quarta-feira, 28 de maio de 2008

"Under The Radar: THE GOLDBERGS!

Normalmente colar a etiqueta de ‘clássico’ requer um espaço de tempo para que se possa observar em perspectiva – tanto o impacto da obra no seu tempo como os ecos da herança em gerações futuras. No mundo do power pop essa conotação tem efeito mais imediato por se tratar de um estilo já herdeiro de sonoridades clássicas e sem pretensões de deixar ‘legados’ a quem quer que seja. O sentido ‘clássico’ aqui, é o de perfeito encaixe em todos os requisitos do estilo para o se alcançar o bem-estar – e também da provável colocação do álbum em listas de “melhores do ano”. Por isso posso adiantar que Under The Radar já soa como um clássico do power pop.

Como já soava o primeiro disco de Andy Goldberg – na verdade o homem por trás do Goldbergs – Hooks, Lines & Sinkers, de 2006. Direto de Melville, New York, Goldberg novamente assombra o mundo pop com sua destreza no pop de timbragens e estética sessentista. Under The Radar veio para rivalizar com disco de estréia do Red Button na preferência dos power poppers de todo o mundo. Com timbre vocal parecido com John Lennon, Andy Goldberg capricha nas melodias memoráveis, não economiza no uso de sua Rickenbaker e mostra sua devoção à genialidade dos Beatles.

E com o Goldbergs nem é preciso ter inveja de quem presenciou a fase áurea dos fab four: “Please Won’t You Please” já chega elevando a serotonina cerebral com suas guitarras espertas e refrão perfeito. Levada macia e mais um chorus campeão - recheado de harmonizações vocais celestiais - em “Ain’t Gonna Stop”. O convite irresistível para sair e sentir o calor da melodia vem em “Feel The Sun” enquanto a balada “Water Blue” sugere um mergulho num breve amor de verão ambientado por uma bela slide guitar.

“Better Times” empolga e brilha na perfeição melódica e nos backing vocals inspirados. Contágio absoluto e irrestrito - refrão candidato a hit imediato: “I’m A Hero (Wainting To Happen). “I’ve Had Enough” apresenta teclado vintage onipresente, levada despretensiosa até desaguar em mais um refrão colante. Ao som de um legítimo ukelele havaiano – uma espécie de cavaquinho que soa como um banjo – Andy Goldberg se despede com “A Hand To Hold”, deixando impresso mais um clássico instantâneo no panteão do power pop.

www.myspace.com/thegoldbergs

domingo, 25 de maio de 2008

"Clint Sutton": CLINT SUTTON!

O olhar contemplativo e sereno de Clint Sutton na capa de seu álbum de estréia, pouco sugere a respeito do conteúdo sônico do disco. A imagem pacífica, como a de um pastor, poderia casar bem com a informação de que Sutton vive em uma área rural de Cameron, West Virginia. Mas é no leve sorriso de satisfação contida – ou enigmático, como o de Monalisa – que o cantor-compositor americano pode esconder suas fichas. Porque ele pretende jogar alto na aposta surpresa.

A capacidade multiinstrumentista e versátil de Clint Sutton – ele escreveu, tocou e gravou sozinho todo o álbum – já não consegue surpreender, pela quantidade de artistas que fazem o mesmo em dezenas de (bons) discos por aí. O jogo que o músico esconde na manga é como, no resultado final, ele consegue soar como uma banda – consistente, coesa e contundente. E, se na capa Sutton dissimula, na contra-capa entrega o ouro: a foto de um ambiente, com um pôster do Superdrag sobre uma estante de CDs, não deixa dúvidas sobre a grande influência do artista.

Na abertura em “Somebody Told Me”, o som invocado das guitarras e a pegada rocker faz você entender o sorriso de Sutton lá na capa. Tons vocais sobrepostos guiam o fluxo contínuo de guitarras em “Stone’s Throw”. A melodia vocal esperta escorrega pelo riff ganchudo de “When We’re Gone” até atingir o contágio instantâneo de “Because”. A voz de Sutton, sempre dobrada e suave, contrapõe à perfeição o poder que ele imprime às guitarras e a batida vigorosa da bateria – tanto que para reproduzir a potência ao vivo, ele conta com os chapas do Slop Models.

“Song You Like” já no nome define que veio para agradar, na sua energia luminosa e melodia inspirada. “Brand New Ride”, e sua levada power de refrão pop, lembra que a referência – fundamental - de Matthew Sweet passou por aqui. A homenagem sonora aos heróis do poster na parede, Superdrag, ficou para o fim: “Watershed Rocks”. Onde fica a certeza de termos encontrado o “homem que soa como uma banda”... E que tanto fez para realizar o sonho que, quando viu pronto seu álbum, disse – quase como o pastor que não é: “juro por Deus, eu fiz um disco!”.

www.myspace.com/clintsutton

quarta-feira, 21 de maio de 2008

"Chemical Dogs": CRASH STREET KIDS!

Parem as rotativas! Desliguem as máquinas! Deponham as armas! Deixem-se ser colhidos, absorvidos, dominados, abduzidos. Não façam força, não resistam, deixem estar. Algo irresistível te chama, clama por você, e, sem avisar, vai se instalar no seu cérebro, no seu coração. Flutue nas ondas sonoras, elas vão te levar ao ápice, ao cume do bem-estar. Te entregarão, em êxtase, aos domínios de guitarras mastodônticas e melodias grandiosas. Você está nas mãos do quarteto americano de Phoenix, Crash Street Kids!

Aqui, em seu segundo álbum Chemical Dogs, imerso em sonoridades setentistas - do glam rock ao power pop clássico – e canções que soam como hinos da era de ouro do rock.
E, o mais surpreendente, é que o Crash Street Kids não deveria estar nestas páginas: visual glam – beirando o Guns N’ Roses; fãs que esperam na porta do avião e se espremem em concorridas tardes de autógrafos; prêmios de ‘artista do ano’ (Hollywood Fame Awards) e ‘melhor banda de rock’ (Phoenix New Times); Alice Cooper e Kiss como influências declaradas e nome tirado de uma música do Mott The Hoople... mas, quando os primeiros acordes do álbum rompem o silêncio, a energia flui e a força sonora, estranhamente em vez de intimidar, emociona. Como se pudéssemos liberar sentimentos reprimidos, seja pelas etiquetas sociais, seja pelas secretas frustrações.

Ryan McKay (vocal e guitarras), Ricky Serrano (guitarras), Ryan “Deuce” Gregory (baixo) e AD Adams (bateria) com sua pinta de rock stars, parecem artistas inalcançáveis, e aí, mais uma vez, surpreendem: são extremamente amigáveis e divertidos (quando ‘reclamei’ que o relações públicas deles não havia me respondido a respeito da cópia promocional do novo disco Transatlantic Suicide, AD me disse: “ele perdeu seu endereço... como punição vamos mandar que uma de nossas cheerleaders lhe dê umas chibatadas com um cabo de guitarra molhado!”).

Um riff cru abre Chemical Dogs e, sua faixa-título, indica que eles realmente poderiam soar como o Kiss – se o Kiss fosse mais ameaçador e ainda quisesse mostrar serviço - rock de arena para ser acompanhado por multidões. Assim como o hino contagiante “Space Time Rock Bomb”, tão contunde quanto melódico, refrão clássico feito para ecoar por meses na caixola - neste ponto eles se aproximam mais dos power pop heroes Raspberries. “Glassjaw” valvula a pegada num rock cru e sincero - “I don’t believe in rock stars/I don’t believe they’re true”. A batida ao piano com arranjos orquestrais de “Mandy And The Leapers” revela a sensível versatilidade de McKay como compositor, em bela balada na linha Jellyfish.

Se você procurava um disco para fazer seu air guitar sem concessões, acabou de achar. Se esperava que ainda era possível ouvir uma usina de força sônica com alta carga emocional, Chemical Dogs é pra você. E “You’ll Be Getting Off Here” prova isso: outro hino que começa na espreita e desce como avalanche na melodia do refrão - ao mesmo tempo grandioso, pop, colante - até explodir em guitarras afiadas sobrepostas por ‘uh-uh-uhs’ e ‘la-la-las’. O glam rock começa rasgando em “Motor City Nazz”, mas reverte em power pop de arena, à la Cheap Trick, no chorus ganchudo.

“Mr. Starlight” segue acústica a transforma-se em uma balada orquestral só para contrastar com o bólido de competição sendo seguro, seguro, até ser solto no perfeito refrão de duas passagens de “It’s A Killer”. Como uma trilha de filme mudo dos anos 20, tocada em um vinil de 78 rotações, a divertida “Sweet Sexation” serve quase como prelúdio anacrônico para o punk rock ‘77 – essa cantada pelo baixista Deuce – “Penthouse”. A balada pop que vira épica, “Ilusion”, encerra o disco e provoca um suspiro para a retomada do fôlego: o dedo já está novamente acionando o play...

E se os músicos do CSK soubessem a reação emocional que Chemical Dogs causou? “Quando sabemos que isso acontece, somos realmente atingidos em cheio no coração – mas, na verdade, não é sobre isso que a música é?” me disse, por estes dias, AD. E sobre o relações públicas que seria açoitado? “Para ser honesto, ele gosta de ser abusado pelas cheerleaders. E quem não gostaria?”.

www.crashstreetkids.com
www.myspace.com/crashstreetkids

domingo, 18 de maio de 2008

"B Side Oblivion": THREE HOUR TOUR!

Há uma geração de power poppers ao qual o adjetivo ‘anacrônico’ não parece ser justo ou verdadeiro. Eu já havia mencionado aqui a quantidade de artistas americanos que foram expostos ao impacto da apresentação dos Beatles no Ed Sullivan Show, e como um evento tão distante cronologicamente de nós pode ainda fazer eco no tempo atual. Para os que presenciaram a invasão britânica – e que hoje estão na casa dos cinqüenta anos ou próximo disso – o arrebate se refletiu na sua futura produção musical. Ou seja, foram influenciados in loco pelo acontecimento, que forjou um estilo legítimo e, para eles, contemporâneo.

E assim foi com o cantor compositor de Illinois Darren Cooper, que tinha três anos no dia em que foi tocado magicamente pelas melodias dos quatro garotos de Liverpool. E que serviu para definir o caminho a seguir por tua sua vida musical. B Side Oblivion é o terceiro álbum do projeto Three Hour Tour, e contou com as participações estelares de Adam Schmitt – no baixo e na produção, gravação e engenharia de som; Paul Chastain também no baixo e Ric Menck na bateria. O que faz as expectativas em torno do álbum subirem aos céus.

Por isso logo na abertura o arrebate sônico da melodia irretocável e o refrão auto-adesivo de “A Girl That I Once Knew” – o protótipo do power pop pleno. “I Wanted You Around” segue em tom de balada lembrando Guided By Voices e o timbre vocal de Robert Pollard. A pérola “A Lady Named Caroline” recheada de belos acordes cativa na melodia pop e deixa claro as principais influências modernas do Three Hour Tour: Matthew Sweet, Guided By Voices e Myracle Brah.

A canção título é a prova cristalina da capacidade de Cooper no artesanato pop. E, mesmo com um pouco mais de pressão nas guitarras, o americano se sai bem ao contrapor o rock e o pop em “Road Less Traveled”. “Easter Basket Grass” traz refrão clássico para as massas e “Her Shadow” vem em clima de canção pop perfeita. A enxurrada de guitarras, formatando um autêntico rock de arena em “What Made You Change”, evidencia o impacto da segunda (a primeira, como já sabemos, foram os Beatles no Ed Sullivan Show) epifania musical da vida de Darren Cooper: um show ao vivo do Cheap Trick.

www.mysapce.com/darrencoopersthreehourtour
http://www.martianrecordcorp.com/

quarta-feira, 14 de maio de 2008

"Wings & Wheels": MR.D!

Quantas vezes a estrada não há de ter servido como caminho para novos sentimentos? Seja na busca ou na fuga de algo, onde direções opostas acabam por chegar ao mesmo destino. Pode ser o desejo de sair pelo mundo em busca do par perfeito ou colocar o pé na estrada em fuga de uma relação fracassada. Numa espécie de 'road album’ Wings & Wheels sonoriza com perfeição estes estados de espírito, inspira almas perdidas nas mais longínquas trilhas ou corações solitários no centro de qualquer metrópole.

Mr. D é Paul McLinden, cantor-compositor escocês que chega ao seu primeiro álbum. Como um cowboy espiritual, McLinden transporta a verve pop escocesa para os rincões norte-americanos da americana (uma mescla de música tradicional americana como folk e country com uma roupagem pop) escoando até as areias quentes da Califórnia. Algo como se o Travis fosse de Nashville ou o Teenage Fanclub viesse de Malibu.

“Fools Fall In Love” abre o disco em peça acústica baseada em violões de sotaque yanque com vocais amaciados pela água de Glasgow. A doce “Island Girl” embala em vocais harmônicos e melodia cativante, seja em San Francisco ou New York City. “Late September” segue a leveza acústica do álbum e cola o refrão na memória. Basta fechar os olhos e a batida de “I’ll Keep Looking Aound” pode te transportar por qualquer campo dourado, seja de trigo ou girassóis.

A steel guitar de “Somebody, Somewhere” dá o clima country de interior americano enquanto a beleza melódica de “Somehow I Know” aquece ou despedaça corações – depende da placa que segue: “busca” ou “fuga”. A balada de despedida “Whenever You Get The Feeling” emociona, não importando a direção que se escolha, porque, em Whings & Wheels, todos os caminhos fazem aflorar as sensibilidades mais sutis.



domingo, 11 de maio de 2008

"Memories Of The Never Happened": ROCKFOUR!

Não há que se estranhar a procedência do Rockfour: além do rápido processo de “mundialização cultural” que conhecemos nos últimos anos, Israel sempre teve estreitos laços com a parte ocidental do planeta. Por isso, o quarteto de Telavive, ambiciona voar para além das fronteiras com seu rock ao mesmo tempo melódico, denso e climático. Memories Of The Never Happened - quinto álbum dos israelenses – foi gravado em San Diego e contou com ajuda de músicos como Mike Kamoo do Stereotypes e Andrew Chojnacki do Peachfuzz.

Baruch Ben-Izhak, Marc Lazare, Issar Tennenbaum e Yaki Gani, usam suas habilidades para preparar épicos baseados na herança de Beatles, Byrds e Pink Floyd, e que podem trafegar pelas mesmas vias do Grandaddy. O grande desafio do álbum pareceu ter sido harmonizar a rispidez do rock, com paisagens sonoras inebriantes sem nunca perder a característica pop da canção. E eles conseguiram.

A instrumental “Glued” abre o disco e já congela o ouvinte na solidão do espaço sideral. A força inercial paralisante é quebrada de sopetão pela energia solar de “Half & Half”. Os dedilhados brilhantes de guitarra e a voz macia de Ben-Izhak auxiliam na viagem orbital pela ionosfera em “Because Of Damaging Words”. A batida quebrada, a sonoridade indefectível das doze cordas climatizadas pelo teclado vintage e sobrevoados pelas harmonias vocais dão o tom de “No Worries”. “Old Village House” passeia pela melancolia lisérgica e “Dear Truth” viaja pelo pop psicodélico.

Definitivamente Memories... é um álbum onde a densidade das canções impressiona. É fácil perceber e sentir que as vibrações sonoras aqui sempre podem te carregar a algum lugar, seja os confins obscuros do universo ou a compartimentos secretos da sua consciência. Ou simplesmente ao centro do salão para chacoalhar com o hit pop “It Ain’t Easy (When You’re Gone)”. “Young Believer” presenteia com belíssimo e emocionante refrão – “In june I’ll be tired so I’ll take longer coffee breaks/sweets keep’em smiling when their love is sugarless”. Quase sete minutos de reflexões, ruídos e coros vocais querubínicos na elevação melódica de “Corridors”. Encerra o disco a delicadeza viajante de “Lady Jette”, no que poderia ser, além da síntese sônica do álbum, um mix perfeito da diversidade sensorial do velho Pink Floyd com o proficiência pop do mestre George Harrison.

www.rockfour.com
www.myspace.com/rockfour

quarta-feira, 7 de maio de 2008

"The ACB's": THE ACB'S!

Nem sempre você precisa ser original para ser criativo. É possível ‘inventar moda’ utilizando material reciclado, colar colchas de retalhos sonoros que acabam por ter um resultado mais do que satisfatório. Empolgante até. Ousadia pode ser uma palavra essencial nessa receita, e, fugir do óbvio usando o ‘manjado’ requer imaginação. Coragem também, se você manobra em um terreno considerado ‘imaculado’ pelos fiéis, como o power pop. Afinal de contas, pode uma banda se inspirar em Cheap Trick e Michael Jackson ao mesmo tempo? Se você lembrar que a Motown foi uma das partes – pequenas, é verdade - formadoras do power pop lá atrás nos anos 70, vai perceber que não é incoerência nenhuma. Mas a banda de Kansas City, The ACB’s em seu álbum de estréia, ainda pode ir além.

Konnor Ervin (guitarras e vocal), Matt Saladino (guitarras) Sweetums (baixo e backing), e Corey Egan (bateria e backing) conseguem com seu mix ajustar a massa e deixar tudo no ponto certo: o puro pop.
“You Did It Once” chega batendo forte, com seu rock de arena contundente na linha Cheap Trick indicando o caminho... que o disco não vai seguir. E aí, com “Windows Up”, você entende porque: o riff quebrado da entrada, o falsete de Konnor, vai tudo te remetendo a fase áurea de Michael Jackson – que para o ACB’s pode ser ABC dos Jackson 5 - com uma pegada meio Weezer ou Rooney e uma cadência pop invejável.

“Keys In The Car” vem com a voz de Konnor sobrevoando uma guitarra sem distorção, um backing macio de “uhuhuhuh” acompanha até a distorção entrar e transformar o refrão num power pop adesivo. Que tal agora um pouco de Jackson 5 tocando power pop no refrão?
“Sometime” realiza. E outra: que tal uma bossa nova, cheia de leveza e ‘paa-paas’ emendando num contagiante pop poderoso feito para grudar no cérebro por dias? “My Movies” materializa. “Warning” e “Callin Omaha” vêm prontas paras as paradas, dessa vez pelo caminho tradicional: chorus de pop perfeito.

A carismática “Suzanne” pode alcançar qualquer lugar que o Maroon 5 já tenha chegado, com a vantagem de ter uma distorção invocada. Todo mundo vai querer chamar junto “suzanne, suzanne, suzanne!”. A levada de “We’ll Walk On The River” carrega tranqüila até o refrão para ser cantado aos milhões “ohhhhh/we’ll walk on the river/laaa-la-la-laaa!”
“I want a girl who can rock and roll it” diz Konnor no petardo “Rulo”, que atocha pressão até amaciar na última passagem, que termina sob backings aerados e um ‘yeah’ que só quem ouviu muito Beatles sabe fazer.

www.theacbs.com
www.myspace.com/theacbs

domingo, 4 de maio de 2008

"2007": STARFISH100!

Talvez o grande objetivo de uma banda da chamada era “tecno-científica” não é ser conhecida pela melhor técnica – músico que toca melhor. Nem pelo sucesso comercial – grupo que vende mais. É provável que em um cenário inundado por grupos sem rosto, ser reconhecido por características particulares, assuma o papel de ‘alvo’ das novas bandas. Assim traduzo: passou o tempo de ouvir Starfish100 porque “lembra Oasis” ou porque “eles beberam na fonte dos Beatles”. Quando você ouve 2007 pela segunda vez, está querendo ouvir Starfish100.

Grupo paulista que chega ao terceiro disco em uma decisiva fase de transição, de letras em inglês para o português; do brit pop clássico para o guitar pop amplo. E foi também essa troca de língua que trouxe uma singularidade ao Starfish: seu vocalista-guitarrista Demys Schneider é alemão, o que acaba dando um toque original às canções com seu sotaque peculiar. E dá até um certo prazer ver a lógica da língua imperialista subvertida... Completam o quarteto Angelo Bijelli (guitarra/vocal), Néo (baixo) e André Semeone (bateria).

Abrindo o disco “Por Mais Que” já mostra um Demys dominando os fonemas do português para encaixá-los com perfeição na lógica do pop gringo, mas, claro, no final ele não se agüenta e solta umas frases em bom inglês – tão bom que eu quase pensei que era Pixies... Confissões amorosas em tom reflexivo, mas entrecortadas por guitarras flamejantes e batida invocada nos requebros. A recepção de ‘uh-uh-uh-uhs’ de “Não Volta Mais” é um bom prenúncio para belos acordes, melodia clássica e distorção no talo. Em “Geração”, guitarras plugadas e desplugadas fazem a tabelinha entrosada até o refrão colante de alto potencial radiofônico “essa é a minha geração/essa é a nossa canção/eu digo olá pra todo mundo” – mas aqui cantada por Bijelli.

Nesse ponto a consistência sônica em 2007 está clara: a potência das guitarras não deixa o traquejo melódico se perder; a massa sonora é harmônica e contundente – o pop pode não ser tão inofensivo quanto pode parecer. “Memórias” ameniza a pegada, traz um piano/teclado emoldurando a melodia grandiosa e refrão perfeito: agora você simplesmente quer mais Starfish100. Cristalino é o sotaque de Demys na semi-acústica “Boas Estórias”, que entremeia algo de pop brasileiro – a primeira parte parece estruturada para o português - com britânico. A levada psicodélica passeia livre em “Nenhum Lugar” sobre bases pesadas de rock setentista que podem lembrar algumas bandas lisérgicas gaúchas – e onde Bijelli assume novamente os vocais principais.

“Problemas” sobrepõe os violões com forte riff de guitarra que remete à fase fuzz do Teenage Fanclub. Só não canto junto no refrão porque, pela primeira vez, não entendo o português de Demys. Depois seguem-se faixas em inglês retiradas de seus dois primeiros álbuns, Starfish100 e Defaced: “Far Away” – o grande clássico do Starfish100 (e uma mescla perfeita de Stone Roses+Teenage Fanclub+Oasis), “Fish Tatoo”, “Untrue” e “Slow Motion”. Que servem para se perceber o quanto o Starfish100 permanece sólido na sua bagagem musical, como seu domínio sobre o pop de guitarras evoluiu e como, nesse contexto, um sotaque alemão pode fazer toda a diferença.

www.starfish100.com.br
www.myspace.com/starfish100