sexta-feira, 6 de julho de 2007

Entrevista Exclusiva: PAUL QUINN do PRIMARY 5!


Alguém uma vez já disse que a vida é uma montanha russa, cheia de subidas, descidas, trancos, solavancos, adrenalina e coisa e tal. Talvez a vida de Paul Quinn não seja exatamente uma montanha russa, mas teve lá seus ciclos bem marcados pela sua diferença de estilos.
Baterista da banda escocesa Soup Dragons, que emplacou no início dos 90 o hit "I'm Free", Quinn foi convidado a entrar na sua banda preferida, o grupo dos seus sonhos: o Teenage Fanclub, onde ficou por sete anos e gravou três álbuns clássicos.

Cansado da vida de ensaios, shows, gravações, mais shows e sem tempo para família, resolveu sair do mundo da música e ter um emprego normal... normal como o de carteiro! Depois de um ano entregando cartas e encomendas percebeu que preferia, em vez de apenas carregar as emoções alheias pra cima pra baixo, ele mesmo compartilharia a suas via música.

Determinado, Paul aprendeu a cantar, tocar guitarra e compor. Montou o Primary 5 com Ryan Currie e já está no segundo álbum. E as canções? Digamos que o Teenage Fanclub tem agora seu verdadeiro "sucessor". Porque, por mais que a crítica relacione o som do Primary 5 com Byrds, Pernice Brothers, Buffalo Springsfield, a essência de compositor de Quinn foi aprendida, absorvida, enquanto era um dos Teenagers. A herança musical está muito clara em cada acorde, cada melodia ou harmonia vocal.

E foi direto da Escócia, que Paul Quinn nos contou com exclusividade todos esses ciclos e o fluxo que desagou no Primary 5, uma das grande revelações do power pop mundial dos últimos anos.

Power Pop Station: Você esteve no Soup Dragons – que atingiu o topo das paradas em todo o mundo com o mega-hit “I’m Free”. Fale-nos sobre sua experiência na banda.

Paul Quinn – Eu tive bons momentos com o Soup Dragons, principalmente com Jim e Sushil, mas o grupo teve um fim melancólico e por isso é uma banda de que eu particularmente não gostaria de falar a respeito.

PPS: Depois disso, você entrou no Teenage Fanclub, gravou os álbuns Grand Prix, Songs From Northern Britain e Howdy. Como e porque veio o convite para integrar a banda? Fale-nos sobre o sentimento de tocar num grupo adorado como o Teenage.

Quinn – Eu entrei para o Teenage Fanclub em 1993, gravei Grand Prix, Songs From Northern Britain, Howdy e a colaboração com Jad Fair chamada Words of Wisdom & Hope, antes da minha saída em 2000. Ser convidado para integrar o Teenage Fanclub foi um sonho realizado, já que era, verdadeiramente, minha banda favorita – e continua sendo. Conheço Norman (Blake) a maior parte da minha vida, nós dois somos de Bellshill, uma pequena cidade localizada 12 milhas a leste de Glasgow, então, antes de mais nada, Norman é dos meus melhores amigos e ainda continuamos sempre nos vendo e falando. Acredito piamente que se eu não tivesse entrado no Soup Dragons, em 1989, eu teria sido o baterista original do Teenage Fanclub. Eu toquei em dois shows com o Boy Hairdressers - banda pré-Teenage Fanclub – junto com Norman e Raymond (McGinley). Mas, estupidamente, decidi ser leal ao grupo que eu tocava na época com Raymond Boyle, que acabou indo tocar no Eugenius (banda do Eugene Kelly). Aí fui convidado a entrar no Soup Dragons e, menos de um ano depois, Norman e Raymond começaram o TFC.

PPS: Em 2000, depois de deixar o Teenage Fanclub, você decidiu abandonar a música e tentar outros tipos de trabalhos – como o de carteiro! Como foi ser um carteiro depois de tocar em duas grandes bandas de rock?

Quinn: Após deixar o TFC em 2000, resolvi dar um tempo, seria meu primeiro período de descanso em mais de dez anos, já que estive tremendamente ocupado e pouco aproveitei ao lado da minha esposa e dois filhos. Minha filha mais nova nasceu em 1999 e quase não a via por conta dos ensaios e pré-produção de Howdy, então, quando terminamos Howdy, dei uma parada e comecei a pensar em ter um trabalho normal. Trabalhei como carteiro durante um ano e, para ser honesto, odiei! As únicas coisas boas de ter sido carteiro foram as pessoas e colegas de trabalho formidáveis que conheci e a canção “Mailman”, que escrevi em dez minutos em uma manhã enquanto fazia minha ronda. As palavras em “Mailman” resumem perfeitamente, para mim, o que é ser um carteiro. Eu nunca me vi como um tipo de “rock star” ou sendo diferente das pessoas que têm um trabalho normal - desses com jornada de 9h às 17h – então, essa transição não foi tão difícil, é a vida e você tem que estar preparado para essas coisas, eu estava e agradeço por ainda estar.

PPS: E aí você tomou o caminho inverso: voltou para o mundo da música. O que aconteceu?

Quinn: Basicamente escrevi algumas canções e depois do feedback dos meus amigos sobre essas composições, decidi me concentrar em gravá-las. Então, não foi uma coisa que eu tenha planejado fazer depois de sair do TFC. Simplesmente aconteceu.

PPS: Você sempre tocou bateria, e, eu acho, nunca tinha composto ou tocado guitarra antes. E o Primary 5 revelou ao mundo um talentoso compositor de canções pop. Conte-nos sobre esse processo de mudança e seu novo relacionamento com a música.

Quinn: Muito obrigado, é muita gentileza da sua parte. Eu realmente adoro tocar bateria e nunca tive o desejo ou a necessidade de escrever canções, estava feliz com minha contribuição para as canções de outras pessoas, me satisfazia criativamente. Eu também sentia que estava levando para a música alheia, especialmente no Teenage Fanclub, a base para que ótimos compositores pudessem construir e trabalhar suas canções. Realmente eu gostava do fato do que eu podia oferecer para Norman, Raymond e Gerard (Love), que são compositores individuais com seu próprio jeito de escrever, suas próprias idéias para estruturar e arranjar música, e imagino que acabei absorvendo tudo isso involuntariamente. Suponho que estando em estúdios de ensaio e gravação, escrevendo canções, fazendo discos, tudo me influenciou. Nunca tive dificuldade de escrever as canções que compus, elas simplesmente aconteceram em curtos lampejos e geralmente completadas rapidamente. Não me levo tão a sério como um “compositor” e nunca tive o impulso de “puxar canções pra fora” ou ficar “procurando” por elas ou coisas que normalmente compositores fazem. Eu pego pequenas idéias melódicas e as guardo. Eu não faço demos, deixo meu pequeno Dictaphone (gravador de voz) fazer o trabalho para mim, anotando melodias que podem ser partes vocais, de guitarra ou teclados. Eu percebi que fazer demos de canções tiram o frescor das idéias. Prefiro muito mais ouvir a música no estúdio, quando estamos gravando para colocá-la no disco, o que é realmente empolgante - como se fosse primeira vez que a idéia foi ouvida; era um pedaço de música que transformou-se numa canção.

PPS: North Pole, seu álbum de estréia, foi o resultado da sua primeira parceria com Ryan Currie. O Primary 5 é uma dupla ou, hoje, tem membros permanentes?

Quinn: O Primary 5 sou eu e Ryan, somos nós que tocamos todos os instrumentos, gravamos, produzimos e isso tem dado muito certo para nós. Nós contamos com o incrivelmente talentoso Stuart Kidd, que toca bateria nos shows, faz backing vocals, também toca guitarra, mandolin e teclados. Stuart está conosco há três anos e realmente é parte fundamental no jeito em que a banda soa ao vivo, assim ele é tão importante quanto o quarto “cara” Mickey McKerral. Então, o Primary 5 como banda de estúdio é uma dupla, como banda ao vivo é um quarteto. Confuso, mas funciona conosco.

PPS: Quais as diferenças básicas entre North Pole e seu novo álbum, Go?

Quinn: Eu acho que existem muitas diferenças entres os dois discos, North Pole foi a “curva de aprendizado” para nós dois: eu nunca tinha escrito uma canção, cantado vocais principais e tocado guitarra; era o primeiro álbum que Ryan tinha tocado e gravado, além de ter sido o engenheiro de som. Gravamos em um quarto abandonado de um centro comunitário com equipamento emprestado do Teenage Fanclub, então foi uma gravação genuinamente lo-fi, estilo guerrilha, já que não tínhamos orçamento para a empreitada! Eu estava acostumado em gravar em lugares como The Manor em Oxford (Grand Prix); Ridge Farm/Air London (Songs From Northern Britain); Rockfield (Howdy); Electric Ladyland em Nova Iorque; estúdios famosos e sensacionais, mas, fazendo do nosso jeito, foi excitante e com frescor, sem pressão, realmente formidável. Nós decidimos gravar Go da mesma maneira que North Pole, somente eu e Ryan no estúdio, com a diferença que tivemos recurso financeiro, cortesia do The Scottish Arts Council. Pudemos agendar estúdios apropriados, pudemos masterizar num estúdio de masterização apropriado. Coisas que não tivemos dinheiro para fazer em North Pole. Gravamos no Reeltime Studios em Newarthill, Escócia, exatamente no mesmo quarto em que gravamos North Pole, que na época não era um estúdio de gravação, apenas um quarto vazio e sem uso, antes de tornar-se estúdio, por isso foi tão bacana. Para a finalização e mixagem das gravações, fomos para o Rockfield em Wales. Acho que sonoramente Go é melhor que North Pole, mas continuo achando que North Pole tem um grande encanto no som, e o jeito que foi gravado, para mim, só realça este encanto. Estou realmente feliz com o modo que os dois álbuns soam e acho que em ambos temos algumas boas melodias.

PPS: Conte-nos sobre as colaborações de Norman Blake e Raymond McGinley em Go.

Quinn: Eu decidi perguntar ao Raymond se ele gostaria de ajudar na gravação das guitarras, quando fomos gravá-las. Eu queria deixar o Ryan livre, apenas como um músico sem precisar se preocupar com a engenharia de som. Eu sabia que Raymond diria sim somente se ele realmente quisesse fazer isso, sabia que ele seria absolutamente honesto conosco e claro, sabia que, se aceitasse, traria idéias e conhecimento para as gravações, o que de fato aconteceu. Também queríamos que Raymond tocasse a outra guitarra em “Stars & Stripes”, com seu inconfundível “estilo Raymond McGinley”. E realmente fez um grande trabalho. Eu também havia perguntado ao Norman meses antes de irmos para o estúdio, e quando fomos fazer as partes vocais, sabia que ele nos daria bons conselhos e encorajamento, já que eu ainda não estava confortável com a minha voz. Norman veio e fez um grande trabalho. Trazendo idéias, aconselhando sobre técnica vocal e fazendo alguns ótimos backing vocals na faixa de abertura do álbum “Off Course”. Cara, aquele garoto sabe cantar.

PPS: Quais suas influências do passado e presente? E quais novas bandas você recomenda?
Quinn: Eu gosto e adoro qualquer música que seja forte no quesito melodia. Eu realmente não tenho tempo para música “difícil”, coisas feitas intencionalmente para serem difíceis. Beethoven era fantástico e possivelmente o mais famoso compositor de música clássica orquestral, porque foi o mais melódico, então, gosto de qualquer coisa de Beethoven, Burt Bacharach, BrianWilson, Gram Parsons, Gene Clark, Lennon & McCartney, The Byrds, Roger Nichols, John Williams, Van Dyke Parks, The Left Banke, The Raspberries, The Shins, James Spencer, Ben Kweller, Deerhoof, Bonnie Prince Billy… e a lista vai embora!

PPS: Em Outubro o Primary 5 fará dois shows na Espanha. Qual sua expectativa?

Quinn: Estou realmente ansioso com esses dois shows, acho que a banda que temos agora é a melhor que já tivemos e com mais conteúdo enquanto grupo. Então, como já disse, estou realmente ansioso para ver todos nossos amigos em Andorra (Teruel) e Valencia, será ótimo!

PPS: Atualmente, a música é seu trabalho principal? Quais seus planos futuros com o Primary 5?

Quinn: Eu não tenho quaisquer planos para a banda, nós apenas veremos como as coisas seguirão com este álbum e talvez gravemos um terceiro. Realmente não sei.

PPS: Mande uma mensagem para seus fãs brasileiros, que te adoram por você ser um ex-membro do Teenage Fanclub, mas que te admiram mais a cada dia porque você se revelou um grande compositor.

Quinn: Nunca tive a grande sorte de tocar no Brasil com nenhuma das bandas em que toquei, mas eu espero um dia poder fazê-lo com o Primary 5. Muito amor, Paul.

www.myspace.com/theprimary5

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