quinta-feira, 28 de maio de 2009

"Wet Behind The Ears": THE BRASS BUTTONS!

O céu azul se dissolvendo em laranja degradê, o sol espelhado em raios amarelos no verde do mar e a brisa fresca que sopra melodias envolventes nos sugerem o encanto mágico da Califórnia. Mas na verdade estamos em Cádiz, Espanha, com o grupo que tirou o nome de uma canção de Gram Parsons: The Brass Buttons. Sexteto que não esconde sua paixão pela música americana, forjada na costa oeste ianque a mais de quarenta anos atrás.

Maria Palacios, David Ponce, Juanlu González, Antonio Serrano, David Gómez e Victor Navarro (mais Maria Del Mar cantando em quatro faixas) em seu álbum de estreia, também adicionam à mistura sônica os onipresentes Beatles, os fundamentais Byrds e os atuais Teenage Fanclub e Jayhawks, chegando a um country alternativo extremamente pop e contagiante – mais conhecido como americana. Harmonizações vocais perfeitas, guitarras brilhantes e melodias ganchudas impregnam todas as canções de Wet Behind The Ears.

Que abre com a sensacional “American Dream”: o vocal doce de Maria Palacios lapidando a melodia memorável e se desdobrando nas harmonias angelicais do refrão; guitarras distorcidas duelando com bandolins – onde o country encontra o rock e soa pop. “Hollywood Song” traz guitarras acústica e órgãos em clima macio e “For The First Time” atesta a capacidade do Brass Buttons para produzir canções pop perfeitas.

A preocupação com os arranjos aparece transparente no trabalho de guitarras de “Buenas Noches Califórnia”. Já a canção título vem com violões, bandolins, sons de metais, órgãos e ‘uh-uh-uhs’ desaguando no belíssimo e colante refrão. Depois do agradável country acústico de “Roses On The Air” vem o riff e os dedilhados Rickenbaker da grudenta “Rescue Me”. A retrô “Regrets” emula Roy Orbinson – com a participação de Nacho Fernandéz nos vocais - seguida da beleza acústica da balada “I Can’t Sleep”. Fecha o álbum a cativante “Seventeen Girl” e seu refrão adesivo de alto potencial pop.

Wet Behind The Ears engendra tão bem as sonoridades californianas, que parece retroagir até muito mais que os anos sessenta: temos a impressão que, aqui, a Califórnia ainda é território espanhol.

www.thebrassbuttons.com
www.myspace.com/thebrassbuttonsband

segunda-feira, 25 de maio de 2009

"Shaking Hands": SUINAGE!

Não é fácil identificar exatamente até onde chegam os tentáculos do power pop. Apesar de toda a crítica especializada ter considerado Shaking Hands um álbum do estilo, não acho que possa ser encapsulado aí. O power trio de Milão certamente flerta com o pop poderoso, mas também escapa para outras vertentes. Principalmente pela virulência dos vocais e guitarras de Pilli Colombo, a agressividade da bateria de FlavioTorzillo, acompanhados pelo baixo de Ariel Dotti. Em seu álbum de estreia – depois do EP 99 Things I Ignore - , os italianos podem de ir de Elvis Costello a Buffalo Tom, de Replacements a Husker Dü.

As guitarras incendiárias e o vocal áspero de Colombo abrem o disco com “Toothbrush”. “Don’t Pass Me By” equaliza vigor rocker com melodias pop e “All Eyes On Me” diminui o ritmo entrando na seara de timbres e harmonias do power pop. “July” permanece nos domínios pop com a boa trama vocal e melódica de Pilli. Os riffs invocados de “For A Second” não intimidam o refrão colante e “Blacklist” traz maciez, harmonizações vocais e outro refrão ganchudo – aqui eles são power pop!

Em “Dave” a fúria do power trio assusta; mas a levada em “Chump”, “Underneath The Leaves” e “Spellig Lessons” mostra que no fundo os rapazes gostam é de uma boa canção pop. A faixa título confirma a duas facetas de Pilli que hora se esguela em números de rock selvagem, hora amacia em peças pop cativantes. A intensa balada de batida marcial “There’s No Time” encerra o álbum constatando a versatilidade e a gana dos milaneses na composição de seus petardos sonoros.

www.myspace.com/suinage

quinta-feira, 21 de maio de 2009

"Knackered": THE TEARAWAYS!

Quando o único membro vivo do Badfinger Joey Molland foi convidado a tocar as músicas do seu ex-grupo no Mathew Street Festival, Liverpool, do ano passado, ele se lembrou do grupo que havia, um ano antes, naquele mesmo palco, executado com maestria as canções dos precursores do power pop. E a banda era o The Tearaways, veteranos de Santa Barbara, Califórnia, que agora nos apresenta seu novo EP, Knackered.

Greg Ballier, Dave Hekhouse, Fin Seth, Perry Benenati e Jesse Benenati, pautaram mais de duas décadas de carreira pela paixão pelos sons sessentistas, pelo cuidado no preparo de perfeitos ganchos melódicos e intrincadas harmonizações vocais, sem perder o vigor na pegada rocker. E assim mantêm-se neste EP: a faixa título valoriza as guitarras e o andamento clássico do rock’n’ roll, sem firulas nem mais-mais.

Já “Not Gonna Make It” é uma peça pop recheada de harmonias vocais, com violões, teclados, e um refrão auto-adesivo. Joey Molland também poderia tê-los chamado por conta desta aqui... “Under The Bus” traz instrumental energético ao mesmo tempo palminhas e vocais harmônicos. De bônus, a bela reprise acústica de “Not Gonna Make It”.

www.tearaways.com
www.myspace.com/tearaways

segunda-feira, 18 de maio de 2009

12 Songs Or Less": ARAN SHAWCROSS!

Até onde pop riders como nós estão dispostos a ir em busca da canção pop perfeita? Tesouros enterrados em ilhas perdidas, pérolas encerradas sob águas marinhas, gemas encravadas no seio da terra, não importa aonde se escondam, nós iremos encontrá-las. E, dessas jóias pop, só queremos o bem-estar que elas podem proporcionar, extrair o princípio ativo que alivia nossa alma. Assim, colocamos sob o sol para ver como essa pedra preciosa – encontrada na Irlanda do Norte e chamada 12 Songs Or Less - reflete a luz.

Aran Shawcross é o artesão que lapidou as gemas pop do álbum: compôs todas músicas e tocou todos os instrumentos. Se inspirou em mestres como Paul McCartney, Brian Wilson, Todd Rundgren para talhar peças sonoras que beiram a perfeição pop. Não há pretensão aqui maior do que o amor de Shawcross pela melodias envolventes e bem construídas. Ou poder perguntar a você qual a sua verdade, já que a dele está aqui, aberta, sincera, embalada pelas mais cativantes canções.

E ele já te diz tudo o que não é na abertura em “Everything I’m Not”, e, ao mesmo tempo ao que veio: um incrivelmente adesivo riff de guitarra, com uma harmonização vocal celestial por cima, inicia a canção. Clima emocional, melodia memorável que soam como um copo d’água no deserto depois de dias à procura de um tesouro pop. “She Is Leaving” chega com batida sedutora e te aprisiona num refrão absolutamente adorável e grudento: você tem 3 segundos pra memorizar e cantar junto.

E a profusão de pops perfeitos continua. A balada ao piano “All We Need To Know” soa clássica e bela e “If You Fell Like Falling In Love” traz uma progressão de acordes ganchuda que sempre emociona os power poppers e mantém seus dedos no repeat do CD player. A doce “The Only Thing That Matters” ensina o que é um chorus colante e a beleza de “Stop Breaking My Heart” mostra o domínio de Shawcross em equalizar timbres de guitarra com o som de órgãos. Aran encerra o álbum com voz e piano, na bonita “Here Comes That Feeling Again”.

12 Songs Or Less atesta que o verdadeiro pop não tem parentesco com o comercial e o descartável. Não se encontra nas gôndolas dos supermercados da música e o seu grau de pureza não tem haver com seu desempenho nas paradas de rádio. O que seria até natural se os conceitos dessa indústria não tivessem tratado de distorcer os valores intrínsecos à canção pop. Mas se assim o fez, assim os transformou em elementos raros – não em produção, mas em exposição – e, por tabela, nos criou, os pop riders, que andam pelo mundo à caça da canção pop perfeita.

www.myspace.com/aranshawcross
www.power-pop.co.uk

quinta-feira, 14 de maio de 2009

"O My Stars": THE WEIGHTLIFTERS!

A percepção da beleza pode ser uma experiência espiritual, especialmente se nos for soprada por uma conjunção de notas e progressões de acordes consideradas perfeitas pela nossa sensibilidade. Por vezes pode ser uma sensação universal ou singular, mas que parece intrínseca à memória afetiva da humanidade. As sonoridades que se acoplam com perfeição à sua bagagem musical e cultural e te servem com doses massivas de bem-estar.

Assim funciona o mini-album O My Stars, segundo dos Weightlifters – na verdade projeto do cantor-compsitor de Chicago Adam McLaughlin. E ao saber as principais influências es referências de McLaughlin – Elliott Smith, Big Star e Teenage Fanclub – pode-se ter ideia de por andará nosso conceito de beleza sonora nesse disco. E não é porque as canções trilham caminhos reflexivos, melancólicos ou tristes que não haja alegria aqui. Porque cada nova bela melodia traz a felicidade que procuramos nas rádios do dia-a-dia e não encontramos. Cada acorde inspirado nos leva diretamente a fontes de prazer indescritíveis e nos arremessa a uma espécie de universo paralelo – onde a dor pode entrar, mas nunca irá prevalecer.

A voz doce, macia e reconfortante de McLaughlin – mas que às vezes parece tanto reconfortar como pedir conforto, assim com a de Elliott Smith fazia – também é ponto fundamental para dar aura de pureza às canções. Que têm início com a onírica de título sugestivo e refrão tocante “Perfect”. A guitarra acústica cheia de efeitos prepara o clima para o vocal de Adam na viagem western-espacial de “Bygones”. A melodia perfeita de “Belle Of Wrecking Ball” contagia os sentidos e revela a herança luminosa do Teenage Fanclub. E a beleza se materializa e se entranha imediatamente nas fibras do coração: “To Be A Killer” – a canção mais bela jamais escrita por Elliott Smith.

Como sirenes afinadas, guitarras anunciam “Battlesong”, suas harmonizações vocais e refrão adesivo – lembrando aqui muito outro Adam - Daniel. A balada acústica “Whys And What Fors” vem adornada por órgãos, soando forte nas mudanças de ambiência durante seus mais de quatro minutos. “In The End” valoriza os violões da música tradicional americana, olha para as estrelas, na despedida, a tempo de ainda admirar a maravilha que há em tudo: “O my stars, my stars/ The wonder of it all”. As palavras de Adam agora são as nossas.

www.theweightlifters.com
www.myspace.com/theweightlifters

segunda-feira, 11 de maio de 2009

"Album # 1": THAT SATISFYING CRUNCH!

Do frio canadense vem Timothy Cameron descendo ondas imaginárias recheadas de riffs ensolarados e melodias instrumentais empolgantes. Seu guitarrista, também imaginário, já que é ele mesmo, Baron Von Rickenbaker, não economiza nas timbragens aprendidas com a surf music sessentista e seus ícones The Ventures (mais conhecidos no Brasil pelo tema de abertura do seriado de TV Hawaii 5-0).

Álbum # 1 traz sete músicas instrumentais, compostas e executadas por Cameron – que também lidera o grupo T.C Folkpunk. “The Age Of Nefarious” abre o disco colando seus riffs cativantes no cérebro do ouvinte e convidando à diversão em uma manhã de verão. O título bem sacado de “Jpegs Of Lily” (em clara referência ao clássico do The Who “Pictures Of Lily”) já valeria a canção.

Segue a seqüência de temas como uma série de ondas perfeitas no Havaí: “Fossil Fools”, “Someone Once Said”, “Whatta Mess”.“Whisky Business” poderia musicar uma divertida perseguição nas ruas de Malibu e “Balaclava” trilha sonora para surf riders reverem suas melhores ondas, nas mais belas paisagens acompanhados das mais bonitas garotas.

www.myspace.com/thatsatisfyingcrunch

quinta-feira, 7 de maio de 2009

"Beatlesque One": ALAN BERNHOFT!

Não vamos aqui reivindicar posição relevante em parada de sucessos. Nem reconhecimento de crítica e público. Muito menos sucesso de vendas mundo afora. Até porque nem é o objetivo primordial desse projeto. Vamos apenas celebrar a homenagem a um estilo de composição imortalizado pelos Beatles. Como o nome indica, Beatlesque One é uma coleção de canções, ao estilo dos fab four, criadas pelo músico, compositor, ator, produtor e escritor de roteiros, Alan Bernhoft. O americano da Califórnia juntou faixas de projetos, como o filme Desperately Seeking Paul McCartney e do seu disco infantil Playdate, para apresentar sua expertise em recriar, em composições próprias, a aura inigualável dos anos 60.

Bernhoft tocou os instrumentos, gravou e produziu todas as faixas em seu estúdio AIM. Conseguiu a sonoridade exata das bandas sixties, com uma perfeita produção instrumental e vocal. Penetrou os meandros das tramas melódicas e métricas do pop sessentista e produziu algumas das pérolas mais preciosas dos anos sessenta não-nascidas nos anos sessenta. Se algumas canções podem soar como mera homenagem aos Beatles, outras poderiam ter sido gravadas por eles e estar no panteão de clássicos eternos.

A faixa de abertura, a energética e juvenil “Keep Your Hands Off My Baby” emula com perfeição a primeira fase dos Beatles. A linda “Magic Everywhere” é uma preciosidade que não vai importar se foi composta ontem ou se é sobra de Rubber Soul. “Someday” chega quicando na batida do piano, com progressões de acordes que arrepiam qualquer power popper e um refrão absurdamente memorável – difícil acreditar que não foi escrita pela genialidade de Paul McCartney. Seria hino dos anos 60, teria aos seus pés os topo das paradas e os tiozinhos cantariam até hoje, com lágrimas nos olhos, se lembrando dos amores de verão: “Sunshine Girl”.

Escrita para crianças, “Playdate” exala ingenuidade e beleza melódica e é outra que revive a fase ‘yeah, yeah, yeah’, dos Beatles. “Winter Ocean Mary Go Round” viaja ao mundo psicodélico de Jonh Lennon e, a adorável “Springtime Love”, encanta na melodia e harmonias vocais celestiais, lembrando que os Beach Boys também foram ícones sessentistas. Beatlesque One nos faz sentir falta de uma época em que não vivemos; e agradecer pelo interesse de contemporâneos talentosos, como Alan Bernhoft, em perpetuar a arte da verdadeira canção pop.

www.alanbernhoft.com
www.myspace.com/beatlesque1

segunda-feira, 4 de maio de 2009

"Somewhere Else": STEPHEN LAWRENSON!

A maestria pop do americano Stepehen Lawrenson transformou os últimos cinco anos em longa espera. Desde seu álbum de estreia, Every Summer, não se ouvia nada vindo da pequena cidade de Susquenhanna, Pennsylvania. E, em meio ao mar de artistas independentes que povoam o mundo musical – seja real ou virtual – Lawrenson volta com seu timbre inconfundível, sua heróica Rickenbaker e suas gemas de esmerada lapidação sessentista. Em Somewhere Else, Lawrenson tocou todos os instrumentos, fez todas as vozes e ainda produziu o disco.

A instrumental e climática “Theme From Somewhere Else” abre álbum, com pianos, órgãos e guitarras épicas. “Let’s Go” chega afiada no riff de guitarra e já apresenta as credenciais de Stephen nas melodias ganchudas e harmonias vocais bem cuidadas. Guitarra acústica para a beleza clássica de “Home To Me”, que se composta por George Harrison seria imortal em rádios e corações. O órgão barroco carrega o ouvinte na flutuante “Anybody Else”, e a brilhante sonoridade da Rickenbaker leva até o refrão memorável de “Faith In You”.

A balada “Sucess” exalta que “aprendemos mais com nossos fracassos que com nosso sucesso” e a bucólica e belíssima “Mother Nature’s Daughter”, não esconde a fixação de Stephen Lawrenson pelos Beatles. Com uma intro instrumental dos deuses, a vinheta/interlúdio “Backyard Riverside Stargazer’s Club” antecede a pérola pop “Hey!”. “Truth” embala sonhos ao piano e na sua ambiência envolvente e “Something I Can Hold On To”, salpica o ar de poeira cósmica e reconforta na voz melódica e doce de Lawrenson. O artesão que consegue talhar a obra com técnicas alheias e conhecidas, mas que no fim consegue um resultado único e particular.

www.stephenlawrenson.com
www.myspace.com/stephenlawrenson