segunda-feira, 20 de outubro de 2008

"Retrofit"/"The Next Big Thing"/"The Happy Door": TIM ANTHONY & THE BRAMBLES

Se pudéssemos condensar a trajetória comercial do power pop no mundo da música em um só artista, poderíamos usar Tim Anthony como exemplo. Artesão da canção pop perfeita, o músico americano de Syracuse, esteve por várias vezes a um passo de uma grande gravadora. Em mais de 25 anos de carreira, Anthony poderia ter assinado com a Elektra, Geffen, A&M, Capitol... mas, na última hora, alguma coisa sempre falhava (alguns chamariam isso de “a maldição do power pop”...).

Retrofit é uma coletânea com as gravações raras de Anthony feitas nos anos 80 (depois formou os Brambles com o primo Lou Anthony, mas continuou lançando álbuns solo). Na verdade, para iniciantes na carreira do americano, mais interessantes são seus últimos álbuns: The Next Big Thing, de 2000, com o Brambles e The Happy Door de 2005, da discografia solo. Como registro, vale mencionar as duas faixas de abertura de Retrofit, quando Anthony liderava os Agents em 1982, que só duraram um single: “Don’t Forget Me” (“Agents Of The Future” era o lado B).

The Next Big Thing cristaliza a sonoridade de Anthony: influências sessentistas executadas nos moldes do power pop clássico do final dos anos 70 e início dos 80. Mas sempre caindo para vertente mais pop daquela época, como fica bem marcado na faixa título. “Gotta Be Love” é uma gema pop que deveria ser tocada em rádios do mundo todo diariamente, eternamente. Melodia ganchuda e refrão memorável. Já os belíssimos acordes de “She’ll Never Know” emocionam em ares de canção clássica.

A coleção de pérolas pop vem se apresentando uma a uma: “A Need For Knowing”, “Maybe This Time”, “Baby Girl”, “Wish”... São 16 canções com potencial de hit single e que poderiam ter engordado a conta bancária de muita gravadora grande por aí.

The Happy Door é o último lançamento de Anthony em carreira solo. Produzido por Ed James – que também tocou vários instrumentos no disco – mostra um nível de gravação superior aos anteriores, mas a mesma capacidade de Tim em transformar notas/acordes em artesanato pop. Abre o álbum “Maryellen”, cuja gravação original data abril de 1983, e que aqui não perdeu uma gota da energia e liga pop.

E como prova de que as majors tornaram-se dispensáveis e o pop de Tim Anthony é de alto calibre, “Maryellen” apareceu em um programa de TV da NBC recentemente. O que acaba sendo mais um fato na trajetória de Anthony traçado em paralelo com a de centenas de artistas power pop: o potencial comercial que as gravadoras desprezam, a TV e o cinema tratam de valorizar e claro, usar a seu favor. (Tim também foi contratado pela MTV e VH-1 para emprestar suas músicas para diversos reality shows apresentados por essas emissoras).

“Baby I’m Back” deve ter alta rotação na programação: melodia fácil, refrão colante, harmonias vocais perfeitas. Assim como “This Autumm”, “No Words” ou “All This Time”. A levada contagiante de “Maybe This Girl” se encontra com a melodia auto-adesiva, as guitarras afiadas e harmonizações vocais sessentistas: transforma-se aí num clássico do power pop dos ’00. A balada “No Words”, emociona na beleza melódica sem esquecer do refrão de DNA pop. A avalanche de clássicos e melodias colantes continua rolando disco abaixo: “Disappear”, “Mondays With You” e “The End Of Us”, que fecha o álbum.

No fim das contas, o não reconhecimento do talento de Tim Anthony – e de 99% dos artistas power pop – pelas majors, e consequentemente, pelas grandes audiências, não evitou que ele seguisse em frente e agora estivesse aqui, frente a frente com você. Sua maestria pop está registrada para sempre e pode ainda, quem sabe, um dia alcançar paradas mais populares. Mas, sinceramente, isso não parece mais importar. Porque eu acredito no poder da canção de Tim Anthony. Não em “maldições”.

www.myspace.com/timanthonythebrambles

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