segunda-feira, 26 de abril de 2010

"The Curtain Shop And Alterations": THE RIFFBACKERS!

“Agora é tempo de recomeçar”. A frase que abre The Curtain Shop And Alterations pode parecer genérica se colocada fora de contexto. Mas aqui ela vem carregada de sentido e simbolismo para Fausto Martin e Nacho Garcia. Os espanhóis estiveram no The Winnerys, cujo fim precoce surpreendeu o mundo do power pop e deixou suas viúvas pelo mundo. E o recomeço veio cedo para Martin, que menos de um mês do fim de seu antigo grupo já compunha novas canções.

O sentido de clássico que já permeava a sonoridade do Winnerys permanece no Riffbakers – e as letras em inglês, idem -, mas sob um novo viés. Se antes o foco era o beat sessentista, calcado principalmente nos Beatles, agora fica cristalina a influência setentista no som dos madrilenhos, com referências a The Who, Raspberries, Nick Lowe ou Cheap Trick. Grupos oitentistas também ecoam em The Curtain Shop, como The Knack, Paul Collin’s Beat ou Rockpile.

Lançado de forma independente pelo próprio selo, o Rainbow Lane Records, e gravado no estúdio móvel de Fausto, o álbum surpreende pela boa produção. As guitarras ganham o peso e agressividade quando o rock precisa falar mais alto; as harmonias vocais são leves e doces quando têm de voar sobre o instrumental. Mas se a inspiração para o nome do grupo surgiu de uma Rickenbaker reluzente, o cuidado no entalhe de canções não poderia ser surpresa.

“Não espere por isso, mas as coisas podem mudar”. É a segunda frase de The Curtain Shop And Alterations, já anunciando os novos horizontes pretendidos por Fausto e Nacho com o The Riffbakers pós-The Winnerys. E eis que surge o riff invocado de “Now It’s Fine” injetando adrenalina e pacificando expectativas com a batida envolvente. O forte piano se une ao brilhante dedilhado de guitarra na climática, à la Raspberries, “Do It Again”. Já a batida ‘countryada’ e empolgante de “You’d Do Anything” ainda recebe tratamento especial de um órgão onipresente.

Melódica, ganchuda e energética, a incrível “Sometimes” antecede a ritmada de refrão adesivo “Step By Step”. As reminiscências da infância de Martin aparecem na power-ballad-psicodélica “Rainbow Lane” e, a pegada rocker, domina na irônica e ácida “Stupid Rock Stars Dream”. “Under My Spell” se apresenta macia e animada, em ambiência acústica ao melhor estilo Paul McCartney – não à toa o baixo aqui é um Hofner.

A canção-título soa clássica e vigorosa enquanto a balada acústica “After All These Years” acaricia os ouvidos, como costumava bem fazer o velho Macca. O rock’n’roll “Make Youself At Home” fecha o disco com solo de guitarra cortesia de Otavio Vinck
E se era o passado de Fausto Martin e Nacho Garcia que forçava as altas expectativas, agora é o futuro que se abre aos Riffbackers, porque, neste recomeço, as coisas certamente já mudaram.

http://www.myspace.com/theriffbackers

segunda-feira, 19 de abril de 2010

"Sparks On The Tarmac": D. ROGERS!

Talvez o som descompassado, rápido e solitário da chuva encontrando os vidros da janela nos traga de volta para nós mesmos. Talvez a paisagem enegrecida por nuvens baixas e carregadas de reflexões nos deixe sensivelmente disponíveis a nos perguntar: é isso que queremos? Talvez as lágrimas que despencam dos céus em torrentes impiedosas nos encolha no escuro aconchego do quarto. Ou nos descubra dispostos a dar mais um passo em direção ao brilho reconfortante do sol.

Talvez o som compassado, lento e bonito de Sparks On The Tarmac nos encontrando, diga mais sobre nossos desejos e sofrimentos – porque são essas as canções que queremos. São essas as canções que o cantor-compositor e produtor australiano D. Rogers talhou para nosso deleite em seu terceiro álbum. Folk pop preparado com extrema sensibilidade e amparado por uma profusão de instrumentos, em arranjos que embelezam a simplicidade das canções.

“Poison Pen” abre o disco em clima de reflexão, sobre a base acústica de violões e alguns interlúdios com vibrafones e teclados que soam como flautas. A ambiência delicada de “Worst Of Your Mind” recebe o adorno generoso de violinos e “To England” remete às singelas canções de Paul McCartney nos Beatles, com seu macio dedilhado e a leve batida na caixa sem esteira. A bela e triste “First To Know” tem os clarinetes de Adrian Whitehead, enquanto a linda melodia de “Firing Line” é afagada com carinho pelos violinos de Fi Claus.

A adorável “Knocked Down The House” explora a veia pop de Rogers e simula jogos de metais; já “Away From The Microphones” anima o ambiente com um country pop contagiante. Fecha o álbum, durando pouco mais de um minuto, a belíssima e emotiva ‘voz-e-violão’ “How Unfortunate...”. Tempo suficiente para descobrirmos que, enquanto olhávamos para dentro, lá fora o sol pintou o céu novamente de azul.

www.drogers.com.au
www.myspace.com/drogersmusic

quarta-feira, 7 de abril de 2010

"Identity Theft": BABY SCREAM!

O subir e descer constante de aeronaves designadas apenas por números a cumprir horários não pode contar as histórias de quem elas transportam. Destinos que se cruzam em segundos e desaparecem em rumos desconhecidos nos corredores imensos de qualquer aeroporto internacional. E é entre Buenos Aires, Los Angeles, Londres – ou mesmo Dortmund – que o argentino Juan Pablo Mazzola conta as suas histórias e registra seus caminhos e descaminhos em inspiradas canções sob o nome Baby Scream.

Depois do sensacional álbum de 2008 Ups and Downs, Mazzola retorna com este EP gravado entre Los Angeles e Buenos Aires, abordando climas menos ensolarados que no seu antecessor. Talvez fosse hora de olhar para dentro e saber que as idas e vindas anônimas podem interessar a muita gente. E aqui, de alguma forma, a aproximação de Juan com seu ídolo John Lennon apareceu mais cristalina. Identity Theft traz sete faixas em pouco mais de 17 minutos.

A acústica e reflexiva “Be” abre o disco com os vocais doces porém doídos de Juan, com sintetizador e os backings vocals cúmplices de Muddy Stardust. Levada de valsa para “Dead Woman Walking”, onde Mazzola pode falar de si no timbre de Lennon. A bela e triste “Nicole” equaliza percussão e os teclados para o tom confessional fluir sereno. “Memories” traz um mandolin que parece duelar com um som de cítara simulado, levados pela linha do baixo marcante de Stardust.

A rascante “Underground Blues” distorce a voz de Juan Pablo e não dura sequer um minuto e meio. A tropical e macia “Ojos Orientales” é composição do argentino Rinaldo Rafanelli – que aqui aparece manejando baixo, guitarra doze cordas e backing vocals. Fecha o mini-álbum a versão para “Mucho Mungo/Mt. Elga”, parceria de John Lennon e Harry Nilsson. Não importa se as canções de Juan Pablo Mazzola nascem em frios saguões de aeroportos ou sobre retalhos verdes de alguma nação a 10 mil metros de altura. Elas sempre vão nos levar pra algum lugar íntimo e muito, muito familiar.

www.babyscream.com
www.myspace.com/babyscream