segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

"Buzz For Aldrin" - THE PILLBUGS!

Ao mesmo tempo que a era digital nos trouxe uma inegável facilidade na busca de novos de sons, onde qualquer estilo está disponível a um clique de você, consolidou também uma tendência mundial de exaltação à música eletrônica. Por conseqüência, uma forma diferente de absorção sensorial da música. Bandas independentes que escolheram revisitar e reprocessar estilos (que encontraram seu auge décadas atrás) passaram a se orgulhar por manter vivo o traço orgânico da verdadeira canção. Por isso, o combo de Toledo, Ohio, The Pillbugs informa com orgulho, em seu terceiro disco, o duplo Buzz For Aldrin: “Guarantia de qualidade: todos os instrumentos foram tocados por pessoas reais e gravados em equipamento análógico”. Sintomático...

Passeando por paisagens psicodélicas e homenageando no título o astronauta Buzz Aldrin – o segundo homem a pisar na Lua - o quinteto americano não economiza na utilização de instrumentação diversa, como orgãos variados, trumpete, clarinete, cítara, cello, harpa, etc. Tudo para te elevar a um clima onírico-espacial muito apreciado nos anos 60 e 70.
“Waking Along An Edge Of Sky” abre o disco 1 recheada pelos sons de cítaras e órgãos vintage, desaguando no refrão pop e viajante como só George Harrison sabia fazer. A influência de grupos progressivos - Yes, King Crimson – aparece cristalina em várias passagens do álbum, com a vantagem de não repetirem as ‘trips masturbatórias’ típicas daquelas bandas.

Ambiências dramáticas estão ombro a ombro com belas melodias e caprichadas harmonizações vocais, como em “King Of Zorg”. “No Joke” joga com o romantismo psicodélico, se é que isso é possível, até esbarrar na esperta “Spaced-out” e seu refrão de arena “gone underground with your space-out rock and roll”. “Al Gabone” nos rememora as influências dos Beatles de Sgt. Peppers e dos contemporâneos do coletivo Elephant Six – principalmente Apples In Stereo e Olivia Tremor Control. Fechando o disco o pop psicodélico, de refrão com palminhas sixtie e harmonias cheias de uh-uhs, “Lost Lonely Sailor”.

O disco 2 segue a viagem pela órbita de Saturno e seus anéis de rostos humanos. Continua saturando nas cores e transformando galáxias em espirais de neon. Mais cítaras e vocalizações Harrisonianas para “4 Sec Nightmare In A 5 Sec Dream”. Flutuando no frio sideral “Closer” vai encontrar o calor da beatle “I’d Give It All Up To You”, que engrossa o fluído e vira Paul McCartney cantando seus rocks em “The Last Confederate Soldier”. Sem dúvida no segundo disco fica mais audível a influência dos fab four na sonoridade do Pillbugs. Já mais setentistas, com pa-ra-pa-pas amparados por violinos, vêm “She’s In Style” e a contagiante “Still Haven’t Learned To Behave.”. A singela acústica “Long Goes The Human” evindencia a admiração por Simon & Garfunkel. “Good To Be Alive” e sua batida indiana traz novamente as cítaras introduzidas no pop pelo mestre Harrison. Encerrando o disco, “In The End (You’re Moving On)” é uma versão diferente de “Waking Along An Edge Of Sky”, sem cítaras e com uma roupagem deveras mais pop, porém, ainda sim, uma deliciosa viagem pelos confins do universo paralelo da música independente.

www.pillbugs.com
www.myspace.com/thepillbugs

domingo, 20 de janeiro de 2008

Handclaps and Harmonies Presents... Handclaps and Harmonies! (2)


Já está fora de questão: dominar o mundo através das boas melodias não é mais causa. Pode ser que um dia, em tempo distante, seja conseqüência. Ainda mais se falamos de jovens anacrônicos, perdidos em sua própria era e que se identificam com a arte produzida há 40 anos. Porque não se aceita, no mundo moderno, o fato de que mais do que estilos ou modas, foram criadas formas de expressão que se mostraram atemporais. Valoriza-se hoje a inventividade e o manuseio das novas tecnologias aplicadas à música.

Mas muitos não querem saber de invencionices e modernices quando é o coração que está em jogo: as emoções mais profundas que só a velha e boa melodia sabe como atingir.
É nesse contexto que aparece o Handclaps and Harmonies, quarteto do Texas com as melhores melodias do mercado e as roupas mais cafonas e fora de moda. “Handclaps and Harmonies Presents Handclaps and Harmonies” já entrega muito das intenções no próprio nome/título. Afinal em que época a música era dominada por harmonias e palminhas ?

Mark Huebel (guitarra vocais), Chris Voss (guitarra e vocais), Pat Adams (baixo e vocais) e Kris Knight (teclados e vocais) apesar das vestimentas, não aparentam mais do que seus vinte e poucos anos. Prova de que se encantaram com o pop sessentista muitos anos depois de quando o estilo estava no topo das paradas. Ou seja, nada mais novo e fresco para o quarteto que aquelas bandas e suas melodias maravilhosas. Sem mirar o mercado, se guiaram pela estética preferida que está toda revelada aqui, no seu álbum debut (começando pelo CD, que imita perfeitamente um disquinho de vinil).

Já em “Be With You”, o quarteto abre o arsenal de 'pa-pa-pas' e batidinhas sixties, tudo pontuado por metais espertos. “The Game” envolve com suas harmonias preciosas e ritmo dançante (quando o termo se referia a bailinhos de salão e não discotecas). “Sad Pinguin” mostra que apesar das ingênuas melodias, as letras podem ser irônicas, e, unidas, tirar sorrisos de satisfação dos ouvintes. Aliás fica clara a intenção primeira do álbum: transmitir uma sensação de bem-estar, elevar até o ponto de leveza que só tínhamos na infância, sem o peso das responsabilidades e com a pureza de coração. Os ganchos melódicos mais contundentes do ano seguem por aqui: “Kissing” “She’s Not Around”, “Sign” “Mr. Wilson”... A belíssima balada “My Winter Girl” que 'romanticamente' diz: “ela é minha garota inverno/ele faz meu coração um pouco mais frio”.

Às vezes não é válido fazer comparações entre bandas pouco conhecidas, mas impressiona a semelhança das melodias e harmonias do Handclap com a dos conterrâneos do Second Saturday – a diferença clara está na distorção mastodôntica do SS que não se repete no H&H. E o pop contagiante continua a infectar os ouvidos e dominar os sentidos: “You Know”, “Outta Sight”, “I Should Never”. Todo mundo junto em “Barter” e emocionado em “Goodnight” até o encerramento celestial com a Wilsoniana “Waitin’ You”.
É, se simples canções pop podem fazer seu dia melhor, porque não aproveitar e se esquecer dessa história de tempos modernos?

www.handclapsandharmonies.com

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

POWER POP STATION: 5 ANOS NO AR!

Para comemorar a meia-década de existência do PPS, gostaria apenas de fazer breves agradecimentos:

Aos laços de amizade e colaboração criados ao redor do mundo;

Às bandas de power pop dispersas por todo o planeta - e unidas nestas páginas - que gentil e desinteressadamente me provêm, quase todo dia, com seus discos;

E, principalmente, a vocês leitores, o único motivo da existência desta página/blog.

Paolo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

International Pop Overthrow Vol. 10!


É de se admirar que um projeto independente como International Pop Overthrow chegue aos 10 anos de existência. Não pela dedicação, paixão e perseverança de seu idealizador David Bash, mas por se tratar de um festival de música que visa apenas à exposição, o suporte, o apoio à bandas iniciantes ou independentes. A meta aqui não é fazer dinheiro ou procurar parceiros comerciais. É trazer à tona as centenas de bandas do pop underground que não têm chance em grandes gravadoras ou emissoras de rádio influentes.
O IPO, que começou em Los Angeles, já chega a mais de uma dezena de cidades (até fora dos Estados Unidos). Em 2008 o festival chegará a Atlanta, Chapel Hill, Chicago, Minneapolis, Liverpool (Inglaterra), LA, São Francisco, Seattle, Vancouver (Canadá), Boston, NY e Toronto (Canadá). Normalmente são mais de 100 bandas se apresentando em quase uma semana de evento.

E para dar suporte à divulgação, Bash lança todo ano, pela Not Lame Recording, a coletânea, hoje tripla, com as bandas que (quase sempre) tocarão/tocaram no festival.
O CD do IPO 10 traz 66 bandas entre algumas já conhecidas na cena e outras meras desconhecidas.

O Orchid Highway tem a honra de abrir a compilação com a energética e melódica “Medicine Tree”. Os ingleses do Farrah celebram seu power pop mais pop do que
power com a colante “Do You Ever Think Of Me”. O menino prodígio de LA Evan Hillhouse contribui com sua climática “Can’t Stop Saying Yes”. Batida de valsa com sonoridade country vêm mesclados em “Monica” de Carolyn Edwards. Do Japão o Strange Fruits mostra com "Little Bird" que os nipônicos são bons de melodia. O Zerostars cativa nos acordes de “The Good Can’t Escape”. A gaita esperta de Avi Vinocour faz a cama para o folk animado de “New York”. As já conhecidas rainhas do power pop Nushu arregaçam com “Spill”. O interessante pop eletrônico(?) do Admiral Twin em “Renegade Planet”. O pop rock do Lava Province em “Back Here Again” e do Cyclones... em “Friends Like Me?”. E a pílula pop de 45 segundos do Stuporhero “5 O’Clock Mad Dash” fechando o disco 1.

Mais 22 bandas para o segundo disco, com abertura de Kelly & Kimberley (o “Kelly” é Bob Kelly da banda inglesa Kelly’s Heels”) e o power pop que homenageia a Not Lame “moc.emalton” –notlame.com ao contrário, por supuesto. Os também britânicos do The Afternoons, distorcem o baixo, metem um teclado espacial e capricham na melodia de “Neidia Mewn I’r Dwr”. Mais pops compromissados com o bom refrão: “Cover Up The Sun” com os The Dirty Royals e “Picture” com o All Day Sucker. Mesmo David Bash não gostando de rotular o IPO – tanto CD como o festival – de power pop, convenhamos, tem um monte dele aqui... como prova a canção já clássica do Leave “Any Other Way”. A alta voltagem punk pop do Blackout dá curto e deixa a cidade às escuras com “Fake Superiority”. Morten Ritcher colabora com seu pop desleixado e gracioso em “Pop-up Window”. Despretenção pop e riff sagaz em “Nowhere To Be Now” de Keith Betti. O baterista da banda de Brian Wilson Nelson Bragg traz a bela acústica ao violão “Turn The Darkness Into Gold” para o encerramento do disco 2.

A maratona continua e mais 22 bandas te esperam. Com um melodicismo a se destacar, estranha-se o refrão de “Garden Of Weeds” do The Shamus Twins. Mas não a já comentada maestria pop do garoto Blake Collins e sua ótima “Time Goes By”. Peso e melodia na medida perfeita em “World Left Behind” do The Rulers. A voz feminina de Jenny Wolfe & The Pack cativa em “You Look Good Walking Away”. Chris Brown, também já comentado nestas páginas, traz sua harmônica “Right Time”. “Just Enough” prova a capacidade do cantor-compositor canadense Dave Stephens em talhar pérolas pop ao piano. Butch Young, que também figurou há pouco tempo aqui no Power Pop Station, vem com sua faixa campeã, cheia de 'pa-pa-pas' e melodia sedutora em “One Foot In”. Os veterenos do Tearaways vêm com “Just Like Rain” mantendo a velha forma em preparar boas canções. Nosso amigo Jeremy comparece aqui com “Come On Over”, com pegada rascante pouco peculiar ao seu som, mas sem esquecer que as melodias continuam macias. Bob Kelly, o mestre das melodias sixties, reaparece só que agora com o Kelly’s Heels para aquecer corações com “O-Jayne”. O sumido Twenty Cent Crush aparece com a candidata a hit “I Can Barely Stand It”. Outro campeão do power pop nos brinda com a sua sensacional e ganchuda “Seashells” The Well Wishers. A única faixa ao vivo da coletânea é “Mama Thought You Have Whrere A Nice Girl” do The Trend. Fecha a coletânea o The Vandalays, com provavelmente sua melhor música “Fairy Tale”.



domingo, 13 de janeiro de 2008

TOP 10 ALBUNS - 2007

Listas de melhores do ano nunca são lá muito justas, mas sempre absolutamente pessoais. Por isso acho que a única utilidade prática de um ranqueamento do tipo é servir de indicativo para aqueles que querem descobrir o que "de bom" (não necessariamente "o de melhor") foi produzido no ano dentro do estilo.

Assim sendo, aqui vai a minha:

1º - "Gran Junkle's Field" - THE NINES

2º - "She's About To Cross My Mind" - THE RED BUTTON

3º - "Drum Roll Please" - THE SAILS

4º - "Go" - PRIMARY 5

5º - "Handclaps and Harmonies..." - HANDCLAPS AND HARMONIES

6º - "Obsessed" - DAVID BROOKINGS

7º - "S/T" - AUTOMAT

8º - "Distant Star" - THE FOREIGN FILMS

9º - "Buzz For Aldrin" - THE PILLBUGS

10º - "Can You Hear The Myracle Brah?" - MYRACLE BRAH

domingo, 6 de janeiro de 2008

"Nonetheless Blue" - THE RESONARS!


O advento do CD e a conseqüente morte do vinil criou algumas contraposições curiosas. Álbuns perfeitos para o bolachão preto, gravados em quatro canais e de costas para qualquer tipo de inovação técnica criada nos últimos 30 anos, são lançados em disquinho digital. Aos puristas perdem o charme – e, dizem, alguns, potência sonora nos graves. Para os que só se preocupam com a qualidade das canções, sinceramente, não faz a menor diferença. Pois é aqui e assim que se apresenta a banda do Arizona, The Resonars, em seu quarto álbum Nonetheless Blue.
Na verdade a banda é quase como um projeto solo de Matt Rendon. Um aficcionaddo por sons de garagem produzidos nos anos 60.
A sonoridade de Nonetheless soa tosca aos ouvidos da moçada acostumada aos hypes da nova geração. Mas é evidente que até os mais antenados podem ser enganados e achar que o Resonars era uma pérola escondida dos sixties, cujas gravações vieram à tona recentemente.

A crueza instrumental dá as caras logo na faixa título e de abertura, mas com o toque pop que a tudo transforma em agradável. “Your Concern” passa fácil por clássico garageiro dos anos 60, destrói tanto na virulência instrumental como na força pop das melodias. Outra apta ao topo de paradas imemoriais é a energética e contagiante “Places You Have Been”. Riff nervoso de guitarra, harmonias vocais gentis e um refrão na escola pop dos Hollies: “Whatever You Want”. Bob Dylan eletrificado em 1000 volts de energia produziria algo parecido com “Games Of Fear”. Para as garotas da primeira fila, mais um hit em velocidade reduzida e beleza melódica: “Every Other Day”. A roqueira “No Problem At All” não poupa pressão nem barulheira de garagem lá no meio do salão. A ritmada “If Darkness Comes Too Fast” emula as sonoridades de Hollies e Byrds de meados dos anos 60. “Sinking Is Slow” mantém o garage-pop mas já flerta com melodias mais encorpadas e pitadas de psicodelia, saindo dos sixties, se preparando para os seventies. Volta a pegada mais rocker em “As A Matter Of Fact” até fechar o disco com a ruidosa e anárquica “Three Times Around”. Afinal de contas, lugar de fazer barulho é na garagem.

www.myspace.com/theresonars