terça-feira, 24 de julho de 2007

THE FADE-OUTS - "The Fade-Outs"

Descendo a onda post-surf music dos Beach Boys, o combo americano, formado por sete músicos de Boston, reverencia o mestre Brian Wilson em seu primeiro álbum (lançado pela Naked Ear Records, selo criado pelo estudantes The New England Institute of Art de Brookline, Massachussetts).
Seguindo a linha dos contemporâneos Wondermints e Heavy Blinkers, o Fade-Outs navega na beleza plácida de canções recheadas de climas oníricos, melodias macias e harmonias vocais intrincadas, como em “At Home”, “Summer Girl”, “Rainy Days” e “Camelot”.

Instrumentos vintage, pianos Rhodes, ukeleles, banjos permeiam o universo sonoro do grupo. Já “Back To Normal” e seu esperto jogo de metais cria ambiência dançante dos anos 70. “Turn It Over”, pegando a contramão, volta aos tempos de garotas, sol e carrões - a era de ouro da surf music. “Laughter”, “Anything You Can Do” e “Wink & A Smile” estão mais para Steely Dan que Beach Boys. Mas não afastam o Fade-Outs das missas na igreja do reverendo Brian Wilson.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Entrevista exclusiva: DAVID GRAHAME!


A chave de muitos mistérios da vida está quase sempre pendurada na porta, engatilhada na fechadura esperando para ver quem é capaz de virá-la.
Todo dia nos perguntamos porque determinados artistas – maestros da canção pop perfeita – permanecem sob o manto de invisibilidade do anonimato ou porque algumas bandas supostamente mais pop do que outras não são igualmente populares. O cantor compositor David Grahame faz parte desse grupo de artistas, que deixam seus fãs tentanto resolver problemas de raciocínio lógico com técnicas de astrologia barata.

O americano nos fala de seus tempos de “Paul McCartney” em uma produção da Broadway; de seu grupo The Mix; de seus álbuns solo – e a desistência do lançamento de seu novo disco; da sua composição que alcançou o número um da Billboard, na interpretação da banda Mr. Big e as comparações de seu trabalho com o de Sir Paul. Nessas últimas duas abordagens é onde se esclarecem as perguntas básicas sobre Grahame: produzindo canções na linhagem de McCartney - composições de beleza impressionante, com melodias perfeitas, harmonias inspiradoras - não estaria o músico fazendo hoje o que o beatle deveria estar? E porque essas mesmas canções, de alto potencial pop, nunca conseguiram chegar ao topo das paradas?

Direto de Los Angeles, e com exclusividade para o Power Pop Station, Grahame gira a chave na fechadura do mistério e deixa clara sua consciência em relação aos seus erros, sua capacidade, as comparações com Paul McCartney e o caminho do sucesso.
(Clique nos links para ouvir os samples)

Power Pop Station: Você ganhou sua primeira guitarra aos 12 anos. Naquele ano os Beatles ainda estavam juntos? Quem eram seus heróis da música na época?

David Grahame: Sim, o ano era 1969 e os Beatles ainda estavam juntos. Meus heróis na música naquela época eram, primeiramente, os Beatles e os Rolling Stones. Mas eu também gostava muito de Jimi Hendrix, Crosby, Stills and Nash e era um grande fã de AM radio. Eu fui muito influenciado pelo top 40 daquele ano. Meus gostos musicais, definitivamente, foram formados em 1969.

PPS: Nos anos 70, você “foi Paul McCartney” na produção da Broadway Beatlemania Conte-nos como foram essas apresentações.

Grahame: O show, como você sabe, foi o primeiro tributo aos Beatles e o antecessor de todas as “bandas beatle” que viriam a seguir. Hoje fico impressionado como o show influenciou as bandas cover dos Beatles.
Como músico, eu curti estar no show, mas foi muito estranho estar usando o guarda-roupa dos Beatles. Por ser uma produção da Broadway, o som e o show em si, tinham diretrizes de performance muito rígidas. Era tudo muito “controlado”. Então, para a audiência o som era estéril, suave e linear. Eu teria preferido que a banda apenas fosse capaz de “reduzir a frouxidão” e tocar rock and roll do jeito que os Beatles faziam. Aquilo era um pouco limitante.
Minha função era substituir o ‘Paul’ original do cast (Mitch Weissman), que estava recuperando-se de uma cirurgia na garganta. Eu na verdade atuava com dois membros do cast original (Leslie Fradkin e Joe Percorino), como um cast substituto. Durante um tempo foi muito divertido, mas depois comecei a me sentir um animal enjaulado. Eu queria sair por aí e conhecer músicos melhores. Àquela altura eu estava com 19 anos e queria ser levado a sério. Eu também ficava inquieto sabendo que o verdadeiro John Lennon vivia a apenas algumas milhas de distância do teatro. No fim acho que fui o único membro do cast que deixou a produção por escolha própria.

PPS: Você tocou na banda novaiorquina The Mix, abriu shows para Elvis Costello e Pretenders. Fale-nos sobre esse período.

Grahame: Foi uma trajetória selvagem. Numa tacada certeira, o Mix assinou com a produtora Leber/Krebs, que na época cuidava dos interesses do AC/DC, Def Lepard, Ted Nugent, Michael Bolton, Aerosmith e muitos outros. Aliado a isso, nosso baterista, Corky Laing, já era uma espécie de lenda do rock and roll. Então, rapidamente, fomos empurrados para situações muito profissionais. Tocamos bastante e abríamos shows para artistas de nome sempre que podíamos. Logo nos tornamos uma mercadoria ‘muito quente’. Infelizmente divergências internas vieram à tona com rapidez, o que nos impediu de assinar com um grande gravadora. Acabamos fazendo um álbum por conta própria, com ajuda do produtor Felix Pappalardi. O disco foi bem regionalmente, e nossa cover de “Chain Of Fools”, de Otis Redding, arrebentou na parada da Billboard. E, no final, saí com os Stones, fiz uma jam com o John Belushi e conheci o Christopher Reeve. Então, não foi de todo ruim.

PPS: Nós falamos de sua participação no Beatlemania, onde você “era” Paul McCartney. Quando eu apresento seu nome e sua música - para amigos ou leitores – eu digo: “esse cara faz a canções que Sir Paul não fez” ou, “ele escreve a s músicas que Macca deveria estar escrevendo”. Qual sua relação com a música de Paul, e o que você acha destas comparações?

Grahame: Sempre me dizem que minhas canções são as canções que Paul McCartney deveria estar escrevendo, ou que minhas canções atualmente são melhores que as dele. Não concordo. Eu não posso comparar meu talento com o homem que escreveu “For No One” e “Penny Lane”. Eu não posso comparar meu talento com o homem que cantou “Maybe I’m Amazed”. Isso é loucura.
O que acredito é que minha música segue o caminho musical dos Beatles, enquanto Sir Paul seguiu seu próprio caminho musical. Se eu me importo com as comparações? Sim, mas eu acho que depois de oito álbuns eu provei aos meus ouvintes que eu não sou apenas uma personificação de McCartney... eu espero (risos).

PPS: Como funciona seu processo de composição?

Grahame: Eu componho quase que exclusivamente numa guitarra acústica. Quando chego ao ponto, abro no computador uma página do Cubase Áudio e coloco a primeira idéia que me veio à cabeça, sem edição. Aí adiciono a bateria, o baixo, algumas harmonias, e se alguma coisa vale a pena ser trabalhada, ela se mostrará por si mesma. As letras vêm por último, mas eu normalmente tenho alguma idéia do que irei escrever enquanto estou criando a faixa musical. O processo em si é rápido e furioso. Eu tento não olhar para trás ou fazer auto-críticas enquanto trabalho.

PPS: Seu maior sucesso comercial foi uma co-autoria na música do Mr. Big “To Be With You” – que alcançou o número um da parada da Billboard e lá ficou por três semanas. Você tem algum tipo de desapontamento por nenhuma de suas canções pop perfeitas jamais terem conseguido o mesmo feito?

Grahame: Ter um hit no topo das paradas é mais do que estar no lugar certo na hora certa. Todas as estrelas têm que estar em alinhamento. Não existe rima ou razão para uma canção se conectar com o público. Às vezes simplesmente acontece. Neste exato momento existem milhares de canções que potencialmente poderiam atingir o número um, incluindo aí várias minhas.
Por isso, eu estaria mentindo se dissesse que não gostaria de ter outra canção número um. Mas a verdade é que isso nunca foi uma prioridade. Eu me tornei um compositor por que tinha necessidade de me expressar. Nunca teve a ver com dinheiro ou fama. Ironicamente, às vezes, essa é a fórmula exata para o sucesso.

PPS: Você já esteve em uma grande gravadora, e parece que a coisa não funcionou. Fale-nos a respeito de Shout Heard Round The World – The Lost EMI Album.

Grahame: Sim, eu tive um contrato com a EMI. Shout Heard Round The World foi o fruto do meu trabalho. O álbum foi gravado em Nova Iorque com vários membros da banda de Nick Lowe e o guitarrista dos Pretenders, Billy Bremmer.
Foi um desastre desde o início. Acho que o álbum por si só conta a história. Qualquer um que conheça minha música e do que eu era capaz naquela época, perceberia que algo estava terrivelmente errado. Acredito que eu ter abandonado o controle da direção e da produção foi um erro. Eu achei que talvez ainda fosse muito inexperiente para me auto-produzir. Olhando para trás, meu único verdadeiro arrependimento foi não ter gravado no Studio Two de Abbey Road, como a EMI havia sugerido. Suponho que todos nós cometemos erros.

PPS: Você tem diversas canções em trilhas de seriados de TV ou filmes para o cinema. Hoje em dia, estes são os melhores meios para vender sua música?

Grahame: Para mim a melhor maneira de vender minha música é simplesmente chegando à maior quantidade de ouvidos possível, e vendo em quais situações posso apresentar-lhes as canções. Alguns anos atrás, eu fui bastante criminoso com respeito à promoção do meu trabalho. Este ano pretendo mudar isso.
Sobre a TV e o cinema, faz tempo que não os procuro. Eu sei que, para alguns, ouvir sua música na televisão é sentir-se como o ‘rei da cocada preta’, mas eu realmente não tenho qualquer admiração por Hollywood. Hollywood não me impressiona. Além disso, atualmente, os royalties são risíveis se comparados com tempos atrás. Isto apenas não tem valor no tempo, a não ser que você seja todo ego.

PPS: O álbum Emitt Road é uma homenagem ao cantor/compositor Emitt Rhodes e ao disco dos Beatles Abbey Road?

Grahame: Na verdade, não. Por causa da grande quantidade de ouvintes que disseram que meu som seguia na mesma linha dos Beatles e de Emitt Rhodes, eu achei que poderia ser um título de álbum com um certo humor. E isso foi tudo. Gosto muito dos dois primeiros álbuns de Emitt Rhodes, mas não acredito que ele seja uma influência. Qualquer similaridade não é intencional.

PPS: Pessoalmente eu adoro o álbum DT And The Disagreeables. Você poderia falar um pouco sobre suas canções?

Grahame: DT foi um marco pessoal por várias razões. Eu senti que liricamente cheguei a novos terrenos, em canções como “On Your Way Out” e “I Am God” , e que estava sendo mais honesto e auto-biográfico como nunca havia sido nos meus disco anteriores. Também foi meu primeiro álbum onde a bateria estava aceitável. Eu sinto que tudo ali é simples, divertido e com pegada. Meu sarcasmo habitual é evidente, mas um pouco mais sutil que, digamos, em “Perfect Pop Song” do álbum One Brick Short’s.
Uma das minhas favoritas é “We Are Love” . A imagem de “cortando o campo afora / dois contra o vento” é muito poderosa. Se você notar, a maioria das canções não têm a “ponte”. É verso, refrão, verso, refrão, solo, meio verso e fim. Também a introdução de violinos ao vivo e cellos, ajudou este álbum a se destacar do resto. E devo dizer que “Emotions Running Wild” é uma canção que eu gostaria de escrever de novo e de novo.

PPS: Welcome To The Dark Ages seria seu próximo álbum, mas agora você o chama de “álbum abortado” e decidiu vender EPs, no seu site, com sobras (outtakes) da gravação. O que aconteceu? Fale-nos sobre as canções e seus planos futuros.

Grahame: Os planos para minha carreira estão em constante mudança. Eu não sei o que estarei fazendo no minuto seguinte. Originalmente eu planejei lançar Welcome To The Dark Ages por completo em Maio deste ano, mas eu não cumpri essa programação e acabei perdendo o interesse. Não estava inspirado para terminá-lo. Como gostava das quatro canções, resolvi lançá-las neste EP. Existe uma pequena possibilidade que Welcome... seja lançado algum dia. Agora todas as canções estão completas e o álbum só precisa ser mixado e montado.
E, o que vem agora? Nem idéia. Tudo que posso dizer é, continuem checando o meu site.

http://www.davidgrahame.com/



sexta-feira, 6 de julho de 2007

Entrevista Exclusiva: PAUL QUINN do PRIMARY 5!


Alguém uma vez já disse que a vida é uma montanha russa, cheia de subidas, descidas, trancos, solavancos, adrenalina e coisa e tal. Talvez a vida de Paul Quinn não seja exatamente uma montanha russa, mas teve lá seus ciclos bem marcados pela sua diferença de estilos.
Baterista da banda escocesa Soup Dragons, que emplacou no início dos 90 o hit "I'm Free", Quinn foi convidado a entrar na sua banda preferida, o grupo dos seus sonhos: o Teenage Fanclub, onde ficou por sete anos e gravou três álbuns clássicos.

Cansado da vida de ensaios, shows, gravações, mais shows e sem tempo para família, resolveu sair do mundo da música e ter um emprego normal... normal como o de carteiro! Depois de um ano entregando cartas e encomendas percebeu que preferia, em vez de apenas carregar as emoções alheias pra cima pra baixo, ele mesmo compartilharia a suas via música.

Determinado, Paul aprendeu a cantar, tocar guitarra e compor. Montou o Primary 5 com Ryan Currie e já está no segundo álbum. E as canções? Digamos que o Teenage Fanclub tem agora seu verdadeiro "sucessor". Porque, por mais que a crítica relacione o som do Primary 5 com Byrds, Pernice Brothers, Buffalo Springsfield, a essência de compositor de Quinn foi aprendida, absorvida, enquanto era um dos Teenagers. A herança musical está muito clara em cada acorde, cada melodia ou harmonia vocal.

E foi direto da Escócia, que Paul Quinn nos contou com exclusividade todos esses ciclos e o fluxo que desagou no Primary 5, uma das grande revelações do power pop mundial dos últimos anos.

Power Pop Station: Você esteve no Soup Dragons – que atingiu o topo das paradas em todo o mundo com o mega-hit “I’m Free”. Fale-nos sobre sua experiência na banda.

Paul Quinn – Eu tive bons momentos com o Soup Dragons, principalmente com Jim e Sushil, mas o grupo teve um fim melancólico e por isso é uma banda de que eu particularmente não gostaria de falar a respeito.

PPS: Depois disso, você entrou no Teenage Fanclub, gravou os álbuns Grand Prix, Songs From Northern Britain e Howdy. Como e porque veio o convite para integrar a banda? Fale-nos sobre o sentimento de tocar num grupo adorado como o Teenage.

Quinn – Eu entrei para o Teenage Fanclub em 1993, gravei Grand Prix, Songs From Northern Britain, Howdy e a colaboração com Jad Fair chamada Words of Wisdom & Hope, antes da minha saída em 2000. Ser convidado para integrar o Teenage Fanclub foi um sonho realizado, já que era, verdadeiramente, minha banda favorita – e continua sendo. Conheço Norman (Blake) a maior parte da minha vida, nós dois somos de Bellshill, uma pequena cidade localizada 12 milhas a leste de Glasgow, então, antes de mais nada, Norman é dos meus melhores amigos e ainda continuamos sempre nos vendo e falando. Acredito piamente que se eu não tivesse entrado no Soup Dragons, em 1989, eu teria sido o baterista original do Teenage Fanclub. Eu toquei em dois shows com o Boy Hairdressers - banda pré-Teenage Fanclub – junto com Norman e Raymond (McGinley). Mas, estupidamente, decidi ser leal ao grupo que eu tocava na época com Raymond Boyle, que acabou indo tocar no Eugenius (banda do Eugene Kelly). Aí fui convidado a entrar no Soup Dragons e, menos de um ano depois, Norman e Raymond começaram o TFC.

PPS: Em 2000, depois de deixar o Teenage Fanclub, você decidiu abandonar a música e tentar outros tipos de trabalhos – como o de carteiro! Como foi ser um carteiro depois de tocar em duas grandes bandas de rock?

Quinn: Após deixar o TFC em 2000, resolvi dar um tempo, seria meu primeiro período de descanso em mais de dez anos, já que estive tremendamente ocupado e pouco aproveitei ao lado da minha esposa e dois filhos. Minha filha mais nova nasceu em 1999 e quase não a via por conta dos ensaios e pré-produção de Howdy, então, quando terminamos Howdy, dei uma parada e comecei a pensar em ter um trabalho normal. Trabalhei como carteiro durante um ano e, para ser honesto, odiei! As únicas coisas boas de ter sido carteiro foram as pessoas e colegas de trabalho formidáveis que conheci e a canção “Mailman”, que escrevi em dez minutos em uma manhã enquanto fazia minha ronda. As palavras em “Mailman” resumem perfeitamente, para mim, o que é ser um carteiro. Eu nunca me vi como um tipo de “rock star” ou sendo diferente das pessoas que têm um trabalho normal - desses com jornada de 9h às 17h – então, essa transição não foi tão difícil, é a vida e você tem que estar preparado para essas coisas, eu estava e agradeço por ainda estar.

PPS: E aí você tomou o caminho inverso: voltou para o mundo da música. O que aconteceu?

Quinn: Basicamente escrevi algumas canções e depois do feedback dos meus amigos sobre essas composições, decidi me concentrar em gravá-las. Então, não foi uma coisa que eu tenha planejado fazer depois de sair do TFC. Simplesmente aconteceu.

PPS: Você sempre tocou bateria, e, eu acho, nunca tinha composto ou tocado guitarra antes. E o Primary 5 revelou ao mundo um talentoso compositor de canções pop. Conte-nos sobre esse processo de mudança e seu novo relacionamento com a música.

Quinn: Muito obrigado, é muita gentileza da sua parte. Eu realmente adoro tocar bateria e nunca tive o desejo ou a necessidade de escrever canções, estava feliz com minha contribuição para as canções de outras pessoas, me satisfazia criativamente. Eu também sentia que estava levando para a música alheia, especialmente no Teenage Fanclub, a base para que ótimos compositores pudessem construir e trabalhar suas canções. Realmente eu gostava do fato do que eu podia oferecer para Norman, Raymond e Gerard (Love), que são compositores individuais com seu próprio jeito de escrever, suas próprias idéias para estruturar e arranjar música, e imagino que acabei absorvendo tudo isso involuntariamente. Suponho que estando em estúdios de ensaio e gravação, escrevendo canções, fazendo discos, tudo me influenciou. Nunca tive dificuldade de escrever as canções que compus, elas simplesmente aconteceram em curtos lampejos e geralmente completadas rapidamente. Não me levo tão a sério como um “compositor” e nunca tive o impulso de “puxar canções pra fora” ou ficar “procurando” por elas ou coisas que normalmente compositores fazem. Eu pego pequenas idéias melódicas e as guardo. Eu não faço demos, deixo meu pequeno Dictaphone (gravador de voz) fazer o trabalho para mim, anotando melodias que podem ser partes vocais, de guitarra ou teclados. Eu percebi que fazer demos de canções tiram o frescor das idéias. Prefiro muito mais ouvir a música no estúdio, quando estamos gravando para colocá-la no disco, o que é realmente empolgante - como se fosse primeira vez que a idéia foi ouvida; era um pedaço de música que transformou-se numa canção.

PPS: North Pole, seu álbum de estréia, foi o resultado da sua primeira parceria com Ryan Currie. O Primary 5 é uma dupla ou, hoje, tem membros permanentes?

Quinn: O Primary 5 sou eu e Ryan, somos nós que tocamos todos os instrumentos, gravamos, produzimos e isso tem dado muito certo para nós. Nós contamos com o incrivelmente talentoso Stuart Kidd, que toca bateria nos shows, faz backing vocals, também toca guitarra, mandolin e teclados. Stuart está conosco há três anos e realmente é parte fundamental no jeito em que a banda soa ao vivo, assim ele é tão importante quanto o quarto “cara” Mickey McKerral. Então, o Primary 5 como banda de estúdio é uma dupla, como banda ao vivo é um quarteto. Confuso, mas funciona conosco.

PPS: Quais as diferenças básicas entre North Pole e seu novo álbum, Go?

Quinn: Eu acho que existem muitas diferenças entres os dois discos, North Pole foi a “curva de aprendizado” para nós dois: eu nunca tinha escrito uma canção, cantado vocais principais e tocado guitarra; era o primeiro álbum que Ryan tinha tocado e gravado, além de ter sido o engenheiro de som. Gravamos em um quarto abandonado de um centro comunitário com equipamento emprestado do Teenage Fanclub, então foi uma gravação genuinamente lo-fi, estilo guerrilha, já que não tínhamos orçamento para a empreitada! Eu estava acostumado em gravar em lugares como The Manor em Oxford (Grand Prix); Ridge Farm/Air London (Songs From Northern Britain); Rockfield (Howdy); Electric Ladyland em Nova Iorque; estúdios famosos e sensacionais, mas, fazendo do nosso jeito, foi excitante e com frescor, sem pressão, realmente formidável. Nós decidimos gravar Go da mesma maneira que North Pole, somente eu e Ryan no estúdio, com a diferença que tivemos recurso financeiro, cortesia do The Scottish Arts Council. Pudemos agendar estúdios apropriados, pudemos masterizar num estúdio de masterização apropriado. Coisas que não tivemos dinheiro para fazer em North Pole. Gravamos no Reeltime Studios em Newarthill, Escócia, exatamente no mesmo quarto em que gravamos North Pole, que na época não era um estúdio de gravação, apenas um quarto vazio e sem uso, antes de tornar-se estúdio, por isso foi tão bacana. Para a finalização e mixagem das gravações, fomos para o Rockfield em Wales. Acho que sonoramente Go é melhor que North Pole, mas continuo achando que North Pole tem um grande encanto no som, e o jeito que foi gravado, para mim, só realça este encanto. Estou realmente feliz com o modo que os dois álbuns soam e acho que em ambos temos algumas boas melodias.

PPS: Conte-nos sobre as colaborações de Norman Blake e Raymond McGinley em Go.

Quinn: Eu decidi perguntar ao Raymond se ele gostaria de ajudar na gravação das guitarras, quando fomos gravá-las. Eu queria deixar o Ryan livre, apenas como um músico sem precisar se preocupar com a engenharia de som. Eu sabia que Raymond diria sim somente se ele realmente quisesse fazer isso, sabia que ele seria absolutamente honesto conosco e claro, sabia que, se aceitasse, traria idéias e conhecimento para as gravações, o que de fato aconteceu. Também queríamos que Raymond tocasse a outra guitarra em “Stars & Stripes”, com seu inconfundível “estilo Raymond McGinley”. E realmente fez um grande trabalho. Eu também havia perguntado ao Norman meses antes de irmos para o estúdio, e quando fomos fazer as partes vocais, sabia que ele nos daria bons conselhos e encorajamento, já que eu ainda não estava confortável com a minha voz. Norman veio e fez um grande trabalho. Trazendo idéias, aconselhando sobre técnica vocal e fazendo alguns ótimos backing vocals na faixa de abertura do álbum “Off Course”. Cara, aquele garoto sabe cantar.

PPS: Quais suas influências do passado e presente? E quais novas bandas você recomenda?
Quinn: Eu gosto e adoro qualquer música que seja forte no quesito melodia. Eu realmente não tenho tempo para música “difícil”, coisas feitas intencionalmente para serem difíceis. Beethoven era fantástico e possivelmente o mais famoso compositor de música clássica orquestral, porque foi o mais melódico, então, gosto de qualquer coisa de Beethoven, Burt Bacharach, BrianWilson, Gram Parsons, Gene Clark, Lennon & McCartney, The Byrds, Roger Nichols, John Williams, Van Dyke Parks, The Left Banke, The Raspberries, The Shins, James Spencer, Ben Kweller, Deerhoof, Bonnie Prince Billy… e a lista vai embora!

PPS: Em Outubro o Primary 5 fará dois shows na Espanha. Qual sua expectativa?

Quinn: Estou realmente ansioso com esses dois shows, acho que a banda que temos agora é a melhor que já tivemos e com mais conteúdo enquanto grupo. Então, como já disse, estou realmente ansioso para ver todos nossos amigos em Andorra (Teruel) e Valencia, será ótimo!

PPS: Atualmente, a música é seu trabalho principal? Quais seus planos futuros com o Primary 5?

Quinn: Eu não tenho quaisquer planos para a banda, nós apenas veremos como as coisas seguirão com este álbum e talvez gravemos um terceiro. Realmente não sei.

PPS: Mande uma mensagem para seus fãs brasileiros, que te adoram por você ser um ex-membro do Teenage Fanclub, mas que te admiram mais a cada dia porque você se revelou um grande compositor.

Quinn: Nunca tive a grande sorte de tocar no Brasil com nenhuma das bandas em que toquei, mas eu espero um dia poder fazê-lo com o Primary 5. Muito amor, Paul.

www.myspace.com/theprimary5

segunda-feira, 2 de julho de 2007

"The Dream Is Saying Goodbye" - THE HAPPY LOSERS!


"The Dream Is Saying Goodbye" foi a primeira canção gravada por um grupo de pós-adolescentes de Madri que nunca havia estado em um estúdio antes. E que 14 anos depois serviu de título para o disco de despedida, que reúne raridades, lados B, covers e celebra a carreira brilhante de retumbantes vitórias sônicas dos 'alegres perdedores'.

Se nunca alcançaram o reconhecimento das massas, atingiram os corações de todos os amantes das harmonias refinadas, melodias doces e arranjos bem cuidados. Fãs de Teenage Fanclub ou Belle and Sebastian setiram-se reconfortados ao som do Happy Losers, que editaram quatro álbuns e diversos singles e EPs. Recheados com o que de melhor o pop espanhol poderia oferecer - mesmo que cantando quase sempre em inglês.

A coletânea The Dream Is Saying Goodbye, mais que um canto do cisne, traz um apanhado representativo - são 18 faixas - de tudo aquilo que não esteve em seus álbuns cheios mas que ajudaram a forjar a identidade da banda. Cronologicamente elencadas, as canções ganham pequenas histórias, no encarte, com deliciosas curiosidades que ilustram e revelam o ambiente em que foram criadas.

Contadas pelo líder Tony Sáenz, as narrativas recordam, por exemplo, o dia em que tiveram acesso aos camarins do Teenage Fanclub, entregaram o single de "Somewhere In Middle Of The Sunday", que continha a cover de "Sidewinder" dos próprios escoceses: "Norman Blake nos agradecia muito enquanto colocava o disco na sua mochila, naquela noite inesquecível". Ou quando depois de se apresentarem no Festimad, comentavam sobre a presença, no público, do ídolo Alex Díez (ex-Flechazos atual Cooper), para logo depois o próprio Alex adentrar o camarim com o EP "Ok" dos Happy Losers nas mãos e pedir: "Vocês podem autografar?".

Obviamente "Sidewinder" e "Quiero Regresar" (dos Flechazos) estão no disco. Também cravaram no disquinho as homenagens a The Jam ("Man In The Corner Shop"; "Pareces Gitana" (dos seminais Los Brincos); "Girl In Golden Disc" dos Records; "Un Nuevo Color" (Mamá); a clássica "Without Reason" dos Blow Pops; o hit "Veo Visiones" (dos também clássicos Los Gritos).

Fora as canções próprias, que entraram em singles ou não foram incluídas nos álbuns completos, mas que mantêm o padrão de qualidade autoral do quarteto madrilenho.
Seu legado estará impresso na história da música independente espanhola e para sempre na memória afetiva dos admiradores da canção pop perfeita.