quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Power Pop: The Early Years - BLUE ASH! (Parte 1)

Por Daniel Arêas

Antes de ser redescoberta nos anos 2000 e ser reconhecida como uma das mais importantes da história do power pop, a banda americana Blue Ash passou por aquela típica sequência de infortúnios que alteram o destino de uma banda, que não poderia ser outro que não o sucesso comercial.

O Blue Ash foi formado em 1969 na cidade de Youngstown, Ohio, por Frank Secich (baixo, vocais), Jim Kendzor (lead vocals, guitarra), Bill Yendrek (guitarra) e David Evans (bateria). Um ano depois, Yendrek deu lugar a Bill Bartolin. Como acontece com toda grande banda de rock, moldaram seu som e sua personalidade no palco. Entre 1969 e 1972 fizeram incontáveis shows em estados como Pennsylvania, Nova York, Ohio e West Virginia, enquanto a dupla Secich e Bartolin compunha canções em quantidades industriais. Essas canções viriam a se tornar demos e enviadas para as gravadoras. E não há como negar que, para conseguir gravar seu primeiro disco, a banda foi um pouco bafejada pela sorte.

Paul Nelson, executivo da Mercury Records e que havia acabado de contratar os New York Dolls, conversava com um homem da cidade de Warren, Ohio, que estava lhe mostrando a demo tape de sua banda. Ao olhar para uma pilha de demos que estava sobre a mesa de Nelson, o homem reparou em uma em especial: a do Blue Ash. Ao ouvir que se tratava de uma grande banda, Nelson pôs para tocar a demo e percebeu imediatamente o potencial que havia ali. Assim, no fim de 1972 o Blue Ash assinou contrato com a Mercury e em maio de 1973 era lançado seu álbum de estréia, No More No Less.

No More No Less é um título mais que apropriado para o disco: não era mesmo preciso mais do que já há ali. Ou melhor, talvez nem fosse possível obter mais...se existe algum ponto ideal a meio caminho entre o melodismo e as elaboradas harmonias dos Beatles e a fúria rocker do The Who, o Blue Ash parece tê-lo encontrado – e explorou-o até as últimas conseqüências. Em canções como “Abracadabra (Have You Seen Her)”, “Plain To See”, “Here We Go Again”, “Wasting My Time” e outras, os ganchos são ultra-melódicos, mas vêm ancorados em guitarras incandescentes e performances altamente energéticas. O arsenal de No More No Less ainda contém uma nostálgica canção que revela a influência dos Byrds (“I Remember A Time”), duas ótimas baladas (“Just Another Game” e “What Can I Do For You”) e a cover de uma canção dos Beatles mais feroz de que se tem notícia (“Anytime At All”). Resumindo: um clássico instantâneo.

Se os fatos sempre seguissem um curso natural e lógico, No More No Less teria catapultado o Blue Ash para o sucesso. Mas mesmo com a ótima recepção da crítica não foi isso que aconteceu. Na verdade, nem mesmo a tiragem de 20.000 cópias chegou a ser esgotada, mas isso aconteceu pela ausência de divulgação e distribuição adequadas por parte da Mercury Records. Naquele momento a concorrência era ingrata para o Blue Ash dentro da gravadora: artistas como Rod Stewart e New York Dolls estavam lançando novos álbuns e os recursos de divulgação e distribuição disponíveis foram canalizados para eles.

A banda seguiu fazendo turnês (abrindo para artistas como Bob Seger, Aerosmith, Ted Nugent e Raspberries) e se preparava pra entrar em estúdio para gravar seu segundo disco, mas as baixas vendagens de No More No Less fizeram com que a Mercury Records decidisse por liberá-la de seu contrato, em maio de 1974. Pouco depois, David Evans deixava a banda. Era o primeiro revés na carreira do Blue Ash. E não seria o último.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

IPO VOLUME THIRTEEN!

A despeito da má reputação milenar e de ser rebaixado ao nível supersticioso de gato preto, mandinga e saravá três vezes, o número treze sempre trouxe bons fluídos para os power poppers. Treze é o nome de uma canção clássica dos nossos ídolos do Big Star. Treze é o nome de um álbum memorável dos nossos heróis do Teenage Fanclub. E agora treze é o número do novo volume da coletânea tripla do International Pop Overthrow.

Sorte nossa a compilação ter chegado forte, saudável e relevante ao décimo terceiro volume e, conseqüentemente, estar completando os treze anos de vida. Graças ao imenso trabalho do incansável e obstinado David Bash. Mesmo porque não se trata só de lançar uma coletânea dessa envergadura todo ano; trata-se de manter ativo um festival itinerante que percorre cada vez mais cidades nos Estados Unidos (e algumas fora, como Canadá e Inglaterra), e que é, na verdade, de onde deriva esta compilação.

E este volume treze faz as referências e reverências explícitas na arte de capa e contracapa: uma simula a arte do álbum #1 Record (onde está a faixa “Thirteen”) do Big Star e outra a arte de Thirteen, disco do Teenage Fanclub. Bons augúrios, então...
Com 66 faixas de 66 bandas vindas de oito países diferentes, o IPO Vol. Thirteen mantém a tradição de traçar o que de novo vem acontecendo no mundo – seja entre novas bandas ou grupos veteranos - do power pop, pop alternativo e afins.

Os noruegueses do The Royalties abrem o CD1 com a grudenta e radiofônica “Bring It On”, enquanto Seth Swirsky apresenta sua reflexiva e viajante - à La Brian Wilson - “She’s Doing Fine”, faixa pinçada do magistral álbum de 2010 Watercolor Day. Pianos pontuando, melodia memorável, refrão auto-adesivo e o indefectível inglês nipônico emolduram uma das melhores canções da coletânea: “Rain Parade” dos japoneses do The Mayflowers. Chis Richards & The Subtractions contribui com a poderosa e gentil, em doses iguais, “I, Miss July”, tirada do seu último disco “Sad Songs Of The Summer” e Stephen Lawrenson apresenta a adorável e inédita “Thank You”. As meninas californianas do Nushu mostram sua influência sessentista temperada com distorção contemporânea em “Leave Me Behind”, música de seu álbum de 2010 Hula.

Já no CD 2, e honrando a tradição pop da Austrália, vem os Stanleys, com a incrivelmente contagiante “What Are We Gonna Do?”. De Nova Iorque Ed Hale chega com a belíssima acústica “It Feels Too Good” e de Los Angeles Rob Bonfiglio traz a luminosa, de pegada soul e alma pop, “How To Mend a Heart”. Os suecos do Popgun armam a festa com “All Messed Up” e o veterano Jeremy reafirma sua capacidade de escrever canções pop em “Save Me From Myself”. A surf music sessentista vem representada pela canadense Laurie Biagini com “Not The Only Pretty Fish In His Sea”. O Tiny Volcano capricha nas harmonias vocais e melodias macias, no pop orquestral “Emily”. O Golden Bloom (na verdade o multi-homem Shawn Fogel) contagia com seu pop perfeito em “If You Believe”, abrindo o caminho para o pop clássico dominar as ações em “Heartaches Of Love” da Starfire Band. E Buddy Love aperta os botões certos para conquistar através da beleza emocional de seu novo single “Crying Town”.

O britânico Aaron Hemmington e seu Sunchymes estão no disco 3, onde destilam sua doçura sessentista de sotaque Pet Sounds com “Free Rider”. Os artífices texanos do power pop de Austin Blue Cartoon reaparecem com a bela e adesiva “If I Could Do It All Over Again” e os canadenses do The King oferecem sua delicada jóia pop “When Dreams Come True”. O Plastic Soul comparece com “Champion Tragic Boy” e seu refrão cheio de belos acordes. Os galeses do The Afternoons emocionam com a terna “I Want It Anyway”, enquanto Blake Jones & The Trike Shop diverte com “Forestiere Gardens” e seu clima de série de TV/cartoon network – que acaba combinando com a faixa seguinte “Peter Parker”, do The Whethermen.
Depois de mais uma overdose de pop com maiúsculas, só nos resta contar os dias para o IPO Volume 14... e a certeza de que sim, o treze pode ser nosso número da sorte.

http://www.internationalpopoverthrow.com/
 
http://www.notlame.com/NLIPO13.html