terça-feira, 30 de março de 2010

Da Série Clássicos: "Big Money Item" - THE GREENBERRY WOODS!

Por Daniel Arêas

Ainda perdura, por parte de um certo contingente de fãs de música, uma compreensão totalmente distorcida do que signifique o termo “pop”. Expostas durante anos ao lixo pasteurizado que impregna as rádios, para essas pessoas pop é sinônimo de um tipo de música medíocre, descartável, pré-fabricada segundo uma fórmula que visa única e exclusivamente o sucesso comercial. Seguindo essa linha de raciocínio, fazer pop torna-se menos uma questão de aptidão, talento, do que meramente de opção, esta guiada por intenções comerciais, mercadológicas.

Evidentemente isso é um grande equívoco. Fazer música pop (power ou de qualquer outro tipo) de qualidade, que torne nossos dias mais felizes, que renove nossos ânimos, que nos transmita uma sensação de bem-estar, é um dom com que pouquíssimos são agraciados. A tal “veia pop” existe, sim. Com absoluta certeza os membros da banda americana The Greenberry Woods possuíam esse dom, e seu segundo e derradeiro álbum, Big Money Item, é o 7º. disco da Série Clássicos do Power Pop Station.

A curta trajetória do Greenberry Woods é semelhante às de inúmeras outras bandas nas quais a reunião de vários talentos, paradoxalmente, se torna mais uma fonte de problemas do que de soluções. Os vocalistas/guitarristas Matt Huseman e Ira Katz formaram a banda em 1989 na Universidade de Maryland, onde se conheceram. Com o line up completado por Brandt Huseman (irmão gêmeo de Matt) no baixo e Miles Rosen na bateria, a banda mudou-se para Baltimore, e em 1993 assinaram com a Sire Records. Em 1994 foi lançado seu álbum de estréia, o clássico Rapple Dapple. Com o single “Trampoline” alcançando uma significativa execução nas rádios, àquela altura o destino do Greenberry Woods parecia não ser outro que não o sucesso.

Alguns percalços, porém, impediram que isso se concretizasse. Além das pressões da gravadora pela gravação de um imediato sucessor para Rapple Dapple, dentro da banda as relações começavam a se deteriorar, com a dedicação cada vez maior dos irmãos Huseman ao seu projeto paralelo Splitsville (através do qual, anos mais tarde, lançariam o não menos fundamental The Complete Pet Soul). Foi nesse ambiente de tensão que foi gravado o segundo e último disco da banda, Big Money Item, lançado em 1995.

Sobre Big Money Item, é suficiente dizer que se trata de uma obra-prima (power) pop. Não há outra forma de defini-lo. Não soa, nem de longe, como um disco de uma banda se desintegrando ou perdendo o foco (como seria de se esperar). Pelo contrário, captura uma banda tremendamente talentosa num momento de auge criativo, fazendo pop segundo os preceitos sagrados de alguns dos maiores expoentes do gênero, alguns clássicos (Beatles, Badfinger, Big Star, Beach Boys), outros contemporâneos (Matthew Sweet, Posies, Jellyfish).

Não é nem mesmo simples, dentre suas 18 canções, citar uma em especial, ou mesmo algumas, na medida em que não há um único ponto baixo no disco; cada uma das faixas parece ter como intenção se igualar ou mesmo superar a anterior em qualidade. Big Money Item é uma profusão de irresistíveis melodias, letras impregnadas de emoção, ganchos dos quais é melhor nem tentar se desvencilhar, lindas harmonias, poderosos refrões que o ouvinte estará assobiando ou cantarolando – mesmo sem perceber – um bom tempo depois de ouvi-los.

Em 1996 a banda se separou em definitivo, quando a Sire Records liberou-a de seu contrato. Mas a música permanece mais vívida do que nunca; uma única audição de Big Money Item é suficiente para comprovar isso. Aqueles que buscam música pop de qualidade, compreendem seu significado e sabem do seu poder transformador, encontrarão em Big Money Item um perfeito antídoto para aqueles dias difíceis que volta e meia a vida nos reserva.

quinta-feira, 18 de março de 2010

"Pillowsky": AMERICAN SUITCASE!

Interferir no seu meio-ambiente é uma vocação inata do ser humano. Que vem se especializando em alterar o que está a sua volta para sua conveniência e bem-estar. E em tempos de “mudanças climáticas”, “aquecimento global” e “desenvolvimento sustentável” eis que noruegueses sugerem uma alteração de clima utilizando apenas ondas sonoras. Não estamos falando de cientistas vencedores do prêmio Nobel, mas de artesãos da canção pop perfeita.

Egil Braekken e Anders Vinnogg querem repetir a experiência de trazer mais sol, luz e calor para gélida terra dos fiordes. Ecos herdados do jingle-jangle californiano brilhando sob o céu da Noruega e aquecendo as paisagens nevadas. Harmonias vocais angelicais sopradas desde a costa oeste americana amenizando o vento frio e cortante da Escandinávia. E o beat sessentista colorindo e descongelando o ânimo invernal.

Pillowsky levou seis longos anos para suceder Summerman na discografia do American Suitcase. Mas deixa a volta dos noruegueses de Oslo luminosa como uma manhã de verão. As influências maiores se repetem, indo de Teenage Fanclub a Byrds, e a independência em nenhum momento limita a qualidade de produção do álbum. O quarto disco do grupo vem recheado de sonoridades límpidas, abençoadas pelas mágicas Rickenbakers e pela maestria de Braekken e Vinnogg.

“Franny” viaja além da atmosfera com sua força psicodélica logo na abertura de Pillowsky. O dedilhado jangle já encanta no início de “Christmas Blues #2” e ganha acento americano com uma pedal steel guitar pontuando. “Miles Apart” e “Pink Shirt” trazem vigor e doçura melódica em doses iguais, enquanto os vocais harmônicos só realçam a beleza desconcertante de “You”. A empolgante “Star(s)” é um power pop perfeito; “Miss Mann” emociona nas harmonizações vocais; e “Harry Dunne” contagia na batida de Alexander Lindback e no seu belo refrão.

Climas de raiz e emocionais se fundem sob o manto de um órgão, até encontrarem os ‘papapas’ de sotaque bossa nova em “Seen It Before”. A adorável “Green Grass” capricha nos dedilhados de Rickenbacker e na melodia adesiva. A canção título traz Birgitte Solberg para um dueto vocal com Egil, e se revela um indie pop radiofônico. E a beleza de “Close” ganha contornos épicos na potência das guitarras que fecham “Pillowcloud”.
A Noruega está mais brilhante, aquecida e receptiva. Nossos corações também.

http://www.americansuitcase.com/
www.myspace.com/americansuitcase

quinta-feira, 11 de março de 2010

"Pale Morning": DESERTERS!

Já nos é conhecida a força e exuberância do rock australiano, que recebeu sua herança diretamente da fonte original britânica. Nobre descendência impressa no DNA aussie e que foi reforçada pela importante influência cultural norte-americana das últimas décadas. Então, aqui não se trata de aprender com os mestres; trata-se de carregar na veia o sangue deles. E é dessa linhagem que pertence o cantor-compositor e líder dos Deserters, Luke Thomas.

Pale Morning é o terceiro álbum do projeto de Thomas – que também toca no The Picures e The Ronson Hangup – e, entre outros, conta com frontman dos Wellingtons Zac Anthony na bateria e backing vocals. O disco traz a grandiosidade do rock clássico, aqui condensada e refrescada por agradáveis melodias pop. Thomas é um cuidadoso produtor e assegurou-se de que o álbum soasse consistente, mas não pretensioso. Que os arranjos exalassem beleza sem arrogância e que as cordas adornassem sem grandiloqüência orquestral.

As influências em Pale Morning voam de Beatles a Wilco, de Neil Finn a Teenage Fanclub; mas o que serve de profunda referência é o amor de Luke pelo rock melódico e atemporal, pelas canções bem talhadas e afeitas à emoção. Como na faixa de abertura “Waking Birds”, que coloca lado a lado uma steel guitar e um cello. “Take It As It Comes” vem com força na pegada pop do seu refrão, no que é o primeiro single do álbum. Beleza melódica adornada por um órgão dá tons emocionais a “I Think It’s Alright”, enquanto os contornos épicos da faixa título traz certa carga de dramaticidade.

A grandiosa e ao mesmo tempo grudenta “Race Me Home”, nos presenteia com bonitos acordes e climas oníricos recriados nos teclados. Já “Looking My Way” é sensível balada acústica adornada por jogos de cordas. “Life Goes On” contagia na sua pegada jingle-jangle e tramas melódicas que remetem aos escoceses do Teenage Fanclub. E “Valerian (Goodnight)” encerra o álbum transpirando – pelas mãos de Luke Thomas - o legado do rock clássico com intensidade, competência e paixão.

www.myspace.com/desertersband

quinta-feira, 4 de março de 2010

"Get Up And Run": THE RECKLESS HEARTS!

O rock nunca foi bom em assumir papeis sérios, apesar de vira-e-mexe alguém tentar impor-lhe protagonismo em causas sócio-políticas e, mais recentemente, até ambientais. Rock rima com os excessos da juventude, a inconsequência dos imberbes, a urgência dos rebeldes sem causa. Guitarras impacientes duelando com batidas nervosas, como carros velozes nas ruas da cidade grande. Rock combina com diversão e é isso que o quarteto de Milwaukee The Reckless Hearts oferece em Get Up And Run, seu álbum debute.

E se os ‘corações imprudentes’ estão preocupados em correr atrás de garotas queimando borracha de pneu no asfalto quente, também não se esquecem de adicionar à sua energia primária uma boa dose de doçura pop. Eles admitem: querem soar como as usinas de força The Who ou Buzzcocks amaciadas pelas harmonias do Records ou Teenage Fanclub. Então, senhores, os garotos do Wisconsin Thomas Calkins, Ian Lund, Jered Piencikowski e Joel Kopp estão nos domínios do power pop.

Avalanche de guitarras e batidas nervosas desce a encosta escoltada por ganchos melódicos logo na abertura do disco em “Personal Property”. “Yer Blur” adoça nas harmonias e melodias vocais sem falhar na potência instrumental. A candidata a hit “Reckless Heart” é envolvente, energética e direta em seus 1:35m de duração. “Two Runaways” capricha nos vocais harmônicos e guitarras contundentes, enquanto “Memory Lane” procura sem pudores a perfeição pop.

A melodia autocolante de “Don’t Wander (Far From Me)” antecede a power-ballad “Before The Summer Is Gone”; enquanto a pegada furiosa e juvenil de “Kick Down The Doors” contrasta com a batida pop e agradável de “Perfectly Fine”. A bonita e pequena instrumental, na melhor escola Brian Wilson, “Outro” fecha Get Up And Run, mostrando que esses corações podem ser imprudentes, porém, nada insensíveis.

www.therecklesshearts.com
www.myspace.com/therecklessheartsmke

segunda-feira, 1 de março de 2010

"Evidence": BARNETT-GURLEY!

Do coração da América brotam os violões de Mike Barnett e Dennis Gurley, vindos do Missouri, a fronteira final para o Velho Oeste. Mas os experimentados músicos unem forças para reverberar sua mescla de folk rock, americana e pop sessentista. E o resultado da alquimia entre o Barnett e Gurley brilha muito além das fronteiras do meio-oeste americano.

Contando com a ajuda de diversos amigos para a gravação de Evidence, a dupla oferece um álbum recheado de canções inspiradas na melhor tradição americana de violões, gaitas e slide guitars. E reza para Tom Petty, Jayhawks, Byrds, Neil Young e Beatles. Abre o álbum a reflexiva e macia “Elusive Smile”, climatizada por um órgão onipresente, enquanto “Need Little A Sunhine” já mostra a graduação de Barnett e Gurley na arte do jangle.

A envolvente “She’s A Mystery” aparece aqui na versão de Mike, caprichando nas harmonias vocais e nas espetadas providenciais da gaita. “Jingle Jangle”, além das guitarras 12 cordas para justificar o título, traz melodia contagiante, harmonias vocais angelicais e uma belíssima gaita. Batida marcial e vocal à la Tom Petty em “I Sat Me Down” e sons de Rickenbaker e refrão pop para “Hard Thing To Do”.

A eloquência sincera de “A Little At A Time” remete à força crua de Neil Young e a beleza doída aparece na balada acústica “You Saved Me”. Mais uma ode ao carisma pop do jingle jangle na adorável “Somebody Else” e a versão de Dennis para “She’s A Mystery” encerra Evidence. A prova que no mundo pós-moderno ainda há espaço para a sensibilidade orgânica e sincera da música tradicional americana.

www.myspace.com/barnettandgurley