quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"Give Me A Look": MARK & THE SPIES!

Não precisamos recorrer a filmes de ficção científica, laboratórios especializados em nanotecnologia ou sessões de hipnose regressiva. Nada de micro-chips implantados no córtex cerebral ou plugs ligados direto na nuca. Memórias do que não vivemos podem ser conseguidas numa simples imersão nas sonoridades dos holandeses do Mark & The Spies. O beat-garage do power trio nos carrega, flutuando, para o reino dourado da música sessentista, com um disco lançado em pleno 2009.

Give Me A Look – segundo álbum de Arjan Spies, Mark Wesseloo e Gerrit Sholten – reproduz com fidelidade a aura dos anos sessenta, tanto na gravação/produção, como na utilização de instrumentos vintage. Uma viagem espetacular onde o transporte é alimentado pela energia juvenil e primária do garage e a paisagem pintada nas cores adoráveis do beat. E a primeira parada é a elétrica e contagiante “Gimme Your Love”, seguida por “Ain’t Got No Time” e seu órgão retrô espetando os grudentos “no,no,nos” e “hey, hey, heys”.

A levada de balada sixtie envolve “You Got It” enquanto a crueza garageira de “We Fell In Love” e “Mers To Keep” eletrizam o ar. O órgão vintage e a melodia memorável cativam na sensacional “Please Think It Over” e, o refrão emocional da canção título, sobe para respirar em meio à profusão de teclados. Possível hit sessentista, com guitarra marcada, intervenções de sax, refrão harmônico e colante: “Won’t Work On Me”. Riff adesivo, melodia pop assobiável e coros celestiais para mais um hit em potencial em “It Don’t Matter Yo You”.

A rocker e quebrada “I Want More” antecede o invocado merseybeat “It’s True (I Need You) e, “Give Me A Look (reprise)”, encerra o álbum do Mark & The Spies. Que não é só um disco, mas um bilhete de ida para o mundo encantado do sixtie pop; uma passagem sonora capaz de, no fim do passeio, nos deixar com saudades de lugares onde nunca estivemos.

www.markandthespies.nl
www.myspace.com/markandthespies

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"All Haunt's Sound": THE ALICE ROSE!

Você conseguiria ser sofisticado, sincero, lírico, direto, melancólico, reflexivo, animado e emotivo em apenas três minutos? Ser simples sem ser simplório ou ser complexo sem ser prolixo? O The Alice Rose consegue. Sem esforço e soando natural o quinteto de Austin, Texas, traz seu conjunto de gemas pop, trançadas com arranjos inteligentes e melodias adesivas. All Haunt’s Sound, segundo álbum dos americanos, se inspira em Beatles, mas com um corte Big Star; admira Squeeze, mas também pode se aproximar do Toad The Wet Sprocket.

A inspiração dos texanos respira forte o pop setentista, mas o carisma do vocalista, guitarrista e principal compositor JoDee Purkeypile dá alma e personalidade ao Alice Rose. Sua poesia dolorida e sincera soa verdade pura na emoção de sua doce voz. Sem perder a maciez e a aderência da verdadeira canção pop. Como na abertura “She Did Command”, de bateria quebrada, violões vívidos e teclados climatizando. A batida envolvente conduz a melodia auto-adesiva em “Waste Away” e, o clima acústico e reflexivo de “Agony Aunt”, é emoldurado com delicadeza pelos falsetes de Purkeypile.

“Maybe A Ride” mostra que o pop pode ter arranjos bem tramados e continuar simples e agradável. As cativantes e ganchudas “Slumbrella” e “It’s All Allowed” antecedem a leve e refrescante “Rags Of Autumn”. A balada orquestrada com jogos de cordas “I Know Your Ghost” e a bela “There’s No One In The Theme” mostram que o Alice Rose sabe adicionar com maestria a dose certa de refinamento ao seu pop. E que All Haunt’s Sound não precisa mais do que 38 minutos para provar que o pop poder ser eloqüente, relevante e emocional.

www.myspace.com/thealicerose

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"More Help For Your Nerves": ROGER KLUG!

Prescrever discos para o tratamento de mazelas modernas deveria ser praxe. Mas se os médicos não o fazem, o “cientista pop” Roger Klug sugere Mais Ajuda Para Seus Nervos. O cantor-compositor-guitrarrista de Cincinnati, preparou 17 pílulas pop com princípios ativos familiares e outros bastante peculiares, em seu quarto álbum solo. Klug domina a receita básica da verdadeira canção pop, mas adiciona elementos experimentais com muita personalidade.

A liberdade de gravar em seu próprio estúdio, o Mental Giant, dá a margem que Klug precisa para manipular e direcionar a sua inquietude e criatividade musical. More Help For Your Nerves consegue ser extremamente pop, mesmo contendo passagens inusitadas e inesperadas. No quesito letras, Klug também mostra inteligência, sarcasmo e ironia, sem esquecer da métrica exigida por uma boa canção pop.

Pouco mais de um minuto para a apresentação de Roger Klug, na abertura “Tinnitus” – cuja sonoridade remete diretamente aos discos solo de Greg Pope. O pop poderoso de “Dump Me Hard” é afiado na ponta das guitarras de Klug e “An Artist In The Field” injeta passagens de progressivo, com solo de guitarra hard rock em meio a singelos ‘la-la-las’. A balada “Girl After My Own Heart” realça a capacidade do americano em tecer belas melodias, seguida pela faiscante e adesiva “About Time”.

Riff grandioso e intervenções de piano para a inspiradora “For The Kids” e batida envolvente para a esperta “The Day I Had My Brain Removed”. Baixo distorcido, guitarra invocada e melodia memorável para “Hi-Hat” e milhares de volts escapando para a energética “Bi-Curious”. “When Dreams Dry Up” chega macia e cheia de bossa para explodir raivosa, voltar macia e raivosa e macia. E o jogo vocal a capela, recheado de harmonias vocais beachboyneanas, é ironicamente titulado “My Life Is Sweet”.

O belo pop orquestral “Souls To Heaven” convida a viajar, enquanto “Bogeyman”, contagia na batida de piano e solo de violino. “Man’s Man” acelera e desacelera o andamento sem cerimônia e o épico pop, de oito minutos, “Your Diary”, fecha o álbum.
Você não precisa de receita médica, indicação farmacêutica ou recomendação profissional para comprar More Help Your Nerves: a prescrição de Mr. Roger Klug por si só já basta.

www.myspace.com/rogerklug
www.mentalgiant.com

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"Glass Half Full" - DAVID BROOKINGS!

Hoje, quando David Brookings observa a inquietude curiosa de sua pequena filha, deve lembrar-se de si mesmo. Quando vinte anos atrás, ainda na cidade de Richmond, Virginia, explorava, tal qual um caçador de tesouros, a coleção de discos do pai. Aos nove anos não demorou para dar de cara com o disco que mudaria sua vida: Help!, dos Beatles. Era mais uma nova geração encantada pelo poder mágico da melodias instigantes dos fab four. Nesse mesmo ano, Brookings ganhou seu primeiro violão, e aí, não pararia de buscar inspiração nos mestres eternos do folk, pop e rock.

Na época, talvez, o jovem David não imaginasse que um dia pisaria o solo sagrado do Sun Studio – localizado em Memphis - onde gravaram lendas como Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Johnny Cash. E, apenas ‘pisar’, seria pouco mesmo: o cantor-compositor americano hoje grava seus discos nos estúdios Sun. Onde é guia turístico, de terça a sábado e pode, ao final dos passeios, vender seus discos aos turistas. A vida não é fácil e Brookings faz, ainda, shows acústicos em bares, noivados e casamentos. Enquanto isso, eu me pergunto: em que mundo David Brookings seria um popstar, escalando paradas de sucesso nos quatro cantos deste planeta?

Porque se você ouve seu quinto álbum, Glass Half Full, percebe a presença do toque divino no senso melódico do artista. A riqueza harmônica que não quer pra si elogios, quer a capacidade de levar prazer aos sentidos. A voz doce e sincera, que pode contar a verdade de um jovem que ainda não chegou aos trinta, e que mostra disposição e alegria pela responsabilidade de prover uma família. E o otimismo transparente aparece no título Glass Half Full (“Copo Meio Cheio”), disco, onde, no fim das contas, não importa qual é a sua ou a minha verdade, importa o bem que as ondas sonoras emitidas farão à alma de cada um.

E Brookings já abre o disco atacando o regulador de serotonina do seu cérebro, com o power pop perfeito da contagiante, adesiva e singela “Don’t Wake Me Up”. A melodia envolvente de “This Time It’s For Real” vem escoltada por violões e órgãos e “Love Goes Down The Drain” oferece levada voluntariosa e refrão memorável. “Hazel” capricha na trama melódica altamente ganchuda e, as guitarras de “We Never Ever Spoke Again”, mesclam música tradicional americana com pegada de pop moderno, desaguando num refrão sensacional.

A bela faixa título é acústica e instrumental e nos leva até a balada “Flashlight Love”, com sua inspiradora e divina melodia. O contagioso pop com cores country “Still Not Crazy Yet”, antecede à energética e afiada “Love And Death In Richmond”. Enquanto harmonizações vocais angelicais elevam a reflexiva “Getting Older”, encerrando Glass Half Full. Agora, o sorriso de Brookings, aberto na capa do disco, se transfere pra nós. E o pequeno fã de Beatles, da Richmond de 20 anos atrás, se pudesse vislumbrar o futuro, estaria sorrindo também. Pode apostar.

www.davidbrookings.net
www.myspace.com/davidbrookings

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

"A Million Year Picnic": THE TEMPONAUTS!

23 de maio, The Cavern Club, Liverpool. Sobre o lendário e acanhado palco um quarteto empunha suas armas sônicas, frente a uma audiência sedenta por melodias eletrificadas com energia sixtie. O ambiente pouco iluminado é colorido pelo brilho de uma Rickenbaker vermelha e outra azul, e o ar local é impregnado pela sonoridade clássica das lendas de seis (e doze) cordas. O ano é 2009, o quarteto sob os holofotes são os italianos do Temponauts, em uma apresentação do International Pop Overthrow.

Os Viajantes do Tempo são comandados por Stefano “Pibio” Silva e vêm da cidade de Piacenza mostrar sua paixão-obsessão pelos anos sessenta neste A Million Year Picnic. Transitam também pelo paisley underground oitentista e pelo brit pop noventista. Ou seja, Pibio quer alcançar ambiências que conduzam o pop pelos caminhos das melodias adesivas em busca sem fim do bem-estar.

Por isso a ensolarada “Toxic & Lazy” abre o disco com “pa-pa-paras” e “uh-uuhhs”, soando como uma banda brit pop envelhecida em tonéis sessentistas. A doce “Captain Frustration” conquista na cadência melódica e no frescor das harmonias vocais. “Atomic Fire Sister” exige beleza e potência das Rickenbakers, enquanto “(She’s An) Animal”, não esconde a influência dos britânicos dos Stone Roses.

Guitarras invocadas duelam coma a gaita nervosa na vigorosa “Operation Coroner”. Já a onírica e leve “The Down Bums” navega pelas plácidas águas do indie pop. Levada rock’n’roll para a alma pop de F**k You Everyone” e pegada jingle-jangle para “That’s How Strong My Love Is”. A crueza garageira de “Not In The Morning” contrasta com os “sha-la-las” e o brilho das Rickenbakers da contagiosa e macia “Come Back Saturday”. A psicodelia de “The Return Of Josie Wales” encerra o álbum e nos recoloca de volta, no aqui e agora. Só que cheios de novos ‘sha-la-las’ pra cantarolar.

www.myspace.com/temponauts
www.temponauts.blogspot.com

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

"Why Ramble?": SONS OF GREAT DANE!

O sentido da palavra evolução, em música, hoje tem mais haver com modernizar o que já foi feito do que a criação de sonoridades realmente novas. A não ser que se esteja disposto a explorar bizarrias experimentais, basicamente todas as combinações de acordes possíveis já foram testadas. As habilidades pessoais, bagagem musical, referências, influências e objetivos a alcançar, acabam por traçar as diferenças entras as bandas do pop e do rock atual.

E assim funciona o grupo de Kansas City, Missouri, Sons Of Great Dane: um verdadeiro colheitador temporal de influências. Brent Windler, Nolle Bond e Evan John, viajam até a década de 40 para buscar o country; enchem a mão quando passam pelo pop dos anos sessenta, respiram o mesmo ar setentista do Big Star e pincelam tudo com o que aprenderam do alt.country noventista. Why Ramble?, disco de estreia do grupo, mistura tudo em seu próprio caldeirão e apresenta 10 canções do estilo conhecido como americana.

O riff de guitarra da faixa de abertura “Early Train” já indica os ecos de música interiorana, mas, a voz de Windler e sua melodia pop, mostram doses aplicadas de modernidade. A levada western de “Always Wrong Always Right” também recebe suas pinceladas rock e “Bullet Left It’s Barrels Head” se aproxima mais firmemente das bases do power pop. A semi-acústica, guiada por voz e violão “Ballad Of Lou Barker”, antecede o country-rock energético “One Man (Wishful Thinking)”.

A densa “Question” chega acústica, envolve na melodia e explode em uma torrente de guitarras e microfonias finais. “Cut/Paste” mostra os cowboys tentando laçar a canção pop perfeita e a faixa de encerramento “Something”, revela que o rapazes do Missouri também têm vocação para a contundência rebelde do rock. E superam o desafio maior, que é de dar sabor próprio e harmônico à combinação de ingredientes colhidos em campos e estações tão diferentes.

www.myspace.com/sonsofgreatdane

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"Failing In Biology": SIMON FELTON!

Funcionário público, músico profissional, psicólogo, dono de selo, líder de banda.... Quaisquer dessas categorizações serviriam para definir o britânico Simon Felton. Mas, hoje, estamos interessados no amante das melodias e harmonias, no caçador incansável da canção pop perfeita. O cantor-compositor de Weymouth - que também é líder do Garfields Birthday e dono da Pink Hedgehog Records – apresenta seu novo álbum solo, Failing In Biology, onde contou com ao auxílio luxuoso de Alan Strawbridge e do cult-hero californiano Anton Barbeau.

“Mister Magic Eyes” de cara já entrega as influências sessentistas de Felton, suas guitarras jingle-jangle – com o solo cortesia de Mr. Barbeau - e as melodias amigáveis e adesivas. As belas harmonizações vocais voam na sedutora “In The Attic” e o piano e os “la-la-las” ajudam a criar o macio ambiente de “(It’s Not) Rocket Science”. A batida bossa se funde à ambiência psicodélica dos sessenta em “Paisley Man”. Já a letra de “Me” faz referência aos Beachs Boys e ao Bee Gees, mas está mais para o pop britânico dos anos oitenta.

Em “The Latest Thing”, Felton acha o pop perfeito que buscava e ainda conta com a guitarra voluntariosa de Barbeau. Percussão e vibrafone para balada acústica “Goodbye”, enquanto a climática “Neptune’s Fountain” encerra o disco, com as texturas psicodélicas da guitarra de Barbeau e o sons de cítara da autoharp de Strawbridge. E, no fim, nem vamos perguntar detalhes sobre autoironia do título, Reprovado Em Biologia, que conjugada com a arte de capa – poderia dar o que falar. O diploma pop que nos interessa, Simon Felton conseguiu, em Failing In Biololgy, com louvor.

www.simonfelton.com
www.myspace.com/simonfelton

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

"So Long": THE WEBSTIRS!

Nove anos se passaram desde o último registro fonográfico dos Webstirs. Tempo que não foi suficiente para dissolver a parceria dos amigos de infância Preston Pisellini e Mark Winkler. Nem seu interesse em sonoridades carregadas de urgência rock, melodias pop e intervenções orquestrais, cristalizadas em seu novo álbum So Long. Com Charlie Short e Jordan Kozer completando a formação, o grupo de Chicago contou ainda com diversos amigos executando os jogos de metais e cordas.

A plácida e instrumental “Summer Fades” abre o disco à base de piano e metais, em clara homenagem a Brian Wilson e o seu Beach Boys – fixação que vem desde o álbum de estreia Smirk, que já fazia reverência ao clássico Smile. Em seguida, guitarras e trumpetes duelam na energética e apoteótica “Wesley Station”. O ataque continua com a empolgante e vitaminada “Somewhere To Start”, até chegar a melodia envolvente e pegada contundente da faixa-título.

O pop orquestral à la “Jellyfish encontra os Beatles”, com sua aura teatral, aparece em “Malaise”. Já os teclados, a levada vocal e a distorção de “Opparition Shrine”, soam muito próximos a Weezer e Rentals. O clima espacial - em batida de pop orquestral via teclados - de “Big Break”, remete diretamente à grandiosidade do ELO. E o rock’n’roll, com sotaque bluesy e refrão assobiável, aparece em “Sister Temptation”.

Guiada pelo piano, a radiofônica “Calendar Faces” antecede “What DoYou Believe”, mais um pop orquestrado com piano, metais e coros vocais cheios de ‘pa-pa-pas’. Outra bela e onírica instrumental presta tributo ao mestre Wilson, “Winter Song”, encerrando So Long. Álbum que nos mostra como uma parceria musical pode por anos sobreviver, tal qual uma inesquecível canção pop atemporal.

www.thewebstirs.com
www.myspace.com/thewebstirs