segunda-feira, 30 de abril de 2007

LEAVE - I'd Rather Not Say


Dois anos e meio após o lançamento do debut “Don`t Go”, o quarteto de Chicago trouxe este I'd Rather Not Say, já dono de certa projeção no cenário power pop underground (expressão que por determinada perspectiva pode soar redundante...).

Mike Murphy (voz e guitarra), Jim Latsis (voz e guitarra), Joe Herrman (baixo) e Terry Keating (bateria), são veteranos do circuito de shows em clubs de Chicago, onde começaram em 2001. O Leave tem ainda no currículo apresentações no International Pop Overthrow - como no de Liverpool, este ano - e faixas escaladas para a coletânea do Festival (como a faixa-título que aparece no vol.8).

Faixa aliás que abre o álbum e desde já (ou desde de 2005, quando saiu na coletânea do I.P.O) é hino power pop. Melodia sinuosa, vocais altamente harmônicos, guitarras ganchudas e refrão clássico. “Rent To Own” desacelera mas não alivia na harmonia nem nas melodias colantes. “Sleep All Day” e “Nothing On Me” mantêm a marca das composições de Murphy, caracterizado pela maestria melódica ao tramar as canções, incluídas aí as quase-baladas “Broken Down” e “Go Well”.

“And You`re Done” é cantada por Mike, mas mostra suas diferenças de dinâmica e melodia por ser composição de Latsis. Que se arrisca a colocar a voz insegura no fake-blues “Here`s Looking At You” e na balada melancólica, meio country, meio pop, “Thousand Different Voices”. Latsis deveria passar a bola para Murphy e aprender como se faz, como em “Higher For Now”.


Para ouvir e saber mais:


sexta-feira, 27 de abril de 2007

(POWER) POP MEXICANO - CHETES!


Aqui temos um exemplo prático da linha tênue que separa o power pop do pop rock: o álbum Blanco Fácil do mexicano Chetes.

Qualquer power popper tradicional não hesitaria em apontar o disco como pop rock - foi lançado pela EMI, teve uma faixa nominada ao Grammy Latino, tem clipes concorrendo a prêmios na MTV... além não ter a pegada nervosa de bandas tradicionais do power pop.

Mas e se dissermos que Gerardo Garza - que prefere aparecer com nome de banda - é um compositor de melodias maestras na linha Beatles, E.L.O. e Brian Wilson?

O trabalho do mexicano de Monterrey, ainda, em muito se assemelha ao do argentino Rubin (ex-Grand Prix), na sua aspiração em tecer as finas tramas do pop sessentista.

O melhor é não se pegar na subjetividade dos rótulos e apreciar a facilidade das canções em cativar seus ouvidos.


Para ouvir e saber mais:

ZOMBIES OF THE STRATOSPHERE - The Well-Mannered Look


Imersa nas sonoridades sixties, a dupla nova-iorquina A Zombie e J Zombie, provavelmente prestou homenagem no nome a Zombies e Dukes of Stratosphear (projeto "secreto" e alter-ego do XTC nos anos 80).

E produziu peças sonoras do calibre pop de seus mestres - incluindo-se aqui Byrds e Brian Wilson - como a faixa de abertura "Thrush".

Os zumbis da estratosfera não trazem nada de novo ao mundinho pop em The Well-Mannered Look, mas entregam uma bela coleção de canções aos amantes de bem cuidadas melodias e harmonias.


Para ouvir e saber mais:








quarta-feira, 25 de abril de 2007

CHICAGO ROCK CITY - THE KRINKLES!



Seguindo a tradição do que os puristas consideram o verdadeiro power pop - o dos anos 70 - o Krinkles destila seu som cru e direto sem descuidar das boas melodias. E tende à diversão quando revela sua face glam rock.

Sem preocupação em polir sua sonoridade, a banda de Chicago em 3 The Mordorlorff Collection pode parecer simples e inofensivo como os Beatles da fase yeah, yeah, yeah, e ao mesmo tempo irônico e agressivo como os conterrâneos do Cheap Trick.

Para fãs de The Blondes (não confundir com Blondie).

Ouça aqui:

http://cdbaby.com/allmp3lofi/krinkles.m3u

domingo, 22 de abril de 2007

GÊNIO TRABALHANDO: NOVO DAVID GRAHAME


Depois de anunciar que havia pendurado as guitarras, o gênio americano da canção pop perfeita, volta a surpreender: lança em breve seu novo CD, Welcome To The Dark Ages.

Algumas faixas já estão disponívies no site oficial do artista - www.davidgrahame.com, mas mediante pagamento - 1.99 dolar por faixa.
Grahame se notabilizou por produzir "as músicas que Paul McCartney não fez", juntando uma coleção de pérolas durante sua carreira discográfica.
Segundo o compositor, as novas canções podem decepcionar o beatlemaníacos, já que ele se inspirou em novas influências. Mas avisa que o cerne das suas composições continua sendo a melodia.
"Agora estou pintando com uma diferente paleta de cores".









sexta-feira, 20 de abril de 2007

OCTUBRE - Cuando Todo Parecía Perdido



A indigência musical da indústria pop não é exclusividade de países subdesenvolvidos como o Brasil. Assola o mundo com intensidade mais ou menos cruel, seguindo as particularidades e interesses de cada mercado musical. Mesmo apresentando uma cena mais consistente e tradicional que a brazuca, o mercado espanhol também encurrala o power pop no córner do “alternativo” e deixa pouco espaço comercial para o estilo respirar.

Que o diga o Octubre. Vindos de Murcia, o quarteto espanhol formado por Jose Esteban (voz, guitarras e teclados), Angel (guitarras e teclados), Dele (baixo e voz) e J. Angel (bateria), chega ao segundo disco cheio depois de 11 anos de estrada.
Participaram de alguns festivais importantes, apareceram em programas de rádio e TV e foram premiados na terra natal. Mas continuam ilustres desconhecidos do grande público.
Cuando Todo Parecía Perdido parece traduzir uma ponta de esperança em ainda almejar lugar mais alto no pódio do pop espanhol. Coalhado de hits em potencial, o álbum tem um forte sabor sixtie, adornando a trama de estruturas baseadas no pop contemporâneo.

A faixa de abertura “Como Johnny Guitar” chega com pinta de mega-hit, com melodia leve e fácil, refrão memorável, solinho de guitarra bubblegum. Poderia alcançar o topo de qualquer parada. Assim como “Ludivine”, com seus coros celestiais, sua batida ritmada e um certo clima reflexivo. “Nunca Más” é balada com refrão rocker e belos acordes para justificar a desesperança das palavras. “Todo Es Mentira” é outra pérola pop com jogos de metais que deságua na climática “Díme” e depois no anti-hino ao “figurinha pop antenado e cool”, “Déjame En Paz (O La Insoportable Levedad De Lo Cool). A herança beat fica evidente em “La Vida Es Sueño”, com seu balançante solo de órgão hammond, sua guitarra delgada e faiscante e os coros de “oh, no!”- tudo em menos de dois minutos de urgência juvenil.

Examinando em perspectiva, nada está perdido para o Octubre, basta saber se o seu poderoso arsenal de canções vai ser percebido pela indústria como cifras musicais conversíveis em cifrões ou como apenas bombinhas pop de efeito moral.


Para ouvir e saber mais:




quarta-feira, 18 de abril de 2007

HANDCLAPS AND HARMONIES: Handclaps and Harmonies Presents Handclaps and Harmonies


As palmas mais animadas e harmonias mais intrincadas vêm do Texas. Handclaps and Harmonies Presents Handclaps and Harmonies já desponta como um dos álbuns mais envolventes do ano: melodias ganchudas, harmonias angelicais, vocal gentil e intervenções precisas de metais. Handclaps and Harmonies honram a memória dos Zombies, Beach Boys e Beatles e produzem canções sob a cartilha do bubblegum e sunshine pop para fazer power pop.
Criam sonoridades viciantes daquelas que geram dependência: você quer ouvir de novo, de novo e de novo. Para fãs de Cherry Twister, Second Saturday e Frank Jorge.


Para se viciar:


http://cdbaby.com/allmp3lofi/handclapsharmonies.m3u

THE LOW STARS - Low Stars

Depois de anos à frente do sensacional Gigolo Aunts, Dave Gibbs resolveu deixar a fria Boston pra trás e seguir a brisa dourada que sopra da Califórnia. Reconhecido artesão da canção pop perfeita, Gibbs decidiu prestar seu serviços ao folk pop e americana (pop moderno mesclado ao country tradiconal). Recrutou músicos com bagagem no cenário alternativo e montou o The Low Stars.

No álbum estréia Low Stars, a banda já demonstra mais vocação para as paradas de sucesso que o Gigolo Aunts, mas preserva muito da beleza e soluções e melódicas do grupo bostoniano.
E algumas pérolas pop já podem ser pescadas: "Child", "Why Not Your Baby", "Sometimes It Rains" e "L.A. Forever".

Para ouvir:

http://cdbaby.com/allmp3lofi/lowstars.m3u

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Daft Punk Is Playing At My House


"Tem mais sentido ouvir uma banda que faz um som completamente anos 60, 70 parecer novo, com mais informação musical, do que qualquer nome da música eletrônica de hoje."

Guy-Manuel de Homem-Christo, do Daft Punk

sábado, 14 de abril de 2007

POWER POP RIMA COM HIP-HOP? Jahir & The Experiment


Com pinta de cafetão de filmes da Blaxploitation, Jahir teve uma boa idéia: mesclar as rimas do hip-hop com as melodias do pop linhagem Beatles. Talvez isso já tenha sido feito, talvez o resultado não seja magnífico, mas é no mínimo interessante o tino melódico do sujeito.

E não custa lembrar: na fôrma onde foi forjado o power pop - e nas mesclas evolutivas que sofreu nos últimos 15 anos - adicionou-se influências da Motown e das girl groups dos 50 e 60.
Então, caro power popper, não adianta querer fugir do Jahir, se no seu fluxo sanguínio já corre Jackson 5 e Supremes.

Tire a prova aqui:
http://audio.notlame.com/sounds07/cdjahir101.mp3
http://audio.notlame.com/sounds07/cdjahir104.mp3
http://audio.notlame.com/sounds07/cdjahir102.mp3

sexta-feira, 13 de abril de 2007

THE SQUIRES OF THE SUBTERRAIN - Lemon Malarkey


Quando você ouvir a faixa de abertura “Love Is Like The Sun”, imediatamente vai querer ver as credenciais do Squires Of The Subterrain. Porque não vai acreditar que uma canção de tal magnitude pop e beleza melódica estava soterrada nos porões do underground americano (mas vai perceber que o nome esquisito faz todo sentido).
“Love Is...” e daquelas músicas cuja melodia devem estar vagando em ondas pelo universo desde a criação. O refrão “love, love is like the sun /shines, shines for everyone” cria as melhores e mais profundas sensações de bem-estar.

E você pode procurar: o Squires não tem credenciais. A banda na verdade é projeto-solo lo-fi de Christopher Earl – músico de Rochester, NY – que tem passagens por combos obscuros de diversas vertentes musicais.
Lemon Malarkey é o 4° disco de Earl e viaja por sensações e gêneros musicais com tremenda facilidade. Do já citado clímax da faixa inicial “Love Is...”, o anti-clímax se instala com “Rock Candy”, um roquinho safado e de garagem. Lançando mão de teclados e pianos animadinhos, trombones e efeitos vocais, Christopher revisita peças com clima circense de musicais de cinema na escola de Magical Mystery Tour e Sgt. Pepper's dos Beatles, como em “Just Pretend”, “Annie B.” e “He’s A Good Man”. Em “Looks Like Morning” relembra os melhores momentos melódicos do Electric Light Orchestra.

Orquestrações na escola Brian Wilson e melodias barrocas de linhagem Zombies estão por toda parte. “Danny Die” poderia estar na discografia do coletivo da Elephant 6, com suas guitarras saturadas, bateria tosca, ruídos psicodélicos e melodia bubblegum à la Fountains Of Wayne. “Sitting In The Sun” e “Valdeville Couple” soam vindas direto dos anos 50. Já “Sink, Swim And Drown” parece escapulida dos experimentos de George Harrison, onde mesclava musica pop com indiana.

Lemon Malarkey passeia por décadas sonoras – passa pelo valdeville, psicodelia, sunshine pop, bubblegum, - sem tirar um milímetro o focinho dos subterrâneos para buscar a superfície do mainstream musical.

Para ouvir ou saber mais:

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Se não é, deveria ser: a banda de cabeceira de todo power popper - The Zombies!

THE ZOMBIES

Por Marina Nantes

Se bom pop é uma associação difícil ou até novo verbete para o leitor, então não deve ser acaso você estar hoje nessa coluna.

O Império Britânico atacava. British Invasion como se dizia. Zombies, não só mais um deles certamente. Eu, integrante da nova geração ouso me surpreender com acordes que batem nos ouvidos ainda tão frescos. Olho a capinha e busco pormenores, e logo a miúda me mostra: '1967'.
Odessey & Oracle é (adoravelmente)obrigatório.

Foi em St. Albans - cidadezinha não tão longínqua da capital inglesa - onde tudo começou. Suspiro. Foi lá. Era sixty-two no calendário local e já soavam como profissionais do Top of the Pops. Da formação inicial (Hugh Grundy, PaulAtkinson, Paul Arnold, Rod Argent e Colin Blunstone), substituiu-se o baixista Arnold por Chris White. Este viria a assinar hits memoráveis e injustiçados. Um primeiro álbum repleto de singles ("She's not There", "Leave me Be", "Tell herNo", "She's Coming Home") ocupando posições momentâneas nos top charts - mais americanos que ingleses. Álbum que incluia outras com o mesmo potencial, como a soberba "Is This the Dream", só para mencionar uma. E Spencer Leigh, da BBC Radio, promoveu "Tell her No" como a canção mais negativa da história do pop. O motivo? Simplesmente porque repetia a palavra "no" mais de 70 vezes em dois minutos apenas!

Assim como seus contemporâneos Beatles, os Zombies também tiveram suas garotas, jurando amor eterno enquanto se esgoelavam pelo fascínio de ver o aceno distante de um dos garotos. Também! Argent, com maestria, tinha seus acessos de loucura rítmica em seu teclado orgásmico em solos que convencionalmente seriam de guitarras. Zombies experimentava uma pitada do bom e velho R n' B, mesclando o bom e saudável rock com os vocais ternos ora elétricos de Blunstone. Foi essa magia que envolveria o próximo álbum, Odessey & Oracle.

Esse foi gravado nos grandiosos estúdios Abbey Road (sim, logo após aquele OUTRO disco...). Porém, antes mesmo de serem completadas as mixagens do segundo disco a banda já havia anunciado seu fim.

Um ano depois, um certo DJ americano, entorpecido pelas vibrações e perplexo pela versatilidade de "Time of the Season", tocou-a insistentemente em sua rádio até começar a receber pedidos de telefone implorando por mais transmissões da faixa. Isso desencadeou uma reação inesperada na América, assim como por parte da gravadora dos Zombies, a CBS: "Time of the Season" foi uma espécie de glorificação póstuma, na medida em que atingiu o mais alto topo das paradas.

O fato dos Zombies terem recusado se reunirem novamente foi uma prova de fidelidade aos seus valores musicais. No entanto, esse acontecimento despertou idéias mirabolantes em uma empresa americana: começaram a promover shows com falsos Zombies, que raramente sabiam mais do que 3 hits dos originais. A reivindicação de muitos diante de tal farsa até pela não semelhança física (!)dos integrantes com os verdadeiros encurralou os promoters. E a resposta foi a de que Colin Blunstone teria morrido em um acidente e seu último desejo foi que continuassem a tocar! Uma picaretagem desmascarada mais tarde.

Odessey & Oracle se revela como uma grande ostra que esconde precioso conteúdo: nele, reluz a magnificência de recursos líricos até então não explorados. E em muitas canções se ouve arranjos em tons menores, feito raro na década de 60 para uma banda essencialmente radio pop.

"Care of cell 44" (ou "Prison Song"), cuidadosamente moldada, assim como a maioria, harmoniza estruturas delicadas. A forma como Blunstone se expressava e canalizava sua emotividade revelava a verdadeira essência da música: alma. Umamor esperançoso ("Maybe after he's gone / She'll come back / Love me again"); inocente ("The warmth of your love's / Like the warmth of the sun"); observador e suave ("A sweet confusion filled my mind / until I woke up only findingeverything was just a dream").

Era essa ousadia, sempre tão presente e depuradaem hinos quase angelicais - "Brief Candles" ou na favorita de Blunstone, "A Rose for Emily" que faz de Odessey & Oracle produto de uma genialidade autêntica, embrião do power pop vindouro.

Os liner notes do disco lamentam que justamente pela pronúncia de seu nome, os Zombies ocupam a última entrada do Guiness Book de Hit Singles Britânicos. Em termos de qualidade, deveriam ser um dos primeiros.

sábado, 7 de abril de 2007

Parceria Power Pop Station/Senhor F Virtual: Split-singles virtuais




Fruto da parceria Power Pop Station/Senhor F Virtual, os split-singles virtuais do projeto Sem Fronteiras, reúnem sempre um banda brasileira e uma espanhola - simulando o antigo e saudoso formato discográfico.

No disquinho virtual cada grupo comparece com duas músicas, que podem ser pinçadas de seu último trabalho ou serem inéditas ou raridades.

O elo que une os conjuntos passa pela sonoridade do pop de guitarras, power pop, sixties e afins.

A primeira edição contou com o quarteto de Múrcia, Octubre, e com os recifences da Volver. - http://www.senhorf.com.br/agencia/main-senhorf-virtual.jsp?codSessao=38

O próximo lançamento trará os madrilenhos do The Winnerys e os sergipanos do Snooze.

As faixas estarão disponíveis em mp3 na página www.senhorf.com.br, dentro de Senhor F Virtual, com direito a capa e label para serem baixados e impressos.


quinta-feira, 5 de abril de 2007

IN MEMORIAN


O novo formato do Power Pop Station é dedicado à memória e obra de Darren "Wiz" Brown, ex-vocalista e guitarrista do Mega City Four.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Entrevista Exclusiva - Jason MacIsaac do Heavy Blinkers: "Se tivéssemos nascido no Brasil seríamos um pouco mais psicodélicos e um pouco menos dóceis"




THE HEAVY BLINKERS - THE NIGHT AND I ARE STILL SO YOUNG
Por Marina Nantes

A cidade fria, o asfalto cinza e assimétrico, a fumaça dos carros. Mas a canção dizia "filtered light from morning sky..." e tudo isso desapareceria por 3minutos. Uma sensação inigualável. Então me dei conta que mesmo nos momentos emque não encontrasse nada belo por perto poderia olhar para o alto, apertar o play e mergulhar num céu quase azul. "The Night and I...", disco lançado no ano passado, emana toda essa certeza e energia do grupo canadense. Se vocês não existissem Blinkers, hoje eu estaria perdida. Porque "Silver Crown" e o eco daquele refrão envolvente parecem tocar minha alma como uma oração. E como sou uma discípula devota: "Try tell that to my baby", "Mother Dear" entre outrastambém são louvadas.

Sintonize-se com mais esse apaixonante disco, que se tocasse na rádio, ouçodizer que a raça humana nem precisaria de religião. Sem tristezas, teríamos no que acreditar, afinal esse sunshine pop é uma viagem para a terra prometida. Com um bilhete só de ida, claro.

A Entrevista

Orchestral sunshine pop brotando nas terras de Halifax, Nova Scotia. Uma sintaxe inspiradora como "Filtered light from morning sky / Lift your head and open wide/ Your eyes renewed". The Heavy Blinkers resgata a puerilidade e filosofia de outrora em mais um disco essencial. Da cosmo visão de uma ouvinte surgiu o desejo de conversar com Jason MacIsaac.

E como era de se esperar, Jason, vocalista e guitarrista no quinteto canadense atendeu nosso pedido e fala sobre o novo álbum e trajetória dos Blinkers.

1. Power Pop Station: Toda vez que ouço The Heavy Blinkers eu confirmo aquela atmosfera mágica e nostálgica e ao mesmo tempo profundamente reveladora de novos sentidos para amúsica atual. Enfim, como tudo isso começou?

Jason MacIsaac: Na década de 90 fazia parte de um quarteto parecido com Pixies. Estava morando em Toronto e me lembro conversar com minha irmã a respeito de querer formar uma banda com vocal feminino e talvez com cordas e theremin. Estava cansado de distorções e guitarras. Foi quando me mudei para Halifax e montei o projeto TheHeavy Blinkers. Comecei a gravar sozinho. O engenheiro de som era Andrew Watt. Ele adorou a música e começou a se envolver, saindo daquele cenário estritamente profissional. Simultaneamente, Andrew estava gravando uma banda power-pop cujo baterista era o Greg Fry. Chamei também um velho amigo para tocar baixo em algumas canções, Trevor Forbes, e pedi para Ruth Minnikin cantar em algumasfaixas. Quando tive que tocar ao vivo, recrutei os artistas mencionados e estivemos juntos desde então. Em 2004, chamamos David Christensen que já compunha para os Blinkers para ser um integrante definitivo, e assim chegamos ao sexteto que vocês conhecem hoje.

2. PPS: Fale a respeito da produção e gravação do quarto álbum, "The Night and I arestill so Young". O resultado foi um tanto impressionante e arrisco dizer que provavelmente mais maduro do que os discos anteriores. Existe tal sentimento de realização com esse trabalho, uma espécie de marco na carreira dos Blinkers?

J. M.: THE NIGHT AND I... foi gravado num celeiro no interior. Em uma área rodeada de pássaros, ovelhas e gatos e onde o estúdio foi convertido num barco-casa. Ter a natureza tão perto foi uma inspiração constante e isso se traduz no conteúdo da produção. Também acredito que seja o melhor álbum até agora. No entanto, o novo trabalho, entitulado HEALTH (a ser lançado na primavera desse ano) é de longe nosso melhor disco. Será um disco duplo exibindo um toque Sondre Lerche, TheHigh Llamas e muitos outros.

3. PPS: Aquela idéia para o video clipe de "Try Telling That to My Baby" foi sua? Em que doces e guloseimas animados dublam a já açucarada canção?! (Para os internautas, o vídeo pode ser encontrado no You Tube.)

J.M.: Infelizmente, a idéia não foi minha, foi de uma produtora de vídeo chamadaFluorescent Hill. Recentemente, fizeram um vídeo para o Badly Drawn Boy e nós entramos em contato com eles. Eu particularmente não gosto dessa associação com dias ensolarados, ou doces ou o que seja, um pouco como Monkees trabalhando uma 'imagem fabricada'. Mas de qualquer forma, o vídeo ficou incrivelmente divertidoe um clipe adorável de psicodelia. Pode algo ser adorável e psicodélico ao mesmotempo?

4. PPS: Sem dúvida que a voz doce de Ruth Minnikin exala um baroque-folk ingenuamenteidealístico sobre as composições do Heavy Blinkers encorpando o tom esperançoso e apaixonante. Como vocês se conheceram?

J.M.: Você é uma boa observadora! Ruth é uma cantora folk com três álbuns independentes lançados. Gosto de contraste realístico de sua voz com os arranjos orquestrais que produzimos. Parece Nico fazendo These Days de Jackson Browne. Sempre fui fã de Ruth Minnikin, então pedi para ela cantar no Blinkers e o resultado foi mágico.

5. PPS: De que forma artistas como Brian Wilson, Phil Spector e Burt Bacharach moldaram seu estilo de compor e tocar?

J.M: Certamente, você mencionou a tríade sagrada da música pop. A música de BrianWilson me ensinou sobre saturação e vozes e coros não convencionais. Acho que Kiss me Baby é a perfeição musical. Phil Spector me lembra da importância da interação ao vivo entre as pessoas. Na era em que escutamos faixas a um clique do mouse ou produzimos discos no ProTools, é bem fácil se esquecer do valor da energia de um grupo em cima do palco. Agora, Burt Bacharach, ele é simplesmente o melhor, não é? Suas composições são exercícios de teorias, mas soam orgânicas e fluem de uma maneira leve. Não são tão carregadas de emoção quanto as de BrianWilson, mas são sofisticadas ao gosto de Gerswhin ou Kurt Veil.

6. PPS: Quão profundas são as canções? Em outras palavras, talvez o conceito de "arte pela arte" prevaleça, ou elas realmente tentam comunicar algumas buscas espirituais, dinamizando a experiência sonora?

J.M: Apenas tento chegar ao nível máximo de poesia sem perder a emoção. Mesmo que eu não conte estórias lineares sobre amor e felicidade, tento incorporar elementos de tais experiências na minha escrita. Mas às vezes, simplesmente é pra ser"baby baby, I miss you dooby dooby dooo". Se as letras da Motown tivessem sido mais esotéricas, elas provavelmente não seriam tão adoradas como são hoje.

7. PPS: Vocês pensam em conhecer terras mais quentes e tropicais como o Brasil? Pois saibam que vocês têm fãs desejosos de alguns shows... Se vocês tivessem nascido por aqui, Jason, como imagina ser o som dos Heavy Blinkers versão tupiniquim?

J.M.: Adoraria ir ao Brasil, uma vez quase fomos mas não deu certo. Busco grande inspiração em Tom Jobim e Tropicália e seria um sonho tocar por aí. Se os Heavy Blinkers tivessem começado no Brasil, seríamos praticamente os mesmos, mas numa dieta rica em Mutantes, provavelmente um pouco mais psicodélicos, um pouco menos dóceis, talvez no próximo álbum.

8. PPS: Uma canção dos anos 60 ou 70 que continua fresca e relevante.

J.M.: THE LOOK OF LOVE do Burt Bacharach cantada por Dusty Springfield. Tem todos os elementos para procurar em uma boa canção pop e nessa era de artistas pseudo-jazz, é bom lembrar como um dia tudo isso foi.

9. PPS: Uma canção que mudou seu olhar sobre o mundo.

J.M.: Difícil responder essa. Me lembro da primeira vez que ouvi "I guess I just wasn't made for these times" dos Beach Boys ou "the river" do Bruce Springsteen,"Natasha" do Rufus Wainwright. Momentos em que congelei diante do poder da arte.

10. PPS: Um álbum injustiçado dos anos 60 ou 70 que simplesmente adora.

J.M.: Existem centenas de discos... Marlena Shaw-the spice of life, From Elvis in Memphis, The Tokens-intercourse, Madeline bell-bells a poppin', The Everly Brothers-roots, Skip Spence-Oar, Gal Costa-Gal Costa, The Monkees-instantreplay, Françoise Hardy-la question, Mike Nesmith and the First nationalband-magnetic south, Van Dyke Parks-discover america, The Beach Boys-Holland, Fleetwood Mac-Tusk...

11. PPS: Um álbum que poderia muito bem ser a trilha sonora da sua vida.

J.M.: Joanna Newsom-YS. Me inspira a escrever e sempre encontro algo novo nele.

12. PPS: Um filme para o qual os Heavy Blinkers poderiam ter feito a trilha sonora.

Teria adorado fazer a trilha para Eyes without a Face/Les Yeux Sans Visage de Georges Franju. Adoraria que os Blinkers fizessem a trilha de um filme de terror algum dia, e esse é um filme bem assustador, mas tem o lirismo e romantismo de um filme francês.


Conheça mais:









(R)Evolução Internética - 1ª Postagem

Há cerca de sete anos resolvi compartilhar minhas idéias e paixão pela música pop alternativa (ou rock, ou punk, ou sixties, ou tudo junto agora) num jornalzinho impresso - ou tecnicamente falando, fanzine.

Chamava-se Indierect e, se não me engano, viveu umas três edições. A criação do impresso mais ou menos coincidiu com a minha descoberta do power pop - que eu gostava e ouvia muitos anos antes só não sabia que se chamava assim - tanto que acabei fazendo uma edição "Especial Power Pop". Fernando Rosa, o Senhor F, que já nasceu de bigode, me disse: "porque não fazes um site de power pop?".

Daí nasceu o primeiro site de power pop do Brasil, o Power Pop Station. Como nos tempos internéticos o que surgiu hoje já caducou amanhã, depois de seis edições resolvi transformar a página em blog. Ninguém tem mais tempo para ficar lendo páginas e páginas de informação. Nem eu tempo para fazê-las.

Mas a decisão só veio depois de uma tragédia digital: depois de aprontar todo o material para a edição n° sete do site, perdi tudo na confusão PC-disquete-disquete-PC. Não era pouca coisa. Então, em vez de ter um colapso nervoso, decidi evoluir e transformar o Power Pop Station em blog - cujas primeiras palavras são essas que você lê agora.

Para inaugurar o novo meio, vai aqui uma entrevista exclusiva com o líder dos canadenses The Heavy Blinkers, Jason MacIsaac, feita e traduzida pela amiga Marina Nantes.