domingo, 30 de setembro de 2007

O garoto prodígio de L.A.: BLAKE COLLINS!



Quando o sonho acabou e a mais influente banda de todos os tempos já não existia, seus integrantes nem aos 30 anos haviam chegado. Mudaram definitivamente a história da cultura pop, da música e do comportamento jovem. Genialidade que mais translúcida ficava pela precocidade. Inspirado pela sonoridade destes jovens de 40 anos atrás, o garoto prodígio de Los Angeles Blake Collins começa a dar as caras.

Quando aos sete anos colocávamos cuidadosamente nosso time de futebol de botão em campo e manejávamos com destreza a paleta em busca do gol, Blake já sabia escolher as teclas certas do piano. Aos oito, empunhávamos o sabre de luz de Luke Skywalker enquanto Blake afinava sereno sua guitarra. Aos 11, íamos extasiados ao ritmo de River Raid, enquanto Blake é quem ditava o ritmo com sua bateria. Três anos depois Blake aprendeu a tocar baixo a começou a compor. Nós devíamos estar em alguma festinha do bairro tentando parecer cool com as sapatilhas do Michael Jackson.

Hoje Blake Collins é um senhor de 23anos. Lançou um EP homônimo onde tocou todos os instrumentos, se autoproduziu e registrou tudo em um gravador de oito canais. Como seus contemporâneos, poderia estar extravasando sua rebeldia no três acordes de uma banda punk. Ou chorando as pitangas em um grupo emo. Mas o compositor americano impõe sua maturidade em canções como “There’s Nowhere Like Here”, onde impregna o ambiente com uma melodia contagiosa e é capaz de soar como um jovem John Lennon. Depois voa com seu banjo bucólico na acústica “It’s Summer Time” em uma declaração de amor singela.

A instrumental “Olive” traz acordes envolventes e não precisa de mais de um minuto e meio para te fazer flutuar e levar até “Time Goes By” onde o cenário é parecido com os pintados pelas bandas da Elephant 6, e onde uma voz amigável e radiofônica parece saída direto dos anos sessenta. “Anticipating Loving You Again” sela com sua suavidade acústica a destreza do multiinstrumentista no manejo das harmonias e melodias de sonho.

Para breve Collins promete seu primeiro álbum, e parece que a responsabilidade de superar as expectativas pesa como uma pena nas costas da sua precocidade.

www.myspace.com/blakecollinsband

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Entrevista Exclusiva: SPLITSVILLE!


Se houve uma banda no mundo capaz de livrar o power pop do seu complexo de underground e alcançar o topo das paradas mundiais, essa banda foi o Greenberry Woods. Nunca o estilo teve um representante tão apto às rádios, ao cinema, às séries de TV, à cultura jovem, sem soar brega ou comercial – apenas jogando com a capacidade da conexão emocional de uma boa melodia pop. Mas, depois de lançar seu segundo disco, em 1995, e obra mestra, Big Money Item, a banda desmoronou pela própria incapacidade de sobrepor as aspirações coletivas às individuais. Acabou alimentando crendices como a “maldição do power pop”, já que, aliado ao forte potencial pop, tinha apelo visual e uma grande gravadora por trás e, mesmo assim, sucumbiu (argumentações que agora provam-se definitivamente falíveis, já que melodias pop podem não ser populares e majors que não apóiam, atrapalham).

Das cinzas do Greenberry (ou na verdade antes delas, como descobriremos na entrevista) os gêmeos Matt Huseman (guitarra e vocais) e Brandt Huseman (bateria e vocais) deram vida definitiva, em 1996, ao Splitsville, adicionando à formação o técnico de guitarra Paul Krysiac (baixo e vocais) e, cinco anos depois, o guitarrista Tony Waddy. Mesmo soando menos pop e mais power que o Greenberry, a banda de Baltimore manteve a habilidade em compor canções de melodias envolventes e refrãos ganchudos. E por mais irônico e contraditório que possa parecer, o Splitsville, no mundo real, chega mais próximo aos desejos da juventude moderna em termos musicais - ao forjar seu som com um sotaque punk, menos polido, mais ferino e incisivo - que o antigo grupo dos Huseman.

Com exceção da homenagem ao pop sessentista cristalizada no álbum The Complete Pet Soul de 2001, considerado o ponto alto artístico do Splitsville. Ali o quarteto produziu magistralmente uma sonoridade híbrida entre os clássicos eternos Pet Sounds e Rubber Soul, reproduzindo o clima inventivo e emotivo sem apresentar-se como um pastiche.

Em 11 anos de carreira, a banda americana gravou cinco álbuns cheios e duas coletâneas “com o melhor de”, sendo que a segunda Let’s Go! The Best Of Splitsville acaba de sair nos Estados Unidos e Austrália. Power Pop Station conversou, com exclusividade, com Paul Krysiac, Matt e Brandt Huseman, que contaram os motivos para o fim do Greenberry Woods, opinaram sobre o “fracasso comercial” do power pop, falaram a respeito do processo de criação e gravação da obra-prima The Complete Pet Soul e de seus planos futuros.


Power Pop Station: Que tipo de música a família Huseman ouvia em casa? Quando Matt e Brandt começaram a mostrar suas habilidades musicais?

Brandt Huseman: Me lembro que quando criança eu ouvia muito os musicais da Broadway. O primeiro disco de 45’ que eu comprei foi Sgt. Pepper e Matt comprou um single dos Beach Boys. Nós éramos grandes fãs de Beatles na infância, e meus pais trouxeram as versões inglesas dos discos quando viajaram para a Grã-Bretanha. Também éramos muito fãs do Police. Mais tarde, na adolescência, Matt começou a ouvir Elvis Costello, enquanto eu descobria The Replacements e Hüsker Dü.

PPS: O Greenberry Woods foi uma das maiores bandas de power pop dos últimos 15 anos. O álbum Big Money Item parece até um “the best of”... vocês assinaram com uma grande gravadora (Sire/Warner) e tinham um grande potencial para alcançar o topo das paradas. Mas banda se separou. O que houve?

Brandt: Esta é uma longa e complexa história, e, resumidamente, nós não éramos prioridade para a gravadora e a banda não tinha ainda uma sólida base para ir em frente. É difícil manter uma banda junta com três compositores e sem um líder efetivo – se conseguíssemos ser melhores conjuntamente do que individualmente e acreditado naquilo que estávamos fazendo, provavelmente teríamos superado a falta de comprometimento da Sire/Warner e seguido em frente.

PPS: Fale-nos sobre o processo de transição entre o Greenberry Woods e o Splitsville.

Brandt: Isso é muito simples: um dia, enquanto esperávamos a decisão da Sire sobre onde iríamos fazer o segundo álbum do Greenberry Woods, eu disse ao Matt que poderíamos começar uma nova banda somente para nos divertir. E assim fizemos.

Paul Krysiak: Nós escrevemos todo o primeiro álbum do Splitsville em três ou quatro tacadas. Com Brandt mudando do baixo para a bateria e eu indo da guitarra para o baixo... íamos gravando antes de saber como tocar as canções.

PPS: Quais suas principais influências e referências? E quais novas bandas vocês recomendam?

Brandt: Quando o Splitsville começou éramos unidos pelo amor ao Guided By Voices. Todos nós gostamos de diferentes tipos de música, mas temos muito em comum. Paul nos mostrou o novo álbum do Midlake, do qual gostamos muito. Eu tenho ouvido jazz clássico, então não posso recomendar muitas bandas novas.

Paul: Eu acho que o Who e o Jam também tiveram grande influência sobre nós, especialmente seus primeiros álbuns.
Algumas novas bandas têm tocado bastante na minha casa, como The Decemberists e Arcade Fire – ambos artistas ambiciosos. E tem uma grande banda power pop de Los Angeles chamada The World Record.

PPS: Por que um gênero como o power pop (cheio de ganchos, melodias colantes, harmonias aeradas e guitarras rascantes) não alcança o “sucesso comercial”?

Paul: Por alguma razão, as pessoas parecem sentir que não podem levar o estilo a sério.

Brandt: Provavelmente não é (o power pop) “afiado” o suficiente para a maior parte das pessoas. Na verdade eu também não estou certo do que este rótulo significa...

PPS: Como funciona seu processo de composição?

Brandt: Cada canção é diferente. Escrevemos músicas juntos e separadamente. Algumas nós compomos no estúdio e algumas nós mapeamos cada parte de antemão.

PPS: Na minha opinião o álbum de The Complete Pet Soul é sua obra-prima. Conte-nos sobre o processo de gravação, as músicas, as histórias...

Matt Huseman: Originalmente gravamos as canções “Overture”, “Sunshiny Daydream”, “Caroline Knows” e “The Love Songs Of B. Douglas Wilson” no Invisible Sound Studio, usando o tempo livre da gravação de um anúncio para um jornal local. Ali não houve nada programado, nós só queríamos nos sentir tentando algo diferente. Acho que foi Brandt quem sugeriu a idéia de fazermos um som como os Beach Boys e os Beatles faziam na metade dos anos sessenta, mas não me lembro de nenhuma intenção verdadeira em lançar as músicas. Nosso selo na época gostou muito do trabalho e mandou prensar cópias para serem distribuídas gratuitamente no festival Poptopia, em Los Angeles. Nós chamamos o EP de Pet Soul, como um amálgama de Rubber Soul e Pet Sounds.
Como o disco foi muito bem recebido, nós decidimos suceder Repeater com uma versão longa do EP. Terminamos gravando as faixas restantes no estúdio de Andy Bopp. Ele trabalha rápido e nós queríamos que as gravações tivessem um sentimento de espontaneidade.
Eu peguei canções que já havia escrito e aplicamos à elas uma produção pop dos anos 60. Acredito que Paul e Brandt compuseram especificamente para o álbum.

Paul: Sim, eu acho que Brandt e eu tentamos escrever nosso material especificamente, com o som de Pet Sounds e Rubber Soul em mente. Eu apenas me perguntava como eu comporia se estivesse tentando colocar uma canção em um disco dos Herman's Hermits ou do Association. No caso de “You Ought To Know” tentei imaginar que era uma canção saída das sessões de gravação de Revolver.

PPS: Incorporated, seu último álbum de inéditas (lançado em 2003), alterna gemas pop com canções realmente rascantes. Como a crítica e fãs nos Estados Unidos receberam o álbum?

Matt: Foi bem recebido tanto pela crítica como pelos fãs, mas nós confundimos a todos lançando como sucessor de nossa homenagem retrô aos sixties (The Complete Pet Soul) um álbum que estava mais para o sucessor natural de Repeater.

PPS: Agora vocês estão promovendo seu novo lançamento, a coletânea Let’s Go! The Best Of Splitsville. Fale-nos sobre o disco e onde pretendem levar a turnê. Planos para um álbum de inéditas?

Brandt: Nós estamos sacudidos com a idéia de gravar um álbum com novas canções. Não queremos dar uma data, temos medo de comprometimentos.
Não temos planos para uma turnê americana, mas temos esperança de visitar a Austrália, e possivelmente o Japão, no começo do ano que vem. A coletânea é sólida e uma ótima maneira de se conhecer a banda.

PPS: Uma mensagem para os fãs brasileiros:

Splitsville: Obrigado por ouvir nosso trabalho!!!

http://www.splitsville.com/
www.myspace.com/splitsville

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

"3: The Mordorlorff Collection" - THE KRINKLES! (2)


Há alguns meses atrás, publiquei um comentário a respeito da banda de Chicago The Krinkles, indicando o seu novo disco e dando pistas de como a banda soava.
Mês passado o baterista do grupo Matty Favazza entrou em contato e gentilmente me enviou uma cópia de 3: The Mordorlorff Collection, dando a oportunidade de destrinchar o álbum de forma mais ampla e consistente como você verá abaixo:

3: The Mordorlorff Collection – The Krinkles.

Não é novidade que o maior celeiro do power pop americano - e mundial – é a Califórnia. E dentro do estado mais famoso do Tio Sam, artistas e bandas concentram-se majoritariamente na área de Los Angeles.
A surpresa dessa história fica por conta da emergente e já enorme cena de Chicago: é bem possível que a cidade seja hoje a segunda produtora de power pop nos EUA, com dezenas de novas bandas pipocando a cada instante. E é desse cenário em ebulição que vem os Krinkles e seu esfuziante terceiro álbum.

Dan “The Fox” Edwards (guitarra e vocal), Henry Klotkowski (guitarra e vocal) Jerry Overmyer (baixo) e Matty Favazza (bateria e vocal) mesclam com habilidade suas referências sessentistas e setentistas: chocam a maestria pop dos Beatles com a contundência rock do Cheap Trick; trazem a diversão do glam rock colada em melodias ganchudas e memoráveis. Tudo energizado com 1000 volts de urgência punk, como a empolgante faixa de abertura “Dirty Girl”, que sabe ser agressiva e amigável, tudo ao mesmo tempo agora. Candidatas a hit pululam: são as guitarras rascantes, melodias contagiantes refrãos assobiáveis de “Stay With Me”, “Gimme Gimme”, “I want You” e “Today Is The Day”.

Desaceleram na balada “Blinded By Love”, na acústica “Closer To Here Than There” e contrabalançam “Listen To The Future” com doses iguais de aridez western e adrenalina rocker. Nas faixas bônus as versões demo das poderosas “So... Goodbye” e “Outerspace”; uma cover turbinada de Rick Springfield “Love Is Alright Tonite” e “Blinded By Love” ao vivo.
Se o exemplo de pegada e disposição dos Krinkles contaminar toda a nova geração de bandas vindas de Chicago, o reinado absoluto dos californianos estará correndo sério risco. E a um prazo mais curto do que se possa imaginar.

www.myspace.com/thekrinkles

terça-feira, 4 de setembro de 2007

"Waiting For The Hurricane" - THE RUNAROUNDS!


Muitos puristas consideram o verdadeiro power pop aquele produzido nos anos 70, década do nascimento do estilo. E gostam de dar destaque às bandas surgidas após 1977, quando ao “power” do gênero foi adicionado doses massivas da urgência primária do punk. O que se viu depois foi o choque das guitarras toscas e faíscantes com melodias pop e adesivas; batidas nervosas e aceleradas com coros beirando o celestial.

O resultado dessa trombada sônica ecoa trinta anos depois neste Waiting For The Hurricane, segundo álbum dos espanhóis de Múrcia – e que cantam em inglês - , The Runarounds. Liderados pelo multiinstrumentista Álvaro del Campo (que compôs, gravou, mixou e produziu todas as faixas) o grupo segue na estrada há treze anos, e hoje conta, completando a formação, com Tony Garcia nas baquetas e David Rubio no baixo.

Lançado pelo incansável selo de Madri Rock Indiana, o disco tem energia para iluminar uma cidade de 100.000 habitantes por um ano. Guitarras flamejantes cuspindo acordes simples e diretos de pontaria certeira: suas fibras corporais. É difícil se livrar das melodias grudadas no córtex cerebral e não se impressionar com as harmonias vocais aflorando sutilmente em meio ao poder (quase) onipresente da distorção.

“Estão preparados?” Pergunta Del Campo. “É algo como isso:”. E a pressão sonora de “Where The Sun Always Shines” abre as comportas do álbum de 16 faixas eletrizando o ambiente. Já os refrãos e as harmonias de “Hang On”, “All The Time”, “Comin’ Round” e “Someday” foram feitas para 10.000 vozes em coro. Mellotrons e órgãos Hammond também são ouvidos na ornamentação das canções. Algumas marcadas pelo potencial radiofônico, como “Felicity” e “I Will” ou pelo toque psicodélico na levada, como “Take A Look”. Escondida, a faixa bônus despluga amplificadores, capricha na harmonização vocal e na beleza dos acordes, irradiando força suficiente para iluminar... o seu coração.
www.myspace.com/therunarounds