quinta-feira, 3 de junho de 2010

Power Pop - The Early Years: ARTFUL DODGER! (Parte 2)

Por Daniel Arêas
 
Honor Among Thieves (1976), o segundo disco do Artful Dodger, igualmente como seu predecessor (lançado no ano anterior) recebeu muitos elogios da crítica, e hoje provoca a mesma perplexidade: por que, afinal de contas, não estourou? As possíveis razões – levantadas pelos próprios membros da banda, em retrospectiva – vão desde a troca do produtor (embora Jack Douglas – produtor do primeiro álbum - curiosamente tivesse recebido os créditos, quem realmente produziu Honor Among Thieves foi Eddie Leonetti) até equivocadas decisões na condução da carreira da banda (como embarcar em uma turnê com o Kiss, tocando em grandes arenas, ao invés de ganhar experiência tocando em locais menores).

Um fato que não suscitava dúvidas, porém, é o de que Honor Among Thieves expandia todos os conceitos que o disco de estréia trazia, e efetivamente o superava. Das power ballads “Scream” e “Dandelion” (esta composta e cantada por Gary Cox) até canções que beiravam o hard rock como a faixa-título, “Keep Me Happy” e “Hey Boys”, passando por uma incendiária cover de “Keep A-Knockin’”, Honor Among Thieves era o retrato de uma banda em plena evolução de sua proposta musical.

Evolução esta que seria bruscamente interrompida no disco seguinte. Àquela altura a banda fazia desgastantes turnês, sem a contrapartida do sucesso comercial (embora tivesse alcançado uma pequena audiência, basicamente concentrada em Cleveland). A prolífica parceria entre Paliselli e Herrewig parecia pouco inspirada naquele momento e várias canções que Cox escreveu - sem a intenção de incluí-las no repertório do Artful Dodger – foram aproveitadas.

Além disso, a CBS começou a privilegiar as canções de Cox (inclusive encorajando-o a tentar uma carreira solo, sem o conhecimento dos demais membros), piorando ainda mais o clima dentro da banda. O resultado disso tudo – Babes on Broadway, lançado em 1977 – não chegava a ser ruim, mas não havia nele nem sombra da força e coesão dos dois discos anteriores. Poderia mesmo ter sido o fim (melancólico) da trajetória do Artful Dodger, que se viu sem gravadora, sem empresários para cuidar de sua carreira e sem Gary Cox, que decidiu deixar a banda.

Mas esse não era o fim da história. Depois de um hiato de três anos, o Artful Dodger se reagrupou para uma última tentativa, com o pianista/guitarrista Peter Bonta ocupando o posto deixado por Cox. Assinaram com a Ariola Records para em 1980 lançarem o disco de suas vidas. Do princípio ao fim, Rave On leva a um nível muito próximo da perfeição a fórmula da banda: ganchudas, irresistíveis canções pop, tocadas com o máximo de garra e intensidade. Mais do que um disco, soa como uma afirmação da convicção que a banda tinha de si própria e do som que fazia. Se os dois primeiros discos eram excelentes, Rave On é a obra-prima do Artful Dodger.

Uma vez mais, a ótima recepção do disco pela crítica contrastou com a indiferença do público, e a banda decidiu se separar. Mas esse ainda não é o fim da história – felizmente.

A história do Artful Dodger continua da mesma forma que a de várias outras bandas power pop da sua época: através do interesse das novas gerações. De 1991 para cá a banda fez vários shows de reunião em Cleveland. O selo Pendulum Entertainment Group (via Sony Music) relançou os dois primeiros discos em CD em 1997. Há um excelente site dedicado à banda (o link está nos comentários) de onde saiu a maior parte das informações contidas nessa biografia. Rave On foi incluído na lista Shake Some Action de John Borack. O reconhecimento veio, enfim. Nada mais justo para uma banda como o Artful Dodger. Para além de “apenas” uma das maiores bandas power pop de todos os tempos – uma excepcional banda de rock n’roll.