segunda-feira, 28 de setembro de 2009

"Pete": GREG POPE!

Você conhece Octoberville? Sabe quem vive ali e qual é a produção local? Ou qual o tipo de artesanato é feito na pequena vila? Onde fica Octoberville? O ar da Vila de Outubro está impregnado de notas virando acordes e se sobrepondo em harmonias. E quando a brisa sopra, leva pra longe versos e refrões, versos e refrões. Os botões de Octoberville sabem juntar com perfeição as peças de uma canção. Assim como o artesão que os maneja sabe harmonizar peso e leveza, energia e melodia.

Os sons de Octoberville vão atrás de você onde você estiver. Mesmo que seja a milhares de quilômetros de Franklin, Tenesse, nos Estado Unidos, onde Greg Pope tem seu próprio estúdio de gravação... o Octoberville. E de onde saiu o segundo melhor álbum do ano passado – segundo o Top 100 do Power Pop Station – Popmonster. Pope (que também produz filmes publicitários e animações) volta menos de um ano depois com este Pete, EP recheado com sete magníficas canções e, provavelmente, o melhor mini-CD de 2009.

Greg, como de costume, tocou todos os instrumentos e fez todas as vozes, no conforto da sua Vila de Outubro. E, com apenas dois discos lançados, já criou uma sonoridade própria, tanto na composição como na qualidade da gravação e produção. Uma música é o suficiente para você dizer: “é Greg Pope!”. A ambiência propositalmente lo-fi, as melodias com tintas sixties, uma aproximação do clima do power pop clássico dos anos setenta e a voz amigável, montam uma canção de Greg Pope.

Assim, “Fall Into Your Arms” abre o disco, arrastando o riff de guitarra junto ao baixo sinuoso, pratos de bateria explodindo e a melodia doce sendo cortejada sem cerimônia. A potência das guitarras empresta densidade à bela e emocional “Help Yourself”, enquanto a ultra-envolvente “How Do You Do It” vai do R&B bubblegum da Motown até quase esbarrar na disco setentista. Hit mundial inevitável se jogado nas ondas do rádio.

A doce e adorável “Roll With It” vem com seu refrão memorável aprendido com os mestres Beatles e Badfinger. Já a acústica “Let It Roll Off” encanta na sua batida macia e folky. “Sleeping Dogs” atesta mais uma vez a força e consistência do artesanato pop produzido por Pope. Enquanto “In My Head” traz o peso de um hard rock soturno para ser iluminado pelo pop harmônico e leve do refrão. Agora sabemos que Octoberville e Greg Pope estão, definitivamente, inscritos no mapa do power pop mundial.

www.myspace.com/edmundscrown
http://gregpope.net/
www.octoberville.blogspot.com

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Da Série Clássicos: "At Home With" CHERRY TWISTER!

Por Daniel Arêas

Bandas e artistas de enorme talento e que mereciam ser reverenciados, mas que são quase que ignorados (ou só obtém o reconhecimento devido muitos anos depois); canções que já nascem clássicas, que deveriam ser entoadas em coro por milhares de vozes – mas que são conhecidas apenas por poucos felizardos; discos que deveriam figurar em qualquer lista “best of” decente, seja do ano, da década ou de todos os tempos – mas nunca são lembrados. Salvo raras e honrosas exceções, este é o cruel paradoxo que o power pop enfrenta, desde seus primórdios. Qualquer um que acompanhe o universo power pop já se deparou com inúmeros discos que não podiam ter outro destino senão o sucesso, mas que se tornaram objeto de culto de um grupo reduzido de fãs. Um exemplo que se enquadra perfeitamente nessa descrição é At Home With Cherry Twister, dos americanos do Cherry Twister, o 5º. disco da Série Clássicos do Power Pop Station.

A figura central do Cherry Twister é o vocalista/guitarrista/compositor/produtor de Lancaster, Pennsylvania, Steve Ward, um daqueles artistas que parecem trazer em seu DNA a vocação e o talento para o pop. Em 1993 ele juntou-se ao baterista Steve Sackler para gravar, em seu estúdio caseiro, o ótimo álbum de estréia da banda, homônimo. Mas foi no segundo disco, At Home With Cherry Twister, lançado seis anos depois – quando então o guitarrista Michael Giblin se juntou a Ward e Sackler – que todo o potencial que o disco anterior prenunciava aflorou.

Se tentássemos definir At Home With Cherry Twister – que, como o nome indica, assim como o álbum de estréia foi gravado no home studio de Steve Ward – em uma única frase, poderia ser essa: uma coleção de canções que nos oferece todo o bem-estar e o prazer que o pop pode proporcionar. Alternando momentos suaves com outros de pegada mais rocker, o disco traz tudo de que precisamos para tornar nossos dias mais felizes: ganchos irresistíveis, melodias apaixonantes, refrões pegajosos e harmonias simplesmente sublimes.

Embora Steve Ward e cia. tenham buscado inspiração em vários dos gênios do pop e do power pop de todas as épocas, é evidente o seu fascínio pelos anos 60. Mas isso não faz o disco soar datado; muito pelo contrário, na realidade atesta sua atemporalidade (e, por tabela, a atemporalidade dos sons que lhe serviram de inspiração). É um deleite ouvi-lo hoje, como seria ouvi-lo há 40 anos atrás ou daqui a 40 anos.

O Cherry Twister mostra a que veio já na ótima faixa de abertura, “Don’t Forget Your Man”, uma mescla entre Beach Boys (uma de suas principais influências) e o peso das guitarras. Em seguida, um irresistível clima merseybeat paira sobre “Sparkle” - e a essa altura o ouvinte está definitivamente fisgado. O efeito wah-wah de guitarra pontua “Meteorite”, uma canção que traz à lembrança a doçura pop dos Rubinoos e que tem seu lindo refrão ainda mais embelezado com a sobreposição dos vocais. Palmas (merecidíssimas) ao fim da canção, e então surgem os primeiros acordes de “Charlotte B.”

Pode existir a canção pop perfeita? Se a resposta é sim, “Charlotte B.” não pode ser definida de outra forma. Ao a ouvirmos pela primeira vez, a sensação é de incredulidade: como não sabíamos que isso existia? Quase que diariamente o mainstream nos despeja toneladas de inexpressivos “next big things”; e Steve Ward escreveu uma canção que tem mais valor do que todas as “novidades” – somadas - que nos são empurradas goela abaixo. O ouvinte possivelmente não conseguirá tirar o dedo da tecla Repeat do CD-player, mas basta ouvir a canção uma única vez para que ela permaneça em sua memória por um bom tempo.

O brilho de “Charlotte B.” não ofusca, porém, as outras músicas do disco. O ritmo cadenciado e a jangly guitar conduzem “Leila” até desembocar no belo refrão, como nos melhores momentos do Big Star ou do Teenage Fanclub. Com suas celestiais harmonizações vocais, a suave e delicada “She’s gone”, nos remete tanto às baladas dos discos dos Beach Boys da fase pré-Pet Sounds quanto a Simon and Garfunkel. Em “Maryann” as guitarras recebem uma injeção de energia e a referência que surge é a do Fountains of Wayne.

“Kinda Like A Star” é uma das melhores canções jamais compostas por Norman Blake. Outro ponto alto do disco, “She’s in Love Again” contagia e conquista de imediato, soando como um legítimo hit-single, apenas esperando que o mundo a descubra. Depois da bela balada “Careful (Can’t Fall Again)” – outra com evidente influência do merseybeat britânico – Ward fecha o disco com chave de ouro: em “Why Won’t You Believe In Me” ele se aventura – com total sucesso – pelos caminhos do AM pop, com sua voz soando mais angelical do que nunca, pairando sobre uma camada de teclados e um delicado dedilhar de guitarra.

At Home With Cherry Twister já ganhou, com toda justiça, o respeito e a admiração da comunidade power pop, figurando na lista de John Borack dos 200 melhores discos de power pop da história. Mas isso não basta para um disco tão genial. Talvez ainda chegue o tempo em que discos como At Home With... estejam no topo das paradas, em que canções como “Charlotte B.” ou “She’s In Love Again” sejam as mais pedidas pelos ouvintes das rádios. Mas pensando sob uma perspectiva otimista, é possível identificar certos sinais de que talvez esse tempo não esteja tão distante assim.

A profusão de relançamentos, deluxe editions, versões remasterizadas de discos clássicos que vemos hoje pode ser interpretada como reflexo da assustadora mediocridade do atual cenário pop/rock mainstream. Será então que não é chegada a hora de começarmos a prestar atenção em todos estes maravilhosos artistas que passam quase que inteiramente despercebidos? Se o presente é desolador e o futuro parece sombrio, a salvação pode estar mais próxima do que imaginamos. E iniciar esse processo de descoberta com discos como At Home With Cherry Twister seria uma escolha bem próxima do ideal.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

"Dead Air Radio": THE BEAT SEEKERS!

Kyle recebe os clientes nas mesas de espera do Millard Roadhouse. Benji é o chefe de Ryan K. em uma pizzaria da cidade. Timmy trabalha para uma empresa familiar de tintas e pinturas. Ryan G. ajuda pessoas com necessidades especiais na Madonna School. Keith escreve as canções. Juntos eles são os The Beat Seekers. Banda americana de Omaha, Nebraska, que nos apresenta seu álbum debut Dead Air Radio.

Aqui, Kyle, Benji, Ryan K, Timmy, Ryan G, liderados por Keith, trocam seus apetrechos do trabalho diário por guitarras, baixos, baterias e teclados. Passam de funcionários a guitarristas, de empregados a vocalistas... e, sintetizam a realidade da maioria das bandas power pop do mundo: pessoas comuns que são movidas pela paixão pela música. É claro que o “sonho rocker”, de um dia viver do som produzido pelas suas guitarras, e não das pizzas servidas no balcão, fazem parte do processo, mas não a parte principal.

E como o próprio nome do grupo diz, os rapazes de Omaha estão em busca do ritmo, da batida que traga energia e melodia em doses iguais. Soam como o encontro de um Green Day (menos furioso e mais interessado em diversão do que em política) com o pop clássico e sessentista dos Beatles – influências claras já na faixa de abertura “All Dolled Up” e na canção-título. “Passerby” é hit em potencial, com sua progressão de acordes ganchuda e bela cobertura de harmonias vocais.

“Don’t Blame Me” revela a habilidade de Keith Fertwagner para talhar envolventes canções pop, ou petardos rockers com pegada punk, como em “Personality Overload”. Guitarras faiscantes, batida nervosa e refrão memorável para “Lipstick Crush Delight”. Já a energética “Anything Won’t Do” e a cativante “Birthday Song”, trazem junto as doces melodias dos sixties. Enquanto pop e country são mesclados com perfeição, atingindo ares emocionais no refrão em “Save Tonight”.

A coleção incrível de pérolas pop dos Beat Seekers continua, com os impecáveis coros vocais e a melodia magistral da gema “A Single Sigh Of Relief”, que encontra, em seguida, a balada radiofônica “Better Days (revisited)”. A potente e melódica “Solutions M.I.A” antecede a faixa final, a macia e adorável “Life Long Grave”.

Assombroso o que recepcionistas, pizzaiolos e assistentes sociais podem fazer com uma guitarra nas mãos. Mas é que rockstars são sempre recepcionistas, pizzaiolos ou assistentes sociais... antes de serem rockstars. Que seja um prenúncio para os Beat Seekers, e, se não o for, de todas as formas Dead Air Radio já terá seu registro entre os grandes álbuns power pop de 2009.

www.myspace.com/thebeatseekers

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"Secret Powers And The Electric Family Choir": SECRET POWERS!

Inverter lógicas às vezes pode render bons frutos. Tomar o caminho inverso talvez soe inconseqüente aos outros, mas pode fazer todo o sentido pra você. Porque os objetivos, os sonhos e as fantasias são carregadas conosco onde quer que estejamos. Não sabemos os motivos, mas foi isso que o músico Ryan “Schmedly” Maynes fez: deixou Los Angeles – onde liderava a banda Arlo – e foi para o interior do Estados Unidos. Mudou-se para a pequena cidade de Missoula, Montana, planejando viver como produtor, engenheiro de som e músico. Mas não é Los Angeles a meca da indústria musical?

Pois foi invertendo a lógica e dando ouvidos apenas a seus desejos e inspiração, que Schmed idealizou o incrível Secret Powers. Com seu próprio estúdio, montado no quintal, e músicos de bandas locais, o americano gravou dois álbuns: Explorers Of The Polar Eclipse e, agora, este Secret Powers And The Electric Family Choir. E gravar discos no quintal de uma cidade interiorana só ressalta o talento de Schmed, tanto na composição, como nos arranjos e produção.

E, se foi pra arriscar, Ryan Schmedly não veio pra brincar: suas canções gostam dos arranjos intrincados do Jellyfish e experimentam as viagens orquestrais do ELO, oferecidos com o sabor pop e doce dos Beatles. Como a grandiosa “Orange Trees”, que poderia ser uma colaboração Jeff Lynne/Beatles, com passagens por ambiências elétricas, reflexivas e espaciais. O banjo e o acordeão, na adorável “Maryanne”, dão o toque de interior e a batida do piano animada desemboca no ritmo circense até o emocional grand finale.

“By The Sea” coloca ondas do mar em andamento de valsa e a força do pop orquestral emociona em “Heavy”. “Lazy Men” vem envolta por harmonizações vocais, metais e grand pianos: uma gema pop orquestrada em menos de três minutos. Violinos e violões abrem a balada atemporal “Misery”, que recebe notas de piano e refrão memorável. “Ghost Town” é country pop cativante, com refrão para arenas cantarem junto; e a beleza magistral das harmonizações vocais desce em “Treat Your Mother Nice”, como se recebidas do próprio mestre Brian Wilson.

A perfeição pop continua no que poderia ser um clássico setentista: “Something About Girl”. Vocal rascante, harpa onírica e coros vocais flutuando em “One Less Star”; e coloração psicodélica para “You Know It’s Time”. E o rock, com pegada de blues e coros de hino hippie, “Both Sides Of The Candle”, encerra Secret Powers And The Electric Family Choir. O álbum fruto do desejo improvável e da genialidade de Ryan “Schmedly” Maynes, cujos poderes secretos devem ser revelados ao mundo. Já.

www.myspace.com/secretpowersmt
http://squaretiremusic.com/band.php?b=sp

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Lift You Up": LEWIS WILSON!

Não é novidade qual é o maior sonho de consumo dos escoceses: o sol da Califórnia. E suas praias, com suas garotas e seus biquínis, e a areia quente, onde quebram as ondas perfeitas. Energia vital que emanou as sonoridades da Califa dourada, dos Beach Boys, de Brian Wilson, dos Byrds e atravessou o Atlântico atingindo em cheio a pequena ilha britânica. Sai geração entra geração, e os filhos da Escócia continuam procurando abrigo no calor revigorante das singelas canções pop, para se proteger do frio cortante do seu país.

E de inverno a inverno, criou-se uma forte tradição pop local. Que agora chega ao jovem Lewis Wilson, que nos apresenta seu álbum debut Lift You Up, título - “Botar Você Pra Cima” – que promete o paraíso pop em plena Escócia congelante. As influências do escocês também passam tanto pelo folk rock de Neil Young e CSN&Y como pelos cowboys espirituais da nova geração The Thrills e Beachwood Sparks.

Mas as referências mais cristalinas vêm de conterrâneos: a incrível faixa de abertura “Holiday In The Sun”, com seus vocais macios, pegada energética e refrão memorável, remete aos heróis locais do Teenage Fanclub. Enquanto o pop perfeito “It’s Amazing” soa muito próximo a Daniel Wylie. Na power ballad “Golden Country” um órgão vintage dá o clima e Wilson não se exime de mostrar emoção. A bela “To All The People” ensina como se produz o melhor pop americano com sotaque genuinamente escocês.

“Stay Longer” traz o verão californiano para Glasgow, junto com as harmonizações vocais celestiais de “Open Your Mind”. Maciez pop para a melodia cativante de “Super Place”, seguida da poderosa e emocional canção-título, que poderia figurar entre as jóias do Cosmic Rough Riders/Daniel Wylie. Lift You Up mostra que a Escócia acaba de revelar mais um grande compositor pop para seu panteão. E que, de canção em canção, às vezes, o inverno pode virar verão.

www.myspace.com/lewilson2

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

"On The Up Side": THE HUMBUGS!

Adam e Kristin não dividem apenas o mesmo sobrenome Marshall. Não são apenas um casal vivendo sobre o mesmo teto ou discutindo como pagar as contas no fim do mês. Eles são uma dupla que persegue junta a mesma paixão: a canção pop perfeita. Criaram o Humbugs provavelmente para se divertirem e consolidar a sua cumplicidade pop: que tal uma banda para entreter os pedestres que passam pelo mercado rural de Durango, no Colorado?

Hoje, o grupo de Minneapolis, chega ao terceiro álbum como um quinteto, e com uma respeitada trajetória no mundo do power pop. On The Up Side mostra como soaria um casamento entre Neil Finn e Aimee Man – já que Adam e Kristin alternam os vocais principais – mas com suas veias sessentistas saltadas. Porque se esmeram nas harmonias vocais, se preocupam que as melodias sejam mais memoráveis o quanto possível.

Por isso a faixa de abertura, conduzida pela voz amigável de Adam, “One More Day”, carrega o ambiente de clima emocional, sem perder o foco pop da canção e, ainda, enchendo de texturas as harmonias. Kristin assume o vocal na contagiante, de belo refrão, “Lies Behind The Glass”. Enquanto a perfeição pop de “Employee Of The Month” e “Calico Eyes” iluminam e adoçam o dia.

A belíssima power-ballad “As Long As I Matter” emociona e cristaliza a extrema sensibilidade pop de Kristin nos vocais e de Adam na composição de uma canção. “Walking Home to You” oferece leveza revigorante e “Fireflies” traz energia da new wave oitentista na melhor escola Blondie. A agradável meia-balada “Take A Chance” e a energética “Mic Stand”, encerram On The Up Side, completando sua coleção admirável de alianças, digo, jóias pop.

http://www.thehumbugs.com/
www.myspace.com/thehumbugs