quinta-feira, 30 de outubro de 2008

"Esque": THE RIP OFF ARTISTS!

“John Lennon, Paul McCartney, Elvis Costello, Burt Bacharach e John Barry são as cinco influências primárias da música pop”, diz o ‘artigo’ número um do ‘manifesto’ do Rip Off Artists. Uma exposição pública e, nem tão solene assim, de razões e objetivos da dupla de Milwaukee Nick Pipitone e Peter Batchelder. Já o ‘artigo’ cinco é direto e esclarecedor: “verso, refrão, verso, refrão, ponte, verso, refrão”. O título do disco, por sua vez, carrega uma ironia fina, uma espécie de provocação à crítica musical, já que o “esque” em inglês é uma espécie de “à la”, “com sotaque de” ou “derivado de” Tipo: Beatle-esque seria ‘beatleneano’; Beach Boys-esque, ‘beach boyneano’ e assim por diante. Mas a experiente e talentosa dupla de músicos têm cacife para ironias, manifestos pop ou provocações de qualquer espécie. “Esque” traz arranjos, instrumentações, timbres e idéias que valorizam e surpreendem dentro do (power) pop. Apesar de alguns relacionarem o som do Rip Off Artists a bandas como Fountains Of Wayne, Squeeze ou XTC, prefiro ficar com as imagens sonoras sugeridas pelo artigo primeiro do manifesto.

Passada a pequena “Intro/Normal People”, que abre o disco, entra uma das melhores canções pop do ano: “The Present, Tense”. Que não precisa de manifestos, ironias ou que o valha para se defender. Recheada de pianos e teclados, chocalhos sutis e batida esperta (com mudança de timbre na caixa nas passagens decisivas), a música tem refrão duplo de vocais perfeitos e melodia adesiva. E nos remete imediatamente ao artigo cinco – com uma passada rápida no primeiro, onde estão Lennon e McCartney. Segue a “bacharacheana” “What Just Happened?”, em um cativante pop orquestral até a entrada “The Wishful Thinker”, simples na sua constituição pop e rica nos detalhes dos arranjos.

E é isso que impressiona: a capacidade do duo de como ser criativo, usar variados instrumentos, e ainda soar simples e extremamente pop. A genialidade passou por aqui. Assim como conseguem ser emocionais na balada “The Worst News In The World” sem deixar de colar a melodia no cérebro do ouvinte. Mais um refrão memorável vem em “The Girl Behind The Bar”. Já o clima de sonho fica por conta da belíssima, e imersa em violões e teclados, “Sidetracked”. “Love And Uncertainty” engana no começo com um teclado despretensioso para explodir no refrão pop perfeito, talhado para as ondas do rádio.

Descendo (ou subindo) Esque, faixa a faixa, vai ficando cada vez mais cristalina a impressão de ser um dos melhores álbuns do ano. Pipitone e Batchelder ensinam como lapidar gemas pop com esmero, utilizando a arte dos grandes mestres do passado sem abrir mão de vasto instrumental. Como na magnífica “Without You, I’m Something” onde a frase da dupla que diz “nós tínhamos acordes, e não tivemos medo de usá-los” fica plenamente justificada. Encerra o disco - com harmonizações vocais celestiais e progressões melódicas envolventes - “I Through It Over”. (Não) estava escrito: Esque é o poder do pop a serviço da inteligência e a mercê da emoção.

www.theripoffartists.com
www.myspace.com/374233574

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"Jet Sounds": PRIVATE JETS!

Não é fácil fazer valer a missão. Tal qual um garimpeiro, que atira sua peneira centenas de vezes antes de ver um pequeno brilho em meio ao cascalho, a busca pelas gemas pop perfeitas exige perseverança. É claro, já conhecemos alguns territórios férteis em tesouros escondidos e isso pode encurtar a busca. E um desses terrenos ricos em pedras preciosas do power pop fica na fria Suécia.

É de lá que vem a banda dos gêmeos Erik e Per Westin - completada por Janne Hellman e Mikael Olsson. O Private Jets chega a seu primeiro álbum cheio já disposto a conquistar um posto de destaque no coração dos power popers. Porque Jet Sounds talvez não seja o que poderíamos chamar de álbum: se parece muito mais com uma coleção de hit singles ou um best of. Mas, no fim das contas, sim, Jet Sounds é um disco de inéditas.

Melodias memoráveis, harmonias vocais angelicais, guitarras afiadas, ganchos mais ganchos e mais toneladas de ganchos. É só o... “power pop heaven”! Que abre suas portas na energética e adesiva “I Wanna Be A Private Jet”, mostrando que o legado sueco de bandas como o Merrymakers está latente aqui. O clima de grandiosidade pop é marcado por guitarras e teclados em “Extraordinary Sensations” até desaguar na ultrapop, de refrão colante e harmonias perfeitas, “Speak Up, Speak Out”.

Não é novidade que a Suécia é um celeiro de grupos pop majestosos, mas o Private Jets impressiona pela facilidade em criar peças sonoras altamente viciantes. Soa como o verdadeiro sucessor de uma das bandas mais melódicas da história do pop sueco, o Beagle. “Investigate” prova isso na sua perfeição de progressões de acordes contagiantes. Mas o quarteto também adiciona referências outras, como Jellyfish na emocional de coros intrincados “Starshaped World”.

A surdez crônica das rádios pode ignorar solenemente Jet Sounds, mas sabemos que “Fireman For Day” poderia ter alta rotação em qualquer uma delas. “The Fire Academy” só repete o título em jogos vocais aprendidos com o mestre Brian Wilson. “Fast Forward With You” tem refrão fácil para as massas repetirem junto e a batida ao piano de “First Division Of Love” se entrelaçam com as belíssimas harmonizações vocais.

Em “Self Pity Association” é hora de se perguntar de onde vem tanta inspiração... Beatles e Zombies também passaram por aqui. A acústica e ensolarada “Hayfever” parece celebrar com simplicidade e leveza a proeza que os suecos acabaram de conseguir: nos entregar um baú onde todas as jóias têm o brilho raro do alto quilate.

www.privatejets.se
www.myspace.com/privatejetsmusic

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

"Midnight Cemetery Rendezvous": RADIO DAYS!

Talvez eles nem se lembrem. É bem possível, inclusive, que nem nascidos fossem. E eu apostaria, ainda, que os meninos do Radio Days não viram a TV matar a estrelas do rádio. Mas certamente ouviram histórias sobre as canções que tinham o poder de conquistar os jovens, viajando moduladas em ondas curtas ou médias. Nomearam a banda que, numa primeira olhada, sugere nostalgia. Até que as guitarras e melodias afiadas mostrem o frescor e a energia deste quarteto de Milão, Itália.

Midnight Cemetery Rendezvous é um EP de seis músicas, que provavelmente vem preparando o terreno para um disco cheio que deve sair em breve. Dario Persi, Francesco Orsi, Mattia Baretta e Alessandro Redondi, conseguem aqui realizar a mescla perfeita da energia do punk, com as melodias do pop sessentista. Mas tudo embalado de forma a provocar o deleite na nova geração – sejam eles power popers ou não.

“Brand New Life” já assombra de cara: os italianos não têm medo de gastar as boas melodias nem querem guardar cartas nas mangas. Guitarras atacam certeiras, escoltadas por harmonias vocais perfeitas e aí, entendemos o que os ‘dias do rádio’ representam para esses garotos. Porém, o recado aqui é adornar a canção sem nostalgia. Por isso “Don’t Keep Me Wainting”, com sua melodia irresistível e batidinha sessentista, soa moderna na pressão das guitarras.

Os coros de “Tomorrow” ecoam o power pop setentista/oitentista que ainda estava sob influência do punk rock. E a sensacional “Waiting For You” é o protótipo do power pop perfeito. Tem um refrão que poderia facilmente ser desmembrado em quatro, e doado, em partes e como caridade, aos reis do rádio atuais. “Rock’N’Roll Girl” é cover de Paul Collins Beat, mas se disséssemos que eram os Ramones, não faria diferença. Fecha o EP “She’s Driving Me Crazy”, em mais uma impressionante coleção de melodias e harmonias perfeitas, entrecortadas por uma guitarra nervosa e mais um chorus memorável. Não há dúvida: são os Radio Days dando uma lição nos cânones dos ‘iPod days’.

www.myspace.com/radiodays

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

"Retrofit"/"The Next Big Thing"/"The Happy Door": TIM ANTHONY & THE BRAMBLES

Se pudéssemos condensar a trajetória comercial do power pop no mundo da música em um só artista, poderíamos usar Tim Anthony como exemplo. Artesão da canção pop perfeita, o músico americano de Syracuse, esteve por várias vezes a um passo de uma grande gravadora. Em mais de 25 anos de carreira, Anthony poderia ter assinado com a Elektra, Geffen, A&M, Capitol... mas, na última hora, alguma coisa sempre falhava (alguns chamariam isso de “a maldição do power pop”...).

Retrofit é uma coletânea com as gravações raras de Anthony feitas nos anos 80 (depois formou os Brambles com o primo Lou Anthony, mas continuou lançando álbuns solo). Na verdade, para iniciantes na carreira do americano, mais interessantes são seus últimos álbuns: The Next Big Thing, de 2000, com o Brambles e The Happy Door de 2005, da discografia solo. Como registro, vale mencionar as duas faixas de abertura de Retrofit, quando Anthony liderava os Agents em 1982, que só duraram um single: “Don’t Forget Me” (“Agents Of The Future” era o lado B).

The Next Big Thing cristaliza a sonoridade de Anthony: influências sessentistas executadas nos moldes do power pop clássico do final dos anos 70 e início dos 80. Mas sempre caindo para vertente mais pop daquela época, como fica bem marcado na faixa título. “Gotta Be Love” é uma gema pop que deveria ser tocada em rádios do mundo todo diariamente, eternamente. Melodia ganchuda e refrão memorável. Já os belíssimos acordes de “She’ll Never Know” emocionam em ares de canção clássica.

A coleção de pérolas pop vem se apresentando uma a uma: “A Need For Knowing”, “Maybe This Time”, “Baby Girl”, “Wish”... São 16 canções com potencial de hit single e que poderiam ter engordado a conta bancária de muita gravadora grande por aí.

The Happy Door é o último lançamento de Anthony em carreira solo. Produzido por Ed James – que também tocou vários instrumentos no disco – mostra um nível de gravação superior aos anteriores, mas a mesma capacidade de Tim em transformar notas/acordes em artesanato pop. Abre o álbum “Maryellen”, cuja gravação original data abril de 1983, e que aqui não perdeu uma gota da energia e liga pop.

E como prova de que as majors tornaram-se dispensáveis e o pop de Tim Anthony é de alto calibre, “Maryellen” apareceu em um programa de TV da NBC recentemente. O que acaba sendo mais um fato na trajetória de Anthony traçado em paralelo com a de centenas de artistas power pop: o potencial comercial que as gravadoras desprezam, a TV e o cinema tratam de valorizar e claro, usar a seu favor. (Tim também foi contratado pela MTV e VH-1 para emprestar suas músicas para diversos reality shows apresentados por essas emissoras).

“Baby I’m Back” deve ter alta rotação na programação: melodia fácil, refrão colante, harmonias vocais perfeitas. Assim como “This Autumm”, “No Words” ou “All This Time”. A levada contagiante de “Maybe This Girl” se encontra com a melodia auto-adesiva, as guitarras afiadas e harmonizações vocais sessentistas: transforma-se aí num clássico do power pop dos ’00. A balada “No Words”, emociona na beleza melódica sem esquecer do refrão de DNA pop. A avalanche de clássicos e melodias colantes continua rolando disco abaixo: “Disappear”, “Mondays With You” e “The End Of Us”, que fecha o álbum.

No fim das contas, o não reconhecimento do talento de Tim Anthony – e de 99% dos artistas power pop – pelas majors, e consequentemente, pelas grandes audiências, não evitou que ele seguisse em frente e agora estivesse aqui, frente a frente com você. Sua maestria pop está registrada para sempre e pode ainda, quem sabe, um dia alcançar paradas mais populares. Mas, sinceramente, isso não parece mais importar. Porque eu acredito no poder da canção de Tim Anthony. Não em “maldições”.

www.myspace.com/timanthonythebrambles

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

"Rendezvous": CLASS THREE OVERBITE!

Rendezvous é um disco versátil. Oferece climas de variados estados de espírito levando o ouvinte a um turbilhão de sensações. Ou pelo menos a possibilidade de ouvir em um único álbum momentos que precisaria reunir em outros quatro ou cinco discos. Rendezvous é um disco inclassificável. Sonoridades que vão da disco music a Beatles, do glam rock a ELO, tudo ao mesmo tempo agora.

Class Three Overbite é a dupla, baseada em Michigan, Michael Elgert (conhecido dos power popers pelo seu elogiado disco de 2006 Days Gone By) e Bradley Jendza. E, Rendezvous, seu álbum de estréia. Rótulos aqui não têm muito a fazer. As referências funcionam melhor, mas sempre aparecem mescladas em uma fusão sem fim.

“Milkshake”, por exemplo, que abre o disco, espalha um glam rock infeccioso e pesado até entrar em um solo mais melódico e climático, para voltar ao ponto de partida. A faixa-título traz uma disco setentista, com uma batida eletrônica safada e um grito final que daria pra jurar que saiu da garganta do Paul Stanley do Kiss. Nas duas primeiras faixas não há como deixar de se perceber a influência do Imperial Drag – projeto glam-rock do Roger Joseph Manning Jr., ex-Jellyfish.

E, se falamos em Jellyfish, teremos que falar de ELO e Queen. Referência clara em “No Good Rotten”, que entra espetando nos riffs de guitarra e uma batida de violão esperta dando o tom. Harmonizações vocais intricadas e grandiosas mostram que essa canção foi feita para grandes arenas. “Do It” balança no groove típico dos anos setenta, mas mostra no refrão porque Elgert já era admirado pelos fiéis do power pop desde de seu disco solo.

O próprio nome já diz que a canção é uma celebração. Mas “Life Is A Piece Of Cake” nem precisaria de denominação, pela melodia contagiante, ambiência up e refrão para cantar junto. Se lançada pelo Queen, seria hit mundial e eterno. Em “Eager” dá pra imaginar Paul McCartney cantando sobre uma batida de valsa e seu belo refrão. A acústica “My Funeral” embala em violões e harmonias vocais envolventes. E a emocional “Prepared To Fall” vem caminhando reflexiva em ecos de guitarra e vocal macio, para explodir em êxtase no refrão monumental.

Ao contrário, a décima primeira faixa, chamada “Number Eleven”, é apenas um rascunho de canção sub-produzida, com algumas notas ao violão, uma voz catarolando algo e Elgert e Jendza rindo ao final de um minuto e dez. Ela encerra o álbum deixando clara a ironia e satisfação do duo. Porque, imerso em seu arsenal de variedades sônicas, o Class Three Overbite é o encontro (rendezvous) do simples com o grandioso e do reto com o sinuoso.

www.myspace.com/classthreeoverbite

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Da série CLÁSSICOS: "Pop! Radio" - GARY RITCHIE!

Por Daniel Arêas

Pop e rádio. Duas palavras quase indissociáveis, desde os primórdios. Com o passar do tempo, porém, graças à mediocridade e à miopia das rádios (mais precisamente, de quem as controla), o termo “pop” foi adquirindo uma conotação pejorativa. Para as novas gerações, “pop” passou a ser sinônimo de música medíocre, sem qualidade (muito distante, portanto, das características fundamentais do gênero, tal como ele foi forjado pelos seus mestres, nas décadas de 1960 e 1970).

Mas não para o americano de Chicago Gary Ritchie. Conhecedor e admirador profundo do estilo, ele gravou um disco repleto de canções compostas rigorosamente segundo os preceitos fundamentais do (power) pop, e deu-lhe o sugestivo título de Pop! Radio. O porquê de o disco ser o segundo da série Clássicos do PPS, o ouvinte descobrirá assim que ouvi-lo. Sem dúvida, um dos grandes discos de power pop da década.

A história de Pop! Radio começa quando Gary (ex-baterista do Loose Lips, banda de Chicago) resolve fazer um tributo aos seus maiores ídolos: os Beatles. A idéia era fazer um álbum composto apenas por covers de canções dos seus heróis musicais, uma tirada de cada um de seus álbuns. Com a colaboração de Jeff King (companheiro de Gary no Loose Lips), o projeto resultou no disco Beat The Meatles , com 22 canções dos Fab Four. Mas Gary se divertiu tanto com a experiência que resolveu repeti-la, só que dessa vez com composições próprias, recrutando King para novamente se juntar a ele.

Diversão... o que motivou Gary define à perfeição seu disco. Ora, não é disso, afinal, de que se trata, quando o assunto é o pop assumido – diversão, prazer, bem-estar, sentimentos positivos? Ao levar às últimas conseqüências seus propósitos, Gary criou um álbum de estréia com cara de Greatest Hits. Sim, Pop ! Radio é uma “coletânea” de doze potenciais hit-singles – isto é, caso existissem ainda rádios que divulgassem e colocassem nas suas programações normais esse tipo de som.

Estamos no terreno das melodias ganchudas (sempre adornadas pela energia das guitarras), dos refrões explosivos, das harmonias vocais, das palminhas ao ritmo das canções. Não será fácil encontrar outros álbuns contemporâneos com uma sequência tal de canções memoráveis, todas inspiradas no que de melhor se fez no power pop, desde as origens sessentistas até os dias atuais. O ouvinte é “fisgado” já nos primeiros segundos de “I´ll Be There” e só será “libertado” ao término de “’Til The Right One Comes Along” – mas a vontade de repetir a experiência será irresistível...

Evidentemente, os Beatles são influência perene para Pop! Radio (via alguns de seus “discípulos” mais dedicados), mas outras referências podem ser percebidas. “I’ll Be There” torna inevitável o uso do clichê: é daquelas faixas de abertura matadoras, pra prender o ouvinte logo de início. A referência perceptível são os Raspberries e o mesmo vale para a canção seguinte, “You Were Only Using Me”, que mantém o alto nível pop. As excelentes “Living On Lies”, “Out Of Style” e “Because Of You” demonstram que Gary foi um aluno aplicado da escola merseybeat.

“Living For Dreams” e “This Time” mudam a cadência, e a jangly guitar que pontua ambas as canções podem fazer você jurar que Roger McGuinn (Byrds) está presente. O rock clássico americano também é a base pra “Caught”, só que dessa vez a referência mais clara é Tom Petty. “All I Want Is You” irrompe com guitarras envenenadas que remetem ao Cheap Trick. Depois da empolgante “I’d Do It Again”, Gary surpreende e fecha o álbum com a bela balada acústica “’Til The Right One Comes Along”, com um timbre de voz que remotamente lembra Robert Pollard (Guided By Voices) – outro gênio pop.

Na capa de Pop! Radio, há um ancestral rádio Zenith – estaria Gary querendo dizer que seu fabuloso disco só teria espaço nas rádios de antigamente? Ou – pensando positivamente – estaria querendo alertar que há um tipo de som ausente das rádios de hoje, mas que poderia perfeitamente conquistar as pessoas e escalar as paradas de sucesso? Pop! Radio não faz nenhum “resgate” de uma estética antiga, simplesmente porque não há nada a ser resgatado. O pop adquiriu novos formatos, mas o que encontramos em Pop! Radio é absolutamente atemporal – com o mesmo potencial de conquistar hoje os corações das pessoas, tal como certamente aconteceria décadas atrás.

As últimas notícias dão conta de que Gary Ritchie trabalha no sucessor de Pop! Radio, a ser lançado até o fim de 2008. Mais um disco recheado de gemas pop que só tocariam nas rádios de antigamente? Não, certamente um disco para ser tocado em qualquer rádio que queira rechear sua programação com boa música – e pop de primeira.

www.myspace.com/gritchie

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"Heaven Is": ÖYVIND ANDER!

Existem pessoas que ainda acreditam. Na fé, no amor, na alma humana. Na luz, em outras vidas ou num mundo melhor, aqui e agora. E tentam fazer sua parte em mensagens de otimismo e esperança. Por mais que possa parecer utópico, piegas, ingênuo, ao transpor esse clima para a música, algumas delas conseguem aliviar dores, medos e angústias. Te transportam para ambiências de tranqüilidade e beleza, uma viagem por paisagens oníricas. Enfim, uma paz momentânea, mas que quando termina te devolve mais leve à realidade.

E uma dessas pessoas é Öyvind Ander, cantor, compositor e pintor sueco. De Gotemburgo Ander acredita que pode passar boas sensações através de sua música – acompanhado de sua banda o The Time Travellers - via seu segundo disco Heaven Is. E é exatamente isso que consegue. Fã confesso de Beatles, o timbre anasalado de sua voz fica entre Johnny Rivers e James Taylor. E suas letras por um mundo mais espiritual soam românticas, mas, o que seria do mundo sem os sonhadores? E, convenhamos, às vezes belas melodias são tudo o que precisamos.

Por isso, o céu pode ser aqui quando os primeiro acordes de “Born To Be Free” se espalham pelo ambiente. Os violões e pianos flutuam na melodia celestial, criando um clima grandioso na intervenção dos riffs de guitarra. “If You Believe” conquista já na batida e ajuda a te levar cada vez mais para longe. A faixa título tenta te hipnotizar como aquelas canções angelicais da missa de domingo. E consegue. Aqui o caminho já é sem volta - e você reza para que realmente assim seja. Já os sons de violino, adornam a ligeira canção pop, mostrando que Öyvind tem total domínio dos meandros melódicos em “Look At Yourself”.

E assim segue pelas 19 (!) canções de Heaven Is. Alternando momentos de placidez reconfortante (“For Who I Am”, “Dont’Waste Your Time” e “In The Healing Rain” – do filme Slim Susie – e “Go With Love”) com pop songs perfeitas (“We’re On You Way”, “Merciful”, “Earth Changes” e “Heaven Help Us All”). Sonoridades que esteticamente remetem aos sixties, mas, que no quesito bem-estar, são universais e atemporais, porque se instalam igualmente no cérebro e no coração. Que Öyvind Ander continue acreditando. Nós precisamos.

www.oyvindander.com
www.myspace.com/thetimetravellers

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

"The World Famous Hat Trick": VIBEKE!

Quando a estatura do talento e personalidade se equivale à da beleza e coragem, já se tem meio caminho andado para o sucesso. É o caso da norueguesa Vibeke Saugestad, que chega aos seu terceiro álbum com este The World Famous Hat Trick. Depois de dois discos lançados pelas gigantes EMI e Universal na Noruega, Vibeke decidiu encarar a independência confiando no potencial de alcance mundial de seu talento. Jovem e bonita, a artista (que já ganhou o Grammy norueguês com a banda Weld e toca teclado no grupo Yum Yums) mergulha segura no power pop, revelando seu domínio absoluto da composição pop.

A nova musa do power pop encanta com seu rosto angelical tanto quanto assombra na força da sua voz. Canções energéticas e cheias de ganchos melódicos recheiam o álbum. Como a arrebatadora e contundente “He’s Peculiar”, com sua pegada power e melodia adesiva. “Keep On Dreaming” revela que Vibeke de ingênua não tem nada e sabe afiar bem as guitarras e batidas nervosas. Assim como “Close The Door” chega mansa até explodir no refrão clássico. Por todo o álbum a imagem delicada de Vibeke se choca com a potência de suas canções, como na urgente “No I Won’t”.
É possível que bandas como Go Go’s, Blondie ou Runaways sejam influência para Vibeke, mas fica claro o magnetismo do sixtie pop na sonoridade (e estética visual) da norueguesa. Nas contagiantes “Until The Sun Comes Out”, “Meant To Be With You” e “Tonight” aflora a batida sessentista, em canções igualmente adoráveis e potentes.

“Waste Another Day” engana na introdução de balada ao violão, mas Vibeke não é mulher de se esconder atrás de perfumarias sonoras e atocha pressão nas guitarras invocadas. O refrão grandioso de “Stupid” prepara o terreno para a climática a emocional e bonita “All For Now”. Para fechar o disco duas covers inspiradas: “Know You Now”, dos Someloves e “You Don’t Go Away” de Frank Secich e Jimmy Zero dos Dead Boys. Mas Vibeke não precisa do reforço de nenhum marmanjo: ela sabe ser doce como mel e, ao mesmo tempo, mais afiada que uma espada samurai.

www.myspace.com/vibekesaugestadmusic