quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Power Pop: The Early Years - BLUE ASH! (Parte 1)

Por Daniel Arêas

Antes de ser redescoberta nos anos 2000 e ser reconhecida como uma das mais importantes da história do power pop, a banda americana Blue Ash passou por aquela típica sequência de infortúnios que alteram o destino de uma banda, que não poderia ser outro que não o sucesso comercial.

O Blue Ash foi formado em 1969 na cidade de Youngstown, Ohio, por Frank Secich (baixo, vocais), Jim Kendzor (lead vocals, guitarra), Bill Yendrek (guitarra) e David Evans (bateria). Um ano depois, Yendrek deu lugar a Bill Bartolin. Como acontece com toda grande banda de rock, moldaram seu som e sua personalidade no palco. Entre 1969 e 1972 fizeram incontáveis shows em estados como Pennsylvania, Nova York, Ohio e West Virginia, enquanto a dupla Secich e Bartolin compunha canções em quantidades industriais. Essas canções viriam a se tornar demos e enviadas para as gravadoras. E não há como negar que, para conseguir gravar seu primeiro disco, a banda foi um pouco bafejada pela sorte.

Paul Nelson, executivo da Mercury Records e que havia acabado de contratar os New York Dolls, conversava com um homem da cidade de Warren, Ohio, que estava lhe mostrando a demo tape de sua banda. Ao olhar para uma pilha de demos que estava sobre a mesa de Nelson, o homem reparou em uma em especial: a do Blue Ash. Ao ouvir que se tratava de uma grande banda, Nelson pôs para tocar a demo e percebeu imediatamente o potencial que havia ali. Assim, no fim de 1972 o Blue Ash assinou contrato com a Mercury e em maio de 1973 era lançado seu álbum de estréia, No More No Less.

No More No Less é um título mais que apropriado para o disco: não era mesmo preciso mais do que já há ali. Ou melhor, talvez nem fosse possível obter mais...se existe algum ponto ideal a meio caminho entre o melodismo e as elaboradas harmonias dos Beatles e a fúria rocker do The Who, o Blue Ash parece tê-lo encontrado – e explorou-o até as últimas conseqüências. Em canções como “Abracadabra (Have You Seen Her)”, “Plain To See”, “Here We Go Again”, “Wasting My Time” e outras, os ganchos são ultra-melódicos, mas vêm ancorados em guitarras incandescentes e performances altamente energéticas. O arsenal de No More No Less ainda contém uma nostálgica canção que revela a influência dos Byrds (“I Remember A Time”), duas ótimas baladas (“Just Another Game” e “What Can I Do For You”) e a cover de uma canção dos Beatles mais feroz de que se tem notícia (“Anytime At All”). Resumindo: um clássico instantâneo.

Se os fatos sempre seguissem um curso natural e lógico, No More No Less teria catapultado o Blue Ash para o sucesso. Mas mesmo com a ótima recepção da crítica não foi isso que aconteceu. Na verdade, nem mesmo a tiragem de 20.000 cópias chegou a ser esgotada, mas isso aconteceu pela ausência de divulgação e distribuição adequadas por parte da Mercury Records. Naquele momento a concorrência era ingrata para o Blue Ash dentro da gravadora: artistas como Rod Stewart e New York Dolls estavam lançando novos álbuns e os recursos de divulgação e distribuição disponíveis foram canalizados para eles.

A banda seguiu fazendo turnês (abrindo para artistas como Bob Seger, Aerosmith, Ted Nugent e Raspberries) e se preparava pra entrar em estúdio para gravar seu segundo disco, mas as baixas vendagens de No More No Less fizeram com que a Mercury Records decidisse por liberá-la de seu contrato, em maio de 1974. Pouco depois, David Evans deixava a banda. Era o primeiro revés na carreira do Blue Ash. E não seria o último.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

IPO VOLUME THIRTEEN!

A despeito da má reputação milenar e de ser rebaixado ao nível supersticioso de gato preto, mandinga e saravá três vezes, o número treze sempre trouxe bons fluídos para os power poppers. Treze é o nome de uma canção clássica dos nossos ídolos do Big Star. Treze é o nome de um álbum memorável dos nossos heróis do Teenage Fanclub. E agora treze é o número do novo volume da coletânea tripla do International Pop Overthrow.

Sorte nossa a compilação ter chegado forte, saudável e relevante ao décimo terceiro volume e, conseqüentemente, estar completando os treze anos de vida. Graças ao imenso trabalho do incansável e obstinado David Bash. Mesmo porque não se trata só de lançar uma coletânea dessa envergadura todo ano; trata-se de manter ativo um festival itinerante que percorre cada vez mais cidades nos Estados Unidos (e algumas fora, como Canadá e Inglaterra), e que é, na verdade, de onde deriva esta compilação.

E este volume treze faz as referências e reverências explícitas na arte de capa e contracapa: uma simula a arte do álbum #1 Record (onde está a faixa “Thirteen”) do Big Star e outra a arte de Thirteen, disco do Teenage Fanclub. Bons augúrios, então...
Com 66 faixas de 66 bandas vindas de oito países diferentes, o IPO Vol. Thirteen mantém a tradição de traçar o que de novo vem acontecendo no mundo – seja entre novas bandas ou grupos veteranos - do power pop, pop alternativo e afins.

Os noruegueses do The Royalties abrem o CD1 com a grudenta e radiofônica “Bring It On”, enquanto Seth Swirsky apresenta sua reflexiva e viajante - à La Brian Wilson - “She’s Doing Fine”, faixa pinçada do magistral álbum de 2010 Watercolor Day. Pianos pontuando, melodia memorável, refrão auto-adesivo e o indefectível inglês nipônico emolduram uma das melhores canções da coletânea: “Rain Parade” dos japoneses do The Mayflowers. Chis Richards & The Subtractions contribui com a poderosa e gentil, em doses iguais, “I, Miss July”, tirada do seu último disco “Sad Songs Of The Summer” e Stephen Lawrenson apresenta a adorável e inédita “Thank You”. As meninas californianas do Nushu mostram sua influência sessentista temperada com distorção contemporânea em “Leave Me Behind”, música de seu álbum de 2010 Hula.

Já no CD 2, e honrando a tradição pop da Austrália, vem os Stanleys, com a incrivelmente contagiante “What Are We Gonna Do?”. De Nova Iorque Ed Hale chega com a belíssima acústica “It Feels Too Good” e de Los Angeles Rob Bonfiglio traz a luminosa, de pegada soul e alma pop, “How To Mend a Heart”. Os suecos do Popgun armam a festa com “All Messed Up” e o veterano Jeremy reafirma sua capacidade de escrever canções pop em “Save Me From Myself”. A surf music sessentista vem representada pela canadense Laurie Biagini com “Not The Only Pretty Fish In His Sea”. O Tiny Volcano capricha nas harmonias vocais e melodias macias, no pop orquestral “Emily”. O Golden Bloom (na verdade o multi-homem Shawn Fogel) contagia com seu pop perfeito em “If You Believe”, abrindo o caminho para o pop clássico dominar as ações em “Heartaches Of Love” da Starfire Band. E Buddy Love aperta os botões certos para conquistar através da beleza emocional de seu novo single “Crying Town”.

O britânico Aaron Hemmington e seu Sunchymes estão no disco 3, onde destilam sua doçura sessentista de sotaque Pet Sounds com “Free Rider”. Os artífices texanos do power pop de Austin Blue Cartoon reaparecem com a bela e adesiva “If I Could Do It All Over Again” e os canadenses do The King oferecem sua delicada jóia pop “When Dreams Come True”. O Plastic Soul comparece com “Champion Tragic Boy” e seu refrão cheio de belos acordes. Os galeses do The Afternoons emocionam com a terna “I Want It Anyway”, enquanto Blake Jones & The Trike Shop diverte com “Forestiere Gardens” e seu clima de série de TV/cartoon network – que acaba combinando com a faixa seguinte “Peter Parker”, do The Whethermen.
Depois de mais uma overdose de pop com maiúsculas, só nos resta contar os dias para o IPO Volume 14... e a certeza de que sim, o treze pode ser nosso número da sorte.

http://www.internationalpopoverthrow.com/
 
http://www.notlame.com/NLIPO13.html

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

"Wasted Sun": ANY VERSION OF ME!

Por Daniel Arêas

A linda capa de Wasted Sun, o novo disco do Any Version of Me, mostra a silhueta de uma pessoa, em frente à imensidão do mar, durante um pôr (ou nascer) do sol. A imagem inspiradora diz mais sobre o disco do que palavras. Wasted Sun reúne doze canções que transmitem sensações similares às que a foto da capa sugere: paz, tranqüilidade, aconchego, conforto.

O francês de Paris Guillaume (o homem por trás do Any Version of Me) já havia demonstrado em seus álbuns anteriores – principalmente no magnífico Backward Forever, de 2008 – que traz entranhado em suas veias o pop clássico sessentista. Ouvir seus discos traz uma agradável sensação de familiaridade, não apenas pela atemporalidade dos sons da época que os inspira, mas também pela certeza de que encontraremos melodias apaixonantes à primeira audição. A sensação de que estamos ouvindo discos saídos diretamente dos anos 60 é ainda mais acentuada pelo uso, por parte de Guillaume, de equipamentos vintage em seus trabalhos.

A idéia inicial era a de que Wasted Sun fosse um álbum psicodélico, no qual as canções fossem interligadas por passagens instrumentais, mas essa versão acabou sendo descartada. As composições não datam do mesmo período: das doze canções, duas foram escritas em 2002; três, em 2007 (para um álbum que se chamaria Summer After All, projeto que foi abortado); todas as restantes foram compostas em 2009. Mas isso de forma alguma afetou a coesão do álbum, que soa homogêneo.

Em relação a Backward Forever e Home Alone (2009), as canções de Wasted Sun parecem mostrar que, desta vez, o eixo musical inspirador de Guillaume deslocou-se ligeiramente da Inglaterra em direção aos Estados Unidos (mais exatamente, a Califórnia). A vocação para o pop clássico permanece intacta: ele continua compondo segundo os preceitos sagrados de vários de nossos heróis eternos (Beatles, Zombies, Beach Boys, Brian Wilson, Paul McCartney). Mas em Wasted Sun ele adiciona às canções arranjos mais elaborados, timbres mais suaves, elegantes. O resultado disso tudo é, possivelmente, seu melhor trabalho até aqui.

Há, na maior parte do disco, uma atmosfera que remete ao clássico Pet Sounds. Claro, o pop britânico da segunda metade dos anos 60 ainda exerce forte influência sobre as composições de Guillaume: a faixa de abertura “Monday” e as belas “Don’t Try Too Hard” e “Down To The Sea” são mostras disso. Mas lado a lado com estas há o adorável sunshine pop de “Normal Life” e “Early One Morning”. Nessa mesma linha segue a inebriante faixa-título, com seus leves tons psicodélicos e densas harmonias.

Com seus pouco mais de sete minutos de duração, “With the Moon” é um dos destaques do disco. Magnificamente construída e executada, consiste em uma colagem de fragmentos de canções, abrangendo estilos tão diversos como o folk, o sunshine pop e o psicodélico. A dreamy “Love” é conduzida por um órgão sutil e esparsos acordes de guitarra, e embelezada por deslumbrantes harmonias vocais; poderia ser o equivalente musical a uma caminhada pela orla, num morno fim de tarde de verão. Fecha o disco a linda “This Is Where I Wanna Live”, com seu arranjo de cordas (originadas de um Mellotron) e guitarras invertidas, evocativas da fase psicodélica dos Fab Four.

Ao fim do disco, fica evidente: é o ouvinte (nós), aquela pessoa na capa, em frente ao mar. Há mesmo momentos em que tudo de que precisamos é algo assim: observar o sol surgir (ou desaparecer) por detrás do mar, e nos isolarmos de todo o resto. Ou, alternativamente, ouvirmos canções que despertem sensações equivalentes, ternas e reconfortantes. O local e o momento ideais fica a nosso cargo escolher; as canções encontramos aqui, do princípio ao fim de Wasted Sun.

http://www.anyversionofme.com/
www.myspace.com/anyversionofme

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Da Série Clássicos: "Blue Pop" - ADAM DANIEL!

Por Daniel Arêas

O amor e seus meandros é um tema recorrente no power pop. Não apenas em seus aspectos lúdicos, mas também no seu lado melancólico, amargo – idealmente, abordado com genuína emoção. E claro: ancorado em canções pop, as mais perfeitas quanto possível, a eterna busca inerente ao power pop. Atingido o ápice nesses dois quesitos (ou chegado bem perto disso), o que temos são aquelas obras que definitivamente marcam quem as ouve, que realmente fazem a diferença. É o caso do 8º. disco da Série Clássicos do Power Pop Station: Blue Pop, do cantor/compositor/músico/produtor americano Adam Daniel.

O envolvimento do americano de Santa Monica (Califórnia) Adam Daniel com a música começou bem cedo: aos seis anos de idade aprendeu a tocar piano, aos nove já se aventurava na guitarra. Exposto a doses maciças de pop clássico durante sua infância, através de seu pai (músico) e seu irmão mais velho, Adam se graduou na UCLA (University of California, Los Angeles) em 1995 e começou a gravar demos, que eventualmente lhe renderiam um contrato com a APG Records.

Na verdade Adam exerce várias atividades e sua biografia é um pouco mais extensa do que o espaço permite (quem quiser saber mais, ver comentários). Por ora, falemos de Blue Pop, seu álbum de estréia, lançado em 1999 e para o qual ele compôs todas as músicas, criou os arranjos, tocou praticamente todos os instrumentos (à exceção da bateria) e co-produziu. Já no seu primeiro disco, Adam alcançou um resultado que a grande maioria dos compositores leva a vida toda perseguindo – e não atinge.

Blue Pop é sobre os relacionamentos amorosos e seus vários aspectos. Em algumas músicas, Adam os celebra; em outras, ele os vê pela perspectiva da pessoa rejeitada; em outras, é ele quem dá o adeus. Para narrar essas histórias de amor e desamor (que, ele afirma, em sua maioria realmente aconteceram com ele) Adam se alterna com incrível facilidade entre o mais puro guitar pop e momentos mais introspectivos, quietos. Musicalmente, comparações podem ser feitas com alguns de seus contemporâneos da década de 90 (Michael Penn, Posies fase Dear 23, Elliott Smith, Fountains of Wayne, Steve Ward), mas seu diferencial é a comovente sinceridade e a emoção que ele imprime a essas treze simplesmente soberbas canções.

Se alguém um dia pedir para que você explique o que é um gancho musical, mostre a ele (a) “Breaking Up”, a sensacional faixa que abre Blue Pop. Um inacreditavelmente grudento riff de teclado prende o ouvinte instantaneamente à canção, cuja letra chega a ser cruel em suas palavras de despedida (I’ve got a lot of clothes that you’re never going to see me in/I’ll write a lot of songs that you’ll never get to hear me sing/and I told a couple lies and you’re never going to know which one). Em seguida, o balanço beatle de “Battle Song” parece celebrar a vida a dois (Hold me babydoll/And I held her/Say you’ll be my valentine/And I brought her hearts/And be my soldier boy/And I sent myself to war). Pausa nas guitarras para a suave “Lovebug”, na qual a bela voz de Adam é acompanhada por teclados, delicadas harmonias vocais e uma discreta pedal esteel guitar.

Vem a alegria rocker de “Her Shake” e tudo parece estar bem (She makes good sense/She says “Say what you want to say/Do what you want to do/Go where you wanna go, just take me there”). Em seguida (e em contraste), uma daquelas faixas às quais é virtualmente impossível se ficar alheio: em contraposição à ironia de “Breaking Up”, em “Why I Can’t Be Beside You” Adam anuncia o fim em tom solene, quase épico, iniciando apenas com voz e violão e encerrando com teclados e camadas de guitarras. É mesmo difícil apontar os grandes momentos de Blue Pop (porque só há grandes momentos), mas não os mais emocionantes – e este é um deles.

A contagiante batida de “Guess I Got A Girl” nos remete ao pop clássico sessentista e é acompanhada por uma cativantemente quase ingênua letra, de tão feliz (I guess I got a girl/And she likes to call me “boy” and I want/To be with her forever/She’s like a pill and I need to have it every day). Mas a proposta de Adam é contrapor o ganho e a perda, a alegria e a dor. Em “You Wrecked Me” – outro momento de arrepiar – apenas um violão acompanha sua voz quase sussurrante, enquanto ele discorre sobre a perda da pessoa amada. Aqui ele prova ser um compositor do mesmo calibre de gênios como Elliott Smith e Chris Bell. E por fim, a calma “Say Goodbye” fecha Blue Pop, no mesmo clima bittersweet que permeia o disco inteiro.

Qualquer lista com os melhores álbuns de guitar pop dos anos 90 que se pretenda séria precisa incluir Blue Pop. Seu título pode sugerir que trata-se de um disco essencialmente triste, mas não é o caso. Adam Daniel toca sim, em certos pontos difíceis dos romances, mas usa a linguagem do pop para fazê-lo. Blue Pop tem grande potencial para nos comover – possivelmente até arrancar algumas lágrimas – mas o que temos quando terminamos de ouvi-lo é uma enorme sensação de prazer e bem-estar. Ele nos deixa com um sorriso no rosto. E prontos, claro, para novas audições.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Power Pop - The Early Years: ARTFUL DODGER! (Parte 2)

Por Daniel Arêas
 
Honor Among Thieves (1976), o segundo disco do Artful Dodger, igualmente como seu predecessor (lançado no ano anterior) recebeu muitos elogios da crítica, e hoje provoca a mesma perplexidade: por que, afinal de contas, não estourou? As possíveis razões – levantadas pelos próprios membros da banda, em retrospectiva – vão desde a troca do produtor (embora Jack Douglas – produtor do primeiro álbum - curiosamente tivesse recebido os créditos, quem realmente produziu Honor Among Thieves foi Eddie Leonetti) até equivocadas decisões na condução da carreira da banda (como embarcar em uma turnê com o Kiss, tocando em grandes arenas, ao invés de ganhar experiência tocando em locais menores).

Um fato que não suscitava dúvidas, porém, é o de que Honor Among Thieves expandia todos os conceitos que o disco de estréia trazia, e efetivamente o superava. Das power ballads “Scream” e “Dandelion” (esta composta e cantada por Gary Cox) até canções que beiravam o hard rock como a faixa-título, “Keep Me Happy” e “Hey Boys”, passando por uma incendiária cover de “Keep A-Knockin’”, Honor Among Thieves era o retrato de uma banda em plena evolução de sua proposta musical.

Evolução esta que seria bruscamente interrompida no disco seguinte. Àquela altura a banda fazia desgastantes turnês, sem a contrapartida do sucesso comercial (embora tivesse alcançado uma pequena audiência, basicamente concentrada em Cleveland). A prolífica parceria entre Paliselli e Herrewig parecia pouco inspirada naquele momento e várias canções que Cox escreveu - sem a intenção de incluí-las no repertório do Artful Dodger – foram aproveitadas.

Além disso, a CBS começou a privilegiar as canções de Cox (inclusive encorajando-o a tentar uma carreira solo, sem o conhecimento dos demais membros), piorando ainda mais o clima dentro da banda. O resultado disso tudo – Babes on Broadway, lançado em 1977 – não chegava a ser ruim, mas não havia nele nem sombra da força e coesão dos dois discos anteriores. Poderia mesmo ter sido o fim (melancólico) da trajetória do Artful Dodger, que se viu sem gravadora, sem empresários para cuidar de sua carreira e sem Gary Cox, que decidiu deixar a banda.

Mas esse não era o fim da história. Depois de um hiato de três anos, o Artful Dodger se reagrupou para uma última tentativa, com o pianista/guitarrista Peter Bonta ocupando o posto deixado por Cox. Assinaram com a Ariola Records para em 1980 lançarem o disco de suas vidas. Do princípio ao fim, Rave On leva a um nível muito próximo da perfeição a fórmula da banda: ganchudas, irresistíveis canções pop, tocadas com o máximo de garra e intensidade. Mais do que um disco, soa como uma afirmação da convicção que a banda tinha de si própria e do som que fazia. Se os dois primeiros discos eram excelentes, Rave On é a obra-prima do Artful Dodger.

Uma vez mais, a ótima recepção do disco pela crítica contrastou com a indiferença do público, e a banda decidiu se separar. Mas esse ainda não é o fim da história – felizmente.

A história do Artful Dodger continua da mesma forma que a de várias outras bandas power pop da sua época: através do interesse das novas gerações. De 1991 para cá a banda fez vários shows de reunião em Cleveland. O selo Pendulum Entertainment Group (via Sony Music) relançou os dois primeiros discos em CD em 1997. Há um excelente site dedicado à banda (o link está nos comentários) de onde saiu a maior parte das informações contidas nessa biografia. Rave On foi incluído na lista Shake Some Action de John Borack. O reconhecimento veio, enfim. Nada mais justo para uma banda como o Artful Dodger. Para além de “apenas” uma das maiores bandas power pop de todos os tempos – uma excepcional banda de rock n’roll.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Power Pop: The Early Years - ARTFUL DODGER! (PARTE 1)

Por Daniel Arêas

Se a definição mais concisa e direta para o power pop é a de que nasce da junção das melodias mais pegajosas com a energia primal do rock, então poucas bandas o fizeram com tanto talento, energia e vigor quanto o Artful Dodger. Infelizmente, como no caso da grande maioria de seus pares, para a banda americana também acabou prevalecendo a regra de que fazer o power pop perfeito durante os anos 70 trazia em si o ônus de ser virtualmente ignorado por uma audiência aparentemente desinteressada naquela reinvenção dos clássicos sons da British Invasion (para não mencionar algumas decisões equivocadas daqueles que cuidavam de sua carreira).

O Artful Dodger – formado em Fairfax, Virginia em 1973 por Billy Paliselli (vocais), Gary Herrewig (guitarra), Gary Cox (guitarra e vocais), Steve Cooper (baixo) e Steve Brigida (bateria) – possuía uma rara facilidade para produzir canções pop em série, mas executava-as com a alma e a paixão que o rock pede (tanto em estúdio como em shows); fundia a onipresente influência dos Beatles e o power pop dos Raspberries com o hard rock dos Faces, Rolling Stones e The Who. Dito desta forma, a alquimia soa perfeita; e foi de fato perfeita, em três dos quatro discos de sua curta carreira.

Originalmente utilizando o nome Brat, a banda lançou seu primeiro single (auto-produzido), “Not Quite Right”, tendo como B-side “Long Time Away” (que seria posteriormente regravada para o primeiro disco). Munido de uma demo tape, David Cox rumou para Nova York e conseguiu convencer Steve Laber e David Krebs (que à época tinham em seu cast nomes como Aerosmith e New York Dolls) a cuidar da carreira da banda. Pouco depois um contrato era assinado com a Columbia Records e a banda, rebatizada como Artful Dodger, lançava seu primeiro disco, homônimo, em setembro de 1975.

O termo “clássico perdido” é quase um lugar comum quando nos referimos ao power pop dos anos 70, tamanha é a quantidade de grandes discos que permaneceram na obscuridade na época de seus lançamentos, mas poucos discos se encaixam tão bem na definição quanto Artful Dodger . Produzido por Jack Douglas (famoso por seu trabalho em Toys In The Attic do Aerosmith, entre outros), é uma coleção de soberbas canções, irresistivelmente melódicas (porém executadas com o máximo de energia e intensidade), baseadas em fortes ganchos. Presente em algumas coletâneas de bandas power pop, “Wayside” tornou-se a canção mais conhecida, mas há vários outros esplêndidos momentos no álbum, como “You Know It’s Allright”, “Follow Me”, “Think Think” e “Things I’d Like To Do Again”.

Um erro estratégico da Columbia Records, porém, começaria a selar o destino da banda. A faixa escolhida pela gravadora para ser o primeiro single foi “Silver & Gold”, uma balada assinada por Cox. Essa equivocada decisão contribuiu para que o disco tivesse vendagens decepcionantes, além de gerar certa animosidade no núcleo da banda (embora Cox escrevesse canções, a maior parte do repertório do Artful Dodger nascia da parceria entre Paliselli e Herrewig). Mas isso não afetou a produção da banda, como ficaria comprovado com o lançamento de Honor Among Thieves, em 1976.



terça-feira, 4 de maio de 2010

"Ragged But Right": MEMPHIS 59!

Eles são muito modernos para o country. Eles são muito tradicionais para o rock. Eles são pop, mas não necessariamente comerciais. Mas não duvide do seu potencial radiofônico ou apelo popular. ‘Americana’ e ‘alt.country’ são rótulos deveras cool para o Chevrolet enferrujado que estampa a capa de Ragged But Right. O Memphis 59 trafega com sua velha caminhonete laranja pela fronteira de estilos tão díspares como complementares, de sua pequena Arlington natal para o mundo.

Em seu álbum de estreia o trio Scott Kurt, Chris Zogby e Richard G. Lewis poderia ser Paul Westerberg tocando Tom Petty ou o Jayhawks interpretando o Whiskeytown. Mas, de certa forma, o vocal característico de Kurt coloca as coisas no lugar: estamos falando do Memphis 59. E “Me Myself And Eyes”, canção que abre Ragged But Right, logo se apresenta com seu riff de guitarra que consegue remeter ao country com trejeito rock e acento pop. “Black & White TV” ataca com um refrão ganchudo e “Knock Me Out” usa dos serviços uma slide guitar para realçar o clima de raiz.

A envolvente “Girl At The End Of the Bar” coloca chapéu de cowboy e esporas no power pop, enquanto “Hotel Room” tem a missão de decalcar mais um refrão adesivo no cérebro do ouvinte. A bela e cativante “Putting Up A Fight” antecede o sabor clássico de “Quit Kickin My Heart Around” e “Heartbreak Luck”.
Ragged But Right vai do country ao pop como de Arlington a Nova Iorque: porque dá pra ir esvaziando umas Budweiser, em pouco mais de 300 km de distância, entre a pequena cidade na Virginia e o centro do mundo.

www.memphis59.com
www.myspace.com/memphis59band1

segunda-feira, 26 de abril de 2010

"The Curtain Shop And Alterations": THE RIFFBACKERS!

“Agora é tempo de recomeçar”. A frase que abre The Curtain Shop And Alterations pode parecer genérica se colocada fora de contexto. Mas aqui ela vem carregada de sentido e simbolismo para Fausto Martin e Nacho Garcia. Os espanhóis estiveram no The Winnerys, cujo fim precoce surpreendeu o mundo do power pop e deixou suas viúvas pelo mundo. E o recomeço veio cedo para Martin, que menos de um mês do fim de seu antigo grupo já compunha novas canções.

O sentido de clássico que já permeava a sonoridade do Winnerys permanece no Riffbakers – e as letras em inglês, idem -, mas sob um novo viés. Se antes o foco era o beat sessentista, calcado principalmente nos Beatles, agora fica cristalina a influência setentista no som dos madrilenhos, com referências a The Who, Raspberries, Nick Lowe ou Cheap Trick. Grupos oitentistas também ecoam em The Curtain Shop, como The Knack, Paul Collin’s Beat ou Rockpile.

Lançado de forma independente pelo próprio selo, o Rainbow Lane Records, e gravado no estúdio móvel de Fausto, o álbum surpreende pela boa produção. As guitarras ganham o peso e agressividade quando o rock precisa falar mais alto; as harmonias vocais são leves e doces quando têm de voar sobre o instrumental. Mas se a inspiração para o nome do grupo surgiu de uma Rickenbaker reluzente, o cuidado no entalhe de canções não poderia ser surpresa.

“Não espere por isso, mas as coisas podem mudar”. É a segunda frase de The Curtain Shop And Alterations, já anunciando os novos horizontes pretendidos por Fausto e Nacho com o The Riffbakers pós-The Winnerys. E eis que surge o riff invocado de “Now It’s Fine” injetando adrenalina e pacificando expectativas com a batida envolvente. O forte piano se une ao brilhante dedilhado de guitarra na climática, à la Raspberries, “Do It Again”. Já a batida ‘countryada’ e empolgante de “You’d Do Anything” ainda recebe tratamento especial de um órgão onipresente.

Melódica, ganchuda e energética, a incrível “Sometimes” antecede a ritmada de refrão adesivo “Step By Step”. As reminiscências da infância de Martin aparecem na power-ballad-psicodélica “Rainbow Lane” e, a pegada rocker, domina na irônica e ácida “Stupid Rock Stars Dream”. “Under My Spell” se apresenta macia e animada, em ambiência acústica ao melhor estilo Paul McCartney – não à toa o baixo aqui é um Hofner.

A canção-título soa clássica e vigorosa enquanto a balada acústica “After All These Years” acaricia os ouvidos, como costumava bem fazer o velho Macca. O rock’n’roll “Make Youself At Home” fecha o disco com solo de guitarra cortesia de Otavio Vinck
E se era o passado de Fausto Martin e Nacho Garcia que forçava as altas expectativas, agora é o futuro que se abre aos Riffbackers, porque, neste recomeço, as coisas certamente já mudaram.

http://www.myspace.com/theriffbackers

segunda-feira, 19 de abril de 2010

"Sparks On The Tarmac": D. ROGERS!

Talvez o som descompassado, rápido e solitário da chuva encontrando os vidros da janela nos traga de volta para nós mesmos. Talvez a paisagem enegrecida por nuvens baixas e carregadas de reflexões nos deixe sensivelmente disponíveis a nos perguntar: é isso que queremos? Talvez as lágrimas que despencam dos céus em torrentes impiedosas nos encolha no escuro aconchego do quarto. Ou nos descubra dispostos a dar mais um passo em direção ao brilho reconfortante do sol.

Talvez o som compassado, lento e bonito de Sparks On The Tarmac nos encontrando, diga mais sobre nossos desejos e sofrimentos – porque são essas as canções que queremos. São essas as canções que o cantor-compositor e produtor australiano D. Rogers talhou para nosso deleite em seu terceiro álbum. Folk pop preparado com extrema sensibilidade e amparado por uma profusão de instrumentos, em arranjos que embelezam a simplicidade das canções.

“Poison Pen” abre o disco em clima de reflexão, sobre a base acústica de violões e alguns interlúdios com vibrafones e teclados que soam como flautas. A ambiência delicada de “Worst Of Your Mind” recebe o adorno generoso de violinos e “To England” remete às singelas canções de Paul McCartney nos Beatles, com seu macio dedilhado e a leve batida na caixa sem esteira. A bela e triste “First To Know” tem os clarinetes de Adrian Whitehead, enquanto a linda melodia de “Firing Line” é afagada com carinho pelos violinos de Fi Claus.

A adorável “Knocked Down The House” explora a veia pop de Rogers e simula jogos de metais; já “Away From The Microphones” anima o ambiente com um country pop contagiante. Fecha o álbum, durando pouco mais de um minuto, a belíssima e emotiva ‘voz-e-violão’ “How Unfortunate...”. Tempo suficiente para descobrirmos que, enquanto olhávamos para dentro, lá fora o sol pintou o céu novamente de azul.

www.drogers.com.au
www.myspace.com/drogersmusic

quarta-feira, 7 de abril de 2010

"Identity Theft": BABY SCREAM!

O subir e descer constante de aeronaves designadas apenas por números a cumprir horários não pode contar as histórias de quem elas transportam. Destinos que se cruzam em segundos e desaparecem em rumos desconhecidos nos corredores imensos de qualquer aeroporto internacional. E é entre Buenos Aires, Los Angeles, Londres – ou mesmo Dortmund – que o argentino Juan Pablo Mazzola conta as suas histórias e registra seus caminhos e descaminhos em inspiradas canções sob o nome Baby Scream.

Depois do sensacional álbum de 2008 Ups and Downs, Mazzola retorna com este EP gravado entre Los Angeles e Buenos Aires, abordando climas menos ensolarados que no seu antecessor. Talvez fosse hora de olhar para dentro e saber que as idas e vindas anônimas podem interessar a muita gente. E aqui, de alguma forma, a aproximação de Juan com seu ídolo John Lennon apareceu mais cristalina. Identity Theft traz sete faixas em pouco mais de 17 minutos.

A acústica e reflexiva “Be” abre o disco com os vocais doces porém doídos de Juan, com sintetizador e os backings vocals cúmplices de Muddy Stardust. Levada de valsa para “Dead Woman Walking”, onde Mazzola pode falar de si no timbre de Lennon. A bela e triste “Nicole” equaliza percussão e os teclados para o tom confessional fluir sereno. “Memories” traz um mandolin que parece duelar com um som de cítara simulado, levados pela linha do baixo marcante de Stardust.

A rascante “Underground Blues” distorce a voz de Juan Pablo e não dura sequer um minuto e meio. A tropical e macia “Ojos Orientales” é composição do argentino Rinaldo Rafanelli – que aqui aparece manejando baixo, guitarra doze cordas e backing vocals. Fecha o mini-álbum a versão para “Mucho Mungo/Mt. Elga”, parceria de John Lennon e Harry Nilsson. Não importa se as canções de Juan Pablo Mazzola nascem em frios saguões de aeroportos ou sobre retalhos verdes de alguma nação a 10 mil metros de altura. Elas sempre vão nos levar pra algum lugar íntimo e muito, muito familiar.

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terça-feira, 30 de março de 2010

Da Série Clássicos: "Big Money Item" - THE GREENBERRY WOODS!

Por Daniel Arêas

Ainda perdura, por parte de um certo contingente de fãs de música, uma compreensão totalmente distorcida do que signifique o termo “pop”. Expostas durante anos ao lixo pasteurizado que impregna as rádios, para essas pessoas pop é sinônimo de um tipo de música medíocre, descartável, pré-fabricada segundo uma fórmula que visa única e exclusivamente o sucesso comercial. Seguindo essa linha de raciocínio, fazer pop torna-se menos uma questão de aptidão, talento, do que meramente de opção, esta guiada por intenções comerciais, mercadológicas.

Evidentemente isso é um grande equívoco. Fazer música pop (power ou de qualquer outro tipo) de qualidade, que torne nossos dias mais felizes, que renove nossos ânimos, que nos transmita uma sensação de bem-estar, é um dom com que pouquíssimos são agraciados. A tal “veia pop” existe, sim. Com absoluta certeza os membros da banda americana The Greenberry Woods possuíam esse dom, e seu segundo e derradeiro álbum, Big Money Item, é o 7º. disco da Série Clássicos do Power Pop Station.

A curta trajetória do Greenberry Woods é semelhante às de inúmeras outras bandas nas quais a reunião de vários talentos, paradoxalmente, se torna mais uma fonte de problemas do que de soluções. Os vocalistas/guitarristas Matt Huseman e Ira Katz formaram a banda em 1989 na Universidade de Maryland, onde se conheceram. Com o line up completado por Brandt Huseman (irmão gêmeo de Matt) no baixo e Miles Rosen na bateria, a banda mudou-se para Baltimore, e em 1993 assinaram com a Sire Records. Em 1994 foi lançado seu álbum de estréia, o clássico Rapple Dapple. Com o single “Trampoline” alcançando uma significativa execução nas rádios, àquela altura o destino do Greenberry Woods parecia não ser outro que não o sucesso.

Alguns percalços, porém, impediram que isso se concretizasse. Além das pressões da gravadora pela gravação de um imediato sucessor para Rapple Dapple, dentro da banda as relações começavam a se deteriorar, com a dedicação cada vez maior dos irmãos Huseman ao seu projeto paralelo Splitsville (através do qual, anos mais tarde, lançariam o não menos fundamental The Complete Pet Soul). Foi nesse ambiente de tensão que foi gravado o segundo e último disco da banda, Big Money Item, lançado em 1995.

Sobre Big Money Item, é suficiente dizer que se trata de uma obra-prima (power) pop. Não há outra forma de defini-lo. Não soa, nem de longe, como um disco de uma banda se desintegrando ou perdendo o foco (como seria de se esperar). Pelo contrário, captura uma banda tremendamente talentosa num momento de auge criativo, fazendo pop segundo os preceitos sagrados de alguns dos maiores expoentes do gênero, alguns clássicos (Beatles, Badfinger, Big Star, Beach Boys), outros contemporâneos (Matthew Sweet, Posies, Jellyfish).

Não é nem mesmo simples, dentre suas 18 canções, citar uma em especial, ou mesmo algumas, na medida em que não há um único ponto baixo no disco; cada uma das faixas parece ter como intenção se igualar ou mesmo superar a anterior em qualidade. Big Money Item é uma profusão de irresistíveis melodias, letras impregnadas de emoção, ganchos dos quais é melhor nem tentar se desvencilhar, lindas harmonias, poderosos refrões que o ouvinte estará assobiando ou cantarolando – mesmo sem perceber – um bom tempo depois de ouvi-los.

Em 1996 a banda se separou em definitivo, quando a Sire Records liberou-a de seu contrato. Mas a música permanece mais vívida do que nunca; uma única audição de Big Money Item é suficiente para comprovar isso. Aqueles que buscam música pop de qualidade, compreendem seu significado e sabem do seu poder transformador, encontrarão em Big Money Item um perfeito antídoto para aqueles dias difíceis que volta e meia a vida nos reserva.

quinta-feira, 18 de março de 2010

"Pillowsky": AMERICAN SUITCASE!

Interferir no seu meio-ambiente é uma vocação inata do ser humano. Que vem se especializando em alterar o que está a sua volta para sua conveniência e bem-estar. E em tempos de “mudanças climáticas”, “aquecimento global” e “desenvolvimento sustentável” eis que noruegueses sugerem uma alteração de clima utilizando apenas ondas sonoras. Não estamos falando de cientistas vencedores do prêmio Nobel, mas de artesãos da canção pop perfeita.

Egil Braekken e Anders Vinnogg querem repetir a experiência de trazer mais sol, luz e calor para gélida terra dos fiordes. Ecos herdados do jingle-jangle californiano brilhando sob o céu da Noruega e aquecendo as paisagens nevadas. Harmonias vocais angelicais sopradas desde a costa oeste americana amenizando o vento frio e cortante da Escandinávia. E o beat sessentista colorindo e descongelando o ânimo invernal.

Pillowsky levou seis longos anos para suceder Summerman na discografia do American Suitcase. Mas deixa a volta dos noruegueses de Oslo luminosa como uma manhã de verão. As influências maiores se repetem, indo de Teenage Fanclub a Byrds, e a independência em nenhum momento limita a qualidade de produção do álbum. O quarto disco do grupo vem recheado de sonoridades límpidas, abençoadas pelas mágicas Rickenbakers e pela maestria de Braekken e Vinnogg.

“Franny” viaja além da atmosfera com sua força psicodélica logo na abertura de Pillowsky. O dedilhado jangle já encanta no início de “Christmas Blues #2” e ganha acento americano com uma pedal steel guitar pontuando. “Miles Apart” e “Pink Shirt” trazem vigor e doçura melódica em doses iguais, enquanto os vocais harmônicos só realçam a beleza desconcertante de “You”. A empolgante “Star(s)” é um power pop perfeito; “Miss Mann” emociona nas harmonizações vocais; e “Harry Dunne” contagia na batida de Alexander Lindback e no seu belo refrão.

Climas de raiz e emocionais se fundem sob o manto de um órgão, até encontrarem os ‘papapas’ de sotaque bossa nova em “Seen It Before”. A adorável “Green Grass” capricha nos dedilhados de Rickenbacker e na melodia adesiva. A canção título traz Birgitte Solberg para um dueto vocal com Egil, e se revela um indie pop radiofônico. E a beleza de “Close” ganha contornos épicos na potência das guitarras que fecham “Pillowcloud”.
A Noruega está mais brilhante, aquecida e receptiva. Nossos corações também.

http://www.americansuitcase.com/
www.myspace.com/americansuitcase

quinta-feira, 11 de março de 2010

"Pale Morning": DESERTERS!

Já nos é conhecida a força e exuberância do rock australiano, que recebeu sua herança diretamente da fonte original britânica. Nobre descendência impressa no DNA aussie e que foi reforçada pela importante influência cultural norte-americana das últimas décadas. Então, aqui não se trata de aprender com os mestres; trata-se de carregar na veia o sangue deles. E é dessa linhagem que pertence o cantor-compositor e líder dos Deserters, Luke Thomas.

Pale Morning é o terceiro álbum do projeto de Thomas – que também toca no The Picures e The Ronson Hangup – e, entre outros, conta com frontman dos Wellingtons Zac Anthony na bateria e backing vocals. O disco traz a grandiosidade do rock clássico, aqui condensada e refrescada por agradáveis melodias pop. Thomas é um cuidadoso produtor e assegurou-se de que o álbum soasse consistente, mas não pretensioso. Que os arranjos exalassem beleza sem arrogância e que as cordas adornassem sem grandiloqüência orquestral.

As influências em Pale Morning voam de Beatles a Wilco, de Neil Finn a Teenage Fanclub; mas o que serve de profunda referência é o amor de Luke pelo rock melódico e atemporal, pelas canções bem talhadas e afeitas à emoção. Como na faixa de abertura “Waking Birds”, que coloca lado a lado uma steel guitar e um cello. “Take It As It Comes” vem com força na pegada pop do seu refrão, no que é o primeiro single do álbum. Beleza melódica adornada por um órgão dá tons emocionais a “I Think It’s Alright”, enquanto os contornos épicos da faixa título traz certa carga de dramaticidade.

A grandiosa e ao mesmo tempo grudenta “Race Me Home”, nos presenteia com bonitos acordes e climas oníricos recriados nos teclados. Já “Looking My Way” é sensível balada acústica adornada por jogos de cordas. “Life Goes On” contagia na sua pegada jingle-jangle e tramas melódicas que remetem aos escoceses do Teenage Fanclub. E “Valerian (Goodnight)” encerra o álbum transpirando – pelas mãos de Luke Thomas - o legado do rock clássico com intensidade, competência e paixão.

www.myspace.com/desertersband

quinta-feira, 4 de março de 2010

"Get Up And Run": THE RECKLESS HEARTS!

O rock nunca foi bom em assumir papeis sérios, apesar de vira-e-mexe alguém tentar impor-lhe protagonismo em causas sócio-políticas e, mais recentemente, até ambientais. Rock rima com os excessos da juventude, a inconsequência dos imberbes, a urgência dos rebeldes sem causa. Guitarras impacientes duelando com batidas nervosas, como carros velozes nas ruas da cidade grande. Rock combina com diversão e é isso que o quarteto de Milwaukee The Reckless Hearts oferece em Get Up And Run, seu álbum debute.

E se os ‘corações imprudentes’ estão preocupados em correr atrás de garotas queimando borracha de pneu no asfalto quente, também não se esquecem de adicionar à sua energia primária uma boa dose de doçura pop. Eles admitem: querem soar como as usinas de força The Who ou Buzzcocks amaciadas pelas harmonias do Records ou Teenage Fanclub. Então, senhores, os garotos do Wisconsin Thomas Calkins, Ian Lund, Jered Piencikowski e Joel Kopp estão nos domínios do power pop.

Avalanche de guitarras e batidas nervosas desce a encosta escoltada por ganchos melódicos logo na abertura do disco em “Personal Property”. “Yer Blur” adoça nas harmonias e melodias vocais sem falhar na potência instrumental. A candidata a hit “Reckless Heart” é envolvente, energética e direta em seus 1:35m de duração. “Two Runaways” capricha nos vocais harmônicos e guitarras contundentes, enquanto “Memory Lane” procura sem pudores a perfeição pop.

A melodia autocolante de “Don’t Wander (Far From Me)” antecede a power-ballad “Before The Summer Is Gone”; enquanto a pegada furiosa e juvenil de “Kick Down The Doors” contrasta com a batida pop e agradável de “Perfectly Fine”. A bonita e pequena instrumental, na melhor escola Brian Wilson, “Outro” fecha Get Up And Run, mostrando que esses corações podem ser imprudentes, porém, nada insensíveis.

www.therecklesshearts.com
www.myspace.com/therecklessheartsmke

segunda-feira, 1 de março de 2010

"Evidence": BARNETT-GURLEY!

Do coração da América brotam os violões de Mike Barnett e Dennis Gurley, vindos do Missouri, a fronteira final para o Velho Oeste. Mas os experimentados músicos unem forças para reverberar sua mescla de folk rock, americana e pop sessentista. E o resultado da alquimia entre o Barnett e Gurley brilha muito além das fronteiras do meio-oeste americano.

Contando com a ajuda de diversos amigos para a gravação de Evidence, a dupla oferece um álbum recheado de canções inspiradas na melhor tradição americana de violões, gaitas e slide guitars. E reza para Tom Petty, Jayhawks, Byrds, Neil Young e Beatles. Abre o álbum a reflexiva e macia “Elusive Smile”, climatizada por um órgão onipresente, enquanto “Need Little A Sunhine” já mostra a graduação de Barnett e Gurley na arte do jangle.

A envolvente “She’s A Mystery” aparece aqui na versão de Mike, caprichando nas harmonias vocais e nas espetadas providenciais da gaita. “Jingle Jangle”, além das guitarras 12 cordas para justificar o título, traz melodia contagiante, harmonias vocais angelicais e uma belíssima gaita. Batida marcial e vocal à la Tom Petty em “I Sat Me Down” e sons de Rickenbaker e refrão pop para “Hard Thing To Do”.

A eloquência sincera de “A Little At A Time” remete à força crua de Neil Young e a beleza doída aparece na balada acústica “You Saved Me”. Mais uma ode ao carisma pop do jingle jangle na adorável “Somebody Else” e a versão de Dennis para “She’s A Mystery” encerra Evidence. A prova que no mundo pós-moderno ainda há espaço para a sensibilidade orgânica e sincera da música tradicional americana.

www.myspace.com/barnettandgurley

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Power Pop: The Early Years - BLUE!

Por Daniel Arêas

O Blue foi formado em 1973 na cidade escocesa de Glasgow (de onde, décadas depois, viriam bandas extraordinárias como Teenage Fanclub, Cosmic Rough Riders e Primary 5), por Timmy Donald (bateria e vocais), Ian MacMillan (baixo, guitarra, vocais) e Hugh Nicholson (guitarra, teclados e vocais). Naquele mesmo ano a banda assinou contrato com o selo RSO Records e lançou seu álbum de estréia, homônimo.

Blue (o disco) é hoje considerado um clássico do power pop, e não são poucos os que o vêem como uma real obra-prima. As influências de Raspberries, Badfinger, Beatles, dos primeiros discos dos Bee Gees e da carreira-solo de Paul McCartney são as bases de um disco que mescla rocks vigorosos (“Look Around”, “Sitting on a Fence”, “Little Jody”) com baladas arrebatadoras, que exalam beleza e melancolia nas mesmas proporções (“Red Light Song”, “Sunset Regret”, “Timi’s Black Arrow”, “The Way Things Are”). Citar uma única canção não é tarefa fácil, mas é impossível ficar alheio ao se ouvir “I Wish I Could Fly”, possivelmente uma das mais belas – e tristes – baladas já escritas. Infelizmente, a impossibilidade de divulgar o disco adequadamente fez com que suas vendagens fossem decepcionantes.

A banda se mudou então para Los Angeles, onde adicionou o guitarrista Robert “Smiggy” Smith à sua formação e lançou seu segundo disco, Life in the Navy (1974), novamente pela RSO Records. Nele, canções como “Sweet Memories”, “Lonesome” e “Sun Sunday” mostram uma aproximação com o country rock de artistas como Gram Parsons, Neil Young e C,S&N, mas o power pop e as baladas emotivas características do disco anterior aparecem em “Atlantic Ocean”, “Love”, “Max Bygraves” e “You Give Me Love”.

No entanto, a saída de Smith da banda prejudicou a divulgação do disco, que acabou não tendo a vendagem esperada, tal como seu antecessor. Após isso, uma nova formação do Blue emergiu de várias sessões realizadas no programa de John Peel, na Radio 1 da BBC de Londres: entraram na banda David Nicholson (irmão de Hugh) e Charlie Smith (em substituição a Timmy Donald). Foi com esse line up que a banda assinou contrato com o selo Rocket Records de Elton John e lançou Another Time Flight Night, em 1977.

Another Time Flight Night (que teve co-produção de Elton John) marcou uma guinada, em termos musicais e comerciais, na carreira do Blue. É na verdade um disco de soft e pop rock setentista, à maneira de Paul McCartney, George Harrison e do próprio Elton John. Nele pode-se constatar que o talento pop da banda permanecia intacto: entre vários bons momentos, estava a irresistível “Capture Your Heart”, única canção do Blue a conseguir uma posição no Top 40 das paradas de singles americana e britânica. Fools Party (1979) viria em seguida, seguindo a mesma sonoridade de seu antecessor, mas foi o último disco da banda nos anos 70.

A rigor, o Blue jamais terminou – há registros do lançamento de dois álbuns de inéditas em 1999 (The L.A. Sessions, contendo canções gravadas pela banda entre 1979 e 1982, e Country Blue) e uma coletânea, 20, todos eles pelo selo The Record Label. Se de fato a banda não voltaria a alcançar o patamar de qualidade de Blue, também é verdade que ela continuou lançando bons discos depois. Sendo o power pop um estilo repleto de artistas e bandas que só obtém o devido reconhecimento com anos de atraso, urge redescobrir e recuperar a obra do Blue, em especial o seu seminal álbum de estréia, com inteira justiça incluído na lista Shake Some Action de John Borack.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

"The Smiles And Frowns": THE SMILES AND FROWNS!

Quando a luz solar alcança a beleza árida e inóspita da Lua, mescla seu dourado incandescente ao prateado gélido do terreno. Ilumina o solo arenoso, mas não consegue pintar de azul o céu lunar. Uma beleza estranha, plácida e surda. Uma calmaria assustadora e contemplativa. Uma paisagem que inspira medos primitivos e sonhos de ficção científica. Assim como o Smiles And Frowns pode desenhar no rosto sorrisos ou carrancas; ser uma tarde de verão tropical ou uma noite de inverno polar.

Adam Mattson e Christopher James juntam em seu álbum de estreia suas afinidades musicais e preparam uma receita sônica com elementos do folk, pop psicodélico, experimentações e efeitos sonoros. Direto do Arizona o duo trabalha no próprio estúdio e lança o primeiro disco pelo seu selo The Peppermint Hill. The Smiles And Frowns, o álbum, é uma sinergia de eras, com sonoridades antigas, instrumentos vintage e efeitos de estúdio modernos formatando sensíveis canções.

A profunda e reflexiva beleza de “Sam” abre o disco, baseada apenas em um solitário banjo e alguns ecos de órgão soprando a cortina do seu quarto escuro. A macia “Cornelius” parece captada de ondas de rádio emitidas há décadas atrás. Gaita, batida de piano e vocal gentil para a singela “The Memory Man”. Como uma peça de fantoches em um teatro fantasma, a atmosfera e o piano de “Huevos Rancheros” e a instrumental, em ritmo de valsa “March Of The Phantom Faces”, assombram.

A balada “Mechanical Songs” flutua pelo espaço sideral e, lá de cima, enxerga a Terra em algum momento dos anos setenta. E, a belíssima “Echoes Of Time”, resume o choque de sentimentos em Smiles And Frowns, com melodias bonitas e tristes em ambiências que hora confortam, hora assustam. Algo assim como o sol brilhando no profundo e negro firmamento lunar.

www.thesmilesandfrowns.com
www.myspace.com/thesmilesandfrowns

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Untitled": DAVID GRAHAME!

Um artesão precisa de talento, técnica e dedicação. Ter observado com atenção seus mestres, absorvendo o segredo de cada entalhe. E dar às suas obras a capacidade de provocar sentimentos e sensações naqueles que são expostos a ela. David Grahame é artesão da canção pop perfeita. Aprendeu a arte com os mestres maiores – os Beatles – e forjou um acervo de canções admiráveis. O americano baseado em Los Angeles, conduz o seu ofício sozinho e prepara suas canções em processo quase artesanal.

Para quem não conhece David Grahame, podemos apresentar: é o homem que faz as canções que Paul McCartney deveria estar fazendo. O próprio David acha loucura comparar seu talento ao de Paul, mas de fato suas canções lembram muito às de Macca em seus bons tempos – de Beatles e primeiros anos de carreira solo. Mas apesar do fino trato na composição de canções pop, Grahame só chegou às paradas de sucesso uma vez, mas pelas mãos de outros: ele é co-autor do hit do Mr. Big “To Be With You”, que chegou ao número um na Billboard.

Voltando ao presente, Untitled é seu novo álbum de inéditas. Com um conceito pouco usual para discos pop, o trabalho – além de não ter título – traz duas grandes faixas. Divididas em Side A e Side B as faixas são na verdade um conjunto de várias pequenas vinhetas e canções (também sem nome). O “Lado A” traz 10 e o “B”, 18. E, logo na faixa três, encontramos David interpretando a canção mais tocada de todos os tempos e, de certa forma, emblemática para a carreira do artista, já que encarna sua referência maior: “Yesterday”.

Em meio às 28 músicas e interlúdios, brilham diversas pérolas que poderiam figurar em qualquer álbum de Paul McCartney. Sensibilidade melódica extrema e senso pop apuradíssimo se mantêm em Untitled, confirmando o estadunidense como um dos músicos preferidos de power poppers de todo o mundo. Canções servidas como pequenas pílulas, mas que no final saciam nossa necessidade por belas melodias e harmonias – enquanto não sai a nova coleção de gemas do ateliê de Mr.David Grahame.

www.davidgrahame.com

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"Killin' For A Livin': 1220!

O título já sugere que os rapazes de Knoxville não estão pra brincadeira. Com a faca entre os dentes e o vermelho-sangue tingindo a capa do seu segundo álbum, o 1220 não quer perder um microvolt que seja da energia de sua juventude. Nem deixar de evoluir e incorporar novas referências à sua usina sonora. Se os restos de antigas influências – Led Zeppelin e T. Rex - ainda ecoam, a audição de Cheap Trick e The Knack refinaram o som dos americanos.

Formado em 20 de Dezembro (de 2000) – daí o nome da banda – o quinteto do Tennessee deixou a cargo de Don Coffey Jr, membro dos heróis locais do Superdrag, a gravação, mixagem e produção de Killin’ For A Livin’. E, claro, a sonoridade da banda de Coffey Jr. também acabou como influência no resultado final do álbum. Aqui a crueza do rock’ n’ roll visceral se encontra com as harmonias e melodias bem talhadas do power pop, em faixas cuja feitura se revezam entre três compositores – Gibson, Cover e Dover Jr.

O riff rocker de “Local Girls” já chega incendiando as caixas de som, para logo dar espaço ao refrão adesivo cheio de harmonias vocais. Jacob Gibson entrega sua voz juvenil com paixão na ultra-envolvente “Get It Out (Kimmy)”. O pop poderoso cheio de guitarras afiadas e melodia adesiva “The Motor Mile” vem em seguida, mostrando que o 1220 quer ir muito além de Knoxville. “So Far” cadencia o ritmo, realça o baixo de Michael Cover e dá brilho às guitarras de Ricky Dover Jr e Nick Kurtz.

“Feel Young” mostra força e equilíbrio na equação rock+pop enquanto “Just Wait” cativa com sua batida esperta, harmonizações vocais e refrão autocolante. “By The Sea” mescla momentos de maciez à la Brian Wilson/Burt Bacharach com rompantes de alta intensidade.
“Melody Rain” é power-ballad dissolvida num solo de guitarra final e a invocada e vigorosa “Xenobia” fecha Killin’ For A Livin’. Que poderia se chamar Livin’ For A Playin’ ou Playin’ For A Livin’, tanto faz para a gana roqueira da garotada do 1220.

www.myspace.com/knoxvilles1220

domingo, 31 de janeiro de 2010

Da Série Clássicos: "Cloud Eleven" - CLOUD ELEVEN!

Por Daniel Arêas

Embora não se saiba com exatidão sua origem, a expressão “estar na Nuvem Nove (Cloud Nine)” significa atingir um estado de êxtase, de felicidade absoluta. Mas o que então significaria alcançar dois níveis acima? Despertar os sentimentos e sensações que isso possa significar parece ser o objetivo da banda americana Cloud Eleven; portanto, ouvir seu fenomenal disco homônimo de estréia, o 6º. da Série Clássicos do Power Pop Station, pode fornecer as respostas.

O Cloud Eleven é essencialmente Rick Gallego, músico/compositor/produtor/arranjador radicado em Los Angeles, Califórnia. Com uma formação musical que incluía nomes como Beatles e Beach Boys, iniciou sua carreira no fim dos anos 70, tocando em várias bandas cover. No fim dos anos 80 Gallego mudou-se para Los Angeles, inicialmente pretendendo estabelecer-se como compositor de canções R&B para outros artistas.

Mas pouco tempo depois ele voltaria para sua verdadeira vocação: o pop. Gravou uma série de demos em uma mesa de gravação de oito canais, cantando e tocando todos os instrumentos. Estas demos eventualmente seriam reunidas em 1996 num álbum intitulado Demolicious, que rendeu a Gallego um contrato com o legendário selo californiano Del-Fi Records. Adotando o nome Cloud Eleven, lançou em 1999 um álbum homônimo, para o qual compôs todas as músicas (à exceção de uma) e tocou todos os instrumentos, menos a bateria, que ficou a cargo de Greg Schroeder.

Uma única audição de Cloud Eleven (o disco) é suficiente para se ter certeza que Gallego escolheu o rumo certo para sua carreira. Seu trabalho se alinha perfeitamente entre os realizados pelos nomes mais importantes do power pop da atualidade, mas suas composições também revelam uma profunda influência do pop psicodélico que teve seu apogeu durante a segunda metade dos anos 60. O resultado é um soberbo disco, que soa moderno ao mesmo tempo em que se mantém fiel às suas referências musicais, vindas de décadas anteriores.

Canções como “Tokyo Aquarium”, “Take Control” e “Superfine” – que compõem a ótima sequência inicial do disco – injetam no power pop contemporâneo (de artistas como Matthew Sweet, Posies, Teenage Fanclub) harmonias e sobreposições de vocais que evocam Zombies e Beach Boys (fase Pet Sounds). A bela “Rainbow Station” é reminiscente de álbuns clássicos como Magical Mystery Tour e Odessey & Oracle. Tão bonita quanto a anterior, “Spiral (Come Way Down)” é o ponto em que o Teenage Fanclub e os Byrds (em sua fase psicodélica) se encontram e convivem harmoniosamente.

Rick Gallego explicita outra importante influência para o álbum – o grande The Left Banke - em “Look Of Sky”, cuja letra é uma colagem de títulos e trechos de canções de Michael Brown, principal compositor da banda novaiorquina de sunshine pop e pop psicodélico dos anos 60. Já “Didn’t Wanna Have To Do It” deixa claro que a Califórnia é bem mais do que apenas o local onde Rick Gallego se radicou. É uma bela cover de uma canção do Lovin’ Spoonful, banda novaiorquina que durante a segunda metade dos anos 60 praticava um folk-rock de tinturas psicodélicas, na mesma linha de várias bandas da Costa Oeste americana.

Revolver ou Rubber Soul são boas referências para se descrever “Hole” (e aqui o timbre de voz de Gallego lembra muito o de John Lennon). Violão, suaves harmonias vocais e a voz de Gallego introduzem a irresistível melodia de “Wish I”; quando as guitarras e a bateria entram com o explosivo refrão, o ouvinte já está definitivamente conquistado. Por fim, Rick Gallego e o seu Cloud Eleven se despedem com a sensacional “Sun Arise”, uma daquelas canções que deveriam ser ouvidas todas as manhãs, com sua mensagem otimista que nos conclama a “ver o sol nascer e trazer outro dia”.

Doze grandes canções e pouco mais de 40 minutos depois, o ouvinte já tem as respostas para as indagações iniciais. Chegar ao Cloud Eleven (disco e banda) significa experimentar aqueles prazeres e emoções que só a música em geral – e o power pop em particular – podem proporcionar.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

TOP 100 ÁLBUNS & TOP 10 EPS 2009

1. Learning Love - BOBBY EMMETT
2. Jupiter Optimus Maximus – THE TOMORROWS
3. Makes Your Ears Smile – THE CAMPBELL STOKES SUNSHINE RECORDER
4. Eager To Please – THE LEFTOVERS
5. Luck – WIRETREE
6. Glass Half Full – DAVID BROOKINGS
7. Secret Powers And The Electric Family Choir – SECRET POWERS
8. Happenings And Other Things – RENO BO
9. Give Me A Look – MARK & THE SPIES
10. In Season – THE TANGERINES

11. Throwback Suburbia – THROWBACK SUBURBIA
12. Dead Air Radio – THE BEAT SEEKERS
13. Change Your Skin... Wash Your Heart – ARMCHAIR ORACLES
14. Desayuno De Campeones – RUBIN Y LOS SUBTITULADOS
15. Killin’ For A Livin’ – 1220
16. Aeropuerto – COOPER
17. I Hate Girls – PARALLAX PROJECT
18. Abelay Hotel – DROPKICK
19. More Help For Your Nerves – ROGER KLUG
20. Confessions Of A College Student – LAMAR HOLLEY

21. Man Overboard – J.P. CREAGAN
22. On The Up Side – THE HUMBUGS
23. Pillowsky – AMERICAN SUITCASE
24. Sad Songs Of The Summer – CHRIS RICHARDS AND THE SUBTRACTIONS
25. The Curtain Shop And Alterations – THE RIFFBACKERS
26. The Kavanghs – THE KAVANAGHS
27. Land – VINYL CANDY
28. Unpublished- TONY COX
29. Postscript – JEFF LITMAN
30. Keeps You Up When You’re Down – THE PERMS

31. Untitled – DAVID GRAHAME
32. How To Choose A Sweetheart – PETER & THE PENGUINS
33. Brooklyn Is Love – CREAKY BOARDS
34. Ghost, She Said – DELETED WAVEFORM GATHERINGS
35. Redemption # 39 – MICHAEL CARPENTER
36. Speaking Like An Elephant – CHEAP STAR
37. Lift You Up – LEWIS WILSON
38. So Long – THE WEBSTIRS
39. Vegas With Randolph – VEGAS WITH RANDOLPH
40. What A Lovely Surprise To Wake Up Here – CURTAINS FOR YOU

41. Evidence – BARNETT - GURLEY
42. Time Is A Wound – THE BRIGADIER
43. Playing Catchup – MARK CRONK
44. Safe & Sorry – WONDERWHEEL
45. Geronimo – FIRST IN SPACE
46. Where You Are – KYLE VINCENT
47. The Smiles & Frowns – THE SMILES AND FROWNS
48. House to House – THE TRIPWIRES
49. Transition – EVAN HILLHOUSE
50. The Seven Seas – ELEPHANT STONE

51. Beginners Luck – RIPCHORD
52. Universal Malcontents – OUTRAGEOUS CHERRY
53. Social Crutch – DIPSOMANIACS
54. The Madd Are Pretty Quick – THE MADD
55. Silent Revolution – LA FLEUR FATALE
56. Rumor 2 – RUMOR
57. Journey To The Center Of The Heart – JEREMY
58. All Haunt’s Sound – THE ALICE ROSE
59. Yeti Boobox – MAPLEWOOD
60. Shifting Sands – THE SUNCHYMES

61. Home Alone – ANY VERSION OF ME
62. Beat Songs – THE ANYDAYS
63. Wow & Flutter – THE TELEPHATIC BUTTERFLIES
64. In TheLate Bright - TOMMY KEENE
65. Solitary – PARASITES
66. Run & Hide – THE FORE
67. Semester At Sea – VALLEY LODGE
68. Is It True – THE PASSPORTS
69. Magic Circles – THE JUNE
70. Shaking Hands – SUINAGE

71. Try This At Home – CHRIS SWINNEY
72. Failing In Biology – SIMON FELTON
73. Floating Aimlessly – RUSSELL CRAWFORD
74. My Old, Familiar Friend – BRENDAN BENSON
75. Pale Morning - DESERTERS
76. Get Up And Run – THE RECKLESS HEARTS
77. Good Enough For You – FATE LIONS
78. Dust Of Rumour – MARC CARROLL
79. The Big Bongo Fiasco – GIDGETS GA GA
80. Goodnight, Bull Creek! – BOB EVANS

81. Telekinesis! – TELEKINESIS
82. Why Ramble? – SONS OF GREAT DANE
83. Sparks On The Tarmac – D.ROGERS
84. Disengage – SHANE LAMB
85. Flotando Alrededor – CHAMPAGNE
86. Ridin’ The Wave – LAURIE BIAGINI
87. Midnight Matinee – BRASS BED
88. How We Survive – GRAND ATLANTIC
89. New Adventures In Full Color – QUANT
90. Nashville Tracks – BRIAN JAY CLINE

91. Walkie Talkie – THE MONTGOMERYS
92. Heart Of The Valley – JEFF LARSON
93. Beautiful Dust – STEVE SIZEMORE GROUP
94. Capturing Clouds In A Bottle – MINSTER HILL
95. Easy Red – YOUR GRACIOUS HOST
96. Displayed In Reflections – BROADFIELD MARCHERS
97. Razzmatazz Orfeum – THE MOOG
98. Meteor – THE SHAZAM
99. Re-Ocurring Dream – JOHN SHAUGHNESSY
100. Beatlesque Too - ALAN BERNHOFT


TOP 10 EPS


1. Pete – GREG POPE
2. O My Stars – THE WEIGHTLIFTERS
3. Hear Here – THE SYRUPS
4. What We Are – BLUE SKY SECRET
5. A Fine Time – CHASE HAMBLIN
6. Three Kids – BANG 74
7. To The Rescue – THE OFFBEAT
8. Blue Whispers – THE GAMILONS
9. And Then Again – SHOUT WITH GRASS
10. Knackered – THE TEARAWAYS

domingo, 24 de janeiro de 2010

"Journey To The Center Of The Heart": JEREMY!

Sempre me pergunto até onde pode chegar a capacidade criativa de Jeremy Morris. Sua necessidade insaciável de expressão através da música impressiona. E mais ainda é de assombrar como o artista americano consegue trafegar por estilos musicais tão distintos. Em mais trinta anos de carreira, Jeremy lançou dezenas de álbuns, que passam pelo rock progressivo, guitarra instrumental, piano instrumental até o mais puro power pop. E não satisfeito, ainda comanda o selo Jam Records, direto de Portage, Michigan.

Mesmo depois de incontáveis discos e centenas e centenas de composições, Jeremy ainda consegue preparar canções empolgantes, cheias de ganchos melódicos e energia revigorante ou balada emocionais e sinceras. É isso, fundamentalmente, que oferece Journey To The Center Of The Heart. Que abre com ao rock psicodélico “Home” e engata em “Where There’s A Will There’s A Way” e seu refrão super-ultra-mega adesivo (a canção é homenagem ao promotor de shows, webmaster do IPO e grande amante e incentivador do power pop Wil Woodrowe, falecido em 2008).

As Rickenbakers brilham, as harmonias vocais voam e o vibrafone pontua em “Vanity Fare”. “Sweet, Sweet, Relief” conserva a capacidade emocional de Jeremy na confecção de melodias pop. A belíssima “Church Of Byrds” traz coral quase gospel mesclado ao jangle de uma Rickenbaker e, aí sim, remetendo ao homenageado do título. “No More Lies” dá sotaque bluesy enquanto a ganchuda “The Time Is Now” revela reminiscências de “My Sweet Lord” do mestre Harrison.

A triste e bonita balada ao piano “Sailing Homeward” confirma a sensibilidade intacta de Jeremy depois de todos esse anos. A adorável canção-de-ninar “Sleep Good” embala nossos sonhos até acordarmos ao som do próximo disco de Jeremy Morris.

www.myspace.com/jeremyamorris
http://www.jamrecordings.com/

domingo, 17 de janeiro de 2010

"I Hate Girls": PARALLAX PROJECT!

O que esperar de um sujeito que tocou em um dos maiores clássicos do power pop noventista? Michael Giblin era o baixista na obra-prima do Cherry Twister At Home With Cherry Twister, e ainda participou de álbuns da carreira solo do gênio Steve Ward. Assim, como um George Harrison, Giblin saiu da sombra de grandes compositores para provar que ele mesmo também o era. Formou o Parallax Project, no início dos anos ’00, e chega ao seu terceiro álbum com este I Hate Girls – produzido por Don Dixon (REM, Marshall Crenshaw e The Smithreens, entre outros) e com Eddie Muñoz, dos legendários Plimsouls, nas guitarras.

Gravado em apenas três sessões, o disco mostra a evolução de Giblin como compositor, além de revelar momento de alta inspiração. Artesanato pop de primeira grandeza talhando canções, que por vezes chegam a esbarrar na maestria do Cherry Twister. E claro, as influências do passado aparecem reprocessadas aqui e ali, como Squeeze, Faces, Elvis Costello, Kinks e os onipresentes Beatles. O americano da Pennsylvania atingiu seu ápice criativo com I Hate Girls.

Que começa com “All The Same” e seu riff power pop oitentista (encharcado na época pela new nave) cortesia de Eddie Muñoz, para logo desaguar no refrão adesivo e climatizado por um órgão - dando pinta de hit. A power-ballad “The Day After Tomorrow” tem vocação para ondas do rádio com sua adorável melodia e, a macia e doce “Easy”, poderia facilmente fazer parte da discografia do Cherry Twister. A canção-título é para ser celebrada na mesa do bar, ao lado de amigos, cerveja e muita ironia: “eu odeio garotas/ eu odeio os diamantes e as pérolas”.

“Watching The World Revolve Around You” é uma da mais bonitas baladas de 2009, com sua belíssima melodia emocional, seguindo ao violão até explodir em uma apoteótica passagem orquestral. Já a energética “Coming Around” chega ‘espalhando’ com um órgão invocado, enquanto a sessentista “You & Me” oferece um refrão memorável, mais uma vez digno de sua ex-banda. A cover dos Velvelettes “Needle In A Haystack” fecha o álbum.

Junto com I Hate Girls, o Parallax Project lançou o disco de covers Sleeping With The Enemy, que traz 11 clássicos em versões sensacionais, como “News At Tem” dos Vapors, “Telephone Line”, do ELO, “A Well Respect Man”, dos Kinks, “It’s Not True”, do Who, “Cindy Incidentally”, dos Faces, “Candy Says”, do Velvet Underground e “Liza Radley” do Jam. Imperdível.

www.parallaxproject.com
www.myspace.com/parallaxproject

domingo, 10 de janeiro de 2010

"Happenings And Other Things": RENO BO!

“Minha música favorita é a antiga”. Antiga, mas não velha; antiga, mas não antiquada; antiga, mas não datada. Antiga, porém clássica; antiga, porém atemporal. É isso que quer dizer a afirmação do novaiorquino radicado em Nashville Reno Bo. Cuja paixão passa pelo pop sessentista e alcança o rock setentista. Passa pelos artistas da Motown, Beatles e chega ao Big Star. É assim que soa seu álbum de estreia como artista solo (Bo é baixista do The Mooney Suzuzi e excursionou com Albert Hammond Jr, do Strokes) Happenings And Other Things.

Canções com sabor clássico, amparadas por uma produção consistente, que acaba por conceder uma ar contemporâneo à sonoridade. A intensa “There’s A Light” abre o disco mesclando algo do soul doído do Big Star e Stax Records com uma forte veia pop. “Higher Tonight” empolga na batida, capricha na energia das guitarras e cola a melodia na memória – o bom e velho power pop. Piano e órgão Hammond climatizam a poderosa “Off Your Back” até encontrar a power-ballad “Shine”.

Gaita e violão para a balada folk “Baby, You’re Not Feeling Me Tonight” e contundência rocker, com cadência bluesy, para “Sugar Suite Blues”. “Shake Me Up” agita e remete aos petardos rock dos primeiros discos do Oasis, com “How Does It Feel” mantendo a pegada na sequência. Se Tom Petty tocasse power pop, a memorável “Here Right Now” seria seu clássico. Outra com vocação para clássico é “You Don’t Know”, com sua perfeição pop sendo cortejada pela guitarra afiada de Bo e harmonizações vocais voando por toda parte.

E a beleza melódica, adornada por guitarras invocadas e jogos vocais bem cuidados em “I See Stars”, não esconde a admiração de Bo pelos escoceses do Teenage Fanclub. Com Happenings And Other Things descobrimos que a nossa música favorita é mesma que Reno Bo escuta. E faz.

www.renobo.com
www.myspace.com/renobo

domingo, 3 de janeiro de 2010

"Learning Love": BOBBY EMMETT!

Learning Love é sobre dor e prazer. É sobre tentativa e erro; estar no céu e no inferno; provar o doce e o amargo. Learning Love, de certa forma, mostra que os intervalos entre cair e levantar aumentam ou diminuem de acordo com a experiência que se acumula. E, se se está disposto ao amor, tem de se estar disposto igualmente aos seus momentos de sofrimento e felicidade. Mas Learning Love é também sobre melodias memoráveis e guitarras afiadas que ajudam a forjar algumas da melhores canções do ano.

Bobby Emmett vem de Detroit (onde esteve no The Sights e agora toca com Shooter Jennings) para impressionar com seu álbum solo de estreia. Em Learning Love Emmett não escondeu sua fixação pelas sonoridades setentistas, se esbaldando na utilização de instrumentos da época. O americano além de compor todas as faixas e produzir o disco, cantou e tocou guitarras, baixo, piano, órgão Hammond, mellotron e gaita, ente outros. Na gravação seguiu técnicas usadas por Kinks e Beatles.

O álbum é absolutamente independente – Emmett bancou sozinho processos de gravação, produção e prensagem dos discos – mas soa claro, encorpado e consistente como se houvesse uma grande gravadora por trás. As influências sonoras passam por Beatles e Big Star, Cheap Trick e Brendan Benson e, por vezes, soam muito próximas aos canadenses do Sloan – principalmente as composições de Jay Ferguson (que não por acaso participa do disco).

A guitarra matadora de “Queen Of Hearts” abre o disco como um rock setentista valvulado e invocado e já revelando o vocal dobrado de Emmett, que é ao mesmo tempo energético e amigável. A maestria melódica de Emett dá as caras na adesiva “Broken Hearted” e seu refrão talhado para os dials – nada democráticos - do rádio. A batida esperta, leve e ligeira de “She Can’t Be Mine” cativa de forma irremediável e a sensacional “Still Wanna Be With You” dá o golpe final e domina os sentidos com sua adorável melodia.

Assim como quem está no aprendizado do amor, e vai da tristeza à euforia com uma palavra, um telefonema ou um simples olhar, “Moving Ahn” se arrasta triste e linda para de repente explodir radiante num dos mais contagiantes refrãos do ano. A força rocker de guitarras distorcidas duelando com órgãos retrô e outro refrão m-e-m-o-r-á-v-e-l, são oferecidos generosamente em “Even Through You’re Mine Tonight”. Aqui melhor dar uma pausa para se recuperar do turbilhão de emoções causado por Learning Love. E respirar fundo para o que vem a seguir...

Gaita chorando, órgão dando o tom emocional e a voz de Emmett descendo dos céus a bordo da melodia mais triste e bonita do ano em “November”. “Never Waited So Long” vem com sua slide guitar, batidinha de piano e pinta de clássico eterno dos anos 70. “Love Is Real” desembarca densa e climática para desaguar no incrível e luminoso refrão, encerrando Learning Love. Um disco de amor às guitarras que cortejam melodias perfeitas; à canção clássica que sensibiliza com simplicidade; à ponte emocional – sem intermediários, atalhos ou atravessadores - entre o coração do artista e o coração do ouvinte. Provavelmente o disco do ano em 2009.

www.myspace.com/bobbyemmett