quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"Goodnight To Everyone": THE JELLYBRICKS!

Mesmo passados 20 anos, Larry Kennedy, líder dos Jellybricks, consegue se lembrar. Do guaraná, do pastel, do topless em Copacabana, da beleza do Corcovado. Lembra que os Titãs estavam no topo da parada com “Aa Uu” e que aqui, isso mesmo, na terra tupiniquim, o americano da Pennsylvania foi apresentado ao Echo & The Bunnymen e ao The Cure. Ele morou aqui no fim dos anos 80, e ainda carrega as fortes sensações deixadas pela experiência vividas na adolescência. Quem diria: o Brasil influenciou uma das mais tradicionais bandas da cena power pop ianque.

Completado por Garrick Chow, Bryce Connor e Tom Kristish, o Bricks chega ao seu quarto álbum, Goodnight To Everyone, mantendo a fórmula de sempre adicionar pegada rocker e guitarras incendiárias a melodias de forte apelo pop. Como na faixa de abertura “Eyes Wide”, que começa agressiva na linha vocal para emendar um refrão power pop clássico. O riff da faixa-título conduz a canção, sem sobressaltos, até a explosão no chorus, cheio de harmonizações vocais em duas partes distintas. A climática “Ruin Us” mescla a potência das guitarras com a sutileza de notas de piano; no refrão, a presença do órgão valoriza a melodia.

O rock envenenado “Broken Record” antecede os belos acordes da perfeição pop de “Nobody Else”. “More To Lose” traz variações melódicas preciosas e “Try To Be” segue mais minimalista, só até, claro, o convite de cantar junto no refrão. O violão acústico embeleza a maciez e luminosidade de “Put It Down”, enquanto a eletricidade corre solta na vitamínica “Up To You”. Fecha o disco a bela balada “Heart Begins”, ornada com divinas harmonias vocais, um singelo mandolin, mais pianos e órgãos, tudo em clima de orquestra pop. E Larry sonha voltar ao Brasil, dessa vez trazendo os chapas do Jellybricks. Oxalá!

www.thejellybricks.com
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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"Follow The Summer": DAVE DILL!

As estações bem marcadas do hemisfério norte trataram de valorizar o verão de uma forma diferente do hemisfério sul. Carregada de simbolismo, a estação do sol representa o contraponto à solidão escura do inverno, onde paisagens brancas e frias enclausuram pessoas e deprime almas solitárias. Até a chegada do calor reconfortante do verão, suas feições coloridas, campos verdes fundindo-se ao céu azul. Tempo de paixões avassaladoras, brisa no rosto em viagens sem rumo. Assim sente o verão, quem experimenta a presença gélida e cortante dos invernos do norte. E assim criou-se um estilo musical chamado sunshine pop, que canta as boas sensações de veraneio em sonoridades luminosas e agradáveis.

E é seguindo o bem-estar que o verão proporciona, que americano Dave Dill forjou seu quinto álbum Follow The Summer. Cantor, compositor, arranjador e produtor, Dill fez tudo sozinho na gravação do disco, tarefa nada fácil pela quantidade de arranjos e harmonizações vocais intrincadas. O clima do álbum segue com desenvoltura pelos anos 60 e 70, deixando transparente quem são os heróis de Dill. Aqui brilha forte o sunshine pop, atraindo para si, também, o legado das canções do AM pop. Tudo fundamentado na referência basilar do pop sessentista.

“Today” abre o álbum com teclados que pontuam na batida macia e que, segundo o próprio Dill, é inspirada em Stevie Wonder. A doce “Miss America” parece passear pelos céus lilás (representados na pintura da contracapa de Follow The Summer), impulsionada por flutuantes coros vocais. Já “Happily Ever After” começa rosnando na distorção das guitarras para chegar à perfeição pop no refrão, honrando a tradição power pop dos tempos de Badfinger. “Never So Beautiful” chega na doçura de ‘tchururus’, como uma ingênua canção de ninar, até adensar o clima no refrão.

A pegada rock de “Don’t Remember” tem acento country e a bela “You Don’t Believe” nos remete às baladas auto-adesivas e emocionais do já citado Badfinger. As ondas do mar trazem a tranqüilidade onírica de “Follow The Summer/Pink Skies” e “Everyday Song” mescla Brian Wilson com Queen, soando, ao final, muito próximo ao The Nines em seu último álbum. A batida folk da acústica “Ride On”, encerra o disco, como um pôr-de-sol que celebra o fim de um dia dourado pelas melodias pop. Porém, já ansioso pelo próximo amanhecer.

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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

"A Collection For Enemies And Friends 1992-2002": ROSS!

Só sei que nada sei. Nunca uma frase soou tão sábia e pertinente. Porque eu me pergunto: como levei 16 anos para esbarrar com o Ross? Como poderia ter-me escapado uma banda cujas principais influências são Beatles, Zombies, Brian Wilson, e que transita pelo pop psicodélico soando como um Sunshine Fix ou um Olivia Tremor Control? Ou ainda: a banda é um projeto do espanhol Juan Ross, de Múrcia... e eu mapeio o pop espanhol há muitos anos... mesmo assim, apenas em 2008 cheguei ao Ross! Mas porque tantas perguntas e tanta perplexidade por só agora conhecer a banda? Porque é uma das maiores bandas de pop psicodélico que existem na face da Terra atualmente! Simples assim. Mas é aqui que outra frase soará sábia e pertinente: antes tarde do que nunca.

Com três álbuns cheios na discografia e diversos EPs, o Ross é a expressão artística da mente criativa de Juan Antonio Ross. Sempre convocando diversos músicos a amigos para fazerem parte do projeto, Juan é um verdadeiro mestre na arte das melodias pop com toques psicodélicos. Tem um domínio impressionante das timbragens, da produção e arranjos de canções que remetem aos anos sessenta e setenta. Uma sensibilidade apurada no trabalho vocal, tanto nas harmonias como no timbre da sua voz. É uma coleção majestosa de pérolas pop disposta nesta compilação.

Enemies & Friends reúne, em um CD duplo, uma seleção de canções dos álbuns – todos fora de catálogo - Sugar, de 1996; Supersonic Spacewalk, de 1998 e Rossland, de 2001, no CD 1, e lados B, outtakes e raridades no CD 2. São 22 faixas por CD, o que torna dificílima a tarefa de destacar canções. Principalmente as faixas do CD 1, que estão equiparadas em um altíssimo nível de proficiência. É uma profusão de canções pop perfeitas estonteante: “My Sister”, “Smoking Control”, “Sleeplessness”, “Nothing For Happiness”, “Song For My Little Things”, “On The Air”, “Joy”, “Living In The Sun”, “Like a Photograph” – esta última, uma das maiores canções pshyc pop de todos os tempos.

Refrão memorável atrás de refrão memorável; harmonias vocais perfeitas em cascata; acordes viciantes escorrendo pelos auto-falantes... e, ainda, temos as canções com viés mais psicodélico, mas, mesmo assim profundamente pop: “Glass Onion World”, “Starships + Supersonic Spacewalk”, “Sugar”, “Cosmography”, “Rainbows”, “Psychocellos” e “Foam Ruber Room”. No CD2 temos jóias raras que Juan se deu ao luxo de colocar em EPs: “Birds Of My Mind”, “All Smoke Is Mine”, “Once Up On A Time” e “Cosmos Bell”. E covers significativas: “Verissimilitude”, do Teenage Fanclub; “In The Street” do Big Star; “I Don’t Remember Your Name” dos Records e “Yes It Is”, dos grandes inspiradores e mentores espirituais do Ross - os Beatles.
Agora eu te pergunto: onde você está que não conhece o Ross? No mundo das luas psicodélicas de Saturno – só se for!

http://www.rossland.es/
www.myspace.com/rosspop

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

IPO ELEVEN!

O pop que não é popular. É lutando contra essa contraditória frase que o International Pop Overthrow e sua coletânea, chegam ao décimo primeiro ano. O festival - que hoje chega, todo ano, a 11 cidades americanas, duas canadenses e uma inglesa - cresce de forma assustadora, graças aos esforços incomensuráveis de seu idealizador e chefão David Bash. Que sempre acreditou no conceito puro de pop music: a canção que pode soar bem a qualquer um, com melodias agradáveis, pegada envolvente e de fácil assimilação. Dar ao pop um pouco da relevância - que lhe foi tirada pelo cunho comercial conferido pela indústria musical - parece claro como um dos objetivos de Bash. O pop pode ser popular sem necessariamente ser “comercial” ou “artificial”, é o recado do IPO Eleven.

E aqui chegamos à coletânea em si, com 66 bandas de 11 países, algumas novatas outras nem tanto, mas todas dentro do espírito da sonoridade pop – seja qual for a vertente: power pop, pop rock, rock, punk pop, sixtie pop... E nessa edição a parte gráfica também se destaca, com referências ‘pop’ muito bem sacadas. A começar pela logo, onde o IPO parodia o iPod e a marca da Apple, que em vez de uma maçã mostra uma guitarra estilizada lembrando o formato da fruta. O indefectível fone branco do famoso tocador de mp3, aparece plugado numa guitarra e seguindo diretamente aos ouvidos de uma garota. Já, na contra capa, lê-se a frase: “Pop – You can believe in”, com a tal guitarra estilizada nas cores da campanha de Barack Obama. Dois ícones atualíssimos do pop corporativo “a serviço” do pop independente. Fina ironia.

Mas é a parte musical que aqui nos interessa. Abre o CD1 a banda finlandesa Daisy, e a todo vapor com “Go!”, sem economia no uso do vocoder e sintetizadores nervosos. Segue o pop perfeito dos americanos do Ken Kase Group em “Shiner”. De Chicago vem o Backroom, apresentando a belíssima “Lost Without You”, emocional e pop ao mesmo tempo. E da Suécia chega uma das surpresas do ano no power pop, o Private Jets, que traz melodia memorável e harmonias perfeitas em “Extraordinary Sensations”. O ex-Jellyfish Roger Joseph Manning Jr. vem com a espertíssima e empolgante “American Influenza”.

Os londrinos do Mini mostram a ganchuda “Hoping For An Astronaut” e a canadense Laurie Biagini a onírica “That Feeling Inside”. O Maryz Eyez comparece com a incrivelmente infecciosa “Unpaid Holiday. E aqui fica a minha homenagem à memória de Mike Murphy – a quem essa coletânea está dedicada – líder do Leave (uma das grandes bandas de power pop de Chicago) falecido recentemente. Mas o sorriso logo volta quando ouvimos a contribuição do grupo ao IPO 11 com a sensacional “Hope It Doesn’t Come Away”. A bela Leerone vem com a doce “To Fill The Void” e o veterano Jeremy com a rascante “Everyone Makes Mistakes”. Adiantando a faixa de seu novo álbum, o Smith Bros. apresenta a auto-colante “She’s Under My Skin”. Fecha o primeiro CD a plácida e bonita, com sotaque Lennon, “It’s Summer Time’, do prodígio californiano Blake Collins.

O CD 2 começa com a ensolarada “Summer (You No My Name)” do Twenty Cent Crush; em seguida a “homenagem” sessentista dos noruegueses do Peter & The Penguins a Pete Best (primeiro baterista dos Beatles) em “There Goes Pete Best”, segundo eles “o mais azarado bastardo do mundo”. Kevin Peroni e seu Wiretree colaboram com a densa e bela “Big Coat”. De Detroit o motor envenenado dos The Respectables despeja na pista o rock flamejante “Charged By The Minute” e contrasta com o pop orquestral macio de Butch Young em “Dime Store Jesus”. Pinçada do álbum de estréia de Peter Baldrachi, a gema pop “You’re Gonna Miss Me Someday” representa com louvor o melhor do power pop clássico.

Uma das grandes descobertas do ano vem da Alemanha: o cantor compositor de Hamburgo, Kai Reiner. Na melhor linhagem Teenage Fanclub, Reiner mescla as melodias mais bonitas que se pode imaginar com riffs memoráveis e vocais de maciez angelical em “Cold Summer”. Os power popers do Oregon Phamous Phaces contribuem com a pérola acústica “Back To Liverpool”. Encerra o disco 2 a psicodélica “Gone, Gone, Gone” de Steve Caraway.

Os canadenses do The Tomorrows dão o ponta pé inicial no terceiro disco com “Effortless Lee”, mostrando que o álbum de estréia promete, seja nas harmonizações vocais intrincadas ou melodias inspiradas. Depois seguem os galeses do The Afternoons, com a adorável “Don’t Turn Back (Open Your Eyes). Os punk popers do Canadá Kelly Fairchild buscam as ondas do rádio com “Don’t Stop” e os americanos do All Right Tokyo se inspiram no Cheap Trick para aplicar alta octanagem à “Jessica Jessica”. De San Diego, o Suite 100 apresenta um vocal peculiar e uma sensibilidade melódica apurada em “Perfect Disaster” e os italianos de Florença The Vickers, trazem o pop rock “Silence”, onde se pode ouvir ecos do antigo Radiohead e do Travis.

Direto de San Francisco o Pleasure Trip contribiu com “Without You” e seu refrão ultra-catchy. Já o cantor compositor de britânico Kevin McGowan, vem com a beleza acústica de “Be Here Tonight”. Depois de mais de três horas de música, têm a honra de encerrar a coletânea os californianos de Hollywood, Teenage Frames, com o rockão invocado “Need Somewhere To Stick it”. E fica a sensação de que, a cada ano, o IPO e sua coletânea atingem mais gente, espalhando e divulgando o verdadeiro pop e apoiando bandas independentes que buscam seu lugarzinho ao sol. Quem sabe assim, um dia, o pop não volte a ser... popular?

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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

"Girls Aliens Food": THE SIMPLE CARNIVAL!

O ponto aqui não é estilo. Muito menos temporalidade. Não poderíamos estar somente interessados em sonoridades leves – ou mesmo divertidas – que aliviassem a tensão do dia-a-dia? Eis o ponto. Se, temos a chance de desafogo, de viajar por temas agradáveis em busca do bem-estar, podemos então saber como o Simple Carnival o faz. Que na verdade é banda-de-um-homem só, o americano da Pennsylvania Jeff Boller, um amante do sunhine pop, Am radio, Brian Wilson e bossa nova.

Inspirado por seus heróis, Boller juntou harmonias angelicais e melodias reconfortantes, e gravou seu primeiro álbum cheio Girls Aliens Food. Em casa, sozinho, fez todos os arranjos, tocou todos os instrumentos, fez todas as vozes e ainda produziu. Já na abertura do álbum, com “Really Really Weird”, a batida pontuada pelo teclado e coros vocais acaricia o espírito e deixa claro a referência beach boyneana. Os vibrafones em “Keeping It Quiet” adornam os ‘la-la-las’ de sonhos, em clima ingênuo de pureza quase infantil – Vila Sésamo é uma das influências de Boller.

O sunshine pop luminoso “Caitlin’s On The Beach” contagia na levada up e no vocal macio de Jeff. A jazzy “Flirt” tem algo de Marcos Valle e “Nothing Will Ever Be As Good” impressiona no trabalho vocal a capella – vários tons de voz feitos apenas por Jeff. Soa totalmente Brian Wilson e seu Beach Boys. A bossa de “Over Cofee And Tea” não esconde a admiração do americano por Tom Jobim. “Mysery” é soft pop setentista e “You Jump First” envolve no clima doce e melodia adesiva.

Há algum tempo seria difícil conceber “pop orquestral-de-um-homem só” ou “pop orquestral caseiro”, mas é o que vemos com cada vez mais freqüência. O resultado, por que não, pode soar denso e cheio de detalhes sonoros, como em “Effortlessly”. E para deixar sua alma sem peso pelo resto do dia, Jeff Boller se despede com a belíssima “Hey Lancaster” dizendo: “retorne com milhares de sonhos que ninguém jamais tenha sonhado antes”.

www.simplecarnival.com
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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

"Car Guitar Star": DANIEL WYLIE!

Nem tente aplicar a Daniel Wylie a frase popular “fez fama e deitou na cama”. O cantor compositor escocês, que movimentou o mundinho brit pop em fins dos anos 90 e início dos 00 com seu Cosmic Rough Riders, deixou a incensada banda pra trás e seguiu, convicto, em carreira solo. Chega agora, em 2008, ao seu terceiro álbum Car Guitar Star, mantendo a reputação de mestre da canção pop perfeita. Se em álbuns anteriores Wylie aerava suas canções com a brisa fresca da costa oeste americana, no novo disco crescem climas um pouco mais densos e influências de Neil Young e Crosby, Stills & Nash.

Mas, ainda sim, Car Guitar Star traz canções douradas pelo sol californiano, como na irônica e empolgante faixa de abertura “I Love America”. Guitarras brilham, piano pontua, em uma linha melódica que remete ao REM, em “I’m A Machine”. “I Can Fly” é guidada pelo jingle-jangle das guitarras na melhor tradição ianque. Já acústica de acento folk “Hold Me Close”, se eleva na melodia de harmonias vocais quando atinge o refrão celestial.

Um empolgante ‘la-la-la’ abre a canção título, ensolarando até onde a batida das guitarras puderem ser ouvidas. E o poder do pop continua dominando os sentidos na melódica de refrão adesivo “Seven Shades Blue”. Violão acústico e piano para a semibalada “Hey Melvin” e o sol escaldante do deserto para “Keep It To Yourself”. Encerra o álbum a psicodélica de refrão pop “You’re Not The Only One”, nos lembrando o porquê do sucesso do Cosmic Roug Riders – agora apenas a ex-banda do gênio pop Daniel Wylie.

www.myspace.com/danielwylie

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

"Life In The Backseat": MONKEEMAN!

Até poucos anos atrás, o termo ‘power pop alemão’ soaria deveras estranho. Conscientes da falta de sonoridade amigável dos fonemas germânicos, os amantes locais das boas melodias e harmonizações perfeitas, passaram a compor suas peças pop em inglês. É provável que a Alemanha seja hoje o país com o maior crescimento na produção de novas bandas power pop da Europa. The Sea Level, Seaside Stars, Monster Bronsons, The Cheeks, Beat Hotel, Kai Reiner juntam-se ao Monkeeman – representado na figura de Ralf Lubke – para formar a locomotiva alemã que vem atropelando tradicionais países europeus produtores de bandas power pop.

Junto com Hans Foster - que lidera as três primeiras bandas citadas acima – Lubke se destaca no cenário de compositores alemães do pop poderoso. Ambos músicos vêm de Berlin, o que a primeira vista também poderia soar estranho pela aparente falta de compatibilidade entre as imagens mentais criadas pelo estilo e pela cidade. Mas já sabemos que contraposições fazer parte do power pop. O que ficou claro no magistral álbum de 2007 do Monkeeman, Jumping On The Monkey Train, recheado de pérolas pop de primeira grandeza.

Life In The Backseat traz um Lubke mais inconformado, menos romântico. Mais rascante e menos sensível. Revela a frustração de viver num mundo onde o dinheiro é o que move as pessoas. A produção segue claramente mais rock e agressiva, e se no álbum anterior as influências sessentistas se sobressaíam, agora Lubke se voltou para o mod – The Jam – e alguma coisa do punk de protesto – The Clash – ou mesmo canções de um cunho mais político – Billy Bragg. Mesmo nesse novo cenário as boas melodias pop aparecem e a herança beatle permanece.

“In It For The Money” chega com sons distorcidos e sujos, mas desarma o espírito no refrão pegajoso. Algo de Supergrass paira por aqui. “Lonely Guy” segue a mesma lógica, protesta no início, mas gosta de uma boa melodia pop no refrão. Talvez não seja uma boa idéia misturar pop music com ideologias políticas, mas tratando-se de alguém que viveu em um regime e agora em outro oposto, pode ser interessante ouvir o que ele tem a dizer em “Socialism”. E o refrão é matador.

“Backstreet” vem na batida mod, remetendo ao velho Jam e com chorus retomando a adesividade dos Beatles. A renomada capacidade de Lubke em produzir fantásticas canções power pop está intacta: “I Know a Girl”. Um clima oitentista, com teclados à la new wave, baseiam a sonoridade de “Hole In The Snow”. Já a bela e emocional balada “City Lights”, encerra o álbum com um quê de antigo Oasis.
Life In The Back Seat mostra um Monkeeman diferente, ácido nos comentários, furioso nas guitarras; ao mesmo tempo em que traz o Ralf Lubke de sempre, talentoso artesão da canção pop.

www.monkeeman.de
www.myspace.com/monkeemanmusic

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

"Mosque Alarm Clock": THE DOLL TEST!

Quando o terremoto grunge espalhou sua onda de choque pelos quatro cantos do planeta, seu epicentro, Seattle, já tinha uma coleção de grupos power pop. Que acabaram ofuscados pelo hype estrondoso das bandas que usavam camisas de flanela. Talvez o Posies tenha sido a grande vítima, como banda de maior potencial pop, mas que não se encaixava nos ditames da histeria grunge. Também na primeira metade dos anos 90, circulava pela cena de Seattle o Model Rockets, grupo hoje cultuado por power popers do mundo todo. Os Rockets terminaram e seus membros se subdividiram em duas novas bandas: o The Tripwires, liderados por John Ramberg e o The Doll Test, que ficou com ¾ dos músicos do antigo grupo.

Portanto, a herança do Model Rockets, está impressa no DNA do Doll Test. E, Scott Five, Nick Millward, Boyd Remillard e Graham Black, não escondem seu orgulho por isso. “I’d Rather Be Sleep” abre o disco espetando nas guitarras em vocais harmônicos e melodia sinuosas, provando que muito do ex-grupo sobrevive aqui. O andamento envolvente de “Everything’s Fine” é turbinado na pegada pop das guitarras e órgãos. Já “Fall Away” é uma power ballad, com bela trama melódica. A hiper-ativa “The Bell, The Map, The Stars” traz os ares das costa oeste americana em suas guitarras de doze cordas.

“My Self Future” imprime um ritmo à la Bob Dylan, para deixar voar os órgãos e as guitarras brilhantes no refrão. A sensacional “Ballad Of Your Blue-Eyed Boy” é a “Strawberry Fields Forever do Doll Test”. Scott Five soa como o velho Lennon nos vocais, e os acordes de piano aparecem grandiosos e emocionais. O órgão assombra no refrão. A rascante, de chorus cativante “The Last Rung”, antecede o jingle-jangle clássico e perfeito de “Shoot The Tambourine Man”.

Mosque Alarm Clock não veio para deixar mensagens, mas nos diz claramente que, enquanto os hypes morrem na velocidade com que nascem, os legados power pop se perpetuam e seguem florescendo. Sem a cruel obrigação do sucesso.

www.myspace.com/thedolltest