quinta-feira, 28 de agosto de 2008

"Johnny Cake And The Moonpies": MARMALADE ARMY!

Quarenta anos nos separa da era de ouro da psicodelia. Uma época onde as percepções eram alteradas quimicamente e se trabalhava com os estados alterados da mente. Mesclado ao pop e ao rock, o psicodelismo expandiu a criatividade das músicas e atingiu paisagens nunca antes exploradas. Rompeu barreiras temporais e continua influenciando artistas que vieram ao mundo muitos anos depois. É sempre interessante perceber que bandas contemporâneas continuam resgatando essas sonoridades e as mantendo viva para as novas gerações.

E essa é a proposta do quarteto de Boston Marmalade Army: homenagear nossos heróis sessentistas, mostrando a quantas anda a visão da nova juventude em relação ao seu precioso legado. O espírito Beatles e seus Sgt. Peppers e Magical Mystery Tour e, Beach Boys e seu mestre Brian Wilson, aparecem por todo este Johnny Cake And Moopies. Ecos de outros lumiares da psicodelia pop sessentista também podem ser ouvidos no álbum de estréia do Marmalade Army.

Já na abertura, as cítaras indianas dão o ar da graça na intro “Welcome To The Army”. Em seguida a bela “Flower Girl” traz instrumentações oníricas na melhor escola Brian Wilson. “She’s My Dream” começa com um riff baseado em “My Sweet Lord” de George Harrison e a singela e doce “Garden Of My Mind” atesta o traquejo pop dos Marmalades. “2BW” revela fácil, nas sonoridades, o que letras e número querem dizer: To Brian Wilson.

A faixa título vai das harmonias vocais dos Beach Boys, passando por uma batida reggae até o refrão à la Paul McCartney. Encerra o disco a beleza melódica de “It’s Rainning Again”, com seu chorus grandioso e memorável. Depois de tantas referências de décadas passadas - e a discussão sobre a validade de uma banda soar como se estivesse em 1968 estando em 2008 – uma pergunta: você pode enxergar a instigante ironia no nome da gravadora do Marmalade Army? Modern Artists Records.

www.myspace.com/marmaladearmy

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"Sunday Best": BRYAN ESTEPA!

A tela em branco que se oferece na capa da Sunday Best é preenchida com o rosto de Bryan Estepa. Porque a obra é ocupada, em todas as suas frações, pela forte marca autoral do australiano de Sydney. Feições traduzidas em violões folk contundentes ou profundas harmonias vocais. Canções emocionais sem nunca perder o carisma pop. Assim segue Estepa em seu segundo álbum solo.

Sunday Best mergulha fundo nas convicções de Bryan e torna-se de fato mais denso que seu álbum anterior, o já clássico All The Bells And Whistles. E se pode soar mais denso, por certo mais melancólico também. No flerte com o alt. country e folk, inclui-se o brilho do sol californiano, com quem a ensolarada Austrália sempre se identificou.

Na abertura, em “Aches And Shakes”, Estepa já mostra sua personalidade na voz. Violões guiando, órgão pontuando e harmonias vocais voando. A luminosa “Different With You”, com suas guitarras brilhantes e refrão colante empolgam. Enquanto a bela “Carl Wilson” emociona na homenagem ao irmão mais novo de Brian Wilson. “Roses” vai da batida swing à aos ‘tchu-tchuru-tchus’ pop e, a acústica “Stars”, sopra macia a brisa folky.

E mesmo em ambiências macias como “I’m Going”, Bryan olha fundo nos olhos, e canta com tremenda persuasão íntima. Em “Myself” as guitarras inflamam, a batida acelera e Estepa continua convincente como sempre. “Skipping Days” exercita a capacidade do australiano de compor canções pop, simples e agradáveis, na linha dos mestres Teenage Fanclub. A balada acústica “Worry Me Alone” traz violinos tristonhos e aquele clima solitário de garrafa de Jack Daniel’s vazia em cima de um piano silencioso. “Second Guess” vem com voz e violão – e um teclado de fundo – explorando paisagens plácidas à la Elliott Smith. A canção título encerra montando o último fragmento sonoro de um mosaico que, em perspectiva, forma a imagem de Bryan Estepa.

http://www.bryanstepa.com/
http://www.myspace.com/bryanstepa

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

"Armchair Oracles EP": ARMCHAIR ORACLES!

Afortunadamente as boas melodias continuam voando soltas pelos continentes do planeta. Descompromissadas com nacionalidades, climas, culturas ou economias, elas simplesmente flutuam na atmosfera e esperam ser captadas pela sensibilidade humana. E as deste EP, foram absorvidas em solo norueguês por Atle Skogrand, o líder do trio Armchair Oracles.

Que apresenta seu primeiro EP com quatro canções emocionais, repletas de sonoridades dos 60 e 70 e, que na verdade, soam como melodias clássicas, já impressas no código genético da humanidade. Highways que levam direto às nossas alegrias ou frustrações, afloram sentimentos soterrados pelo peso da realidade.

Como a faixa de abertura “Never Enough”, de beleza cortante, que pode dominar pelo tom melancólico ou entorpecer pela melodia celestial. Uma clara herança de Big Star e Chris Bell. Guitarras mais contundentes e refrão macio, como os do soft rock setentista, em “I’m Afraid I Don’t Know Who You Are”. Lembra Chewy Marble.

Em “In The Gamble” brilham as timbragens Rickenbaker, ambiências sessentistas, e a onipresente influência beatle. E, fechando o EP, a belíssima e triste “Dreams Ate Their Way Through Our Mind”, com seus acordes mais uma vez inspirados em Big Star e Chris Bell. Tomara, em breve, um álbum cheio do Armchair Oracles venha nos mostrar sua nova coleção de melodias colhidas no ancestral inconsciente humano.

www.myspace.com/armchairoracles

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

"Backward Forever": ANY VERSION OF ME!

Ele não tem disco lançado fisicamente. Não é americano nem britânico. Nem ao menos se apresenta com um nome formal – seu nome é uma frase. Mas deixa claro que qualquer versão dele mesmo serve. Para despertar a sua sensacional capacidade em manejar as sonoridades sixties, como se fosse um mestre da época. Melodias inspiradoras, harmonizações vocais celestiais, canções de beleza clássica e atemporal.

Any Version Of Me é o francês de Paris Guillaume, que lançou Backward Forever apenas em formato digital – e alcançou o posto número 56 no Top 100 Albums do iTunes da França.. São dez canções com os melhores ensinamentos de Beatles e Beach Boys plenamente internalizados. Instrumentos vintage e timbragens sessentistas para nos lembrar que não se trata de revivalismo, mas de um estilo eternizado e adorado por gerações após gerações, e que permanece impávido e imune a modas e hypes. E claro, fazendo nossos dias melhores.

“The Good Old Days” abre o disco e não precisa necessariamente nos jogar no saudosismo que o título sugere. Já que a canção é tão contemporânea quanto um bebê de um ano, não importando se remete a sonoridades passadas. Não podemos sentir saudades do que não vivemos – não pelo menos se as algumas das melhores coisas podem ser reproduzidas, aqui e agora. É o piano que pontua suave, a voz de Guillaume que acaricia os ouvidos na melodia doce da canção. Segue a balada reflexiva impregnada de sentido pop “More”, que antecede a belíssima e triste canção ao piano “Tonight”, cheia de acordes na melhor tradição Beatles/Paul McCartney.

Seguindo a linha do pop orquestral, “I’m Not Such a Lover” traz refrão memorável. A batida e melodia irresistíveis de “Mrs. Alpert” poderiam estar tranqüilamente no álbum branco dos fab four. Mais uma levada ao piano – na verdade uma constante no álbum – no andamento de valsa da singela e emocional “If You Let Him Down”. A acústica “Wait” vai macia no violão ladeado pelo órgão sutil e com harmonias vocais à la Simon & Garfunkel.

A animada “Something’s Gonna Happen” faria parte, com mérito, do arsenal de canções da British Invasion, enquanto a magistral e emotiva “Take Some Time”, soa como uma parceria eterna entre George Harrison e John Lennon. “All I Will Keep from You” recheada de inspiração luminosa de Brian Wilson e Beach Boys fecha o álbum digital. Backward Forever é uma “antiguidade moderna” que, se ainda não está registrada em versão física, já está impressa na nossa afetiva coleção de clássicos álbuns.

www.myspace.com/anyversionofme
www.virb.com/anyversionofme

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

"Here We Go!": THE GALAXIES!

Se o power pop fosse uma galáxia, a Califórnia seria o centro. E Los Angeles a estrela mais brilhante. Apesar de nos últimos anos constelações inteiras estarem aparecendo em áreas “periféricas” e se aproximando da “região central”, cada vez mais, tanto em quantidade quanto qualidade. A forte tradição californiana, de décadas, no jingle-jangle, nas sonoridades Rickenbaker e canções ensolaradas, acabam impressas naturalmente nas bandas locais. Uma capacidade quase inata, uma adaptação espontânea.

Nesse ambiente surge o The Galaxies, natural de Los Angeles, apresentando seu disco de estréia Here We Go! O power trio (que ao vivo vira quarteto) - liderado pelo guitarrista e vocalista Bobby Cox e completado pelo baterista Charles Molinari e o baixista Will Mac Gregor – não se furta ao seu ‘sagrado direito californiano’ de dar ao mundo canções luminosas, potentes e melódicas. Sonoridades clássicas, do sixtie pop ao power pop do final dos 70, início dos 80, recheiam as nove canções de Here We Go!

“Here We Go Again” abre o disco com um riff cru, soando como um clássico oitentista na linha do The Records e bandas afins. Já “You Promised” encanta nos acordes altamente melódicos, vocal amigável de Cox e refrão memorável. Guitarras rock para melodias pop imersas em belas harmonizações vocais: “Baby I Believe” e “Forget Me Not”. O toque bluesy vem em “Forevermore” e suas guitarras hiper-ativas.

Amor ou desilusões amorosas estão por todo o disco, mas nunca caindo na melancolia. “We Go On” continua seguindo pelos riffs potentes e explode no refrão rock de arena. A adorável “Lost And Lonely” traz um leve toque caribenho ao seu auto-adesivo refrão. “Love Has Found Me” é doce canção pop que poderia estar em paradas de sucesso por todo o globo. O soft rock, com acento rural americano, “An Ocean Between Us” encerra Here We Go!, deixando a impressão que, hoje, o celeiro de bandas power pop espelha o universo: infinito e sempre em expansão.

www.thegalaxiesband.com
www.myspace.com/thegalaxies

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

"Schmancey": FANCEY!

Houve uma canção, em 2004, que fazia flutuar sob o toque de sua melodia. Trazia profundidade de sensações em sua beleza singela. Recebeu o título de música mais bonita daquele ano – não nas listas de grandes publicações – mas no coração de quem por ela fosse tocado. “In Town” revelava a sensibilidade e maestria pop de um artista que lançava seu primeiro álbum solo e era conhecido apenas como o “guitarrista do The New Pornographers”. Uma estréia magistral do canadense de Vancouver Todd Fancey e sua capacidade em dar frescor às sonoridades consagradas no AM pop, sunshine pop e soft rock setentista.

Quase quatro anos após Fancey, Todd volta com Schmancey – cujo título provavelmente é uma referência ao clássico de Harry Nilsson Nilsson Schmilsson, lançado em 1971. Conta com mais de uma dezena de amigos na gravação, incluindo-se aí Kurt Dahle, dos New Pornographers. Permanece o artesanato de Todd na criação de peças sensíveis e de refinamento instrumental, sempre recheado de pianos, teclados e intrincadas harmonias vocais.

O teclado e voz características de Todd já aparecem macios na faixa de abertura “Witches Night” e dão espaço às harmonizações vocais e pontadas de guitarra em “Lost In Twilight”. O belo chamado na voz angelical de Anastácia Siozos recheia “Call” e os metais e teclados dão suporte para a melodia inspirada de “Bitter Life” e seu magnífico trabalho vocal. Do encontro do soft rock com a guitar steel do country surge “Fader”, com seu refrão memorável e tocante.

“Karma’s Out To Get Me” anima o ambiente para poder exorcizar. “Feels Like Dawn” é quase balada, trazendo os bons ares dos clássicos anos 70. Assim como “Heaven’s Way” e “Downtown II” levam aos céus das boas sensações através das melodias perfeitas e ambiências oníricas. Canções que por vezes são experiências de elevação e dependendo de quem ouve, de redenção. Quase um ensaio espiritual, como “Let The Breeze In”. Mais uma profusão de teclados, pontuados por guitarras e melodias de cerne pop encerram, com “Cross O’ Gold”, o último álbum sob o nome Fancey. Todd prepara o disco do seu novo projeto Solar Convoy – que pelo nome, e primeiras canções, já mostra que a luminosidade criativa do Fancey continuará brilhando.

http://www.fancey.org/
www.myspace.com/fanceymusic