segunda-feira, 17 de novembro de 2008

IPO ELEVEN!

O pop que não é popular. É lutando contra essa contraditória frase que o International Pop Overthrow e sua coletânea, chegam ao décimo primeiro ano. O festival - que hoje chega, todo ano, a 11 cidades americanas, duas canadenses e uma inglesa - cresce de forma assustadora, graças aos esforços incomensuráveis de seu idealizador e chefão David Bash. Que sempre acreditou no conceito puro de pop music: a canção que pode soar bem a qualquer um, com melodias agradáveis, pegada envolvente e de fácil assimilação. Dar ao pop um pouco da relevância - que lhe foi tirada pelo cunho comercial conferido pela indústria musical - parece claro como um dos objetivos de Bash. O pop pode ser popular sem necessariamente ser “comercial” ou “artificial”, é o recado do IPO Eleven.

E aqui chegamos à coletânea em si, com 66 bandas de 11 países, algumas novatas outras nem tanto, mas todas dentro do espírito da sonoridade pop – seja qual for a vertente: power pop, pop rock, rock, punk pop, sixtie pop... E nessa edição a parte gráfica também se destaca, com referências ‘pop’ muito bem sacadas. A começar pela logo, onde o IPO parodia o iPod e a marca da Apple, que em vez de uma maçã mostra uma guitarra estilizada lembrando o formato da fruta. O indefectível fone branco do famoso tocador de mp3, aparece plugado numa guitarra e seguindo diretamente aos ouvidos de uma garota. Já, na contra capa, lê-se a frase: “Pop – You can believe in”, com a tal guitarra estilizada nas cores da campanha de Barack Obama. Dois ícones atualíssimos do pop corporativo “a serviço” do pop independente. Fina ironia.

Mas é a parte musical que aqui nos interessa. Abre o CD1 a banda finlandesa Daisy, e a todo vapor com “Go!”, sem economia no uso do vocoder e sintetizadores nervosos. Segue o pop perfeito dos americanos do Ken Kase Group em “Shiner”. De Chicago vem o Backroom, apresentando a belíssima “Lost Without You”, emocional e pop ao mesmo tempo. E da Suécia chega uma das surpresas do ano no power pop, o Private Jets, que traz melodia memorável e harmonias perfeitas em “Extraordinary Sensations”. O ex-Jellyfish Roger Joseph Manning Jr. vem com a espertíssima e empolgante “American Influenza”.

Os londrinos do Mini mostram a ganchuda “Hoping For An Astronaut” e a canadense Laurie Biagini a onírica “That Feeling Inside”. O Maryz Eyez comparece com a incrivelmente infecciosa “Unpaid Holiday. E aqui fica a minha homenagem à memória de Mike Murphy – a quem essa coletânea está dedicada – líder do Leave (uma das grandes bandas de power pop de Chicago) falecido recentemente. Mas o sorriso logo volta quando ouvimos a contribuição do grupo ao IPO 11 com a sensacional “Hope It Doesn’t Come Away”. A bela Leerone vem com a doce “To Fill The Void” e o veterano Jeremy com a rascante “Everyone Makes Mistakes”. Adiantando a faixa de seu novo álbum, o Smith Bros. apresenta a auto-colante “She’s Under My Skin”. Fecha o primeiro CD a plácida e bonita, com sotaque Lennon, “It’s Summer Time’, do prodígio californiano Blake Collins.

O CD 2 começa com a ensolarada “Summer (You No My Name)” do Twenty Cent Crush; em seguida a “homenagem” sessentista dos noruegueses do Peter & The Penguins a Pete Best (primeiro baterista dos Beatles) em “There Goes Pete Best”, segundo eles “o mais azarado bastardo do mundo”. Kevin Peroni e seu Wiretree colaboram com a densa e bela “Big Coat”. De Detroit o motor envenenado dos The Respectables despeja na pista o rock flamejante “Charged By The Minute” e contrasta com o pop orquestral macio de Butch Young em “Dime Store Jesus”. Pinçada do álbum de estréia de Peter Baldrachi, a gema pop “You’re Gonna Miss Me Someday” representa com louvor o melhor do power pop clássico.

Uma das grandes descobertas do ano vem da Alemanha: o cantor compositor de Hamburgo, Kai Reiner. Na melhor linhagem Teenage Fanclub, Reiner mescla as melodias mais bonitas que se pode imaginar com riffs memoráveis e vocais de maciez angelical em “Cold Summer”. Os power popers do Oregon Phamous Phaces contribuem com a pérola acústica “Back To Liverpool”. Encerra o disco 2 a psicodélica “Gone, Gone, Gone” de Steve Caraway.

Os canadenses do The Tomorrows dão o ponta pé inicial no terceiro disco com “Effortless Lee”, mostrando que o álbum de estréia promete, seja nas harmonizações vocais intrincadas ou melodias inspiradas. Depois seguem os galeses do The Afternoons, com a adorável “Don’t Turn Back (Open Your Eyes). Os punk popers do Canadá Kelly Fairchild buscam as ondas do rádio com “Don’t Stop” e os americanos do All Right Tokyo se inspiram no Cheap Trick para aplicar alta octanagem à “Jessica Jessica”. De San Diego, o Suite 100 apresenta um vocal peculiar e uma sensibilidade melódica apurada em “Perfect Disaster” e os italianos de Florença The Vickers, trazem o pop rock “Silence”, onde se pode ouvir ecos do antigo Radiohead e do Travis.

Direto de San Francisco o Pleasure Trip contribiu com “Without You” e seu refrão ultra-catchy. Já o cantor compositor de britânico Kevin McGowan, vem com a beleza acústica de “Be Here Tonight”. Depois de mais de três horas de música, têm a honra de encerrar a coletânea os californianos de Hollywood, Teenage Frames, com o rockão invocado “Need Somewhere To Stick it”. E fica a sensação de que, a cada ano, o IPO e sua coletânea atingem mais gente, espalhando e divulgando o verdadeiro pop e apoiando bandas independentes que buscam seu lugarzinho ao sol. Quem sabe assim, um dia, o pop não volte a ser... popular?

www.internationalpopoverthrow.com
www.myspace.com/internationalpopoverthrow



























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