Não viveremos o suficiente para saber. Quais os parâmetros divinos para distribuir os talentos sobre a Terra? Ou qual o porquê de, não raro, serem utilizados métodos tortos ou aparentemente sem lógica. Veja o caso de Paul Quinn: ex-baterista do Soup Dragons - que teve ao menos um hit mundial com “I’m Free” – e que depois conseguiu entrar na sua banda preferida, o Teenage Fanclub. Com eles gravou pelo menos um disco clássico, Grand Prix. O que parecia um conto de fadas – e que na verdade é uma estafante rotina de shows e mais shows - acabou cansando o escocês, que resolveu sair do grupo e... virar carteiro! Por um ano, Quinn percorreu as ruas de Glasgow, entregando correspondências e, provavelmente, tomando corrida de cachorros mau-humorados.
Até então, Paul não havia composto uma só canção. Simplesmente porque nem tocar uma guitarra sabia. Sabia-se, sim, de seu talento como baterista e que havia decidido abandonar a carreira musical. Aí a reviravolta: farto da vida de carteiro – que na verdade é uma rotina estafante de entregas e mais entregas - Paul voltou aos braços da música. Aprendeu guitarra, passou a cantar e compor. Simples assim. Quinn havia sido escolhido para receber o dom da composição pop. E precisou de anos e desafios para encontrá-lo onde sempre esteve: guardado em si mesmo.
Então, formou o Primary 5 e, já no primeiro disco North Pole, despontou como um talentosíssimo compositor de canções perfeitas. Claro, a convivência por anos com mestres como Norman Blake, Gerard Love e Raymond McGinley ajudou a desvendar alguns meandros e segredos da feitura de uma boa canção pop; mas nem de longe foi essa oportunidade que forjou o compositor que havia latente em Paul.
Depois do segundo disco, o também aclamado Go, o músico novamente surpreendeu e anunciou o fim do Primary 5. Mas não deveria haver surpresas quando se trata de alguém que saiu do Teenage Fanclub para ser carteiro. Por isso, enquanto o mundo do power pop ainda lamentava a morte precoce de uma das bandas mais amadas do estilo, Paul avisou: “estou gravando o novo disco do Primary 5”. E aqui chegamos a High Five.
Não há dúvidas que o álbum anterior Go é mais vibrante, com capacidade de contágio imediato. Já High Five, é de uma beleza mais sutil, porém profunda. Quinn está mais contemplativo e introspectivo (o que pode ser um indício de uma nova mudança radical à vista...). E apesar da forte presença de dois fannies na gravação do disco – McGinley foi o engenheiro de som e Blake assumiu as guitarras em “Rewind” – High Five se distanciou levemente da sonoridade do Teenage Fanclub. Já a participação de Jim McCulloch - que toca guitarra em todas as faixas, menos na que Blake tocou - pareceu muito mais influente, aproximando, em certos momentos, o Primary 5 da sua banda, o The Green Peppers.
Não se pode sentir e interpretar High Five na primeira audição. Você vai de peito aberto e cheio de expectativas – impressas na memória afetiva pelos álbuns anteriores - esperando pelos mesmos truques, mas, de repente, se depara com texturas diferentes e intenções, de certa forma, que exigem um passo à frente. A sensibilidade deve estar à flor da pele, para se igualar ao estado mais elevado que Quinn se encontra. A sutileza está em cada acorde, em cada timbre. A voz de Paul vem envolta eu uma aura de leveza e candura. E o pop perfeito permanece soberano em todas as canções.
“I Wonder Why” é talvez é mais emblemática das canções em High Five, por refletir fielmente o clima do disco: não salta aos ouvidos à primeira vez, mas vai sendo processada a cada nova audição, como se fosse envelhecida em tonéis de carvalho, até chegar ao seu ponto perfeito. Macia, doce, e com um refrão lapidado por uma maestria admirável. Segue-se a canção título, produto da fina ourivesaria pop de Quinn e, “So Much To Find”, confirma as expectativas de novas mudanças no horizonte: Paul afirma que “ainda há muito para aprender, muitas outras coisas para fazer”. Ele diz que é um desejo que “aflige a alma...”.
“Same Old Story” é um belo western, onde Quinn parece tocar sua guitarra acústica com o pé apoiado na porteira, enquanto observa o sol se por no horizonte quente e poeirento. Mas, como artesão pop, não se esquece dos “na-na-na-nas”, em canção claramente influenciada pelo Green Peppers de McCulloch. “Breathe” segue no interior americano, com seu folk-country-pop. Em “Lost And Confused”, Paul inverte os papéis e se coloca no lugar de um fã que encontra o ídolo: “Hey man, it’s so good to meet you/I love your records/I love your songs”. O power pop corre solto e o solo de guitarra é puro Teenage fase Bandwagonesque.
“Rewind” traz a colaboração de Norman Blake na guitarra psicodélica e carimba o refrão com melodia de contágio universal. “Fly Baby Fly” e "Stills” mostram que Paul também aprendeu algumas notas ao piano para adornar e aumentar a sensação de bem-estar que trazem suas canções. A contemplativa “Trains”, embalada por coros quase gospel, encerra High Five e nos deixa um pergunta: qual o próximo passo da mente criativa e irriquieta de Paul Quinn?
P.S: Pois aí está: Paul acaba de anunciar, em seu MySpace, que o Primary 5 chega ao fim, outra vez. Mas agora de forma irreversível, por motivos pessoais. Quinn ainda fará três shows na Espanha, em Janeiro, que serão como a despedida final. A resenha acima, escrita cerca de um mês atrás, soa como um vaticínio, confirmado nas palavras de Paul: "Então é hora de seguir em frente, aprender a tocar piano, aprender como gravar um disco em casa, compor canções como se fazia no passado e deixar o mercado da música para os garotos que almejam as estrelas."
www.myspace.com/theprimary5
Até então, Paul não havia composto uma só canção. Simplesmente porque nem tocar uma guitarra sabia. Sabia-se, sim, de seu talento como baterista e que havia decidido abandonar a carreira musical. Aí a reviravolta: farto da vida de carteiro – que na verdade é uma rotina estafante de entregas e mais entregas - Paul voltou aos braços da música. Aprendeu guitarra, passou a cantar e compor. Simples assim. Quinn havia sido escolhido para receber o dom da composição pop. E precisou de anos e desafios para encontrá-lo onde sempre esteve: guardado em si mesmo.
Então, formou o Primary 5 e, já no primeiro disco North Pole, despontou como um talentosíssimo compositor de canções perfeitas. Claro, a convivência por anos com mestres como Norman Blake, Gerard Love e Raymond McGinley ajudou a desvendar alguns meandros e segredos da feitura de uma boa canção pop; mas nem de longe foi essa oportunidade que forjou o compositor que havia latente em Paul.
Depois do segundo disco, o também aclamado Go, o músico novamente surpreendeu e anunciou o fim do Primary 5. Mas não deveria haver surpresas quando se trata de alguém que saiu do Teenage Fanclub para ser carteiro. Por isso, enquanto o mundo do power pop ainda lamentava a morte precoce de uma das bandas mais amadas do estilo, Paul avisou: “estou gravando o novo disco do Primary 5”. E aqui chegamos a High Five.
Não há dúvidas que o álbum anterior Go é mais vibrante, com capacidade de contágio imediato. Já High Five, é de uma beleza mais sutil, porém profunda. Quinn está mais contemplativo e introspectivo (o que pode ser um indício de uma nova mudança radical à vista...). E apesar da forte presença de dois fannies na gravação do disco – McGinley foi o engenheiro de som e Blake assumiu as guitarras em “Rewind” – High Five se distanciou levemente da sonoridade do Teenage Fanclub. Já a participação de Jim McCulloch - que toca guitarra em todas as faixas, menos na que Blake tocou - pareceu muito mais influente, aproximando, em certos momentos, o Primary 5 da sua banda, o The Green Peppers.
Não se pode sentir e interpretar High Five na primeira audição. Você vai de peito aberto e cheio de expectativas – impressas na memória afetiva pelos álbuns anteriores - esperando pelos mesmos truques, mas, de repente, se depara com texturas diferentes e intenções, de certa forma, que exigem um passo à frente. A sensibilidade deve estar à flor da pele, para se igualar ao estado mais elevado que Quinn se encontra. A sutileza está em cada acorde, em cada timbre. A voz de Paul vem envolta eu uma aura de leveza e candura. E o pop perfeito permanece soberano em todas as canções.
“I Wonder Why” é talvez é mais emblemática das canções em High Five, por refletir fielmente o clima do disco: não salta aos ouvidos à primeira vez, mas vai sendo processada a cada nova audição, como se fosse envelhecida em tonéis de carvalho, até chegar ao seu ponto perfeito. Macia, doce, e com um refrão lapidado por uma maestria admirável. Segue-se a canção título, produto da fina ourivesaria pop de Quinn e, “So Much To Find”, confirma as expectativas de novas mudanças no horizonte: Paul afirma que “ainda há muito para aprender, muitas outras coisas para fazer”. Ele diz que é um desejo que “aflige a alma...”.
“Same Old Story” é um belo western, onde Quinn parece tocar sua guitarra acústica com o pé apoiado na porteira, enquanto observa o sol se por no horizonte quente e poeirento. Mas, como artesão pop, não se esquece dos “na-na-na-nas”, em canção claramente influenciada pelo Green Peppers de McCulloch. “Breathe” segue no interior americano, com seu folk-country-pop. Em “Lost And Confused”, Paul inverte os papéis e se coloca no lugar de um fã que encontra o ídolo: “Hey man, it’s so good to meet you/I love your records/I love your songs”. O power pop corre solto e o solo de guitarra é puro Teenage fase Bandwagonesque.
“Rewind” traz a colaboração de Norman Blake na guitarra psicodélica e carimba o refrão com melodia de contágio universal. “Fly Baby Fly” e "Stills” mostram que Paul também aprendeu algumas notas ao piano para adornar e aumentar a sensação de bem-estar que trazem suas canções. A contemplativa “Trains”, embalada por coros quase gospel, encerra High Five e nos deixa um pergunta: qual o próximo passo da mente criativa e irriquieta de Paul Quinn?
P.S: Pois aí está: Paul acaba de anunciar, em seu MySpace, que o Primary 5 chega ao fim, outra vez. Mas agora de forma irreversível, por motivos pessoais. Quinn ainda fará três shows na Espanha, em Janeiro, que serão como a despedida final. A resenha acima, escrita cerca de um mês atrás, soa como um vaticínio, confirmado nas palavras de Paul: "Então é hora de seguir em frente, aprender a tocar piano, aprender como gravar um disco em casa, compor canções como se fazia no passado e deixar o mercado da música para os garotos que almejam as estrelas."
www.myspace.com/theprimary5
Paolo! E aí como vai? Estou retomando o blog do Biff Bang Pop!
ResponderExcluirVocê andou sumido, vamos trocar umas figurinhas!
Acabei de ler o seu último post. Puxa que pena que o Primary 5 acabou.
Pra mim foi uma das melhores descobertas dos últimos tempos. O Paul Quin é realmente um artista injustiçado, ele merece muito mais.
Um abraço e vamos nos falando!
Cara, vc tocou em tantos pontos na resenha q merecem uma discussão, q eu nem bem sei por onde começar. Valeria um tópico na comunidade Power Pop. Valeria até uma mesa de bar, e algumas cervas.
ResponderExcluirBom, pra início de conversa, é um dos teus melhores textos ever. Parabéns.
Não tem nem o q discutir: Paul Quinn tem o dom. Estilo Romário: nasceu pra isso (música), e com isso interiorizado. Tudo o q ele precisava era aprender a tocar. E aí cabe dizer o q eu digo há anos e aparentemente explico errado, pq poucos parecem entender. TÉCNICA NÃO É O MESMO Q TALENTO.
Qualquer canção do Paul (qualquer MESMO) é melhor do q toda a obra junta do Joe Satriani, e das próximas gerações dele (q eu espero muito q decidam entrar no ramo imobiliário, algo assim, e fiquem longe da música. Guitarrista virtuose mala é q nem gafanhoto, é uma praga, putz, cada dia nasce um inútil).
Bom, podemos continuar debatendo na comunidade. Mas o q fica de bom (além dos 3 brilhantes discos) são as frases: gravar em casa como antigamente, tocar piano...daqui a alguns mesezinhos teremos um (quem sabe dois) disquinhos do Paul Quinn pintando por aí...ele já deixou óbvio q aprende rápido (já nasceu com o q só pode vir no código genético). :)))
ResponderExcluirCara, adoro esse cd! Obra-prima!!! Parabéns pelo blog. Muito bom mesmo, uma aula a cada lida!!!
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