terça-feira, 30 de outubro de 2007

Disco do ano: "Gran Jukle's Field" - THE NINES!


A cada dia que passa tenho mais certeza: o melhor pop do mundo não está nas paradas de sucesso. Não toca nas rádios. Não aparece nas novelas. Não figura nas páginas das melhores revistas, nem nas listas de melhores do ano. Muito menos no cast dos principais festivais de música pelo mundo afora. Mas ele está vivo e forte, fluindo consistente das mentes criativas e talentosas de artistas desconhecidos do grande público e distantes do júbilo da fama e dinheiro. Talvez aí a explicação: música movida pela paixão, errando bolsos, atingindo corações.

Steve Eggers, cantor-compositor canadense de Toronto, é um destes artistas e externa seu talento criativo no projeto The Nines. O grupo, que funciona mais como Eggers + colaboradores, chega ao quarto álbum com este Gran Jukle’s Field e, provavelmente, ao seu ápice artístico. Colaboram aqui “famosos” do power pop, como William James do Bleu e Jason Falkner, o que acaba por conferir um certo padrão de qualidade ao álbum. Mas, que fique bem claro, não é a chancela destes artistas que confere a Gran Jukle’s o rótulo de obra prima do pop, e sim a maestria de Eggers. Que consegue condensar em 12 faixas o melhor que a pop music pôde produzir nos últimos 40 anos. E com perfeição: melodias ganchudas, harmonias celestiais, timbragens de voz e instrumentação magníficas e climas deliciosos e oníricos, que te levam a correr por imaginários campos dourados de trigo. O segredo aqui é a sensação de bem-estar e euforia gerada pelas canções. Como todo pop que se preze deveria ser.

“Insanity (The Sanest Thing You’ve Got)” já abre o disco golpeando melodicamente o mais insensível dos seres: batida ao piano, harmonizações angelicais na escola Jellyfish/E.L.O. e pop como todo beatlemaníaco aprecia. “Don’t Be A Fool” poderia ser uma composição de Paul McCartney executada com uma batida disco/pop e para ser dançada pela stripper que Eggers cerca em “Dance Just For Me”, que por sua vez soa próximo a uma balada do Weezer. Com refrão ultra-melódico, baseado em notas de piano, vem a energética “She Hijacked Me”, desaguando em seguida na maccartiana e de refrão a mil vozes, “Chantel Elizabeth”. A brillhante e hiper-pop “I Am Lost”, mescla a fase inicial e mais obscura do Bee Gees com a sua gloriosa era disco. “Virginia” mostra mais do artesanato pop de Eggers e “Safe” emula a fase surf dos Beach Boys: uma canção com gosto de praia e havaianas graciosas dançando o ula-ula.

Neste ponto você descobre porque veio a mundo e que não pode viver sem uma canção pop perfeita: “Monoty’s Song”. Até música tradicional americana de acento country - para ser tocada com banjo, para cowboy se segurar em cima do touro – Eggers transforma em gema pop, como "Find Our Way Back Home". Imagine então o que ele pode fazer com uma canção de amor... “Eileen” eleva aos céus os sentidos com acordes e melodia dos deuses. A faixa título encerra a coleção de pérolas, seguindo a linha das canções acústicas de Macca no primeiro terço, emenda uma turbinada grandiosa à la Jellyfish e chega ao topo com um chorus envolvente - onde você já começa a identificar a personalidade de Eggers entalhada em meio à profusão de referências.
E essa habilidade do canadense em utilizar suas melhores influências para moldar criativamente suas jóias pop e revelar a uma nova geração o melhor que o pop produziu nos 60 e 70, é o que confere a Gran Jukle’s Field o título de disco do ano.

www.ninespop.com
www.myspace.com/ninespop

"Nevermind Lullabye": NUSHU!


Não é comum ver bandas de garotas no power pop. Muito menos quando a banda se resume a duas componentes. E muito menos ainda quando o grupo tem duas minas que cantam e tocam todos os instrumentos. Formado na Califórnia pelas amigas de infância Hillary Burton e Lisa Mychols, o Nushu chega com bagagem ao álbum debut Nevermind Lullabye. Nos tempos de colégio, Lisa e Hillary já tinham estado juntas no grupo The Mozells. Depois cada uma seguiu seu rumo e Lisa transformou-se numa das mais conhecidas artistas femininas do power pop. Além de consistentes e elogiados discos solos, Lisa liderou o The Masticators e fez parte da formação do The Waking Hours (que empresta seu líder Tom Richards e o guitarrista Ricky Tubb para acompanhar as garotas nas apresentações ao vivo).

Apesar do disco de estréia do Nushu só ter chegado às prateleiras em 2007, “Spill” saiu nas coletâneas I.P.O. 10 e Sweet Relief; e “PopSound” esteve no I.P.O. 9. “Spill”, aliás abre o álbum em alta-voltagem, com energia punk, vocais gentis e melodias colantes, emendando nas envolventes “So Glad You Dig Me” e “Need To Be” – e o disco começa a não esconder as influências de Go Go’s, Bangle’s até da musa indie Tanya Donnelly e seu Belly. Desaceleram a urgência punk rock e embalam na angelical “Ageless” e suas harmonias descidas do paraíso. “She Said” atesta toda a experiência “power popper” na variação de acordes da dupla, que passa à mudanças de climas e passagens mais complexas e pesadas em “Fall Down”.

“Alexander Zabriel” transforma Hillary e Lisa nas Josie and The Pussycats endiabradas do power pop, até a bela “Reach For Me” colocar as auréolas de volta com sua melodia radiofônica e cativante. O baixo cheio de groove confere personalidade às moças em “Falkner’s In Love”, que não se fazem de rogadas e ainda capricham no refrão sem perder o traquejo pop - confirmado pelo título da próxima canção: “PopSound”, onde envenenam com distorção a singela pagada sixtie. Fecha o álbum a terna versão acústica de “Ageless”, chamada de “Lullabye Mix”.
A verdade é que bandas de garotas nunca estiveram nas galerias do power pop clássico, mas se o Nushu trouxer no rastro algumas seguidoras que seja, em breve teremos que rever nossos conceitos e abrir o panteão para grupos que vestem saias.

www.nushumusic.com

"How I Won The War...": THE WELL WISHERS!


Artistas inquietos e prolíficos são “like a rolling stone”: não criam limo e não se contentam com um projeto único. Líder de uma das mais antigas e conhecidas bandas de São Francisco, o Spinning Jennies, Jeff Shelton criou seu projeto solo e pararelo, o The Well Wishers. Que com How I Won The War... chega a seu terceiro disco cheio. Shelton produziu o álbum e tocou todos os instrumentos, com exceção da bateria, a cargo de Nick Laquintano.

E o comandante Shelton não veio brincar: “Grey Skies Black” é o cartão de visitas com distorção no talo, riff nervoso, batida vigorosa e o contrapeso com vocal amigável, melodia sinuosa e bem tramada. “Seashells” é o clássico power pop pronto para as multidões, mas que só chega aos ouvidos de poucos privilegiados. A acústica “Merilee” lembra que às vezes o timbre vocal de Shelton pode remeter ao de Ken Stringfellow e “Hope Is Fading” nos lembra que riffs potentes de guitarras são par perfeito para ganchos melódicos. “After Dark” é co-autoria com o cantor-compositor e cineasta Chris Brown, que executa um belo, climático e denso piano. Paredes de guitarras erguem-se e tentam sufocar a voz com efeito de Shelton em “The Optimist”, que sobrevive até a melodia auto-adesiva de “I’m In Love (Slight Return)”.

A grande influência do Well Wishers fica transparente em “Broken Glass” e “Resistance Is Futile”: The Posies. Da harmonização vocal até a produção das canções, tudo remete à banda de Seattle. Mas em “It’s True What They Say About Girls”, a marca do compositor Shelton também aparece – o gosto por afiados riffs de guitarra, peso mastodôntico na distorção, amaciando com força inversamente proporcional nas vocalizações e melodias pop. A batida marcial de “Soldiering” marca a angústia, medo e solidão de um soldado em combate, antes da faixa bonus “Nostalgia”, da banda Chameleons UK.
How I Won The War... leva às últimas conseqüências a contraposição da virulência do rock com a acessibilidade do pop, entremeadas harmonicamente nas canções de Shelton. E sobe alguns degraus em relação do disco anterior, Under The Arrows.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

"Fourth" - JUNEBUG!


Desde 2004, o Junebug vem lançando álbuns com os singelos títulos “primeiro”, "segundo", e assim por diante, mantendo a sequência e a frequência de um por ano. Neste quarto, ou Fourth, viram que não conseguiriam um lançamento oficial a tempo de manter a tradição anual e soltaram um versão em CD-R. A versão final provavelmente só verá a luz do dia no ano que vem. Nascido em Abergele, North Wales (Reino Unido) o Junebug é formado pelos irmãos Ralph Latham (guitarra e vocais), Guy Latham (baixo e teclados) com o amigo Warren Gilbert na bateria, e, como eles mesmos afirmam, a proposta aqui é produzir um “power pop vintage”. O que poderia sugerir um som que nos remetesse ao início do estilo, nos anos 70. Mas o Junebug retrocede uma década além e molda seu som com a delicadeza e simplicidade do pop sessentista, passando pelos ensinamentos dos seminais e onipresentes Beatles e Beach Boys.

O trio baseia seu som na sonoridade do teclado de Guy, como entrega a faixa de abertura - e homenagem à cidade natal - “Abergele”. Trafegam pelo mesmo espectro sônico do Teenage Fanclub e Primary 5 em “Searching For Something”, “A New Generation” e na envolvente “If It Were Not For Us”. Modernizam, com pitadas de distorção, rocks com sabor sixtie, como “Trailer Park Girls” e “Lost In The City”. Ensolaram o clima com o sunshine pop/folk – californiano, “Hey Mr. Sunshine”; cativam com o refrão candidato a hit de “The Best Thing In The World” e com a batida empolgante de “See Your Love”. Mantêm o fôlego pop em inspiradas melodias e acordes ganchudos na penúltima faixa, “A New Generation” e na última e viciante “I Know Your Heart Is Set On Me”.
Vale esperar a versão oficial do CD para colocar as mãos em Fourth, e se deliciar com as paisagens melódicas de vocais agradáveis na melhor tradição da música popular britânica.

http://www.junebug.co.uk/
www.myspce.com/junebugtheband

"New Sense": GRACE BASEMENT!



Cada vez mais a filosofia do ‘do-it-yourself’ funciona melhor. Se antes eram as bandas que faziam por conta própria, agora são os grupos de um-homem-só. Eles compõem, tocam todos os instrumentos, gravam, mixam, produzem... como se diz no futebol, jogam nas 11. O que acaba nos revelando artistas tão talentosos quanto bandas inteiras, com vantagem de não ter que ‘discutir a relação’ nem dividir o cachê. Como diria Chris Von Sneidern: “carreira solo é difícil; mas manter uma banda é assassinato na certa”.

O Grace Basement na verdade é o multiinstrumentista de St. Louis Kevin Bucley, que debuta com este New Sense e não esconde a pretensão de soar como uma banda completa.
Buckley vai desde a facilidade de um Guided By Voices em ser pop e low-fi ao mesmo tempo, apresentando guitarras sujas, harmonias vocais e melodias inspiradoras como em “Green Machine” e “She’s A Dream”, passando pela instigante orquestração desalinhada de “Orphan Annie And The Dump Truck” até a veia country/americana de “Santa Fe” e “As Far As I know”. Em “Marie” e “Caught” emula sua influência clara do folk melancólico e belo do Wilco. “You Must Go Home” engana no início de guitarras toscas para se revelar uma canção acústica com um dos momentos melódicos mais sublimes do álbum.

www.myspace.com/gracebasement

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Entrevista Exclusiva: THE SINGLES!



Quando vi pela primeira vez a figura na capa do novo álbum dos Singles, Start Again, pensei: “legal, três bombas de fragmentação ou mísseis ar-terra caindo diretamente nas nossas cabeças!”. Petardos de energia explodindo doses massivas de melodias ganchudas e guitarras afiadas; projéteis com sensor térmico direcionados para atingir em cheio todas as fibras do corpo via nossos ouvidos. Depois de tanta imaginação, descobri que se tratava na verdade da “3-Tied Logo”, ou seja a “logo das três gravatas”... as bombas nucleares de harmonias sixties eram gravatas... Porque os Singles são um trio que se vestem com terninhos e gravatas finas no melhor estilo mod, e a representação gráfica é a tal logo. Mas o interessante – apesar do aparente ledo engano - está aqui: colocando o disquinho pra rolar, as singelas gravatas transformam-se novamente em mísseis teleguiados: como um The Who em fúria tocando Buddy Holly, ou os Beatles envenenando sua receita a até se transmutarem nos Flamin’ Groovies.

Nascidos na Detroit rock city de lendas como Stooges e MC5 e hypes como White Stripes e Raconteurs, os Singles nunca seguiram o rastro natural deixado por essas bandas. Preferiram a escola de Beatles e Chuck Berry para forjar o seu som. Lançaram o ótimo debut Better Than Before quatro anos atrás, mudaram a formação, com o líder-guitarrista-vocalista Vincent Frederick sendo o único remanescente. Hoje completam a banda John Hale no baixo e Brian Thunders, na bateria. A alquimia do som sixtie com pegada rocker e melodias adesivas continua em Start Again, lançado em 2007, onde bombas e gravatas, já sabemos, têm o mesmo poder de destruição.

Direto de Detroit, Vince Frederick concedeu com exclusividade esta entrevista para o Power Pop Station, onde fala de suas influências, a desconexão com a cena de Detroit, e revela: “temos mais resposta ao nosso trabalho na Europa e Brasil (?!?!) que nos EUA!”.

Power Pop Station: Como começou seu amor pelas bandas sixties? Pergunto porque vocês são muito jovens e, em geral, a juventude atual não me parece muito interessada no tipo de música pop feito por aquela geração...

Vincent Frederick: Eu realmente comecei a ouvir Beatles no colégio, na época do segundo grau, quando as portas foram abertas para todas as bandas daquela era (The Rolling Stones, The Zombies, The Who) como também eram nossas influências aqueles que empunhavam uma guitarra (Chuck Berry, Buddy Holly, Little Richard, Elvis). Era o tipo de música que eu queria tocar. E eu sabia que era o tipo de canção que eu estava interessado em compor. Não acho que existam muitas bandas jovens que também escutem aquelas bandas ou canções.

PPS: Normalmente as pessoas chamam esse tipo de música de “retrô” ou “revivalista”, mas acho que, se crescemos em outra época, isso, de certa forma, soa fresco e novo para nós. O que você acha?

Frederick: As pessoas sempre chamaram a música que é influenciada pelo rock and roll seminal de “retrô” ou “derivativo”. E elas sempre dizem que isso não é original e a desprezam. Mas todas as bandas, musicalmente são, no seu subconsciente, inspiradas pelas bandas/canções que gostam ou escutam. Você simplesmente não pode evitar isso. E vale para todas as bandas… mas eu não gostaria de ficar aqui indicando a direção para ninguém. Críticos musicais deveriam relaxar e não escrever tanto sobre tudo!

PPS: Você acha que o power pop é muito derivativo para alcançar o mainstream?

Frederick: Eu acho que o power pop é basicamente rock and roll com um pouco de influência do punk. É uma questão realmente difícil de se responder por completo, como eu disse antes. Não estou tão preocupado sobre o que é ou não derivativo. Se é uma boa canção, é uma boa canção.

PPS: Em Better Than Before vocês eram um quarteto. Agora, em Start Again, vocês são um trio e somente você permanece. O que aconteceu?

Frederick: Basicamente os outros caras não estavam interessados em continuar na banda. E realmente você precisa ser “um por todos e todos por um” para estar em uma banda. Então foi uma boa coisa que aqueles caras tenham deixado a banda!

PPS: Quais a s principais diferenças entre o primeiro e o segundo álbum?

Frederick: A banda agora é um trio em vez de quarteto! (risos).
De fato, acho que as canções estão muito melhores no segundo álbum. É um processo natural de composição. Você não deve ficar grudado em um trilho escrevendo sempre as mesmas músicas, como muitas bandas fazem!

PPS: Quando vi pela primeira vez a capa de Start Again eu pensei: “Bacana! Três bombas – carregadas de guitarras poderosas e melodias envolventes - caindo diretamente nas nossas cabeças!” Depois descobri que aquelas bombas (ou mísseis) eram na verdade a “3-Tie Logo”...

Frederick: Outras pessoas também pensaram que eram bombas... então, você não foi o único, Paolo!
Aquelas são “três gravatas”, mas elas podem ser o que você quiser que sejam. Eu acho que é uma representação bacana de como nos vestimos.

PPS: Vocês são de Detroit, um lugar com muitas bandas “na crista da onda”. Mas vocês soam diferente, com uma certa ‘desconexão’ da cena local. Como a crítica, o público, a indústria musical nos Estados Unidos têm recebido os Singles?

Frederick: Nós não soamos como os Stooges ou o MC5, coisa que muitas bandas de Detroit tentam, por isso é difícil nos incluir entre estes grupos. Para grande parte dos Estados Unidos não existem bandas que se pareçam conosco, e de fato, não existem bandas americanas que soem como nós. A maioria das composições apresentadas pelas bandas daqui não são realmente fortes. Mas nós temos mais resposta do público na Europa e no Brasil!

PPS: Vocês conseguem pagar as contas somente com sua música?

Frederick: Ainda não... é muito difícil conseguir isso agora. Nós ainda temos nossos trabalhos!

PPS: Conte-nos sobre sua atual turnê americana. Planos para uma turnê européia?

Frederick: Vamos rodar os Estados Unidos o máximo que pudermos. Estamos planejando uma turnê na Europa para o ano que vem, entre Fevereiro e Março, porque Start Again será lançado por lá oficialmente em 11 de Fevereiro.

PPS: Mande uma mensagem aos fãs brasileiros!

Frederick: Nós agradecemos por vocês ouvirem nossa música, adoraríamos tocar aí. Então, se vocês conhecerem alguém que pode nos levar, mande um e-mail para thesinglessounds@hotmail.com

sábado, 20 de outubro de 2007

"Rollo Time": ROLLO TIME!


Rótulos musicais sempre carregaram sua carga de subjetividade. E subjetivo é o power pop, mesmo em rodas de discussão entre “experts” do estilo. E um exemplo claro disso é o disco de estréia, homônimo, do Rollo Time, banda de Downers Grove, EUA, que tem sido carimbada como uma banda de “pop poderoso”. Projeto musical do cantor-compositor Jon Raleigh (o grupo conta também com Sean Black nas guitarras, Matt Sharp no baixo e Tony Gaetto na bateria) o grupo apresenta composições que desfilam o peso das guitarras afiadas do rock clássico até as melodias colantes do power pop, sem, porém, se pretender nem um nem outro.

Já na abertura do álbum, “Maintenance Free” satura nas guitarras e solta o falseto melódico no refrão até parar tudo no meio e só uma nota ao piano acompanhar a voz de Raleigh. “Float Down The River” acelera ao ritmo e convida a cantar junto até “Travel The World” dar uma meia-trava fluindo depois no chorus encorpado. “Don’t” tem uma quebra de ritmo estranha (lembrando quando Kurt Cobain acompanhava os movimentos instrumentais da música com a voz) para depois adocicar melodicamente. “Cut Me To The Quick” imprime pressão rock desaguando num belo refrão flutuante.

“Only If You Wanna”, “Be Careful” e “Digging My Garden” repetem o gosto de Raleigh em mesclar guitarras pesadas, riffs poderosos - e até algumas espetadas em solos mais invocados – com vocais agradáveis e harmonias de maciez pop. A acústica “Teach To Grow” remete às bandas de soft rock dos setenta mostrando a capacidade do Rollo Time de também tramar com delicadeza. “Moth & Butterfly” traz um ambiente épico-pop com um toque psicodélico nos vocais do refrão.

A mescla de elementos usada por Raleigh em suas canções trata de descarecterizar qualquer rótulo que se queira pregar no trabalho do Rollo Time. Rock vigoroso com guitarras afiadas e melodias pop envolventes não precisam de etiquetas; aqui, a rotulagem, fica ao gosto do freguês.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A linha de frente do power pop alemão: The Sealevel, Seaside Stars e The Monster Bronsons!


A imagem mental pré-concebida que temos de Berlin, é de um lugar frio, cinza e coalhado de alemães ríspidos e mal-humorados circulando onde no passado erguia-se o famoso muro. Pensamos também naquelas construções abandonadas onde os punks apropriam-se do local para promover seus shows anárquicos e violentos. Tal para qual: essa imagem se equivale a que os alemães têm do Rio de Janeiro - mulatas semi-nuas ao alcance da mão, sambistas esmerilhando seus pandeiros em cada esquina ou cobras atravessando as pistas nas faixas de pedestres.

Por isso, pensar em grupos interessados em melodias ensolaradas e harmonias angelicais, não sugere que elas possam vir da Alemanha, muito menos de Berlin. Mas é lá que a linha de frente do power pop alemão se organiza: The Sealevel, Seaside Stars e The Monster Bronsons. Todas capitaneadas pelo homem mutitarefa Hans Foster. E que não esconde a paixão por Beach Boys e Teenage Fanclub diluída na obra dos três grupos. A fixação por temas ligados à praia, sol, mar também conecta o trabalho da tríade. E assim como os conterrâneaos do gênero – Monkeeman e The Cheeks – cantam em inglês, conscientes da falta de delicadeza fonética da língua pátria.

No Sealevel, Hans divide os instrumentos com Maff (que também integra o Monster Bronsons), Berni e Dirk e apresenta o álbum Beach From Last Summer. O som do tic-tac do relógio na faixa título e de abertura parece retroceder o tempo até as praias da Califórnia dourada dos Beach Boys, onde os alemães parecem alcançar o nirvana de uma época e um lugar em que nunca viveram. A profusão de harmonias vocais caprichadas continua descendo pelo disco, acompanhadas por riffs de guitarras incisivos e melodias pop cativantes como ensinaram Teenage Fanclub, Velvet Crush ou Posies.

Já no Seaside Stars, Hans Foster faz dupla com Andi Schuwirth e chega ao seu segundo álbum com The Stranded Whale – o primeiro foi The Magic Stereo. Mas continua privilegiando as tramas melódicas do pop perfeito, agora um tanto mais acústico e reflexivo e se aproxima por vezes da fase mais madura do Teenage Fanclub, mostrada nos seus três últimos álbuns. Vai ficando clara a deliciosa obsessão de Foster pelo mar, pelo verão... e pelos fannies.

No The Monster Bronsons, Hans chama Mira, Sutti, Maff para completar a formação, adiciona um pouco de distorção e remete a sonoridade do grupo à fase 'Bandwagonesque' dos Fanclub. A banda ainda trabalha para editar seu primeiro trabalho, mas já disponibiliza uma versão em CD-R com 12 faixas. As melodias continuam inspiradas, a bateria acelera o ritmo e aparece a preferência por lugares ensolarados dos Estados Unidos para intitular a metade das canções do disco, como: “San’Cisco Bay”, “California”, “Hawaiian” e “Florida”.

Apesar da overdose de referências e influências do estilo, em nenhum momento as bandas se apresentam como “power pop”, contra-mão da tendência onde “cool” é ser rotulado como tal. Mas fica patente e inegável a força que o estilo vem tomando no país do chucrute e principalmente a projeção que o ‘trio de ouro’ começa a tomar fora de seu território. O novo power pop alemão não é só pra inglês ver.

www.myspace.com/thesealevel
www.myspace.com/seasidestars
www.myspace.com/themonsterbronsons

sábado, 6 de outubro de 2007

Power pop para os desabrigados do Katrina: SWEET RELIEF!


Não é comum no mundo do power pop projetos de ‘disco de caridade’ em benefício de alguma causa nobre, pelo simples motivo de a maioria das bandas do estilo serem meras desconhecidas do grande público – e às vezes elas mesmas estarem precisando de suporte. Mas Sweet Relief, uma coletânea tripla idealizada, produzida e compilada pelo cantor-compositor Jeremy Morris, serviu aos dois propósitos: arrecadar fundos aos desabrigados pela passagem do furacão Katrina e a dar espaço para bandas emergentes mostrarem a que vieram. Morris lançou o álbum através de seu selo Jam Records e reuniu grupos de 12 países diferentes, que cederam 74 faixas ao projeto.

O que se vê (ouve) aqui são desde bandas iniciantes – dispostas a mostrar o frescor no novo power pop - a conjuntos clássicos dos anos 70, que compareceram com faixas raras ou inéditas. Artistas carimbados do estilo também dão as caras na compilação.
No disco um a faixa de abertura “Float Me On The River” foi composta especialmente para o disco, pelos veteranos Shane Faubert, Gary Pig Gold e Jeremy Lee; o Maple Mars vem com a música de contornos psicodélicos “Breath Deep”; a dupla Seth Swirsky e Mike Ruekberg do The Red Button traz o pop viajante “Free”; os israelenses do Rockfour entregam no título a quem eles tentam soar em “Where The Byrds Fly”; a new wave turbinada das garotas do Nushu em “Spill”; o “Teenage Fanclub alemão” Seaside Stars colabora com “Kick Out” (você vai jurar que é o Gerard Love quem canta...); os australianos Tamas Wells comparecem com a mais bela canção da coletânea – e provavelmente do ano – “Valder Fields”; o casal do Florapop Mark e Lisa mostram mais uma canção pop perfeita para corações sensívies, “Walk Upon Yourself”; também desfilam no disco nomes mais conhecidos como Phil Angotti, Bobby Sutliff, Herb Eimerman, The Shambles e o próprio Jeremy Morris.

No disco dois destaque para o Somerdale e a acústica “Over The Ocean”; a upbeat sessentista de refrão colante “My Heart Belongs To You” executada pelo casal sueco Michael a Johanna Klemme do Marmalade Souls; a enérgetica “Be All That” dos The Crash Moderns; a pesada e envolvente “Those Strings” do Static Halo; a divertida e dançante “Two Green Eyes” dos suecos The Mop Tops; Fran Smith Jr. And The Ten Cent Millionaries vem com a maccartiana “Leonardo”; Chris Richards e sua cativante “Leave It Up To You”; o refrão candidato a hit de “Carry You 2” é capitaneado pelo Rich Arithmetic; a versão demo rara de “Star Bright” do Barclay James Harvest; a climática e orquestral “Doodlebugs” apresenta os ingleses do The Colonial Movement Company; além de faixas clássicas do DM3, Spongetones, Gary Pig Gold e canções conhecidas do Farrah, Zinedines e Sweet Apple Pie.

O terceiro disco abre com a nova de John Wicks (The Records) “So Close To Home”; a harmônica “Eye Eye” saiu do novo álbum do Lolas; soando como as bandas setentistas de power pop, Richard Orange aparece com “All The Way From China”; o mestre Jeff Murphy (Shoes) não perde o traquejo pop na sua nova canção “Never Let You Go”; a emocionante “Sweet Relief”, escrita para a compilação pelo chefe Jeremy Morris; o tesouro mais bem escondido da coletânea, inédita por 30 anos, é sobra de estúdio do primeiro álbum dos canadenses do Klaatu - na época, 1976, dizia-se que na verdade os membros eram os ex-Beatles escondidos sob pseudônimos - o que pode sugerir o tamanho da preciosidade pop da magnífica “There’s Something Happening”; a trinca de power pops perfeitos talhados com maestria por novatos de cantos diferentes do mundo: “Spice” dos franceses do Mama Got Five, “You (And Everything You Do)” dos suecos do The Tor Guides e “Shooting Star” dos australianos do Magneto; William Pears entrega direto da França acordes agradáveis e refrão pop em “Sinisterville”; a rara “A Voice Inside Me” dos Shoes; contribuíram ainda artistas reconhecidos no mundinho power pop como The Fire Apes, The Oohs, Sparkwood, Pop Is Art e Ed James.

Depois de quase de quatro horas de imersão em melodias memoráveis, harmonias celestiais, guitarras energéticas e vibrações revigorantes, fica a certeza de que Sweet Relief vai além de reconfortar desabrigados do Katrina: aquece os corações mesmo daqueles que parecem abrigados e confortáveis na segurança do seu lar.

Para a lista completa de artistas e músicas: www.myspace.com/sweetreliefcharitycd