quinta-feira, 28 de julho de 2011

"Time Cuts The Ties": DROPKICK!

E os meninos da Bretanha do norte continuam sonhando... imaginando que suas melodias podem atravessar o Atlântico, impregnar o mundo, e porque não, levar algo de alento a quem precisa. No seu nono álbum, os escoceses do Dropkick voltam inspirados e inspiradores, embebidos na sua doçura habitual e confirmando uma capacidade impressionante para produzir belas canções. Ainda mais se considerarmos que o trio lança, religiosamente, um CD por ano.

“Let Down Again”, que abre o disco, parece uma encarnação do finado e saudoso Elliott Smith: de beleza estonteante, tem a maciez questionada pelo ataque das guitarras. Os irmãos Andrew e Alastair Taylor e Ian Grier, como bons escoceses que são, gostam da lapidação perfeita do seu arsenal de canções pop. Capricham nas melodias e entregam refrãos memoráveis como em “Everything Changes” e, na acetinada balada acústica “Home”, os vocais angelicais acalmam corações.

“Nowhere Land” vai na batida dos violões, pontuada por notas de piano e aeradas harmonias vocais. É clara a influência dos conterrâneos do Teenage Fanclub, e, na dúvida, só conferir a perfeição pop de “Hold On” ou “Two Of Clubs”. “It’s Time” imprime pegada power pop e a belíssima canção título nem consegue destaque em meio a profusão de beldades sonoras.

E, como dizem, se sonhar não custa, os ventos sopraram e as melodias do Dropkick sobrevoaram um oceano para, suavemente, aportar por aqui.

http://www.dropkickmusic.co.uk/

quarta-feira, 22 de junho de 2011

"Beatlesque Three" - ALAN BERNHOFT!

Não que o título esteja querendo um abrigo para justificar a semelhança; ele é deliberado e apenas deixa claro que preza a homenagem. Você pode dizer que os Beatles não precisam de mais uma prova de admiração, mas eu te digo que a força de um legado é irrefreável. Beatlesque Three, algo como “À La Beatles Volume 3”, emula sim os quatro de Liverpool, parece sim o som que faziam... mas, e daí? Alan Bernhoft gosta de compor inspirado pela cartilha beatle e nós adoramos ouvi-lo. Ponto.

No terceiro disco da série Beatlesque, o músico de Los Angeles – que toca todos os instrumentos e grava tudo no A.I.M Studios (que fica no... seu quarto!) - continua dando de ombros para a crítica mainstream (que o chamaria de ‘pastiche’), para os puritanos (que o chamaria de ‘copista’), e, sinceramente, eu faço trancinhas virtuais com minhas rugas de preocupação. O que importa aqui não é medir relevância artística, grau de ousadia ou as doses de inovação. Simplesmente sentir o quanto as melodias podem dizer algo a você.

E não se importe com a qualidade da gravação, porque o registro é caseiro, sem grandes produções. Procure o quanto os raios de “Sunny Sky” – faixa que abre o álbum – podem iluminar seu dia entediante: a simplicidade de seus coros vocais, a ingenuidade saudável da sua melodia e o estalar de dedos ritmado, podem colocar as coisas no lugar. Já “Everybody Smiles” eleva o tom emocional com uma certa graça: é o que seria a faixa de Ringo Starr do disco.

Em “Civilization” baixa a incrível força melódica e emocionante de John Lennon, a modo de “Mind Games”, com a diferença que o mundo a se mudar é do tamanho da sua sala de estar. “Miss Vonnie” vem macia na batida do piano, na voz doce de Bernhoft e, de repente, encaixa um refrão adorável e irresistível no meio do seu queixo. Jogos de vocais vindos diretos dos anos sessenta exercem o poder de ficar ecoando algumas horas no seu cérebro em “So Shine Away”.

Um terno vibrafone traz a balada - quase uma canção de ninar - chamada “Chun Li” (a versão chinesa de Yoko Ono?) antes do piano de Alan mostrar outra linda canção inspirada em Lennon: “Colliding Circles”. Podem dizer que simula “Imagine”, mas eu não estou interessado, conheço muito bem a obra dos Beatles e de John Lennon solo.

Estou bem mais preocupado em deixar que estes acordes e melodias - descidos dos céus - preencham algumas lacunas emocionais que estão lá, só esperando por isso. Ah, e antes que eu me esqueça, o álbum se encerra com “Honey Love” que sim, parece com “Honey Pie”. E daí?

http://www.alanbernhoft.com/

segunda-feira, 13 de junho de 2011

"Vessels" - BRYAN ESTEPA!

Hoje é uma inspiradora e agradável manhã de um domingo outonal, em uma cidade encravada entre os trópicos. É meu aniversário de casamento, o que não faz necessária qualquer sugestão de que seja um dia especial. Então estou aqui, sentado de frente para um jardim que balança ao sabor do vento e que parece fazer questão de combinar seu verde esmeralda com o azul profundo do céu. Mas eu resolvi trapacear a natureza e pus um disco para tocar e sugerir assim que a vegetação ali fora dança enfeitiçada pelo ritmo das canções.

Eu coloquei o novo álbum de Bryan Estepa, porque se é para justificar que as plantas se dispõem a acompanhar as nossas músicas, que seja algo especial.Vessels se apresenta como o terceiro disco do Australiano de Sydney, e, sem dúvida, seu trabalho mais inspirado. E eu convido a todos para sentar em círculo e ouvir o cantor-compositor aplicar suas doses de pop sessentista, de folk, de soft rock, de power pop.

A encantadora “Won’t Let You Down”, com seu refrão memorável e um Fender Rhodes trocando passos com o piano, só precisa de duas audições para você sair cantando por aí. E o mundo volta a girar para ouvir guitarras acústicas sendo cortejadas por um órgão Hammond sem pudor, só para Estepa oferecer o belo refrão em “Hard Habits”. E eu vejo lá fora, claramente, as árvores acompanhando com os galhos, os arbustos batendo palmas e o vento soprando junto as harmonias vocais de “Tongue Tied”.

O difícil para o coro verde vai ser acompanhar o tom emocional que Estepa dá às suas canções: ele canta com o coração, e isso já é raridade levando em conta que metade da população mundial carrega uma pedra dentro no peito. Ouça então a beleza de “Purple Patch”, que é amplificada pelo Hammond de Tim Byron e pela gaita de Jadey O’regan. Mas vamos deixar Bryan tocar a sua balada sentimental “Pull Ourselves Together”, porque ele tem muito a dizer mesmo que você não entenda uma palavra de inglês.

“Alone” contagia na batida energética, backings perfeitos, órgão invocado, palminhas sixtie e esperto jogo de guitarras. E vamos passeando pela delicadeza eloqüente de “Let It Go”; pela doçura com toque country e refrão colante de “First Impressions”; e o classicismo em tons norte-americanos de “Shade”. “Instincts” vem nos lembrar que Bryan Estepa conhece muito bem os meandros de como dar poder ao pop e “Unglued” simula a sensação universal da desilusão amorosa, que pode não ser uma realidade agora, mas certamente um dia já foi.

“Ball And Chain” fecha Vessels em altura suficiente para meu jardim acompanhar animadamente o ritmo empolgante da canção. E eu reparo que não há vento nem brisa lá fora... apenas uma onda de canções vindas de longe em um dia muito, muito especial.

http://www.bryanestepa.com/

www.myspace.com/bryanestepa

segunda-feira, 30 de maio de 2011

"City Love": THE BAUDELAIRES!

Por Daniel Arêas

O pop dos sixties, óbvio, exerceu e ainda exerce forte impacto nas gerações que se seguiram. Para quem ainda tem dúvidas quanto a isso, basta ver os recentes e concorridíssimos shows de Paul McCartney e Teenage Fanclub no Rio e em São Paulo. O culto ao pop sessentista, atualizado pelas guitarras do power pop, atravessou as décadas seguintes e, sem fronteiras, espalhou-se pelo mundo. Chegando eventualmente, claro, ao Brasil. Há – felizmente - ótimas bandas power pop espalhadas pelo país, e aqui estamos falando de uma delas, The Baudelaires, vinda de Belém do Pará, e de seu mais novo trabalho, o EP City Love.

Andro (vocal e guitarra), Marcelo (vocal e guitarra), Ariel (baixo) e Bruno (bateria) vêm demonstrando em seus trabalhos - Lonely Youth, de 2009 e School Days, de 2010, ambos lançados em formato físico, e o EP Little Rino, de 2010, em formato digital – que possuem todas as virtudes indispensáveis para uma banda power pop: capacidade pra compor melódicas canções pop que cativam o ouvinte de cara, e a competência e a alma necessárias pra tocá-las. E acertam nas influências e referências. Tudo isso pode ser percebido em City Love.

A ótima faixa que abre City Love, “Say You Want Me”, tem um refrão tão potente que é por ele que a canção se inicia, e deverá agradar tanto a fãs dos Posies (fase Dear 23) quanto a seguidores do Superdrag. A seguir, vem “Pam”, que caberia perfeitamente em algum disco do Weezer. Possivelmente a melhor do disco, “Time” inicia suave, com belos vocais emoldurando a letra sensível, segue num crescendo até desembocar no poderoso refrão, apoiado em uma parede de guitarras abrasivas.

A balada acústica “Oh, Girlfriend” remete às contribuições de Raymond McGinley para os discos do Teenage Fanclub. Outra canção acústica, “Teletransportation Now” tem uma irresistível inclinação beatle e excelentes vocais em falseto. Depois da bela faixa-título, o disco fecha com uma boa faixa bônus, “Proud Losers”.

Os rapazes pretendem lançar outro EP no final do ano, e juntá-lo ao City Love para formar um disco completo. Mas você não precisa esperar até lá: ao fim deste post, você encontra um link pra baixar, gratuitamente, o City Love. Pra você que já conhece e curte o som dos Baudelaires, é satisfação garantida. E se você ainda não conhece...a hora é essa !!

http://www.4shared.com/file/QRj-xoxD/The_Baudelaires_-_City_Love__2.html

terça-feira, 15 de março de 2011

"Time Will Tell": DAVE STEPHENS!

Quatro anos foi o tempo que o cantor-compositor canandense Dave Stephens nos deixou sem novas canções, desde o belo Stories For Copper, lançado em 2006.

Álbuns de Stephens são sempre sequências de peças emocionais que alternam alegria e tristeza, mas que se preocupam em preservar, intacta, a beleza.

Como nos trabalhos anteriores, em seu terceiro álbum Time Will Tell Dave Stephens compôs, tocou e cuidou dos arranjos, com a presciosa e precisa colaboração de alguns bons amigos. Também manteve a independência para deixar voar livre sua delicada inspiração artística.

“Time Will Tell” abre o disco com orquestração, piano, guitarras distorcidas, jogando no ar a sugestão para o clima épico e emocional. Cordas de violino choram e a voz doce de Stephens comanda a explosão instrumental emendadando direto no riff pesado da canção seguinte “Mr. Wonderful”, que daságua, mais à frente, na melancolia espacial de “Hagin’on”.

As guitarras falam alto novamente na encorpada e sólida “Tragedy” e, a esperada capacidade de Stephens em escrever as mais belas baladas, reaparece na emocionante “Peace Of Mind”. O refrão fácil e empolgante vem em “You Are Mine, I Am Yours”, enquanto a maciez acústica de “Dealing With The Past” traz junto um belíssimo chorus.

E o que Time Will Tell tem a dizer, aqui e agora, é que Dave Stephens continua disposto a compartilhar a corrente de emoções que emanam de sua música e reverberam em nossos corações.

http://www.davestephens.ca/

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

TOP 50 Álbuns de 2010

1 – “Lies And Fairy Tales” – SECRET POWERS
2 – “Watercolor Day” – SETH SWIRSKY
3 – “Music From & Inspired By Noisewater” – TIMMY SEAN
4 – “The Decline” – ELVYN
5 – “Our Little Secret” – EDWARD O’CONNELL
6 – “Blood/Candy” – THE POSIES
7 – “Circles” – “LANNIE FLOWERS
8 – “Oranjuly” – ORANJULY
9 – “C’est La Vie” – RADIO DAYS
10 – “Memphis” – MAGIC KIDS

11 – “Grain & Grape” – TAYLOR LOCKE & THE ROUGHS
12 – “Graydon” - GRAYDON
13 – “No Chocolate Cake” – GIN BLOSSOMS
14 – “Travellers In Space And Time” – THE APPLES IN STEREO
15 – “Shadows” – TEENAGE FANCLUB
16 – “Farrah” – FARRAH
17 – “Epic Handshakes And Bear Hug” – WILD HONEY
18 – “In The Sun” – THE TIMETRAVELLERS
19 – “Fulton Hill” – KNIT DELICATE
20 – “Innocence Is Bliss” – FRANK ROYSTER

21 – “Todo Se Lo Lleva El Viento” – OCTUBRE
22 – “Weird Past” – MAYBE TONIGHT
23 – “Hula” – NUSHU
24 – “Mercury Mine” – GAVIN GUSS
25 – “Once Around” – THE AUTUMN DEFENSE
26 – “Starting All Over Again” – RICH MCCULLEY
27 – “The Sunrise And The Night” – WILLIAM DUKE
28 – “On A Bittersweet Ride” – MISS CHAIN & THE BROKEN HEELS
29 – “Looking For Tomorrow” – THREE HOUR TOUR
30 – “King Of Power Pop” – PAUL COLLINS

31 – “Goodbye, Killer” – PERNICE BROTHERS
32 – “Take A Vacation!” – THE YOUNG VEINS
33 – “Sweet Sounds Of” – THE SUGAR STEMS
34 – “Loveless Unbeliever” – THE SCHOOL
35 – “Ordinary People” – ZOMBIES OF THE STRATOSPHERE
36 – “In Love Field” – THE OFFBEAT
37 – “Release Me” – THE LIKE
38 – “The Britannicas” – THE BRITANNICAS
39 – “Wasted Sun” – ANY VERSION OF ME
40 – “Together” – THE NEW PORNOGRAPHERS

41 – “Pictures” – THE LEN PRICE 3
42 – “Green Fields And Rain” – THE JUNE
43 – “School Days” – THE BAUDELAIRES
44 – “Four” – BLEU
45 – “Pas Net!” – TRUE LOVE
46 – “Galaxyland” – MAPLE MARS
47 – “Time Will Tell” – DAVE STEPHENS
48 – “Deer Park Mirage” – MITTENS
49 – “Intenciones” – COLATONIC
50 – “Post Modern Romantic” – THE WELL WISHERS

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Power Pop: The Early Years - BLUE ASH! (Parte 2)

Por Daniel Arêas

Para ocupar o posto deixado vago por David Evans, os membros remanescentes do Blue Ash (Frank Secich, Jim Kendzor e Bill Bartolin) recrutaram Jeff Rozniata, um dos roadies da banda. Mesmo sem gravadora, a banda seguiu fazendo shows e gravando canções, até que em 1977 a Playboy Records ofereceu-lhes um contrato. Em outubro daquele ano foi lançado Front Page News, o segundo disco do Blue Ash. Estritamente sob o ponto de vista das composições e da forma com que foram gravadas, era consenso na banda que Front Page News era um ótimo disco de rock. Mas o disco entregue à Playboy Records para ser lançado jamais chegou a ver a luz do dia.

Sem o consentimento da banda, a gravadora contratou Mike Lewis (conhecido pelo seu trabalho com K.C. and the Sunshine Band) para adicionar cordas, metais e teclados às canções. Os próprios membros da banda só vieram a conhecer a versão alterada do disco que iria às lojas poucos dias antes do lançamento. A revolta de Secich, Kendzor e Bartolin fez com que a Playboy Records eventualmente re-mixasse o álbum, e o resultado final ficou a meio caminho entre a versão “suavizada” por Mike Lewis e a originalmente imaginada pela banda. Mas mesmo com as guitarras disputando espaço com as cordas e teclados na maior parte do disco, a qualidade das composições se impunha. Tal como foi lançado, em outubro de 1977, Front Page News sem dúvida era um digno sucessor de No More No Less.

E tudo indicava que o momento do Blue Ash havia chegado: puxado pelo ótimo single “Look At You Now”, o disco começou a vender bem. A banda preparava-se para iniciar uma turnê pelo estado do Texas, quando então sofreu um duro golpe: a Playboy International decidiu desativar a Playboy Records, deixando o Blue Ash novamente sem uma gravadora. A banda seguiu fazendo shows e gravando (adicionando no período o tecladista Brian Wingrove à sua formação) e por fim decidiu separar-se, em 1979.

Teria sido um fim injusto e melancólico para a banda, se não tivesse havido um recomeço, anos depois.

A história do Blue Ash tem um reinício nos anos 90, em meio ao revival power pop da época. Com seus dois discos fora de catálogo e relatos envolvendo a potência de seus shows, o Blue Ash tornou-se uma lenda, com farto material inédito gravado durante seu período de existência circulando entre colecionadores. Com o renovado interesse em torno da banda, em 2003 os membros originais Frank Secich, Jim Kendzor, Bill Bartolin e David Evans decidiram reunir-se pela primeira vez em 25 anos para uma série de shows, incluindo uma apresentação na edição daquele ano do festival International Pop Overthrow. No ano seguinte, a Not Lame Records lançou Around Again – A Collection of Rarities From the Vault 1972-79, uma coletânea com 44 músicas inéditas, abrangendo toda a carreira do Blue Ash.

Coletâneas de raridades e outtakes costumam ser mais indicadas a fãs die-hard, e muitas vezes pouco ou nada acrescentam às discografias das bandas e artistas. Não é, definitivamente, o caso aqui. Em síntese, Around Again é uma aula de power pop. Chega a ser difícil de acreditar que esse extraordinário material poderia jamais ter vindo a público. É possível, sem dificuldade, extrair dele pelo menos dois álbuns de excelente nível. A quantidade de ótimas canções torna proibitivo que se cite apenas algumas, mas é suficiente dizer que Around Again é um atestado definitivo do enorme talento da banda e da prolificidade da dupla de compositores Secich e Bartolin.

Em setembro de 2008 No More No Less finalmente ganhou sua versão em CD, através do selo Collectors’ Choice Music, para nova e unânime consagração da crítica, e definitivo reconhecimento do Blue Ash como banda clássica e fundamental para o power pop. A morte de Bill Bartolin em 3 de outubro de 2009 pôs um fim à trajetória do Blue Ash, que saiu de cena deixando um legado inquestionável e uma brilhante obra, obrigatória para qualquer power popper que deseje conhecer as origens desse estilo que tanto amamos.

http://www.myspace.com/officialblueash

http://blueashblog.blogspot.com/