Eles subverteram a ordem sem serem revolucionários. Desviaram o curso dos rios Mersey e Guaíba para os mangues de Recife. Não se submeteram ao regionalismo para receber o selo de qualidade comum a bandas pernambucanas. Sonoridades de Mellotrons, guitarras Rickenbaker, pianos Rhodes e baterias Ludwig sopraram diretamente do nordeste. Conseguiram rezar para heróis britânicos (Beatles ou Zombies) e americanos (Byrds ou Beach Boys), sem que isso fosse tomado como heresia colonialista.
Canções Perdidas Num Canto Qualquer, disco de estréia do então quarteto Volver, despejou canções pop de inspiração sessentista e despretensão quase ingênua. Agradaram aqui e do outro lado do Atlântico. Agora como um trio, o grupo chega com Acima da Chuva, que seria como uma reinvenção sonora – caso o primeiro disco tivesse sido fruto de estratégia premeditada (não foi). Bruno Souto (voz e guitarra), Fernando Barreto (baixo e vocais) e Zeca Viana (bateria) apontam novos caminhos sonoros, soam mais densos, mais complexos, mas ainda melódicos, harmônicos e, essencialmente, pop.
Algumas influências/referências novas enriqueceram a experiência sonora da Volver, desembocando numa inegável corrente evolutiva. O disco novo não está nem acima nem abaixo de Canções..., apenas em um lugar diferente. Mas, sem dúvida, mais apto às ondas do rádio e paradas de sucesso Brasil afora. Nesta conversa exclusiva com o líder da Volver Bruno Souto, ele nos fala, entre outras coisas, sobre esta mudança, suas expectativas em relação à repercussão do novo álbum e seus planos subseqüentes.
Power Pop Station: No primeiro disco da banda, Canções Perdidas Num Canto Qualquer, a influência sonora sessentista, junto a uma temática de amores juvenis, remeteu os brasileiros à Jovem Guarda. No exterior, a referência a Beatles, Kinks e Zombies, levou os ouvintes a associar o som da Volver ao power pop. A mim, pessoalmente, sempre soou como um trabalho descompromissado com rótulos, nem exatamente Jovem Guarda, nem exatamente power pop... Como vocês enxergam isso?
Bruno Souto: É curioso isso de rótulos, né? Às vezes chateia um pouco, mas é inevitável. O que acontece é que, quando comecei a compor, que foi na época que a idéia de formar uma banda surgiu, eu nem sabia como fazer direito. Foi tudo na intuição e calcado em bandas que eu curto desde moleque, e de bandas gaúchas que eu estava conhecendo na época dessas primeiras canções. Todas essas bandas quando não eram, exalavam rock dos anos sessenta. Então, vesti a carapuça e não me arrependo. Acho que nosso primeiro disco é muito bom e ainda há de ser descoberto por gerações futuras. Merece um maior reconhecimento.Tem muita energia bruta ali. Uma certa urgência punk típica de bandas iniciantes e é muito sincero no que estávamos nos propondo a fazer. O processo de formação da banda, composição e gravação do disco, foi muito rápido, afobado até. Tinha tudo pra dar errado e acabou que foi uma ótima estréia.
PPS: Falando em rótulos, Canções... foi considerado o melhor álbum power pop do ano em um site especializado espanhol e, ainda, várias músicas do disco foram tocadas em uma rádio de Madri. Como vocês receberam essa repercussão internacional?
Bruno: Reagimos com total surpresa! Nunca imaginamos que iríamos alcançar tal reconhecimento já no disco de estréia. Muito bacana.
PPS: Se o primeiro álbum é recheado de canções urgentes, joviais e energéticas, Acima da Chuva soa mais denso, climático, mais complexo até, se distanciando dos rótulos anteriores de Jovem Guarda e power pop – mantendo, porém, elementos de ambos. Como vocês acham que ouvintes e crítica receberão o álbum?
Bruno: Sinceramente, quero que o disco venda milhões de cópias, que a crítica nos considere geniozinhos pop e que produtores do mundo todo nos convide pra tocar em seus festivais pagando cachês exorbitantes e atendam a todas as nossas exigências de camarins. E o principal: muitas groupies! Ahahahahahaha, brincadeira! Agora, falando sério: lógico que queremos que as pessoas gostem do novo disco, mas ele foi feito pra agradar única e exclusivamente a nós da banda. Já é difícil chegar num acordo, no que diz respeito ao andamento, timbres e arranjos das músicas, entre os próprios músicos da banda. Já pensou ainda ter que agradar terceiros? É complicado. A nossa filosofia antes de gravar sempre foi: "Vamos fazer um disco que a gente gostaria de escutar em casa?" Simples assim.
PPS: Sem comparações do tipo 'melhor' ou 'pior' com o primeiro disco, Acima da Chuva soa claramente como uma evolução autoral e, provavelmente, um amadurecimento de ordem pessoal dos músicos. Como vocês relacionam estes fatos?
Bruno: Tiveram alguns fatores que considero de extrema influência nos rumos que levaram ao segundo disco: a entrada de Zeca Viana na bateria, a banda ganhou em criatividade, além de ele também compor; um relaxamento natural em nosso "deslumbramento" inicial - tivemos sorte de botar os pés no chão antes que a banda se desgastasse a ponto de encerrar as atividades; derrubamos as barreiras estéticas (leia-se anos sessenta) que havíamos levantado no primeiro disco. Ainda temos muita influência sixtie, porém, nos permitimos explorar outras influências e sons. Isso acabou expandindo os horizontes. Agora, é importante frisar que essa "abertura" não foi algo planejado. Nunca conversamos sobre isso. Simplesmente aconteceu; outra coisa também é que as composições melhoraram. Comecei a me soltar e arriscar mais. Estão mais próximas do quero dizer hoje, assim como as do primeiro disco refletiram meu momento na época. Acho que agora estou "roubando" melodias melhores, ahahahahaha!
PPS: As referências a Beatles, Badfinger, Zombies continuam patentes na sonoridade do grupo. Mas percebo elementos novos, como influências de Los Hermanos e Strokes. O que vocês ouviram no processo de composição do disco?
Bruno: Uma coisa é fato: o que você está escutando sempre reflete um pouco, mesmo que inconscientemente, em suas composições. Dito isso, vou citar bandas que acho que influenciaram em uma coisa ou outra nas novas músicas, além das já citadas: Beto Guedes, Lô Borges, Belle and Sebastian, Wilco, Roberto Carlos (fase 70), Mutantes, Beach Boys, Guilherme Arantes (primeiros discos), Bread, Hollies, Turtles, Television, Franz Ferdinand, Caetano Veloso (disco Cê), Frank Jorge, etc.
PPS: Vocês são conhecidos por ofereceram shows altamente energéticos. Acima da Chuva tem uma voltagem bem diferente de Canções, o que talvez não propicie apresentações tão bombásticas. Ou sim?
Bruno: A energia continua a mesma, apesar de estarmos um pouco mais velhos.
PPS: Qual o potencial comercial que vocês imaginam que a Volver tenha, e qual o nível de exposição que vocês esperam atingir no momento?
Bruno: Acho que a Volver tem um enorme potencial comercial. E o interessante é que não é forçado. Tudo é muito natural. Só que uma banda como a nossa, no nordeste, é complicado. Temos consciência que poderíamos atingir um maior reconhecimento se estivéssemos numa cidade como São Paulo, por exemplo. Mas as circunstâncias ainda nos prende a Recife. Apesar de adorarmos nossa cidade, sabemos que podemos alçar maiores vôos. Ainda bem que hoje temos a Internet pra superar algumas barreiras.
PPS: Viver de música é uma meta ou fica como 'conseqüência do trabalho', se vier, veio?
Bruno: É um misto de meta e utopia. Já foi uma obsessão, mas hoje estamos mais tranqüilos. O que tiver de ser, será. Estamos trabalhando pra isso.
PPS: O que vocês estão ouvindo em casa atualmente?
Bruno: Momofuku e Armed Forces do Elvis Costello; todos os discos dos Byrds até 1970; Sky Blue Sky do Wilco; A Love Supreme e Ballads do John Coltrane; todos do Cartola; Modern Times e Time Out of Mind do Dylan; Mudcrutch; o terceiro do Velvet Underground; Fruto Proibido da Rita Lee; Comes a Time do Neil Young.
PPS: Ano passado falou-se da possibilidade de uma turnê pela Europa. Em que pé estão os planos?
Bruno: Estamos estudando a melhor estratégia.
PPS: Vocês acabam de disponibilizar o conteúdo completo de Acima da Chuva para download no MySpace. Como vocês lidam com as novas tecnologias no mundo da música? Qual a data oficial para o lançamento do CD em formato físico?
Bruno: A internet é hoje, pra qualquer banda, a principal ferramenta de divulgação. Tentamos sempre fazer o melhor uso disso para chegarmos ao maior número de pessoas possível. Atualmente, estamos começando a investir mais no MySpace que é um ótimo espaço. Muito dinâmico. O disco físico deve estar chegando nas lojas em agosto.
PPS: Existem planos para uma turnê de divulgação pelo Brasil?
Bruno: Todos agora estão com responsabilidades fora da banda. Está meio difícil, mas vamos fazer o possível. Cada caso será bastante estudado. Não podemos mais cair em "roubadas", né?
PPS: Obrigado, boa sorte e deixem uma mensagem para leitores e fãs.
Bruno: Baixem nossas músicas! Comprem nosso disco! E se a Volver estiver na sua cidade, vá pro show! Entrem em nossa comunidade no Orkut e vamos ser amiguinhos (risos).
www.myspace.com/volverbrasil
Canções Perdidas Num Canto Qualquer, disco de estréia do então quarteto Volver, despejou canções pop de inspiração sessentista e despretensão quase ingênua. Agradaram aqui e do outro lado do Atlântico. Agora como um trio, o grupo chega com Acima da Chuva, que seria como uma reinvenção sonora – caso o primeiro disco tivesse sido fruto de estratégia premeditada (não foi). Bruno Souto (voz e guitarra), Fernando Barreto (baixo e vocais) e Zeca Viana (bateria) apontam novos caminhos sonoros, soam mais densos, mais complexos, mas ainda melódicos, harmônicos e, essencialmente, pop.
Algumas influências/referências novas enriqueceram a experiência sonora da Volver, desembocando numa inegável corrente evolutiva. O disco novo não está nem acima nem abaixo de Canções..., apenas em um lugar diferente. Mas, sem dúvida, mais apto às ondas do rádio e paradas de sucesso Brasil afora. Nesta conversa exclusiva com o líder da Volver Bruno Souto, ele nos fala, entre outras coisas, sobre esta mudança, suas expectativas em relação à repercussão do novo álbum e seus planos subseqüentes.
Power Pop Station: No primeiro disco da banda, Canções Perdidas Num Canto Qualquer, a influência sonora sessentista, junto a uma temática de amores juvenis, remeteu os brasileiros à Jovem Guarda. No exterior, a referência a Beatles, Kinks e Zombies, levou os ouvintes a associar o som da Volver ao power pop. A mim, pessoalmente, sempre soou como um trabalho descompromissado com rótulos, nem exatamente Jovem Guarda, nem exatamente power pop... Como vocês enxergam isso?
Bruno Souto: É curioso isso de rótulos, né? Às vezes chateia um pouco, mas é inevitável. O que acontece é que, quando comecei a compor, que foi na época que a idéia de formar uma banda surgiu, eu nem sabia como fazer direito. Foi tudo na intuição e calcado em bandas que eu curto desde moleque, e de bandas gaúchas que eu estava conhecendo na época dessas primeiras canções. Todas essas bandas quando não eram, exalavam rock dos anos sessenta. Então, vesti a carapuça e não me arrependo. Acho que nosso primeiro disco é muito bom e ainda há de ser descoberto por gerações futuras. Merece um maior reconhecimento.Tem muita energia bruta ali. Uma certa urgência punk típica de bandas iniciantes e é muito sincero no que estávamos nos propondo a fazer. O processo de formação da banda, composição e gravação do disco, foi muito rápido, afobado até. Tinha tudo pra dar errado e acabou que foi uma ótima estréia.
PPS: Falando em rótulos, Canções... foi considerado o melhor álbum power pop do ano em um site especializado espanhol e, ainda, várias músicas do disco foram tocadas em uma rádio de Madri. Como vocês receberam essa repercussão internacional?
Bruno: Reagimos com total surpresa! Nunca imaginamos que iríamos alcançar tal reconhecimento já no disco de estréia. Muito bacana.
PPS: Se o primeiro álbum é recheado de canções urgentes, joviais e energéticas, Acima da Chuva soa mais denso, climático, mais complexo até, se distanciando dos rótulos anteriores de Jovem Guarda e power pop – mantendo, porém, elementos de ambos. Como vocês acham que ouvintes e crítica receberão o álbum?
Bruno: Sinceramente, quero que o disco venda milhões de cópias, que a crítica nos considere geniozinhos pop e que produtores do mundo todo nos convide pra tocar em seus festivais pagando cachês exorbitantes e atendam a todas as nossas exigências de camarins. E o principal: muitas groupies! Ahahahahahaha, brincadeira! Agora, falando sério: lógico que queremos que as pessoas gostem do novo disco, mas ele foi feito pra agradar única e exclusivamente a nós da banda. Já é difícil chegar num acordo, no que diz respeito ao andamento, timbres e arranjos das músicas, entre os próprios músicos da banda. Já pensou ainda ter que agradar terceiros? É complicado. A nossa filosofia antes de gravar sempre foi: "Vamos fazer um disco que a gente gostaria de escutar em casa?" Simples assim.
PPS: Sem comparações do tipo 'melhor' ou 'pior' com o primeiro disco, Acima da Chuva soa claramente como uma evolução autoral e, provavelmente, um amadurecimento de ordem pessoal dos músicos. Como vocês relacionam estes fatos?
Bruno: Tiveram alguns fatores que considero de extrema influência nos rumos que levaram ao segundo disco: a entrada de Zeca Viana na bateria, a banda ganhou em criatividade, além de ele também compor; um relaxamento natural em nosso "deslumbramento" inicial - tivemos sorte de botar os pés no chão antes que a banda se desgastasse a ponto de encerrar as atividades; derrubamos as barreiras estéticas (leia-se anos sessenta) que havíamos levantado no primeiro disco. Ainda temos muita influência sixtie, porém, nos permitimos explorar outras influências e sons. Isso acabou expandindo os horizontes. Agora, é importante frisar que essa "abertura" não foi algo planejado. Nunca conversamos sobre isso. Simplesmente aconteceu; outra coisa também é que as composições melhoraram. Comecei a me soltar e arriscar mais. Estão mais próximas do quero dizer hoje, assim como as do primeiro disco refletiram meu momento na época. Acho que agora estou "roubando" melodias melhores, ahahahahaha!
PPS: As referências a Beatles, Badfinger, Zombies continuam patentes na sonoridade do grupo. Mas percebo elementos novos, como influências de Los Hermanos e Strokes. O que vocês ouviram no processo de composição do disco?
Bruno: Uma coisa é fato: o que você está escutando sempre reflete um pouco, mesmo que inconscientemente, em suas composições. Dito isso, vou citar bandas que acho que influenciaram em uma coisa ou outra nas novas músicas, além das já citadas: Beto Guedes, Lô Borges, Belle and Sebastian, Wilco, Roberto Carlos (fase 70), Mutantes, Beach Boys, Guilherme Arantes (primeiros discos), Bread, Hollies, Turtles, Television, Franz Ferdinand, Caetano Veloso (disco Cê), Frank Jorge, etc.
PPS: Vocês são conhecidos por ofereceram shows altamente energéticos. Acima da Chuva tem uma voltagem bem diferente de Canções, o que talvez não propicie apresentações tão bombásticas. Ou sim?
Bruno: A energia continua a mesma, apesar de estarmos um pouco mais velhos.
PPS: Qual o potencial comercial que vocês imaginam que a Volver tenha, e qual o nível de exposição que vocês esperam atingir no momento?
Bruno: Acho que a Volver tem um enorme potencial comercial. E o interessante é que não é forçado. Tudo é muito natural. Só que uma banda como a nossa, no nordeste, é complicado. Temos consciência que poderíamos atingir um maior reconhecimento se estivéssemos numa cidade como São Paulo, por exemplo. Mas as circunstâncias ainda nos prende a Recife. Apesar de adorarmos nossa cidade, sabemos que podemos alçar maiores vôos. Ainda bem que hoje temos a Internet pra superar algumas barreiras.
PPS: Viver de música é uma meta ou fica como 'conseqüência do trabalho', se vier, veio?
Bruno: É um misto de meta e utopia. Já foi uma obsessão, mas hoje estamos mais tranqüilos. O que tiver de ser, será. Estamos trabalhando pra isso.
PPS: O que vocês estão ouvindo em casa atualmente?
Bruno: Momofuku e Armed Forces do Elvis Costello; todos os discos dos Byrds até 1970; Sky Blue Sky do Wilco; A Love Supreme e Ballads do John Coltrane; todos do Cartola; Modern Times e Time Out of Mind do Dylan; Mudcrutch; o terceiro do Velvet Underground; Fruto Proibido da Rita Lee; Comes a Time do Neil Young.
PPS: Ano passado falou-se da possibilidade de uma turnê pela Europa. Em que pé estão os planos?
Bruno: Estamos estudando a melhor estratégia.
PPS: Vocês acabam de disponibilizar o conteúdo completo de Acima da Chuva para download no MySpace. Como vocês lidam com as novas tecnologias no mundo da música? Qual a data oficial para o lançamento do CD em formato físico?
Bruno: A internet é hoje, pra qualquer banda, a principal ferramenta de divulgação. Tentamos sempre fazer o melhor uso disso para chegarmos ao maior número de pessoas possível. Atualmente, estamos começando a investir mais no MySpace que é um ótimo espaço. Muito dinâmico. O disco físico deve estar chegando nas lojas em agosto.
PPS: Existem planos para uma turnê de divulgação pelo Brasil?
Bruno: Todos agora estão com responsabilidades fora da banda. Está meio difícil, mas vamos fazer o possível. Cada caso será bastante estudado. Não podemos mais cair em "roubadas", né?
PPS: Obrigado, boa sorte e deixem uma mensagem para leitores e fãs.
Bruno: Baixem nossas músicas! Comprem nosso disco! E se a Volver estiver na sua cidade, vá pro show! Entrem em nossa comunidade no Orkut e vamos ser amiguinhos (risos).
www.myspace.com/volverbrasil
Volver é mto bom, principalmente o cd "Acima da chuva".... mto legal mesmo!!!!!!!1
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