter Keith Moon espancando a bateria com o Badfinger tocando à frente. “Lost My Friend” traz melodia clássica e guitarras rosnando aqui e ali. Pontuando com vibrafones, “Playing Nashville” se contrapõe na batida rápida e clima emocional do magnífico refrão. A belíssima power ballad “The Only Thing I’ve Got” poderia estar entre as pérolas eternas do Big Star. “Burden” realça as raízes americanas e a sensacional “All Day Long” é acústica e valvulada; suave e feroz, em partes iguais.

Voz, violão e bateria; teclados; harmonias vocais celestiais; refrão envolvente e melodia memorável: “Only One You”. Aqui é o meio do álbum, que vem sabiamente dividido em Lado A e... continuação do Lado A. Não há espaços para “Lados B”, só hit singles cabem aqui.“Little Things” oferece refrão sessentista contagiante; o baixo, a sonoridade das guitarras e a levada de “Magic Show” remete aos anos 80. “Reason With You” anima a festa com seu power pop infeccioso e, as raivosas “New Song” e a instrumental “Kickin’it”, despejam pura adrenalina rocker. A reflexiva “Backwards” fecha Popmonster, deixando a certeza que o rugido pop da criatura ainda vai assombrar muita gente por anos a fio nos quatro cantos do mundo.

http://gregpope.net/
www.myspace.com/edmundscrown

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

"Horses For Courses": CLASS THREE OVERBITE!

Desde que os Beatles criaram e fixaram o conceito de música pop na cultura ocidental, diversos estilos se originaram da pedra fundamental. Seguiram caminhos diferentes, agregaram novas experiências, mas mantiveram o principal: o apelo pop. Com a dificuldade de criar-se algo realmente novo, o caminho foi misturar elementos antigos para um resultado, se não inédito, pelo menos diferente e pessoal. É o caso deste Horses For Courses, segundo álbum da dupla de Michigan Michael Elgert e Bradley Jendza.

O caminho já havia sido indicado no álbum anterior, Rendezvous: chegar a um disco inclassificável no quesito rótulos. Juntar as peças de forma criativa e inteligente para forjar uma coleção de canções autorais com personalidade. Você já ouviu o Queen e conhece bem os Beatles. Que tal, então, os dois ao mesmo tempo agora em “Chasing The Rabbit”? Já a grandiosidade de “Sunshine”, em seus coros vocais e arranjos instrumentais, nos remete ao ELO, sem esquecer de que se trata do Class Three Overbite. Já a bela, suave e acústica “Show The World” é a “Blackbird” do disco.

“Reptile” vai na batida do piano, em ritmo de valsa e clima teatral à la Jellyfish. “Porn Addict” pula para outro universo e passa pelos falsetes de Prince, desembocando na balada recheada de ricas harmonizações vocais “Million Dollars”. A climática e reflexiva “Wait For Me” contrasta com o peso de “She’s Make A Decision”, e os wah-wahs espertos da guitarra de “Lex Luthor”, antecedem a faixa final, a poderosa balada “You’d Better Love”.

www.classthreeoverbite.com
www.myspace.com/classthreeoverbite

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

"Restless": THE SMITH BROS!

Não seria exagero afirmar que a amizade é mais nobre e desinteressada das relações. Ainda mais quando ela está solidificada sobre uma paixão em comum. Do amor incondicional dos amigos Mike Clark e Pat Dollenmayer por Beatles, Elvis Costello, Teenage Fanclub, Raspberries, etc, etc, etc, surgiu o The Smith Bros. Que mesmo a mercê da dinâmica da vida dos seus integrantes – uns se casaram, outros tiveram filhos - manteve o núcleo criador da banda unido pela força catalisadora da música.

Convictos power popers de Ohio, Clark e Dollenmayer se uniram a Kris Phillips e Brian Pack para forjar seu novo álbum – mais de sete anos após o lançamento do debute Lost. Restless extrai seu poder do enorme manancial de referências e influências, do passado e do presente, que nutre o Smith Bros. Também a direção consciente e coerente que os principais compositores (Clark e Dollenmayer) dão às canções, confere uma consistência sônica ao álbum: eles querem melodias, melodias e melodias, agregadas a harmonias, harmonias e harmonias.

Como na faixa de abertura, a adesiva, ligeira e adorável “How Wrong You Are”. E a coleção de melodias empolgantes e memoráveis começa a se desenhar: “Down To You”, “Under My Skin” (que já aparecia no IPO Eleven) e ‘Talk Of The Town”. O colar de pérolas pop vai se formando, em 15 canções que cativam o ouvinte e compensam plenamente a longa espera pelas novas canções do grupo de Columbus. Músicas que poderiam, fácil, ter alta rotatividade em FMs do mundo todo (fizeram inclusive uma música/jingle incrivelmente radiofônico e contagioso, chamado “Pop Garden Radio” em homenagem a rádio de mesmo nome).

“Too Long”, por exemplo, traz harmonias vocais perfeitas e palminhas sessentistas. “You Did At All” tem ecos da mestria pop do Velvet Crush e a bela “My Great Regret” adiciona notas de piano à perfeição pop da canção. A acústica e reflexiva “Daydream” encerra a “parte oficial” álbum com seu bem tramado jogo de vocais. De faixa bônus, o contagiante country-pop “Guess And Wonder”, que se coloca como a última gema dessa jóia pop chamada Restless.

www.thesmithbrosmusic.com
www.myspace.com/thesmithbrosmusic

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

"Sweet Action": THE AFTERNOONS!

A fixação dos moradores do hemisfério norte em sol e verão já não é novidade. Nem o poder das estações no clima e humor de um disco. A busca do ser humano por ambientes menos hostis e sentimentos de bem-estar acaba por refletir na produção musical de um lugar. E é o que acontece com a banda de Cardiff, País de Gales, The Afternoons, em seu quarto álbum Sweet Action. Se o disco anterior se chamava Rocket Summer, este tem canções sugestivas, como “High Summer”, “The Ghosts Of Autumn”, “The Sun’s Coming Out In Your Heart” e “Winter Is Dead”.

O quinteto liderado por Richard Griffts forjou suas sonoridades baseado em duas paixões confessas: Teenage Fanclub e Roxy Music. O que a princípio pode soar como uma mescla incompatível ou esquisita, mostrou-se bastante apta ao meio pop. Se fundem atmosferas reflexivas com pegadas absolutamente pop e criam um som peculiar. O que traz personalidade ao som do Afternoons, reconhecível em meio à profusão descontrolada de bandas no mundo.

“Second Chance” abre o álbum com um baixo distorcido, e um vocal carregado de emoção, eloqüente, lembrando um pouco U2 ou Brian Ferry. Teclado batendo em clima up, com belos backing vocals da baixista Sarah Ripi no refrão, até os “tchuru-tchrurus” da empolgação pop de “Giving On You”. A macia canção-título antecede a energética e doce “Touch And Go”. “The Could Star Over” traz teclados pontuando e um refrão que novamente lembra os momentos épicos e emocionais do U2 oitentista.

“Don’t Turn Back (Open Your Eyes)” vem com uma melodia memorável e refrão de beleza estonteante. A adorável “The Sun’s Coming Out In Your Heart” realmente aquece corações e a delicada e reflexiva “Where The Arrow Fall” conta onde a flecha acerta. A sensível balada ao piano que fecha o disco, “Winter Is Dead”, poderia estar no topo da paradas - contando que os corações gelados do hemisfério norte dão lugar a floridos sorrisos quando chega a primavera.

www.theafternoons.com
www.myspace.com/theafternoonsuk

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

"In Rhi-Fi": THE RHINOS!

Algum tempo atrás, quando falei com Lasse Hindberg (via MySpace), o líder do Rhinos disse: “o inverno sueco está chegando... gostaria de estar no Brasil!”. Desejo que reflete com perfeição o espírito do Rhinos: cidadãos da fria Suécia que veneram as sonoridades vindas da Califórnia sessentista e as sensações de bem-estar que elas trazem. Está claro que o quinteto de Malmö não busca o estrelato, fama ou dinheiro, mas apenas a oportunidade de exercitar sua paixão pelo pop dos anos 60 e se (nos) aquecer sob o sol da costa oeste americana.

Então soam como os heróis dos Byrds e suas Rickenbakers de 12 cordas, sendo uma banda sueca dos anos 2000. Alguns críticos não entenderam a proposta do grupo (os insensíveis, míopes e mercenários críticos de sempre da imprensa mainstream) nem respeitou a honestidade e dignidade de bons amigos que se juntaram apenas para fazer boas canções pop. E depois poder registrar tudo isso e colocar a disposição dos amantes das belas melodias.

In Rhi-Fi chega cinco anos depois do debute Year Of The Rhinos, e acertou no título: eles fazem o clássico, mas do seu modo. Para quem não conhece o grupo, a primeira audição remeterá imediatamente aos Byrds; mas quem já os tinha ouvido antes, Rhi-Fi soará claramente como... os Rhinos! Como na faixa de abertura “Everything That She Believed”, onde guitarras doze cordas duelam com órgãos e são adornadas por harmonias vocais perfeitas. Já o refrão de “PTO” não deixa dúvidas que Lasse continua afiado na arte do pop.

A belíssima “For Just Another Hour With You” encanta na melodia adorável e mostra que os Rhinos também gostam de Brian Wilson/Beach Boys. A sonoridade do dedilhado da guitarra brilha em “Love (The Strange Thing)” e realça a beleza melódica da canção. “Before I Set You Free” lembra a clássica “There She Goes” do LA’s, só que mais up. Um órgão de igreja e uma guitarra cheia de efeito flanger abrem “My Town”, e a sensibilidade barroca guia “She Presents The News”.

A inspiração dos suecos continua sólida, exalando notas e acordes dos mais agradáveis num jingle-jangle infinito: “Dead End”, “Haunted”, “Tell You”, “Sometimes”. A balada acústica “Id Rather Be Sad” mescla Beatles e Brian Wilson em seus momentos mais bonitos e, fecha o álbum, o clima psicodélico-indiano de “Just Disappear”.
- E, Lasse, que tal um show do Rhinos, de bermudão, óculos de sol à beira-mar... no Brasil?

www.therhinos.nu
www.myspace.com/therhinossweden

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

"Fast Forward": ANDY REED!

O nome pode não ser dos mais conhecidos e o álbum, o primeiro completo de uma carreira solo. Mas, o americano do Michigan Andy Reed, está longe de ser um novato. Parece há anos estar processando suas referências, acumulando bagagem em projetos como The Haskels (que teve co-produção de Brendan Benson); The Reed Bothers (com o irmão Jason) e o EP The Great Compression, na estréia solo. Fast Forward provavelmente está há anos marinando na cabeça de Reed e esperando o momento certo para vir ao mundo: agora.

As influências vão de Beatles a Jon Brion; de Brian Wilson a Elliott Smith; de Badfinger a Michael Penn. Reed estudou com afinco os movimentos dos mestres e executou com mestria suas jogadas pop. Aprendeu a fiar com esmero as tramas da canção pop perfeita, com delicadeza e precisão. Mas não a precisão fria e matemática, e sim aquela que sempre encontra o ponto nas fibras do coração.

Fast Forward já abre com a mira calibrada: a contagiante “The Ballad Of...” joga os ânimos pra cima com a melodia ganchuda e vocal extremamente amigável de Reed. Já “Crazy Things”, sim, é uma balada guiada pelo piano em sensível clima orquestral. “The Criminal” ensaia uma batida de bossa nova e segue pelo soft rock setentista. Seguem as doces e delicadas “Play” e “Novocaine”.

Aqui, nós é que temos que agradecer pelo refrão magnífico de “Thank You” e embalar junto com o sintetizador e a pegada pop de “Tied Up”. Em um bar rude do sul americano, do início do século passado, dançarinas estariam se apresentando ao som do piano esperto de “Around The Town”. Enquanto em “Look After Me”, o piano enfeita com cuidado a triste balada. Encerra o disco a emotiva e bela “Feel Like Listening?”, provando que Andy Reed sempre soube onde estava o alvo – só precisava de Fast Forward para acertar em cheio.

www.myspace.com/andyreedmusic

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

"Insomniac's Almanac": THE CAMPBELL APARTMENT!

Quando se está em uma banda, tentando sobreviver numa cidade que é o olho do furacão mundial, corre-se riscos conflitantes e em porções desiguais. Um risco, que mais que um risco é um objetivo, é se alcançar o estrelato planetário. Outro é ser soterrado pela concorrência colossal em questão de semanas. Mas há uma terceira opção: manter a independência, preencher certos nichos e deixar que, a espontaneidade das canções levem, naturalmente, até um ponto de equilíbrio.

É cedo dizer aonde o Campbell Apartment vai se encaixar, mas, provavelmente, na terceira opção. Insomniac’s Almanac é o disco de estréia do trio de Nova Yorque, surgido da vontade dos amigos Ari Vais e Dan Haag de finalmente compartilharem uma banda. Vais já é conhecido na cena por seus trabalhos anteriores em bandas como Humbert e The Pelicans. Completa o grupo o baterista Dave Harman.

Tendo Chris Collingwood como seu padrinho musical e grande admirador, excursionaram com o Fountains Of Wayne pelos Estados Unidos e não escondem a banda como uma das suas grandes influências. A outra forte referência aparece de cara na enxuta faixa de abertura “Long Distance Relationship (Is A Four Letter Word)”: Guided By Voices – Vais já quis formar uma banda cover chamada Voided By Vices. Enquanto isso, a canção seguinte, “dna”, traz guitarras cruas e ritmo envolvente.

“St. Louis” vem com belas harmonias vocais, entre sonoridades acústicas, notas de piano e um órgão duelando com a guitarra no solo. Em “Wife”, Vais canta que está apaixonado pela esposa... de outro! Por isso, sua única chance é oferecer a contagiante melodia, os coros vocais oníricos, acompanhados pela emocional progressão de acordes. A atualíssima e divertida “Addicted To Myspace” antecede a beleza triste e acústica de “Sunday Night Blues”. Que contrasta com as espertas e energéticas “Afterthought” e “Stuck”.

A balada “Sick And Tired Of Being Sick And Tired” tem o título mais longo que a singela canção. “Feverish & Friendly” vai macia até a distorção invocada do refrão, encerrando a parte oficial do CD. Os três bônus tracks escondidos – sem créditos em parte alguma – merecem menção por serem potentes e ligeiras canções pop: "Strangel", "Greyhound" e "Trip To Acton".

Não se pode prever até onde o The Campbell Apartment pode ir. Mas se chegou na sua casa, em algum ponto da América do Sul, provavelmente é mais longe do que o próprio Ari Vais um dia previu.

www.myspace.com/thecampbellapartment