segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

TOP 100 ALBUNS e TOP 10 EPs de 2008!

Esta não é lista dos "melhores do ano". Esta é lista dos discos que fizeram meu ano melhor:

TOP 100 ALBUNS de 2008

1. “Same Old Story” – LANNIE FLOWERS
2. “Popmonster” – GREG POPE
3. “Backward Forever” – ANY VERSION OF ME
4. “Army Navy” – ARMY NAVY
5. “On A Happy Note…” – LEAVE
6. “Esque” – THE RIP OFF ARTISTS
7. “Under The Radar” – THE GOLDBERGS
8. “Jet Sounds” – PRIVATE JETS
9. “Kai Reiner” – KAI REINER
10. “How Will I Know If I’m Awake” – BRENT CASH

11. “High Five” – THE PRIMARY 5
12. “B Side Oblivion” – THREE HOUR TOUR
13. “Acima Da Chuva” – VOLVER
14. “Feel The Sun” – SQUIRES OF THE SUBTERRAIN
15. “Fifth” – JUNEBUG
16. “Restless” – THE SMITH BROS.
17. “Heading North For The Winter” – THE WELLINGTONS
18. “Where Is Matthew Smith?” – BUBBLEGUM
19. “Point Of View” – CRAIG MARSHALL
20. “Make The Best Of It” – DAVID DEWESE

21. “Patchwork” – DROPKICK
22. “Houses & Homes” – THE BYE BYE BLACKBIRDS
23. “Cathedral Square Park” – THE LACKLOVES
24. “Sunshine Lies” – MATTHEW SWEET
25. “One Small Stepping Man” – ADRIAN WHITEHEAD
26. “Full/Filled” – POPLORD
27. “Beatlesque One” – ALAN BERNHOFT
28. “Our Life” – CHERRYSTONE
29. “Off The Radar” – ALLY KERR
30. “Adrian Bourgeois” – ADRIAN BOURGEOIS

31. “Distant Drumming” – THE BRILLIANT MISTAKES
32. “The World Famous Hat Trick” – VIBEKE
33. “Fast Forward” – ANDY REED
34. “In Rhi-Fi” – THE RHINOS
35. “Modulations” – CHEWY MARBLE
36. “Transatlantic Suicide” – CRASH STREET KIDS
37. “Heaven Is” – ÖYVIND ANDER
38. “Breakfast In Suburbia” – TELEPHATIC BUTTERFLIES
39. “Long Gone And Nearly There” – JULIE OCEAN
40. “Friday Night Lights” – ATTIC LIGHTS

41. “Lurch” – MIKE VIOLA
42. “Grand Archives” – THE GRAND ARCHIVES
43. “Efecto Dominó” – CHETES
44. “Take Me To The West Coast” – JEFF BRUCKNER
45. “Sunday Best” – BRYAN STEPA
46. “Sibley Gardens” – THE RESPECTABLES
47. “Bring On The Happy” – ROB BONFIGLIO
48. “Dot The I” – DROPKICK
49. “The Offbeat” – THE OFFBEAT
50. “Jigsaw Days” – THE WELL WISHERS

51. “Clint Sutton” – CLINT SUTTON
52. “Follow The Summer” – DAVE DILL
53. “Silvervine” - AFTER PILOT
54. “Here We Go” – THE GALAXIES
55. “Goodnight To Everyone” – THE JELLYBRICKS
56. “Addicted To You” – SECRET BEAUTY CREAM
57. “Mosque Alarm Clock” – THE DOLL TEST
58. “Car Guitar Star” – DANIEL WYLIE
59.“Life In The Backseat” – MONKEEMAN
60. “Sweet Action” – THE AFTERNOONS

61. “Horses For Courses” – CLASS THREE OVERBITE
62. “That Evil Drone” – THE RESONARS
63. “Winning By Cheating” – IN ELVIS GARAGE
64. “Eleven Modern Antiquities” – PUGWASH
65. “Ribbon Of Gold” – PAUL COLLINS BEAT
66. “Girls Aliens Food” – THE SIMPLE CARNIVAL
67. “Born Radical” – FRIENDLY FOES
68. “Catnip Dynamite” – ROGER MANNING JR.
69.“Pequenas Coisas Me Fazem Feliz” – RADIOTAPE
70. “Diska” – BOMBONES

71. “Insomniac’s Almanac” – THE CAMPBELL APARTMENT
72. “Wet Behind The Ears” – THE BRASS BUTTONS
73. “Stick With It” – SUZY & LOS QUATTRO
74. “Johnny Cake And Moon Pies” – MARMALADE ARMY
75. “Pop Explosion” – JEREMY
76. “Ground Floor Man” – THE MOP TOPS
77. “Late Night Shift” – INSANITY WAVE
78. “Summerdew Avenue” – THE PENELOPES
79. “Snap, Crackle, Power Pop” – THE MONTGOMERY CLIFFS
80. “Baby Shakes” - BABY SHAKES

81. “Through The Eyes” – THE NAOMI STAR
82. “Baby Warfare” - DELETED WAVEFORM GATHERINGS
83. “Dig The New Sounds Of” – TENNISCOURTS
84. “Freedom Wind” – THE EXPLORERS CLUB
85. “Mountain Rescue” – THE GENERAL STORE
86. “Alto Disco” – AIRBAG
87. “Misled” – TED LUKAS
88. “It’s Ok Say Yes” – SHEBOYGAN
89. “Like The Sun” – LOLAS
90. “Underworld” – PICKPOCKETS

91. “Too Clever By Half” – THE SPONGETONES
92. “Better Times” – FRANK BARAJAS
93. “Whatever Rhymes With Baby” – YUM YUMS
94. “Misadventures In Stereo” – JIM BOGGIA
95. “Cut Your Key” – THE JUNIPERS
96. “SheBANG!” – KELLY JONES
97. “Everybody’s Fault But Ours” – THE POPRAVINAS
98. “Whatever Happened To…” – THE SLIGSBY HORNETS
99. “It Used To Feel So Good” – ANDERS ELOWSSON
100. “Poportunity” - ALLEN DEVINE

TOP 10 EPs de 2008

1. “Midnight Cemetery Rendezvous” – RADIO DAYS
2. “The 4th Italian” – MIRACLE MAN
3. “Lemon Pop” – COOPER
4. “Tempo” – DAYSLEEPERS
5. “Armchair Oracles” – ARMCHAIR ORACLES
6. “Transparent Dayze” – ANGEL KAPLAN
7. “The Going And The Gone” – THE RATIONALES
8. “Let It Split” – THE SCHOOL
9. “The Chemistry Set” – THE CHEMISTRY SET
10. “Six Feet Under” - MEEK

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

"Same Old Story": LANNIE FLOWERS!

Fico imaginando como seria viver em um mundo onde os Beatles fossem os donos soberanos das paradas de sucesso. Como teria sido estar nos Estados Unidos, em 1964, quando os garotos de Liverpool emplacaram cinco canções no top five americano. Era girar o botão do dial do rádio e encontrar gemas pop atrás de gemas pop. Nunca estive nos anos sessenta e certamente não saberemos como foi tal sensação, mas podemos chegar perto com este Same Old Story.

O cantor-compositor americano Lannie Flowers surge, em pleno 2008, como a novidade mais clássica dos últimos tempos. Apesar de ser um veterano – liderou a banda de Dallas The Pengwins, entre fins dos 70 e início dos 80 – não se tinha notícia do artista até Same Old Story. Que na verdade é uma coletânea com canções compiladas de centenas de demos, gravadas por Flowers nos últimos 20 anos (ou mais). Mas a surpresa: as músicas aparecem quase como vinhetas, em versões incompletas que se juntam à faixa seguinte como uma grande colagem pop. Algumas não duram mais que alguns segundos e outras chegam a mais de dois minutos, totalizando 36 faixas.

A nova surpresa: o álbum se torna, talvez, a maior coleção de melodias memoráveis, refrões ganchudos, pegadas energéticas, harmonias perfeitas, hits pop, reunidas em um só disco, da história do power pop. É uma sucessão de canções pop tão preciosas, que dá até raiva quando a música não se completa e já pula para a seguinte. É a sensação que não tivemos, porque não existíamos, nos anos 60: ouvir Same Old Story é como se estivéssemos com os dedos no dial de um rádio daquela época e fossemos mudando de estação; hit sobre hit e uma seqüência interminável de músicas contagiantes. Com a diferença de ser sempre o mesmo artista.

E, claro, Flowers se inspirou nos heróis dos 60 e 70, como Beatles, Who, Kinks, Badfinger, Big Star, Raspberries, Elvis Costello, para compor clássicos que podem durar 30 segundos e nunca mais sair da sua cabeça. Porque, mesmo Lannie gravando tudo em sua garagem, impressiona a destreza do músico em criar as sonoridades exatas do power pop perfeito. As timbragens dos instrumentos, os caminhos melódicos, os encaixes dos refrões, os tempos das harmonias vocais, a maestria na montagem ‘verso-refrão-verso-ponte-refrão’.

Depois de algumas audições, a proposta de Flowers, em colocar faixas curtas com cara de não-terminadas, começa a fazer sentido. Porque o cerne das canções está lá. O riff potente e adesivo; que abre passagem para a melodia contagiosa; que entrega de bandeja o refrão autocolante - que gruda na sua memória afetiva... Aí, começa aquele processo, em que antes de terminar uma faixa você já consegue se lembrar da próxima, e depois da próxima, não importando se são... 36 músicas!

Por isso mesmo, é tarefa ingrata, quase impossível, destacar faixas em Same Old Story. De qualquer forma, há uma seqüência espetacular, logo no início do álbum, marcada por algumas da melodias/refrões mais envolventes da década: “Circles” – “Another Weekend” – “Tired Of Being Alone” – “Something Happened” – “Everywhere I Go” – “Give Me Chance” – clássicos instantâneos e, agora, eternos. “Our Home”, por exemplo, é só um belíssimo refrão. “I Wanna Be The One” emula Bob Dylan até bater em um chorus tão celestial quanto pop. “You Said Goodbye” precisa de um minuto e quarenta segundos para mostrar todos os ingredientes de uma canção radiofônica perfeita e ser melhor que 99% de tudo que tocou nas rádios em 2008.

Outra peça que com menos de 20 segundos cativa com suas harmonizações vocais dos céus: “Nothing New”. E, seria possível uma música de 30 segundos ficar decalcada por meses no cérebro? Experimente “Turn Off The Night”. O clima emocional e pegada power em “By Your Side” antecede a incrível pérola pop “You Said”, que mesmo com menos de dois minutos consegue encaixar seu ‘verso-refrão-ponte’. O mesmo se pode dizer de “You, Yeah You”, só que essa não passa do um minuto e vinte. Sempre com temas que abordam relações frustradas, cartas de amor juvenis, o romantismo de uma época da vida que não volta mais.

“Thanks A Lot For Nothing” remete às baladas beatle, de beleza única e notas de piano duelando com as guitarras. Depois, mais um clássico imediato: “Thing For You”. Será mesmo que ninguém tinha pensado nessas melodias? A incredulidade bate forte: como Lannie não usou essas canções antes, como as deixou empoeirando em baús no porão de casa? Muitas delas seriam hits, seriam número um, paradas pelo mundo afora. Não hoje, onde a realidade da indústria musical está de ponta cabeça. “You’re Not Going Anywhere”, por exemplo, poderia ter chegado lá. Já a linda “You Wanna Be Free Again” poderia ensinar ao Oasis atual, como emular a fase psicodélica dos Beatles sem deixar de ser pop. E assim segue a sensacional coleção de canções/vinhetas/colagens/refrões de Lannie Flowers.

Com quem, aliás, estive em contato para ver a possibilidade do lançamento de um futuro álbum coma as versões completas de pelo menos 15 das canções de Same Old Story. Para isso, pedi a fãs do disco que fizessem suas listas. As mais votadas encaminhei a Lannie, que disse ser uma possibilidade real que as escolhidas virem um álbum cheio. E, sem dúvidas, mesmo não sendo um disco de canções completas, estamos diante do “álbum do ano”, e possivelmente um dos melhores da década. Agora, quando me perguntarem “o que é power pop”, a resposta será: “Same Old Story”.

www.myspace.com/lannieflowers

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

"Tempo": DAYSLEEPERS!

Olhando em retrospecto, e com a perspectiva histórica devidamente calibrada e estabilizada, não poderia parecer surpresa. Mas não se trata, somente, de atestar a relevância e força replicadora do pop sessentista através do tempo. Muito menos de colocarmos na mesa o fato de o passado – os legados, as experiências – estar ali, à distância de um clique no computador.

O que impressiona aqui é o encontro surpreendente no espaço-tempo que se dá de forma assombrosamente natural. O rio Mersey que sopra macio suas harmonias até as águas do rio Sergipe. As melodias californianas que brilham plenas nas areias brancas de Aracaju. E os meninos inquietos que querem soar doces e agradáveis, chegar perto do belo e celestial através de adoráveis canções.

A rebeldia juvenil de Arthur Matos, Lelo Soares, Marcel César, Ravy Bezerra e Rafael Eugênio, não é chocar com a distorção mais pesada, os gritos mais agudos ou a bateria mais nervosa. É se apresentar como uma banda sergipana e não tocar forró. É vir do nordeste e não se atolar em regionalismos de manguezal. É serem pós-adolescentes da era digital interessados em sonoridades clássicas e atemporais.

É por isso que quando a faixa título “Tempo” soou nas ondas da rádio Cultura FM, em uma noite chuvosa de Brasília, disse um ouvinte: “não sabia que bandas nacionais faziam esse tipo de som...”. E isso não foi como dizer “eu não sabia que o rio Sergipe era afluente do rio Mersey”. Foi muito mais como “eu nunca imaginei que a garota de Ipanema ouvia Beatles e Beach Boys...”.

Porque é disso que se trata o EP debute do quinteto de Aracaju: a confecção de canções de melodias doces e ao mesmo tempo emocionais; a lapidação de harmonias vocais intrincadas para adornar peças sonoras pop; e a expectativa única de levar ao ouvinte a sensação elevada de bem-estar. Se a herança sessentista de Beatles, Beach Boys, Byrds e Zombies imprime forte marca no trabalho autoral do Daysleepers, os ecos reprocessados e modernizados daquela época pelos Wondermints, Travis, Nelson Bragg e outros, também influenciaram a feitura de “Tempo’.

Dos céus verdes da capa do EP desce a cítara indiana que se condensa em violões na entrada da faixa título. Logo depois, órgãos são cobertos por harmonias vocais até os falsetes de Arthur no inspirado refrão – que remete aos mestres do pop psicodélico Olivia Tremor Control e Sunshine Fix. A contagiante “Na Sua Janela” mostra o capricho dos rapazes nas harmonizações de voz e a climática “Velha Estante” valoriza o encanto melódico do pop barroco aprendido com os fundamentais Zombies.

“Do Outro Lado” continua exibindo a riqueza harmônica do Daysleepers, em atmosferas de sonho que orgulhariam Brian Wilson. E a beleza profunda e reflexiva de “Cidades Coloridas”, que em meio aos descaminhos e a solidão encontra uma ponta de esperança disfarçada em “tchu-tchus” altamente pop. O ingênuo e sincero amor colegial aparece na singela “Aos Dez Anos”, exaltando o poder atemporal que uma canção pode ter.

Porque, no fim das contas, não interessa de onde ou quando vêm as mais bonitas canções, e sim o bem que elas podem te fazer. Que o álbum cheio dos meninos de Aracaju venha recheado delas, pois o mundo ainda não pode prescindir do valor curativo de uma simples canção pop.

Para baixar o EP:
http://www.ladonorte.net/netlabel/net-daysleepers.html

www.myspace.com/daysleepersbr

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

"High Five": THE PRIMARY 5!

Não viveremos o suficiente para saber. Quais os parâmetros divinos para distribuir os talentos sobre a Terra? Ou qual o porquê de, não raro, serem utilizados métodos tortos ou aparentemente sem lógica. Veja o caso de Paul Quinn: ex-baterista do Soup Dragons - que teve ao menos um hit mundial com “I’m Free” – e que depois conseguiu entrar na sua banda preferida, o Teenage Fanclub. Com eles gravou pelo menos um disco clássico, Grand Prix. O que parecia um conto de fadas – e que na verdade é uma estafante rotina de shows e mais shows - acabou cansando o escocês, que resolveu sair do grupo e... virar carteiro! Por um ano, Quinn percorreu as ruas de Glasgow, entregando correspondências e, provavelmente, tomando corrida de cachorros mau-humorados.

Até então, Paul não havia composto uma só canção. Simplesmente porque nem tocar uma guitarra sabia. Sabia-se, sim, de seu talento como baterista e que havia decidido abandonar a carreira musical. Aí a reviravolta: farto da vida de carteiro – que na verdade é uma rotina estafante de entregas e mais entregas - Paul voltou aos braços da música. Aprendeu guitarra, passou a cantar e compor. Simples assim. Quinn havia sido escolhido para receber o dom da composição pop. E precisou de anos e desafios para encontrá-lo onde sempre esteve: guardado em si mesmo.

Então, formou o Primary 5 e, já no primeiro disco North Pole, despontou como um talentosíssimo compositor de canções perfeitas. Claro, a convivência por anos com mestres como Norman Blake, Gerard Love e Raymond McGinley ajudou a desvendar alguns meandros e segredos da feitura de uma boa canção pop; mas nem de longe foi essa oportunidade que forjou o compositor que havia latente em Paul.

Depois do segundo disco, o também aclamado Go, o músico novamente surpreendeu e anunciou o fim do Primary 5. Mas não deveria haver surpresas quando se trata de alguém que saiu do Teenage Fanclub para ser carteiro. Por isso, enquanto o mundo do power pop ainda lamentava a morte precoce de uma das bandas mais amadas do estilo, Paul avisou: “estou gravando o novo disco do Primary 5”. E aqui chegamos a High Five.

Não há dúvidas que o álbum anterior Go é mais vibrante, com capacidade de contágio imediato. Já High Five, é de uma beleza mais sutil, porém profunda. Quinn está mais contemplativo e introspectivo (o que pode ser um indício de uma nova mudança radical à vista...). E apesar da forte presença de dois fannies na gravação do disco – McGinley foi o engenheiro de som e Blake assumiu as guitarras em “Rewind” – High Five se distanciou levemente da sonoridade do Teenage Fanclub. Já a participação de Jim McCulloch - que toca guitarra em todas as faixas, menos na que Blake tocou - pareceu muito mais influente, aproximando, em certos momentos, o Primary 5 da sua banda, o The Green Peppers.

Não se pode sentir e interpretar High Five na primeira audição. Você vai de peito aberto e cheio de expectativas – impressas na memória afetiva pelos álbuns anteriores - esperando pelos mesmos truques, mas, de repente, se depara com texturas diferentes e intenções, de certa forma, que exigem um passo à frente. A sensibilidade deve estar à flor da pele, para se igualar ao estado mais elevado que Quinn se encontra. A sutileza está em cada acorde, em cada timbre. A voz de Paul vem envolta eu uma aura de leveza e candura. E o pop perfeito permanece soberano em todas as canções.

“I Wonder Why” é talvez é mais emblemática das canções em High Five, por refletir fielmente o clima do disco: não salta aos ouvidos à primeira vez, mas vai sendo processada a cada nova audição, como se fosse envelhecida em tonéis de carvalho, até chegar ao seu ponto perfeito. Macia, doce, e com um refrão lapidado por uma maestria admirável. Segue-se a canção título, produto da fina ourivesaria pop de Quinn e, “So Much To Find”, confirma as expectativas de novas mudanças no horizonte: Paul afirma que “ainda há muito para aprender, muitas outras coisas para fazer”. Ele diz que é um desejo que “aflige a alma...”.

“Same Old Story” é um belo western, onde Quinn parece tocar sua guitarra acústica com o pé apoiado na porteira, enquanto observa o sol se por no horizonte quente e poeirento. Mas, como artesão pop, não se esquece dos “na-na-na-nas”, em canção claramente influenciada pelo Green Peppers de McCulloch. “Breathe” segue no interior americano, com seu folk-country-pop. Em “Lost And Confused”, Paul inverte os papéis e se coloca no lugar de um fã que encontra o ídolo: “Hey man, it’s so good to meet you/I love your records/I love your songs”. O power pop corre solto e o solo de guitarra é puro Teenage fase Bandwagonesque.

“Rewind” traz a colaboração de Norman Blake na guitarra psicodélica e carimba o refrão com melodia de contágio universal. “Fly Baby Fly” e "Stills” mostram que Paul também aprendeu algumas notas ao piano para adornar e aumentar a sensação de bem-estar que trazem suas canções. A contemplativa “Trains”, embalada por coros quase gospel, encerra High Five e nos deixa um pergunta: qual o próximo passo da mente criativa e irriquieta de Paul Quinn?

P.S: Pois aí está: Paul acaba de anunciar, em seu MySpace, que o Primary 5 chega ao fim, outra vez. Mas agora de forma irreversível, por motivos pessoais. Quinn ainda fará três shows na Espanha, em Janeiro, que serão como a despedida final. A resenha acima, escrita cerca de um mês atrás, soa como um vaticínio, confirmado nas palavras de Paul: "Então é hora de seguir em frente, aprender a tocar piano, aprender como gravar um disco em casa, compor canções como se fazia no passado e deixar o mercado da música para os garotos que almejam as estrelas."

www.myspace.com/theprimary5

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

"Summerdew Avenue": THE PENELOPES!

Não é segredo a fixação dos japoneses pelas melodias açucaradas do pop ocidental. Que agora, com o processo da mundialização – onde gostos e costumes se uniformizam – nem podemos mais rotular de “pop ocidental”. É pop e ponto. Pop que fascina a mente criativa do músico japonês Tatsuhiko Watanabe, líder do The Penelopes e dono do selo Vaudeville Park. Com a ajuda da baixista Chigusa Miyata, Watanabe chega ao sétimo álbum com o Penelopes. E como já não nos é novidade, aqui ele compôs, produziu e gravou todas as faixas.

Watanabe é um grande conhecedor de música pop – dos anos 60 aos dias atuais – e essa bagagem de informações e referências, se reflete claramente no som do Penelopes. Com uma interessante mescla de sonoridades dentro de uma mesma canção. Vai de Beatles e Badfinger a Smiths e Squeeze; pode passar por Zombies e Beach Boys e desembocar sem escalas, em Fountains Of Wayne e Aimee Man.

“Melt The Snow”, faixa de abertura de Summerdew Avenue, tem sintetizadores e guitarras oitentistas, um órgão sessentista e um refrão adesivo em qualquer época. “1983” tem algo de indie pop dos noventa e uma cara power pop oitentista nas melodias. “Colour Shades Of Summer” volta aos sessenta na pegada pop, apesar dos dedilhados de guitarra ecoarem timbre vindos dos oitenta. “Gentians” soa Burt Bacharach e a contagiante “Light And Shade”, parece um mega-hit perdido em uma rádio de flashbacks. A envolvente “Rock Soles Garden”, encerra o álbum com seus metais setentistas, harmonias vocais angelicais um refrão auto-adesivo na melhor escola sixtie pop.

www.myspace.com/thepenelopesvaudevillepark
www.jttk.zaq.ne.jp/penelopes/

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"Kai Reiner": KAI REINER!

Desde que a música pôde ser transformada e comprimida em um arquivo virtual, foi inevitável a perda de um certo valor emocional. Compartilhar música passou a ser dividir arquivos trocados via computador. A facilidade vulgariza e desvaloriza. Mas Kai Reiner ainda acredita que compartilhar música seja dividir emoções. Não importa se o músico alemão esteja na sua Hamburgo natal e você a mais de dez mil quilômetros dali. Importa os quatro anos que Reiner passou da sua vida preparando este álbum para partilhar com você. Anos polindo peças sonoras, embalado pelo sonho da canção pop perfeita que começou num show de Brian Wilson.

Kai compôs e produziu todas as faixas. Tocou as guitarras, o baixo e a bateria, e cantou com uma paixão pela melodia que transborda. Se a gravação soa caseira, as composições se sobrepõem pela força da inspiração. Porque Kai quer compartir as boas sensações, quer fazer voar o sentimento de bem-estar pelas milhas que a distância agora não pode separar. E até a força da imagem tem o que dizer: a capa do álbum traz uma Rickenbaker – com o nome de Kai Reiner gravado – sobre a grama verde banhada pelo sol. Isso já sugere muito dos sons que estarão contidos no álbum. Sugere que em terras frias, nem só os pássaros querem o sul para se aquecer.

E é exatamente isso que Kai começa dizendo na sensacional canção de abertura “Cold Summer”: “vamos pagar um avião para qualquer lugar/eu quero sentir o brilho do sol em meus olhos/aqui o verão é frio”. Palavras imersas em um clima de beleza melódica indescritível, as guitarras brilhando em intenso jingle-jangle, e a voz de Reiner doce como um pote de mel. Fãs de Teenage Fanclub terão uma síncope! Clima mantido na belíssima “Only We Both Now”, melodia celestial - ouça de joelhos, agradecendo aos céus pela oportunidade – e riff de guitarra memorável. “Hey K” confirma a sensibilidade do alemão para forjar canções pop fortes e emocionais

Essa é atmosfera: riffs explodindo sobre melodias pop impressionantes, com a sonoridade Rickenbaker adornando o sempre ambiente emotivo. Seja em “I Don’t Want Your Crown”, “It’s Okay” ou “Are You Okay”. É a contraposição para que o power pop saia perfeito: guitarras incisivas, bateria vigorosa e sem firulas, riffs fortes, melodias adesivas e vocais harmônicos e amigáveis - “Brown Eyes”, “Roll On The Holidays”, “Know You Now” são protótipos. Para atingir as fibras do coração, os dóceis acordes de “Emily”. Na faixa de encerramento “Shine”, Kai Reiner pede a Deus que, no dia em que partir, ter tido a chance de ficar na memória daqueles que conheceu. Depois deste disco, ele não precisa mais pedir.

www.kaireiner.com
www.myspace.com/kaireinermusic

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"Distant Drumming": THE BRILLIANT MISTAKES!

Viver imerso no caos urbano, de corridas desenfreadas e neuróticas contra o tempo e a mercê de encontros e desencontros, pode resultar em duas coisas. Ou você fica insensível e cada vez mais distante dos pequenos prazeres que te fazem humano, ou busca, vez por outra, desligar a tomada que te conecta às paranóias da vida moderna. Os novaiorquinos Alan Walker, Erik Philbrook e Paul Mauceri se decidiram pela segunda opção. O trio que forma o The Brilliant Mistakes, recriou, no estúdio em plena Manhattan – insone metrópole financeira pós-moderna – sonoridades que mesclam as raízes interioranas da América com os ecos atemporais do pop sessentista.

Se lá fora ambulâncias esbaforidas disputam uma guerra de decibéis com histéricas sirenes policiais, aqui dentro órgãos Hammond B3 competem com pianos Fender Rhodes para ver quem embeleza mais uma canção. Se lá fora aparatos cibernéticos de inteligência artificial são anunciados em telas-monstro de LCD, aqui dentro mãos humanas balançam chocalhos e agitam tamborins. Distant Drumming reprocessa influências e referências – utilizando-se de uma profusão de instrumentos vintage - e trafega do country-folk-americana ao sixtie pop, com leveza e maestria.

A acústica “The Day I Found My Hands” abre o disco com seu acento folky-country, emoldurando a doce melodia com órgãos e guitarras de doze cordas. “Monday Morning” segue no clima ‘roots’, remete a Crosby, Stills, Nash & Young e capricha na participação do clássico piano elétrico Wurlitzer. A maciez envolvente - ao som de bongôs, órgãos e pianos - encontra as harmonias vocais perfeitas, à la Beach Boys, em “Becoming’. Já “Good Year For a Change” é guiada pelo piano em balada com sabor de Beatles; e as teclas de Hammonds B3 e Auroras Classic duelam com a linha de baixo sinuosa em “The Circle’s Not Broken”.

Para relaxar e sonhar, como o som da água quando cai, o doce órgão Farfisa pontua sobre a emotiva melodia vocal de Walker e os passos suaves do mandolin, em “Water Fallin Down”. Batida contagiante e emocional na canção ao piano que tem poder para fazer chorar o sorrir ao mesmo tempo: “The Words”. Enquanto “Time In The Night” prova que o Brilliant Mistakes sabe onde atacar com um órgão Hammond para potencializar seu apurado senso pop. Belos acordes e melodia memorável, no country-pop acústico “Let’s Pretend”, antecipam a climática balada que fecha o disco “Wake Up Heart”.

Pela janela, Walker, Philbrook e Mauceri enxergam uma imensa e dourada plantação de trigo... na paisagem onde florescem frios e infinitos arranha-céus de vidro, concreto e aço.

www.thebrilliantmistakes.com
www.myspace.com/brilliantmistakes

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

"Sweet Psychedelic Orange": A Wordwide Pop Compilation!

Reunindo 15 bandas de diferentes cantos do mundo, a compilação - lançada pelo selo japonês Vaudeville Park (de Tatsuhiko Watanabe) - privilegia a presença de novos grupos, mas conta também com a participação preciosa de alguns veteranos. Apesar do nome, a coletânea não é uma coleção de canções psicodélicas. A exigência aqui é uma só: soar agradavelmente pop.

O grupo inglês de Leeds, The Ace, inaugura a compilação com a contundente “Adamantine Sorceress Of Ecstasy” unindo pop e punk. Monsiur Mo Rio é sinal dos (novos) tempos soando tempos passados: alemães que cantam em inglês e amam bossa nova. E sua “There Isn’t Any Truth” uma adorável e perfeita pop song. Os americanos do Music Lovers contribuem como pop sofisticado “Alan Lake” e os japoneses do Sloppy Joe mostram o elegante twee pop “Anyway”.

O mestre da canção pop, e líder do The Jetset Paul Bevoir, traz a gema pop “His Number One Fan” e os ingleses do Fiel Garvie comparecem com o pop climático e moderno “The Palace Lights”. O britânico Mr. Wright soa como algo entre Serge Gainsburg, Lou Reed e Pulp, na faixa “I Wish I Had A Girl Like You” e o Penelopes, em “Trick Of The Light, soa como em seu último disco: sempre homenageando os heróis do pop atemporal. Da Suécia o Achordian apresenta sua placidez acústica em “The Day That The Town Finally Died”. Fecha a coletânea o pop sessentista, memorável e doce “Julie Barber”, do incrível Rinaldi Sings.

www.myspace.com/thepenelopesvaudevillepark

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Da Série CLÁSSICOS: "Epiphany" - POP IS ART!

Por Daniel Arêas

Epifania é um momento de clarificação com relação a algo. Significa uma súbita iluminação (para muitos, de caráter divino, espiritual) que permite ao indivíduo uma total compreensão de alguma coisa. E é também o título (Epiphany) do terceiro disco da série Clássicos do PPS. Embora o título a princípio se refira a um importante trecho do álbum, não seria difícil imaginar que também esteja relacionado à própria decisão do cantor/compositor/multiinstrumentista Scott McGinley – o homem por trás do nome do projeto, PoP is ArT – em gravar o disco.

O americano Scott McGinley é um veterano músico, tendo feito parte de bandas como The Insiders, Bliss e New Religion, e chegou a atingir grande sucesso na Ásia (maiores informações sobre sua carreira, nos comentários). Em determinado momento de sua vida, se viu diante de dois caminhos a seguir: repetir (como músico, compositor e performer) a fórmula que indiscutivelmente vinha dando certo, ou expandir seus horizontes e realizar um trabalho em que realmente pudesse dar vazão a toda sua criatividade e talento. A epifania de Scott pode ter se dado aí: perceber que o que o faria feliz era realizar um trabalho livre de quaisquer amarras impostas pelo mercado. Um trabalho, enfim, no qual ele se fixaria apenas na sua arte.

E assim nasceu o PoP is ArT (titulo que é auto-explicativo). O que Scott não poderia prever é que faria um dos maiores discos da década (não apenas no universo do power pop, mas no da música como um todo). Os diversos temas e estados de espírito que surgem em seu disco – do bom humor à melancolia e reflexão, do mais puro romantismo à espiritualidade – ultrapassam os limites convencionais do power pop, assim como as influências que nortearam sua criação (às inevitáveis inspirações em Beatles, Beach Boys, Kinks, Cheap Trick, unem-se às referências de ELO, Pink Floyd, Supertramp). Toda essa miscelânea resultou numa obra verdadeiramente de gênio – e sem deixar de ser pop em instante algum. Todas as informações que constituem o background das canções, narrados nessa resenha, foram extraídas do site do PoP is ArT (o endereço está no fim do texto).

A abertura de Epiphany, “All I Know”, é não menos que sensacional. Inicia com a ótima voz de Scott acompanhada de guitarras afiadas, evocando o Cheap Trick. Se assim permanecesse até o fim, já teríamos uma faixa de abertura de respeito, mas Scott quer mais. Subitamente, somem as guitarras e surge um interlúdio composto por timbres e harmonias vocais típicas dos Beach Boys. O ouvinte ainda se surpreenderá, em seguida, com a volta das guitarras, mas o melhor fica para o final. A junção de orquestrações com a paulatina entrada das guitarras e da bateria, com Scott repetindo indefinidamente o refrão, remete aos melhores momentos do ELO.

Essa é apenas a primeira música de Epiphany, e seria o ponto máximo de milhares de álbuns. O ouvinte, se fizer a (equivocada) associação do termo “pop” à mediocridade que impera nas rádios de hoje, poderá até pensar que o “pop artístico” a que Scott se propôs tem essas características: arranjos ricos e elaborados, longas canções compostas por vários trechos... mas, essa suspeita, se dissipará assim que surgirem os primeiros acordes de “Let Me Be The One”.

Ali, na posição dois do álbum, onde costumam ficar os primeiros singles dos discos (mera coincidência?), está a melhor canção pop que você, caro(a) leitor(a), ouvirá em muito tempo. Contrastando com a faixa de abertura, “Let Me Be The One” (dedicada à esposa de Scott, a também cantora e compositora Vicky McGinley, nascida em Taiwan) é de uma singeleza quase desconcertante – mas de forma alguma inferior por isso. Nela estão todos os elementos da clássica canção pop perfeita: melodia apaixonante, refrão pegajoso com belos versos românticos (“Let me be the one who brings you running/Let me be the one who’s always there/I’ll be the one to lend my shoulder/When you can’t find someone who cares/Let me be the one”) palminhas no fim ao ritmo da música... enfim, fica o conselho: não ofereça resistência, porque será impossível não se sentir contagiado.

“Are You A Boy Or A Girl”, uma bem-humoradíssima canção, de versos hilários (“Don’t get me wrong from my question/And I don’t mean this to be rude/It’s not some kind of intervention/But I can’t tell it from your shoes”) é British Invasion até a medula: se inicia evidenciando a influência de bandas como Kinks ou Small Faces, no refrão segue a tendência de alternância de ritmos, lembrando Beach Boys/Zombies.

A linda “Here Comes The Music”, canção de base acústica, repleta de harmonias vocais simplesmente deslumbrantes, trata do bloqueio criativo que volta e meia acomete artistas, mas também, e principalmente, da mágica que a música é capaz de proporcionar. O título da canção, porém, tem por trás uma tocante história, novamente ligada a Vicky. Conta Scott que no início do relacionamento dos dois, quando então Vicky ainda estava aprendendo a falar inglês, ele compreendeu quando em uma ocasião ela disse “comes the music” – significava que ela estava pedindo a ele que colocasse algum CD para tocar. Certamente esse background emocional contribuiu para que “Here Comes The Music” saísse tão bonita.

A partir daí, inicia-se o que Scott chama de “lado conectado” do álbum, em que todas as canções possuem alguma ligação entre si. O bom humor e o romantismo das quatro primeiras canções dão lugar a temáticas mais densas, profundas. A ótima “Misled” (canção beatle por excelência, parecendo ter sido extraída do Abbey Road ou White Album) aborda o tema do sentimento de solidão, mesmo estando deitado ao lado de uma pessoa. “Higher” – cujo tema é a auto-medicação para fugir dos problemas da vida e dos relacionamentos fracassados – é outro esplêndido momento do álbum, iniciando de uma forma (o tom baixo, quase sussurrante da voz de Scott e o dedilhar do violão sugere uma canção aos moldes das de Elliott Smith) e encerrando de outra forma completamente diferente (com um magnífico solo de guitarra que David Gilmour poderia perfeitamente ter assinado).

Enquanto o solo de guitarra vai lentamente sumindo, outro assunto caro ao álbum vai sendo introduzido: a espiritualidade, através da breve “Father Father”, na qual o personagem da canção diz repetidamente “Father Father/I’ve lost my way”, até desembocar em harmonias vocais verdadeiramente celestiais. Há um breve hiato, ocupado pela triste – porém bela - “The Other Side (A Requiem For Phebe)”, canção que provoca lembranças de Paul McCartney, até que “Father Father” reaparece. Só que, desta vez, trazendo a redenção do narrador, que decide então “abraçar” a espiritualidade para tentar se salvar (“Father Father/Help me find my way”) e colada a “Wake Up!”, onde os instrumentos básicos do rock convivem harmoniosamente com orquestrações. Fecha-se então mais uma memorável sequência do disco. Mas ainda não é o fim...

Scott ainda consegue nos surpreender com a soberba “Angry Young Man/Averice/Angry Young Man”, que com seus quase nove minutos de duração pode ser considerada a canção “épica” do disco, mas não apenas por sua duração. É mais uma canção de redenção, de clarividência, de descoberta do real sentido da vida – de epifania, enfim. Embora o primeiro trecho de “Angry Young Man” se inicie nos moldes de uma típica música do Pink Floyd, as mudanças de andamento na canção, como um todo, remetem ao Supertramp.

Aqui, Scott assume o papel de um jovem que acredita que a felicidade pode ser comprada, através da obtenção de bens materiais, mas que começa a se questionar (“But I was such an angry young man/Could life work like out I planned?/Could I ever be satisfied? (Was I wasting my time?)/But I remained an angry young man”). Já no trecho seguinte, “Avarice” (que se inicia no mesmo tom do trecho anterior, mas que paulatinamente vai ganhando em peso e energia, até se tornar o momento mais heavy do álbum) Scott se posta como observador do momento de iluminação, da tomada de consciência, por parte do “jovem raivoso”, de que a felicidade reside dentro de nós, e tem a ver com dar, e não receber – observador de sua epifania, em resumo. E na reprise de “Angry Young Man” – novamente cantada por Scott na 1ª. pessoa - o personagem da canção confirma seu momento de realização (“I was such an angry young man/A fools parade for the angry young man/Say Good-bye for the angry young man”).

Para Scott, mesmo nos momentos difíceis, tudo acaba bem. E ele não deixa qualquer dúvida quanto a isso com a entusiasmante “Smile!”, a canção que fecha o disco. Sobre uma cama de teclados e arranjos sinfônicos acompanhando baixo, guitarra e bateria – novamente tendo o Supertramp como referência – os versos do refrão não poderiam ser mais diretos: “Things will get better/Stand up in style, don’t you know it’s gonna be alright/Get up & smile, cause everything is gonna be just fine”.

Pop é arte, afirma Scott McGinley. Mas ele afirma que o pop é intrinsicamente arte, seja de que formato for – isso ele deixa claro ao unir num mesmo álbum canções como “All I Know” (com diversas mudanças de andamento, arranjos ricos e variados) e “Let Me Be The One” (encantadoramente simples, contando apenas com os básicos instrumentos do pop-rock e cativantes versos diretos e românticos). É aí que reside a genialidade de sua obra. Mesmo nas canções mais sofisticadas, tocando em temas mais profundos e sérios, Epiphany provoca todas as reações que um clássico disco pop deve despertar no ouvinte, do primeiro ao último minuto: sensações de bem-estar, prazer, diversão, alegria, otimismo. Se a decisão de criá-lo foi resultado de sua epifania, que mais e mais artistas passem por esse momento de iluminação, para ganharmos mais obras-primas como esta.

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"Goodnight To Everyone": THE JELLYBRICKS!

Mesmo passados 20 anos, Larry Kennedy, líder dos Jellybricks, consegue se lembrar. Do guaraná, do pastel, do topless em Copacabana, da beleza do Corcovado. Lembra que os Titãs estavam no topo da parada com “Aa Uu” e que aqui, isso mesmo, na terra tupiniquim, o americano da Pennsylvania foi apresentado ao Echo & The Bunnymen e ao The Cure. Ele morou aqui no fim dos anos 80, e ainda carrega as fortes sensações deixadas pela experiência vividas na adolescência. Quem diria: o Brasil influenciou uma das mais tradicionais bandas da cena power pop ianque.

Completado por Garrick Chow, Bryce Connor e Tom Kristish, o Bricks chega ao seu quarto álbum, Goodnight To Everyone, mantendo a fórmula de sempre adicionar pegada rocker e guitarras incendiárias a melodias de forte apelo pop. Como na faixa de abertura “Eyes Wide”, que começa agressiva na linha vocal para emendar um refrão power pop clássico. O riff da faixa-título conduz a canção, sem sobressaltos, até a explosão no chorus, cheio de harmonizações vocais em duas partes distintas. A climática “Ruin Us” mescla a potência das guitarras com a sutileza de notas de piano; no refrão, a presença do órgão valoriza a melodia.

O rock envenenado “Broken Record” antecede os belos acordes da perfeição pop de “Nobody Else”. “More To Lose” traz variações melódicas preciosas e “Try To Be” segue mais minimalista, só até, claro, o convite de cantar junto no refrão. O violão acústico embeleza a maciez e luminosidade de “Put It Down”, enquanto a eletricidade corre solta na vitamínica “Up To You”. Fecha o disco a bela balada “Heart Begins”, ornada com divinas harmonias vocais, um singelo mandolin, mais pianos e órgãos, tudo em clima de orquestra pop. E Larry sonha voltar ao Brasil, dessa vez trazendo os chapas do Jellybricks. Oxalá!

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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"Follow The Summer": DAVE DILL!

As estações bem marcadas do hemisfério norte trataram de valorizar o verão de uma forma diferente do hemisfério sul. Carregada de simbolismo, a estação do sol representa o contraponto à solidão escura do inverno, onde paisagens brancas e frias enclausuram pessoas e deprime almas solitárias. Até a chegada do calor reconfortante do verão, suas feições coloridas, campos verdes fundindo-se ao céu azul. Tempo de paixões avassaladoras, brisa no rosto em viagens sem rumo. Assim sente o verão, quem experimenta a presença gélida e cortante dos invernos do norte. E assim criou-se um estilo musical chamado sunshine pop, que canta as boas sensações de veraneio em sonoridades luminosas e agradáveis.

E é seguindo o bem-estar que o verão proporciona, que americano Dave Dill forjou seu quinto álbum Follow The Summer. Cantor, compositor, arranjador e produtor, Dill fez tudo sozinho na gravação do disco, tarefa nada fácil pela quantidade de arranjos e harmonizações vocais intrincadas. O clima do álbum segue com desenvoltura pelos anos 60 e 70, deixando transparente quem são os heróis de Dill. Aqui brilha forte o sunshine pop, atraindo para si, também, o legado das canções do AM pop. Tudo fundamentado na referência basilar do pop sessentista.

“Today” abre o álbum com teclados que pontuam na batida macia e que, segundo o próprio Dill, é inspirada em Stevie Wonder. A doce “Miss America” parece passear pelos céus lilás (representados na pintura da contracapa de Follow The Summer), impulsionada por flutuantes coros vocais. Já “Happily Ever After” começa rosnando na distorção das guitarras para chegar à perfeição pop no refrão, honrando a tradição power pop dos tempos de Badfinger. “Never So Beautiful” chega na doçura de ‘tchururus’, como uma ingênua canção de ninar, até adensar o clima no refrão.

A pegada rock de “Don’t Remember” tem acento country e a bela “You Don’t Believe” nos remete às baladas auto-adesivas e emocionais do já citado Badfinger. As ondas do mar trazem a tranqüilidade onírica de “Follow The Summer/Pink Skies” e “Everyday Song” mescla Brian Wilson com Queen, soando, ao final, muito próximo ao The Nines em seu último álbum. A batida folk da acústica “Ride On”, encerra o disco, como um pôr-de-sol que celebra o fim de um dia dourado pelas melodias pop. Porém, já ansioso pelo próximo amanhecer.

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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

"A Collection For Enemies And Friends 1992-2002": ROSS!

Só sei que nada sei. Nunca uma frase soou tão sábia e pertinente. Porque eu me pergunto: como levei 16 anos para esbarrar com o Ross? Como poderia ter-me escapado uma banda cujas principais influências são Beatles, Zombies, Brian Wilson, e que transita pelo pop psicodélico soando como um Sunshine Fix ou um Olivia Tremor Control? Ou ainda: a banda é um projeto do espanhol Juan Ross, de Múrcia... e eu mapeio o pop espanhol há muitos anos... mesmo assim, apenas em 2008 cheguei ao Ross! Mas porque tantas perguntas e tanta perplexidade por só agora conhecer a banda? Porque é uma das maiores bandas de pop psicodélico que existem na face da Terra atualmente! Simples assim. Mas é aqui que outra frase soará sábia e pertinente: antes tarde do que nunca.

Com três álbuns cheios na discografia e diversos EPs, o Ross é a expressão artística da mente criativa de Juan Antonio Ross. Sempre convocando diversos músicos a amigos para fazerem parte do projeto, Juan é um verdadeiro mestre na arte das melodias pop com toques psicodélicos. Tem um domínio impressionante das timbragens, da produção e arranjos de canções que remetem aos anos sessenta e setenta. Uma sensibilidade apurada no trabalho vocal, tanto nas harmonias como no timbre da sua voz. É uma coleção majestosa de pérolas pop disposta nesta compilação.

Enemies & Friends reúne, em um CD duplo, uma seleção de canções dos álbuns – todos fora de catálogo - Sugar, de 1996; Supersonic Spacewalk, de 1998 e Rossland, de 2001, no CD 1, e lados B, outtakes e raridades no CD 2. São 22 faixas por CD, o que torna dificílima a tarefa de destacar canções. Principalmente as faixas do CD 1, que estão equiparadas em um altíssimo nível de proficiência. É uma profusão de canções pop perfeitas estonteante: “My Sister”, “Smoking Control”, “Sleeplessness”, “Nothing For Happiness”, “Song For My Little Things”, “On The Air”, “Joy”, “Living In The Sun”, “Like a Photograph” – esta última, uma das maiores canções pshyc pop de todos os tempos.

Refrão memorável atrás de refrão memorável; harmonias vocais perfeitas em cascata; acordes viciantes escorrendo pelos auto-falantes... e, ainda, temos as canções com viés mais psicodélico, mas, mesmo assim profundamente pop: “Glass Onion World”, “Starships + Supersonic Spacewalk”, “Sugar”, “Cosmography”, “Rainbows”, “Psychocellos” e “Foam Ruber Room”. No CD2 temos jóias raras que Juan se deu ao luxo de colocar em EPs: “Birds Of My Mind”, “All Smoke Is Mine”, “Once Up On A Time” e “Cosmos Bell”. E covers significativas: “Verissimilitude”, do Teenage Fanclub; “In The Street” do Big Star; “I Don’t Remember Your Name” dos Records e “Yes It Is”, dos grandes inspiradores e mentores espirituais do Ross - os Beatles.
Agora eu te pergunto: onde você está que não conhece o Ross? No mundo das luas psicodélicas de Saturno – só se for!

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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

IPO ELEVEN!

O pop que não é popular. É lutando contra essa contraditória frase que o International Pop Overthrow e sua coletânea, chegam ao décimo primeiro ano. O festival - que hoje chega, todo ano, a 11 cidades americanas, duas canadenses e uma inglesa - cresce de forma assustadora, graças aos esforços incomensuráveis de seu idealizador e chefão David Bash. Que sempre acreditou no conceito puro de pop music: a canção que pode soar bem a qualquer um, com melodias agradáveis, pegada envolvente e de fácil assimilação. Dar ao pop um pouco da relevância - que lhe foi tirada pelo cunho comercial conferido pela indústria musical - parece claro como um dos objetivos de Bash. O pop pode ser popular sem necessariamente ser “comercial” ou “artificial”, é o recado do IPO Eleven.

E aqui chegamos à coletânea em si, com 66 bandas de 11 países, algumas novatas outras nem tanto, mas todas dentro do espírito da sonoridade pop – seja qual for a vertente: power pop, pop rock, rock, punk pop, sixtie pop... E nessa edição a parte gráfica também se destaca, com referências ‘pop’ muito bem sacadas. A começar pela logo, onde o IPO parodia o iPod e a marca da Apple, que em vez de uma maçã mostra uma guitarra estilizada lembrando o formato da fruta. O indefectível fone branco do famoso tocador de mp3, aparece plugado numa guitarra e seguindo diretamente aos ouvidos de uma garota. Já, na contra capa, lê-se a frase: “Pop – You can believe in”, com a tal guitarra estilizada nas cores da campanha de Barack Obama. Dois ícones atualíssimos do pop corporativo “a serviço” do pop independente. Fina ironia.

Mas é a parte musical que aqui nos interessa. Abre o CD1 a banda finlandesa Daisy, e a todo vapor com “Go!”, sem economia no uso do vocoder e sintetizadores nervosos. Segue o pop perfeito dos americanos do Ken Kase Group em “Shiner”. De Chicago vem o Backroom, apresentando a belíssima “Lost Without You”, emocional e pop ao mesmo tempo. E da Suécia chega uma das surpresas do ano no power pop, o Private Jets, que traz melodia memorável e harmonias perfeitas em “Extraordinary Sensations”. O ex-Jellyfish Roger Joseph Manning Jr. vem com a espertíssima e empolgante “American Influenza”.

Os londrinos do Mini mostram a ganchuda “Hoping For An Astronaut” e a canadense Laurie Biagini a onírica “That Feeling Inside”. O Maryz Eyez comparece com a incrivelmente infecciosa “Unpaid Holiday. E aqui fica a minha homenagem à memória de Mike Murphy – a quem essa coletânea está dedicada – líder do Leave (uma das grandes bandas de power pop de Chicago) falecido recentemente. Mas o sorriso logo volta quando ouvimos a contribuição do grupo ao IPO 11 com a sensacional “Hope It Doesn’t Come Away”. A bela Leerone vem com a doce “To Fill The Void” e o veterano Jeremy com a rascante “Everyone Makes Mistakes”. Adiantando a faixa de seu novo álbum, o Smith Bros. apresenta a auto-colante “She’s Under My Skin”. Fecha o primeiro CD a plácida e bonita, com sotaque Lennon, “It’s Summer Time’, do prodígio californiano Blake Collins.

O CD 2 começa com a ensolarada “Summer (You No My Name)” do Twenty Cent Crush; em seguida a “homenagem” sessentista dos noruegueses do Peter & The Penguins a Pete Best (primeiro baterista dos Beatles) em “There Goes Pete Best”, segundo eles “o mais azarado bastardo do mundo”. Kevin Peroni e seu Wiretree colaboram com a densa e bela “Big Coat”. De Detroit o motor envenenado dos The Respectables despeja na pista o rock flamejante “Charged By The Minute” e contrasta com o pop orquestral macio de Butch Young em “Dime Store Jesus”. Pinçada do álbum de estréia de Peter Baldrachi, a gema pop “You’re Gonna Miss Me Someday” representa com louvor o melhor do power pop clássico.

Uma das grandes descobertas do ano vem da Alemanha: o cantor compositor de Hamburgo, Kai Reiner. Na melhor linhagem Teenage Fanclub, Reiner mescla as melodias mais bonitas que se pode imaginar com riffs memoráveis e vocais de maciez angelical em “Cold Summer”. Os power popers do Oregon Phamous Phaces contribuem com a pérola acústica “Back To Liverpool”. Encerra o disco 2 a psicodélica “Gone, Gone, Gone” de Steve Caraway.

Os canadenses do The Tomorrows dão o ponta pé inicial no terceiro disco com “Effortless Lee”, mostrando que o álbum de estréia promete, seja nas harmonizações vocais intrincadas ou melodias inspiradas. Depois seguem os galeses do The Afternoons, com a adorável “Don’t Turn Back (Open Your Eyes). Os punk popers do Canadá Kelly Fairchild buscam as ondas do rádio com “Don’t Stop” e os americanos do All Right Tokyo se inspiram no Cheap Trick para aplicar alta octanagem à “Jessica Jessica”. De San Diego, o Suite 100 apresenta um vocal peculiar e uma sensibilidade melódica apurada em “Perfect Disaster” e os italianos de Florença The Vickers, trazem o pop rock “Silence”, onde se pode ouvir ecos do antigo Radiohead e do Travis.

Direto de San Francisco o Pleasure Trip contribiu com “Without You” e seu refrão ultra-catchy. Já o cantor compositor de britânico Kevin McGowan, vem com a beleza acústica de “Be Here Tonight”. Depois de mais de três horas de música, têm a honra de encerrar a coletânea os californianos de Hollywood, Teenage Frames, com o rockão invocado “Need Somewhere To Stick it”. E fica a sensação de que, a cada ano, o IPO e sua coletânea atingem mais gente, espalhando e divulgando o verdadeiro pop e apoiando bandas independentes que buscam seu lugarzinho ao sol. Quem sabe assim, um dia, o pop não volte a ser... popular?

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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

"Girls Aliens Food": THE SIMPLE CARNIVAL!

O ponto aqui não é estilo. Muito menos temporalidade. Não poderíamos estar somente interessados em sonoridades leves – ou mesmo divertidas – que aliviassem a tensão do dia-a-dia? Eis o ponto. Se, temos a chance de desafogo, de viajar por temas agradáveis em busca do bem-estar, podemos então saber como o Simple Carnival o faz. Que na verdade é banda-de-um-homem só, o americano da Pennsylvania Jeff Boller, um amante do sunhine pop, Am radio, Brian Wilson e bossa nova.

Inspirado por seus heróis, Boller juntou harmonias angelicais e melodias reconfortantes, e gravou seu primeiro álbum cheio Girls Aliens Food. Em casa, sozinho, fez todos os arranjos, tocou todos os instrumentos, fez todas as vozes e ainda produziu. Já na abertura do álbum, com “Really Really Weird”, a batida pontuada pelo teclado e coros vocais acaricia o espírito e deixa claro a referência beach boyneana. Os vibrafones em “Keeping It Quiet” adornam os ‘la-la-las’ de sonhos, em clima ingênuo de pureza quase infantil – Vila Sésamo é uma das influências de Boller.

O sunshine pop luminoso “Caitlin’s On The Beach” contagia na levada up e no vocal macio de Jeff. A jazzy “Flirt” tem algo de Marcos Valle e “Nothing Will Ever Be As Good” impressiona no trabalho vocal a capella – vários tons de voz feitos apenas por Jeff. Soa totalmente Brian Wilson e seu Beach Boys. A bossa de “Over Cofee And Tea” não esconde a admiração do americano por Tom Jobim. “Mysery” é soft pop setentista e “You Jump First” envolve no clima doce e melodia adesiva.

Há algum tempo seria difícil conceber “pop orquestral-de-um-homem só” ou “pop orquestral caseiro”, mas é o que vemos com cada vez mais freqüência. O resultado, por que não, pode soar denso e cheio de detalhes sonoros, como em “Effortlessly”. E para deixar sua alma sem peso pelo resto do dia, Jeff Boller se despede com a belíssima “Hey Lancaster” dizendo: “retorne com milhares de sonhos que ninguém jamais tenha sonhado antes”.

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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

"Car Guitar Star": DANIEL WYLIE!

Nem tente aplicar a Daniel Wylie a frase popular “fez fama e deitou na cama”. O cantor compositor escocês, que movimentou o mundinho brit pop em fins dos anos 90 e início dos 00 com seu Cosmic Rough Riders, deixou a incensada banda pra trás e seguiu, convicto, em carreira solo. Chega agora, em 2008, ao seu terceiro álbum Car Guitar Star, mantendo a reputação de mestre da canção pop perfeita. Se em álbuns anteriores Wylie aerava suas canções com a brisa fresca da costa oeste americana, no novo disco crescem climas um pouco mais densos e influências de Neil Young e Crosby, Stills & Nash.

Mas, ainda sim, Car Guitar Star traz canções douradas pelo sol californiano, como na irônica e empolgante faixa de abertura “I Love America”. Guitarras brilham, piano pontua, em uma linha melódica que remete ao REM, em “I’m A Machine”. “I Can Fly” é guidada pelo jingle-jangle das guitarras na melhor tradição ianque. Já acústica de acento folk “Hold Me Close”, se eleva na melodia de harmonias vocais quando atinge o refrão celestial.

Um empolgante ‘la-la-la’ abre a canção título, ensolarando até onde a batida das guitarras puderem ser ouvidas. E o poder do pop continua dominando os sentidos na melódica de refrão adesivo “Seven Shades Blue”. Violão acústico e piano para a semibalada “Hey Melvin” e o sol escaldante do deserto para “Keep It To Yourself”. Encerra o álbum a psicodélica de refrão pop “You’re Not The Only One”, nos lembrando o porquê do sucesso do Cosmic Roug Riders – agora apenas a ex-banda do gênio pop Daniel Wylie.

www.myspace.com/danielwylie

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

"Life In The Backseat": MONKEEMAN!

Até poucos anos atrás, o termo ‘power pop alemão’ soaria deveras estranho. Conscientes da falta de sonoridade amigável dos fonemas germânicos, os amantes locais das boas melodias e harmonizações perfeitas, passaram a compor suas peças pop em inglês. É provável que a Alemanha seja hoje o país com o maior crescimento na produção de novas bandas power pop da Europa. The Sea Level, Seaside Stars, Monster Bronsons, The Cheeks, Beat Hotel, Kai Reiner juntam-se ao Monkeeman – representado na figura de Ralf Lubke – para formar a locomotiva alemã que vem atropelando tradicionais países europeus produtores de bandas power pop.

Junto com Hans Foster - que lidera as três primeiras bandas citadas acima – Lubke se destaca no cenário de compositores alemães do pop poderoso. Ambos músicos vêm de Berlin, o que a primeira vista também poderia soar estranho pela aparente falta de compatibilidade entre as imagens mentais criadas pelo estilo e pela cidade. Mas já sabemos que contraposições fazer parte do power pop. O que ficou claro no magistral álbum de 2007 do Monkeeman, Jumping On The Monkey Train, recheado de pérolas pop de primeira grandeza.

Life In The Backseat traz um Lubke mais inconformado, menos romântico. Mais rascante e menos sensível. Revela a frustração de viver num mundo onde o dinheiro é o que move as pessoas. A produção segue claramente mais rock e agressiva, e se no álbum anterior as influências sessentistas se sobressaíam, agora Lubke se voltou para o mod – The Jam – e alguma coisa do punk de protesto – The Clash – ou mesmo canções de um cunho mais político – Billy Bragg. Mesmo nesse novo cenário as boas melodias pop aparecem e a herança beatle permanece.

“In It For The Money” chega com sons distorcidos e sujos, mas desarma o espírito no refrão pegajoso. Algo de Supergrass paira por aqui. “Lonely Guy” segue a mesma lógica, protesta no início, mas gosta de uma boa melodia pop no refrão. Talvez não seja uma boa idéia misturar pop music com ideologias políticas, mas tratando-se de alguém que viveu em um regime e agora em outro oposto, pode ser interessante ouvir o que ele tem a dizer em “Socialism”. E o refrão é matador.

“Backstreet” vem na batida mod, remetendo ao velho Jam e com chorus retomando a adesividade dos Beatles. A renomada capacidade de Lubke em produzir fantásticas canções power pop está intacta: “I Know a Girl”. Um clima oitentista, com teclados à la new wave, baseiam a sonoridade de “Hole In The Snow”. Já a bela e emocional balada “City Lights”, encerra o álbum com um quê de antigo Oasis.
Life In The Back Seat mostra um Monkeeman diferente, ácido nos comentários, furioso nas guitarras; ao mesmo tempo em que traz o Ralf Lubke de sempre, talentoso artesão da canção pop.

www.monkeeman.de
www.myspace.com/monkeemanmusic

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

"Mosque Alarm Clock": THE DOLL TEST!

Quando o terremoto grunge espalhou sua onda de choque pelos quatro cantos do planeta, seu epicentro, Seattle, já tinha uma coleção de grupos power pop. Que acabaram ofuscados pelo hype estrondoso das bandas que usavam camisas de flanela. Talvez o Posies tenha sido a grande vítima, como banda de maior potencial pop, mas que não se encaixava nos ditames da histeria grunge. Também na primeira metade dos anos 90, circulava pela cena de Seattle o Model Rockets, grupo hoje cultuado por power popers do mundo todo. Os Rockets terminaram e seus membros se subdividiram em duas novas bandas: o The Tripwires, liderados por John Ramberg e o The Doll Test, que ficou com ¾ dos músicos do antigo grupo.

Portanto, a herança do Model Rockets, está impressa no DNA do Doll Test. E, Scott Five, Nick Millward, Boyd Remillard e Graham Black, não escondem seu orgulho por isso. “I’d Rather Be Sleep” abre o disco espetando nas guitarras em vocais harmônicos e melodia sinuosas, provando que muito do ex-grupo sobrevive aqui. O andamento envolvente de “Everything’s Fine” é turbinado na pegada pop das guitarras e órgãos. Já “Fall Away” é uma power ballad, com bela trama melódica. A hiper-ativa “The Bell, The Map, The Stars” traz os ares das costa oeste americana em suas guitarras de doze cordas.

“My Self Future” imprime um ritmo à la Bob Dylan, para deixar voar os órgãos e as guitarras brilhantes no refrão. A sensacional “Ballad Of Your Blue-Eyed Boy” é a “Strawberry Fields Forever do Doll Test”. Scott Five soa como o velho Lennon nos vocais, e os acordes de piano aparecem grandiosos e emocionais. O órgão assombra no refrão. A rascante, de chorus cativante “The Last Rung”, antecede o jingle-jangle clássico e perfeito de “Shoot The Tambourine Man”.

Mosque Alarm Clock não veio para deixar mensagens, mas nos diz claramente que, enquanto os hypes morrem na velocidade com que nascem, os legados power pop se perpetuam e seguem florescendo. Sem a cruel obrigação do sucesso.

www.myspace.com/thedolltest

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

"Esque": THE RIP OFF ARTISTS!

“John Lennon, Paul McCartney, Elvis Costello, Burt Bacharach e John Barry são as cinco influências primárias da música pop”, diz o ‘artigo’ número um do ‘manifesto’ do Rip Off Artists. Uma exposição pública e, nem tão solene assim, de razões e objetivos da dupla de Milwaukee Nick Pipitone e Peter Batchelder. Já o ‘artigo’ cinco é direto e esclarecedor: “verso, refrão, verso, refrão, ponte, verso, refrão”. O título do disco, por sua vez, carrega uma ironia fina, uma espécie de provocação à crítica musical, já que o “esque” em inglês é uma espécie de “à la”, “com sotaque de” ou “derivado de” Tipo: Beatle-esque seria ‘beatleneano’; Beach Boys-esque, ‘beach boyneano’ e assim por diante. Mas a experiente e talentosa dupla de músicos têm cacife para ironias, manifestos pop ou provocações de qualquer espécie. “Esque” traz arranjos, instrumentações, timbres e idéias que valorizam e surpreendem dentro do (power) pop. Apesar de alguns relacionarem o som do Rip Off Artists a bandas como Fountains Of Wayne, Squeeze ou XTC, prefiro ficar com as imagens sonoras sugeridas pelo artigo primeiro do manifesto.

Passada a pequena “Intro/Normal People”, que abre o disco, entra uma das melhores canções pop do ano: “The Present, Tense”. Que não precisa de manifestos, ironias ou que o valha para se defender. Recheada de pianos e teclados, chocalhos sutis e batida esperta (com mudança de timbre na caixa nas passagens decisivas), a música tem refrão duplo de vocais perfeitos e melodia adesiva. E nos remete imediatamente ao artigo cinco – com uma passada rápida no primeiro, onde estão Lennon e McCartney. Segue a “bacharacheana” “What Just Happened?”, em um cativante pop orquestral até a entrada “The Wishful Thinker”, simples na sua constituição pop e rica nos detalhes dos arranjos.

E é isso que impressiona: a capacidade do duo de como ser criativo, usar variados instrumentos, e ainda soar simples e extremamente pop. A genialidade passou por aqui. Assim como conseguem ser emocionais na balada “The Worst News In The World” sem deixar de colar a melodia no cérebro do ouvinte. Mais um refrão memorável vem em “The Girl Behind The Bar”. Já o clima de sonho fica por conta da belíssima, e imersa em violões e teclados, “Sidetracked”. “Love And Uncertainty” engana no começo com um teclado despretensioso para explodir no refrão pop perfeito, talhado para as ondas do rádio.

Descendo (ou subindo) Esque, faixa a faixa, vai ficando cada vez mais cristalina a impressão de ser um dos melhores álbuns do ano. Pipitone e Batchelder ensinam como lapidar gemas pop com esmero, utilizando a arte dos grandes mestres do passado sem abrir mão de vasto instrumental. Como na magnífica “Without You, I’m Something” onde a frase da dupla que diz “nós tínhamos acordes, e não tivemos medo de usá-los” fica plenamente justificada. Encerra o disco - com harmonizações vocais celestiais e progressões melódicas envolventes - “I Through It Over”. (Não) estava escrito: Esque é o poder do pop a serviço da inteligência e a mercê da emoção.

www.theripoffartists.com
www.myspace.com/374233574

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"Jet Sounds": PRIVATE JETS!

Não é fácil fazer valer a missão. Tal qual um garimpeiro, que atira sua peneira centenas de vezes antes de ver um pequeno brilho em meio ao cascalho, a busca pelas gemas pop perfeitas exige perseverança. É claro, já conhecemos alguns territórios férteis em tesouros escondidos e isso pode encurtar a busca. E um desses terrenos ricos em pedras preciosas do power pop fica na fria Suécia.

É de lá que vem a banda dos gêmeos Erik e Per Westin - completada por Janne Hellman e Mikael Olsson. O Private Jets chega a seu primeiro álbum cheio já disposto a conquistar um posto de destaque no coração dos power popers. Porque Jet Sounds talvez não seja o que poderíamos chamar de álbum: se parece muito mais com uma coleção de hit singles ou um best of. Mas, no fim das contas, sim, Jet Sounds é um disco de inéditas.

Melodias memoráveis, harmonias vocais angelicais, guitarras afiadas, ganchos mais ganchos e mais toneladas de ganchos. É só o... “power pop heaven”! Que abre suas portas na energética e adesiva “I Wanna Be A Private Jet”, mostrando que o legado sueco de bandas como o Merrymakers está latente aqui. O clima de grandiosidade pop é marcado por guitarras e teclados em “Extraordinary Sensations” até desaguar na ultrapop, de refrão colante e harmonias perfeitas, “Speak Up, Speak Out”.

Não é novidade que a Suécia é um celeiro de grupos pop majestosos, mas o Private Jets impressiona pela facilidade em criar peças sonoras altamente viciantes. Soa como o verdadeiro sucessor de uma das bandas mais melódicas da história do pop sueco, o Beagle. “Investigate” prova isso na sua perfeição de progressões de acordes contagiantes. Mas o quarteto também adiciona referências outras, como Jellyfish na emocional de coros intrincados “Starshaped World”.

A surdez crônica das rádios pode ignorar solenemente Jet Sounds, mas sabemos que “Fireman For Day” poderia ter alta rotação em qualquer uma delas. “The Fire Academy” só repete o título em jogos vocais aprendidos com o mestre Brian Wilson. “Fast Forward With You” tem refrão fácil para as massas repetirem junto e a batida ao piano de “First Division Of Love” se entrelaçam com as belíssimas harmonizações vocais.

Em “Self Pity Association” é hora de se perguntar de onde vem tanta inspiração... Beatles e Zombies também passaram por aqui. A acústica e ensolarada “Hayfever” parece celebrar com simplicidade e leveza a proeza que os suecos acabaram de conseguir: nos entregar um baú onde todas as jóias têm o brilho raro do alto quilate.

www.privatejets.se
www.myspace.com/privatejetsmusic

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

"Midnight Cemetery Rendezvous": RADIO DAYS!

Talvez eles nem se lembrem. É bem possível, inclusive, que nem nascidos fossem. E eu apostaria, ainda, que os meninos do Radio Days não viram a TV matar a estrelas do rádio. Mas certamente ouviram histórias sobre as canções que tinham o poder de conquistar os jovens, viajando moduladas em ondas curtas ou médias. Nomearam a banda que, numa primeira olhada, sugere nostalgia. Até que as guitarras e melodias afiadas mostrem o frescor e a energia deste quarteto de Milão, Itália.

Midnight Cemetery Rendezvous é um EP de seis músicas, que provavelmente vem preparando o terreno para um disco cheio que deve sair em breve. Dario Persi, Francesco Orsi, Mattia Baretta e Alessandro Redondi, conseguem aqui realizar a mescla perfeita da energia do punk, com as melodias do pop sessentista. Mas tudo embalado de forma a provocar o deleite na nova geração – sejam eles power popers ou não.

“Brand New Life” já assombra de cara: os italianos não têm medo de gastar as boas melodias nem querem guardar cartas nas mangas. Guitarras atacam certeiras, escoltadas por harmonias vocais perfeitas e aí, entendemos o que os ‘dias do rádio’ representam para esses garotos. Porém, o recado aqui é adornar a canção sem nostalgia. Por isso “Don’t Keep Me Wainting”, com sua melodia irresistível e batidinha sessentista, soa moderna na pressão das guitarras.

Os coros de “Tomorrow” ecoam o power pop setentista/oitentista que ainda estava sob influência do punk rock. E a sensacional “Waiting For You” é o protótipo do power pop perfeito. Tem um refrão que poderia facilmente ser desmembrado em quatro, e doado, em partes e como caridade, aos reis do rádio atuais. “Rock’N’Roll Girl” é cover de Paul Collins Beat, mas se disséssemos que eram os Ramones, não faria diferença. Fecha o EP “She’s Driving Me Crazy”, em mais uma impressionante coleção de melodias e harmonias perfeitas, entrecortadas por uma guitarra nervosa e mais um chorus memorável. Não há dúvida: são os Radio Days dando uma lição nos cânones dos ‘iPod days’.

www.myspace.com/radiodays

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

"Retrofit"/"The Next Big Thing"/"The Happy Door": TIM ANTHONY & THE BRAMBLES

Se pudéssemos condensar a trajetória comercial do power pop no mundo da música em um só artista, poderíamos usar Tim Anthony como exemplo. Artesão da canção pop perfeita, o músico americano de Syracuse, esteve por várias vezes a um passo de uma grande gravadora. Em mais de 25 anos de carreira, Anthony poderia ter assinado com a Elektra, Geffen, A&M, Capitol... mas, na última hora, alguma coisa sempre falhava (alguns chamariam isso de “a maldição do power pop”...).

Retrofit é uma coletânea com as gravações raras de Anthony feitas nos anos 80 (depois formou os Brambles com o primo Lou Anthony, mas continuou lançando álbuns solo). Na verdade, para iniciantes na carreira do americano, mais interessantes são seus últimos álbuns: The Next Big Thing, de 2000, com o Brambles e The Happy Door de 2005, da discografia solo. Como registro, vale mencionar as duas faixas de abertura de Retrofit, quando Anthony liderava os Agents em 1982, que só duraram um single: “Don’t Forget Me” (“Agents Of The Future” era o lado B).

The Next Big Thing cristaliza a sonoridade de Anthony: influências sessentistas executadas nos moldes do power pop clássico do final dos anos 70 e início dos 80. Mas sempre caindo para vertente mais pop daquela época, como fica bem marcado na faixa título. “Gotta Be Love” é uma gema pop que deveria ser tocada em rádios do mundo todo diariamente, eternamente. Melodia ganchuda e refrão memorável. Já os belíssimos acordes de “She’ll Never Know” emocionam em ares de canção clássica.

A coleção de pérolas pop vem se apresentando uma a uma: “A Need For Knowing”, “Maybe This Time”, “Baby Girl”, “Wish”... São 16 canções com potencial de hit single e que poderiam ter engordado a conta bancária de muita gravadora grande por aí.

The Happy Door é o último lançamento de Anthony em carreira solo. Produzido por Ed James – que também tocou vários instrumentos no disco – mostra um nível de gravação superior aos anteriores, mas a mesma capacidade de Tim em transformar notas/acordes em artesanato pop. Abre o álbum “Maryellen”, cuja gravação original data abril de 1983, e que aqui não perdeu uma gota da energia e liga pop.

E como prova de que as majors tornaram-se dispensáveis e o pop de Tim Anthony é de alto calibre, “Maryellen” apareceu em um programa de TV da NBC recentemente. O que acaba sendo mais um fato na trajetória de Anthony traçado em paralelo com a de centenas de artistas power pop: o potencial comercial que as gravadoras desprezam, a TV e o cinema tratam de valorizar e claro, usar a seu favor. (Tim também foi contratado pela MTV e VH-1 para emprestar suas músicas para diversos reality shows apresentados por essas emissoras).

“Baby I’m Back” deve ter alta rotação na programação: melodia fácil, refrão colante, harmonias vocais perfeitas. Assim como “This Autumm”, “No Words” ou “All This Time”. A levada contagiante de “Maybe This Girl” se encontra com a melodia auto-adesiva, as guitarras afiadas e harmonizações vocais sessentistas: transforma-se aí num clássico do power pop dos ’00. A balada “No Words”, emociona na beleza melódica sem esquecer do refrão de DNA pop. A avalanche de clássicos e melodias colantes continua rolando disco abaixo: “Disappear”, “Mondays With You” e “The End Of Us”, que fecha o álbum.

No fim das contas, o não reconhecimento do talento de Tim Anthony – e de 99% dos artistas power pop – pelas majors, e consequentemente, pelas grandes audiências, não evitou que ele seguisse em frente e agora estivesse aqui, frente a frente com você. Sua maestria pop está registrada para sempre e pode ainda, quem sabe, um dia alcançar paradas mais populares. Mas, sinceramente, isso não parece mais importar. Porque eu acredito no poder da canção de Tim Anthony. Não em “maldições”.

www.myspace.com/timanthonythebrambles

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

"Rendezvous": CLASS THREE OVERBITE!

Rendezvous é um disco versátil. Oferece climas de variados estados de espírito levando o ouvinte a um turbilhão de sensações. Ou pelo menos a possibilidade de ouvir em um único álbum momentos que precisaria reunir em outros quatro ou cinco discos. Rendezvous é um disco inclassificável. Sonoridades que vão da disco music a Beatles, do glam rock a ELO, tudo ao mesmo tempo agora.

Class Three Overbite é a dupla, baseada em Michigan, Michael Elgert (conhecido dos power popers pelo seu elogiado disco de 2006 Days Gone By) e Bradley Jendza. E, Rendezvous, seu álbum de estréia. Rótulos aqui não têm muito a fazer. As referências funcionam melhor, mas sempre aparecem mescladas em uma fusão sem fim.

“Milkshake”, por exemplo, que abre o disco, espalha um glam rock infeccioso e pesado até entrar em um solo mais melódico e climático, para voltar ao ponto de partida. A faixa-título traz uma disco setentista, com uma batida eletrônica safada e um grito final que daria pra jurar que saiu da garganta do Paul Stanley do Kiss. Nas duas primeiras faixas não há como deixar de se perceber a influência do Imperial Drag – projeto glam-rock do Roger Joseph Manning Jr., ex-Jellyfish.

E, se falamos em Jellyfish, teremos que falar de ELO e Queen. Referência clara em “No Good Rotten”, que entra espetando nos riffs de guitarra e uma batida de violão esperta dando o tom. Harmonizações vocais intricadas e grandiosas mostram que essa canção foi feita para grandes arenas. “Do It” balança no groove típico dos anos setenta, mas mostra no refrão porque Elgert já era admirado pelos fiéis do power pop desde de seu disco solo.

O próprio nome já diz que a canção é uma celebração. Mas “Life Is A Piece Of Cake” nem precisaria de denominação, pela melodia contagiante, ambiência up e refrão para cantar junto. Se lançada pelo Queen, seria hit mundial e eterno. Em “Eager” dá pra imaginar Paul McCartney cantando sobre uma batida de valsa e seu belo refrão. A acústica “My Funeral” embala em violões e harmonias vocais envolventes. E a emocional “Prepared To Fall” vem caminhando reflexiva em ecos de guitarra e vocal macio, para explodir em êxtase no refrão monumental.

Ao contrário, a décima primeira faixa, chamada “Number Eleven”, é apenas um rascunho de canção sub-produzida, com algumas notas ao violão, uma voz catarolando algo e Elgert e Jendza rindo ao final de um minuto e dez. Ela encerra o álbum deixando clara a ironia e satisfação do duo. Porque, imerso em seu arsenal de variedades sônicas, o Class Three Overbite é o encontro (rendezvous) do simples com o grandioso e do reto com o sinuoso.

www.myspace.com/classthreeoverbite

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Da série CLÁSSICOS: "Pop! Radio" - GARY RITCHIE!

Por Daniel Arêas

Pop e rádio. Duas palavras quase indissociáveis, desde os primórdios. Com o passar do tempo, porém, graças à mediocridade e à miopia das rádios (mais precisamente, de quem as controla), o termo “pop” foi adquirindo uma conotação pejorativa. Para as novas gerações, “pop” passou a ser sinônimo de música medíocre, sem qualidade (muito distante, portanto, das características fundamentais do gênero, tal como ele foi forjado pelos seus mestres, nas décadas de 1960 e 1970).

Mas não para o americano de Chicago Gary Ritchie. Conhecedor e admirador profundo do estilo, ele gravou um disco repleto de canções compostas rigorosamente segundo os preceitos fundamentais do (power) pop, e deu-lhe o sugestivo título de Pop! Radio. O porquê de o disco ser o segundo da série Clássicos do PPS, o ouvinte descobrirá assim que ouvi-lo. Sem dúvida, um dos grandes discos de power pop da década.

A história de Pop! Radio começa quando Gary (ex-baterista do Loose Lips, banda de Chicago) resolve fazer um tributo aos seus maiores ídolos: os Beatles. A idéia era fazer um álbum composto apenas por covers de canções dos seus heróis musicais, uma tirada de cada um de seus álbuns. Com a colaboração de Jeff King (companheiro de Gary no Loose Lips), o projeto resultou no disco Beat The Meatles , com 22 canções dos Fab Four. Mas Gary se divertiu tanto com a experiência que resolveu repeti-la, só que dessa vez com composições próprias, recrutando King para novamente se juntar a ele.

Diversão... o que motivou Gary define à perfeição seu disco. Ora, não é disso, afinal, de que se trata, quando o assunto é o pop assumido – diversão, prazer, bem-estar, sentimentos positivos? Ao levar às últimas conseqüências seus propósitos, Gary criou um álbum de estréia com cara de Greatest Hits. Sim, Pop ! Radio é uma “coletânea” de doze potenciais hit-singles – isto é, caso existissem ainda rádios que divulgassem e colocassem nas suas programações normais esse tipo de som.

Estamos no terreno das melodias ganchudas (sempre adornadas pela energia das guitarras), dos refrões explosivos, das harmonias vocais, das palminhas ao ritmo das canções. Não será fácil encontrar outros álbuns contemporâneos com uma sequência tal de canções memoráveis, todas inspiradas no que de melhor se fez no power pop, desde as origens sessentistas até os dias atuais. O ouvinte é “fisgado” já nos primeiros segundos de “I´ll Be There” e só será “libertado” ao término de “’Til The Right One Comes Along” – mas a vontade de repetir a experiência será irresistível...

Evidentemente, os Beatles são influência perene para Pop! Radio (via alguns de seus “discípulos” mais dedicados), mas outras referências podem ser percebidas. “I’ll Be There” torna inevitável o uso do clichê: é daquelas faixas de abertura matadoras, pra prender o ouvinte logo de início. A referência perceptível são os Raspberries e o mesmo vale para a canção seguinte, “You Were Only Using Me”, que mantém o alto nível pop. As excelentes “Living On Lies”, “Out Of Style” e “Because Of You” demonstram que Gary foi um aluno aplicado da escola merseybeat.

“Living For Dreams” e “This Time” mudam a cadência, e a jangly guitar que pontua ambas as canções podem fazer você jurar que Roger McGuinn (Byrds) está presente. O rock clássico americano também é a base pra “Caught”, só que dessa vez a referência mais clara é Tom Petty. “All I Want Is You” irrompe com guitarras envenenadas que remetem ao Cheap Trick. Depois da empolgante “I’d Do It Again”, Gary surpreende e fecha o álbum com a bela balada acústica “’Til The Right One Comes Along”, com um timbre de voz que remotamente lembra Robert Pollard (Guided By Voices) – outro gênio pop.

Na capa de Pop! Radio, há um ancestral rádio Zenith – estaria Gary querendo dizer que seu fabuloso disco só teria espaço nas rádios de antigamente? Ou – pensando positivamente – estaria querendo alertar que há um tipo de som ausente das rádios de hoje, mas que poderia perfeitamente conquistar as pessoas e escalar as paradas de sucesso? Pop! Radio não faz nenhum “resgate” de uma estética antiga, simplesmente porque não há nada a ser resgatado. O pop adquiriu novos formatos, mas o que encontramos em Pop! Radio é absolutamente atemporal – com o mesmo potencial de conquistar hoje os corações das pessoas, tal como certamente aconteceria décadas atrás.

As últimas notícias dão conta de que Gary Ritchie trabalha no sucessor de Pop! Radio, a ser lançado até o fim de 2008. Mais um disco recheado de gemas pop que só tocariam nas rádios de antigamente? Não, certamente um disco para ser tocado em qualquer rádio que queira rechear sua programação com boa música – e pop de primeira.

www.myspace.com/gritchie

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"Heaven Is": ÖYVIND ANDER!

Existem pessoas que ainda acreditam. Na fé, no amor, na alma humana. Na luz, em outras vidas ou num mundo melhor, aqui e agora. E tentam fazer sua parte em mensagens de otimismo e esperança. Por mais que possa parecer utópico, piegas, ingênuo, ao transpor esse clima para a música, algumas delas conseguem aliviar dores, medos e angústias. Te transportam para ambiências de tranqüilidade e beleza, uma viagem por paisagens oníricas. Enfim, uma paz momentânea, mas que quando termina te devolve mais leve à realidade.

E uma dessas pessoas é Öyvind Ander, cantor, compositor e pintor sueco. De Gotemburgo Ander acredita que pode passar boas sensações através de sua música – acompanhado de sua banda o The Time Travellers - via seu segundo disco Heaven Is. E é exatamente isso que consegue. Fã confesso de Beatles, o timbre anasalado de sua voz fica entre Johnny Rivers e James Taylor. E suas letras por um mundo mais espiritual soam românticas, mas, o que seria do mundo sem os sonhadores? E, convenhamos, às vezes belas melodias são tudo o que precisamos.

Por isso, o céu pode ser aqui quando os primeiro acordes de “Born To Be Free” se espalham pelo ambiente. Os violões e pianos flutuam na melodia celestial, criando um clima grandioso na intervenção dos riffs de guitarra. “If You Believe” conquista já na batida e ajuda a te levar cada vez mais para longe. A faixa título tenta te hipnotizar como aquelas canções angelicais da missa de domingo. E consegue. Aqui o caminho já é sem volta - e você reza para que realmente assim seja. Já os sons de violino, adornam a ligeira canção pop, mostrando que Öyvind tem total domínio dos meandros melódicos em “Look At Yourself”.

E assim segue pelas 19 (!) canções de Heaven Is. Alternando momentos de placidez reconfortante (“For Who I Am”, “Dont’Waste Your Time” e “In The Healing Rain” – do filme Slim Susie – e “Go With Love”) com pop songs perfeitas (“We’re On You Way”, “Merciful”, “Earth Changes” e “Heaven Help Us All”). Sonoridades que esteticamente remetem aos sixties, mas, que no quesito bem-estar, são universais e atemporais, porque se instalam igualmente no cérebro e no coração. Que Öyvind Ander continue acreditando. Nós precisamos.

www.oyvindander.com
www.myspace.com/thetimetravellers

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

"The World Famous Hat Trick": VIBEKE!

Quando a estatura do talento e personalidade se equivale à da beleza e coragem, já se tem meio caminho andado para o sucesso. É o caso da norueguesa Vibeke Saugestad, que chega aos seu terceiro álbum com este The World Famous Hat Trick. Depois de dois discos lançados pelas gigantes EMI e Universal na Noruega, Vibeke decidiu encarar a independência confiando no potencial de alcance mundial de seu talento. Jovem e bonita, a artista (que já ganhou o Grammy norueguês com a banda Weld e toca teclado no grupo Yum Yums) mergulha segura no power pop, revelando seu domínio absoluto da composição pop.

A nova musa do power pop encanta com seu rosto angelical tanto quanto assombra na força da sua voz. Canções energéticas e cheias de ganchos melódicos recheiam o álbum. Como a arrebatadora e contundente “He’s Peculiar”, com sua pegada power e melodia adesiva. “Keep On Dreaming” revela que Vibeke de ingênua não tem nada e sabe afiar bem as guitarras e batidas nervosas. Assim como “Close The Door” chega mansa até explodir no refrão clássico. Por todo o álbum a imagem delicada de Vibeke se choca com a potência de suas canções, como na urgente “No I Won’t”.
É possível que bandas como Go Go’s, Blondie ou Runaways sejam influência para Vibeke, mas fica claro o magnetismo do sixtie pop na sonoridade (e estética visual) da norueguesa. Nas contagiantes “Until The Sun Comes Out”, “Meant To Be With You” e “Tonight” aflora a batida sessentista, em canções igualmente adoráveis e potentes.

“Waste Another Day” engana na introdução de balada ao violão, mas Vibeke não é mulher de se esconder atrás de perfumarias sonoras e atocha pressão nas guitarras invocadas. O refrão grandioso de “Stupid” prepara o terreno para a climática a emocional e bonita “All For Now”. Para fechar o disco duas covers inspiradas: “Know You Now”, dos Someloves e “You Don’t Go Away” de Frank Secich e Jimmy Zero dos Dead Boys. Mas Vibeke não precisa do reforço de nenhum marmanjo: ela sabe ser doce como mel e, ao mesmo tempo, mais afiada que uma espada samurai.

www.myspace.com/vibekesaugestadmusic

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

"The Offbeat": THE OFFBEAT!

Quando aos anos sessenta terminaram – e levaram com eles os Beatles – não se podia medir o tamanho do legado remanescente. Sem o distanciamento histórico necessário, ainda não era possível medir a extensão da influência da cultura sixtie nos anos seguintes. Hoje já sabemos a resposta: os ecos do pop sessentista continuam reverberando e contagiando novos artistas e bandas em todo o mundo. E, se a onda de choque conseguiu ir tão longe quanto Japão ou Brasil, imagine a força dela no seu epicentro, a Inglaterra.

É de lá que vem o quarteto The Offbeat e seu disco homônimo de estréia. Da bolacha digital emanam sonoridades originalmente criadas para o vinil, com instrumentos vintage dando o clima de British Invasion. “Lonely Girl” abre o disco com a maciez dos grupos vocais dos 50 início dos 60. “Wasted” é guiada pelo piano e pela presença espiritual de John Lennon na canção. A melodia barroca herdada dos Zombies aparece majestosa em “Keep It Real” e o refrão adesivo vem em “Welcome To My World”.

“First Love” recheada de belas harmonizações vocais e traquejo pop revela o potencial do Offbeat para a canção pop perfeita. Confirmada na beleza melódica de “Chills”, que ultrapassa barreiras temporais e, porque não, poderia conquistar corações mais “moderninhos”. Assim como o todo o álbum debute do Offbeat, aonde as canções não querem revolucionar nada, apenas perpetuar sua função primordial: emocionar.

www.theoffbeat.co.uk


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"Point Of View": CRAIG MARSHALL!

Um dilema deve assombrar a mente de Craig Marshall: até onde valeria a pena tornar-se um artista popular? Até onde valeria deixar a zona de conforto de um músico relativamente desconhecido para viver na constante obrigação de suplantar expectativas? Porque quando você termina de ouvir Point Of View – terceiro álbum do cantor-compositor de Austin, Texas – transfere uma cota quase inconsciente de responsabilidade para Marshall. Uma ‘responsabilidade’ fruto da nossa carência por heróis, por ‘super power popers’ (que finalmente tirem o estilo do gueto). E que ganha vida alimentada pelo carisma do músico na interpretação de sonoridades clássicas, emocionais e, ao mesmo tempo, memoráveis em sua constituição pop.

Mas Marshall está alheio a esses sentimentos particulares, e assim é melhor, para que sua espontaneidade continue fluindo em canções pop perfeitas. Como na faixa de abertura “Difficult”, em sua batida pontuada por pianos Rhodes e melodia campeã. A empolgante “I Know What It’s Like” tem um dos refrões mais adesivos do ano: aciona o repeat do seu cérebro, automaticamente, por horas a fio. A climática “When The Camera’s On You”, traz baixos sinuosos e as espetadas de uma chorosa steel guitar.

Que aparece novamente na bela canção de inspiração “interiorana” “When You Come Back Down”. A ambiência carregada de emotividade e beleza melódica em “Paper Cut” se dissipa na leveza da singela e cativante “Radio Girl”. A densa faixa título, recheada de órgãos, capricha no refrão até chegar o jingle-jangle de “One Face In The Crowd”. Fecha o disco “Small Rewinder”, pronta para qualquer trilha sonora de seriado ou filme de cinema. Onde o protagonista, reflexivo, repassa toda vida na duração de uma breve e eterna canção pop.

www.craigmarshall.com
www.myspace.com/cmarshall

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

"Ground Floor Man": THE MOP TOPS!

Pressa não parece ser uma palavra relevante no vocabulário do quarteto sueco The Mop Tops. Veteranos da cena, lançaram seu primeiro disco em 1995, dez anos após o nascimento do grupo. Treze anos depois, voltam à cena com este Ground Floor Man. Pelo caminho fizeram várias apresentações no IPO e aparecerem em diversas coletâneas mundo afora.
Tomas Nilsson, Jimmy Carlsson, Bengt Nilsson e Leif Johansson preservaram, em tonéis de carvalho, suas referências sessentistas durante esses 23 anos de estrada. Voltam, agora, a exercitar os músculos em guitarras e canções de pegada pop.

E, a desenvoltura intacta, já se confirma cristalina na abertura do rock pop sessentista de batida contagiante “You Crucify Me”. Para encher o centro do salão. Guitarras de timbre brilhantes e órgão pairando em “Info Girl” têm um quê de rock californiano. Já a sonoridade da canção título, passaria por paisagens e climas à la Tom Petty. Mais uma batida empolgante e ingênua, de melodia ganchuda, aparece em “Train To Catch”.

“Cold Rain” é canção guiada por violões intensos e belas harmonias vocais, até as doze cordas e melodias adesivas de “There Will Be A Time”. O rock mais incisivo com metais em “Darling Take Care” antecede “Every Day”, que encerra o disco com sua levada de valsa e melodia de pop perfeito. Ground Floor Man atesta: os Mop Tops continuam em plena forma.

www.moptops.nu
www.myspace.com/themoptops

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

"Take Me To The West Coast": JEFF BRUCKNER!

Quando Jeff Bruckner indica, orgulhosamente, que a gravação deste álbum não foi “prejudicada pelo uso de computadores”, não está passando uma informação técnica. Revela sua convicção no poder orgânico e emocional da canção pop. Take Me To West Coast foi composto na Califórnia e, como um painel solar, absorveu a energia local e a armazenou para no caminho de volta à sua South Jersey.

Impressiona na sonoridade do americano a pegada incisiva das guitarras e a voz extremamente energética, transitando por tons altos sem deixar de privilegiar as melodias pop. O timbre e a gana de Bruckner lembra o saudoso Jim Ellison do Material Issue, nos transmitindo uma dose extra de emoção.

E essa referência acaba sendo sintomática já na faixa de abertura “Chicago” - cidade natal de Ellison e sua banda. Jeff chama com um convidativo ‘C’mon!, C’mon!’, entre guitarras incendiárias e melodias ganchudas. Também aqui fica claro que outro grupo de Chicago fez a cabeça de Bruckner: Cheap Trick. “Not Feelin It” chega com um dos mais empolgantes riffs da temporada e os melhores ‘uh-uh-uhs’, na passagem final do refrão, desde Sparky’s Dream do Teenage Fanclub.

Violões, acordeon, clima interiorano e macio dão o tom em “Point Of View”, até a afiada “Murdering Man” e seu refreão de arena: “no no I’m not a murdering man/oh no I’m not a murdering man/but I killed my chances with you”. “Quarterback Lover” contagia no refrão ritmado pelas palminhas sessentistas e, “I Never”, afia as guitarras com esmero caprichando no refrão pop. A bela “Song To Pay For You” foi feita para alcançar corações em qualquer hit parade do mundo e, porque não, também a balada “Love Me Now” pode chegar lá.

A voluntariosa “Annie Hall” deixa as guitarras soltas e libera as harmonias vocais no chorus. Fecha o disco “Envy Of All Our Friends”, recheada de violões, clima folk e vocais harmônicos.
Em Take Me To The West Coast, Jeff Bruckner mostra que sabe o poder contagiante de suas canções e do carisma inspirador de sua voz. Sabe que o negócio aqui não é técnica, é paixão. Não é a toa que ele sugere no encarte: “Cante comigo. Você tem uma ótima voz”.

www.jeffbruckner.com
www.myspace.com/jeffbruckner