terça-feira, 5 de junho de 2007

Guia turístico em tempo integral, gênio pop nas horas vagas: Entrevista exclusiva com DAVID BROOKINGS!


Algumas músicas te tocam mais profundamente que outras. Algumas histórias te intrigam mais que outras. Mas quando temos a combinação de música envolvente com uma história cativante, extrapolam-se os parâmetros. David Brookings vive em Memphis, EUA, onde trabalha como guia turístico no Sun Studio – templo sagrado onde Elvis, Johnny Cash, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis e muitas outras lendas gravaram o rock na história da humanidade.

Lá mesmo Brookings gravou seus quatro álbuns e lá mesmo ele os vende para os visitantes. E é aí que a combinação explode: o guia é um artesão da canção pop perfeita, produz músicas altamente melódicas com harmonizações celestiais inspiradas pela atmosfera onde divindades do rock pisaram.

Pérolas escondidas, encravadas no coração de Memphis e que se revelam todas noites de quinta e sexta-feira no restaurante do aeroporto da cidade, onde Brookings toca para os viajantes – que provavelmente devem levar a beleza de suas canções pelo mundo dentro de suas memórias afetivas.

O guia em tempo integral e gênio pop nas horas vagas, sabe que um dia vai inverter essa lógica e aqui, nesta exclusiva, ele nos fala sobre seus trabalhos, suas ambições e como faz para vender seus álbuns para os visitantes do Sun Studio.


Power Pop Station: Meia-hora após conhecer sua música e história, eu já estava solicitando esta entrevista. Você tem noção da força da combinação dos seus dois trabalhos?

David Brookings: Trabalhar no Sun Studio é um sonho e uma honra. Ter gravado minha música sobre o mesmo chão onde todas essas lendas começaram suas carreiras é realmente algo a se orgulhar. Sou guia turístico, e sempre temos novos grupos de pessoas para falar sobre aquela sala de gravação, onde o rock and roll realmente nasceu. Meu chefe é muito bacana ao me deixar vender meus CDs ali, e isso é maravilhoso, porque eu conheço pessoas do mundo todo que vem visitar o estúdio.

PPS: Como você informa aos visitantes sobre os seus CDs? De certa forma deve ser inspirador para você todo esse clima mítico do Sun Studio, onde passaram alguns dos maiores nomes da história do rock...

Brookings: Ao final de cada tour, eu pergunto aos visitantes se eles estão interessados em NOVA música, então eu sugiro meu CD. Eu digo a eles que meus artistas favoritos são dos anos 50 e 60, e toco trechos do CD na pequena loja de discos onde temos um CD player. A atmosfera no estúdio, nas noites enquanto eu gravava os discos, transmitia uma boa sensação: a de saber que Orbinson e Cash e Elvis e Carl Perkins estiveram fazendo a mesma coisa sobre o mesmo chão. Realmente uma ótima sensação.

PPS: É impressionante a conectividade entre as pessoas nos dias de hoje. Li no site da Not Lame comentários sobre seus discos feitos por pessoas que os compraram quando visitaram os estúdios Sun. No seu My Space, pelo menos duas garotas disseram ter visto sua apresentação no restaurante do aeroporto de Memphis e, depois, te encontraram na grande rede. Qual seu sentimento em relação a isso?

Brookings: Aqueles comentários no site da Not Lame e My Space são ótimos de receber. A Not Lame tem me apoiado fortemente por todos esses anos e o My Space é provavelmente o melhor meio online já inventado para músicos. Isso permite às pessoas na Inglaterra ou China ou Brasil ouvir um cara de Memphis, é um grande meio para divulgar sua música. A garota do aeroporto se refere às noites de quintas e sextas-feiras onde eu toco no Sun Airport Café. Eles têm um sistema de PA e um pequeno palco. Estes são meus shows semanais.

PPS: Você acabou de lançar seu quarto álbum, Obsessed. Fale-nos sobre ele e as diferenças em relação aos álbuns anteriores.

Brookings:
A grande diferença em Obsessed e os três primeiros discos é que escrevi essas canções depois de ter casado e ter nossa bebê, McKinley. Então, é um álbum sobre crescimento, não envelhecimento, porque eu continuo bastante jovem (28). Mas, ter uma família, definitivamente me deu um monte de novas coisas para escrever a respeito, e ao mesmo tempo estou mais comprometido em fazer a carreira musical funcionar, porque eu agora eu tenho uma família para cuidar. Por isso chamei o disco de Obsessed (obcecado).

PPS: Suas canções são extremamente envolventes, com melodias memoráveis transmitindo uma sensação de bem-estar constante. Esse tipo de som tem espaço na indústria musical? Qual sua real intenção, fazer discos despretensiosamente ou chegar ao topo das paradas? Você tem alguma estratégia com relação ao mercado musical?

Brookings: Fico contente que você tenha essa sensação de bem-estar. Muitas canções no rádio são tão tristes ou depressivas e eu não sinto dessa forma. Sou muito otimista e esperançoso, então minhas músicas refletem esse sentimento. E acho que existe lugar para isso na indústria musical. As canções dos Beatles tinham este elemento, e também as dos Beach Boys, Elvis... Todos meus grupos favoritos fizeram assim. Minha estratégia é escrever quantas músicas for possível, gravar o quanto for possível, e fazer o suficiente para ser capaz de sustentar a família somente através da música, e também poder viajar, tocar pelo mundo todo.

PPS: Quais suas principais influências do passado e do presente?

Brookings: Minha maior influência são os Beatles. Tudo o que eles fizeram foi grande. Para mim são as melodias que fazem uma boa canção. Isto é envolvente? Eu consigo sair cantarolando depois de ouvir a canção? Se eu ouço uma música e consigo cantarolar 10 minutos depois, esta deve ser uma boa canção. É dessa forma que eu tento fazer minhas músicas. Minhas outras bandas favoritas incluem Rolling Stones, Bob Dylan, Beach Boys, Oasis, Weezer, Tom Petty (que eu conheci no Sun), Neil Young, U2. Eu gosto de muitas coisas, inclusive Eminem.

PPS: Que discos você está ouvindo atualmente?

Brookings: Alguns dos meus álbuns favoritos provavelmente são os mesmos das outras pessoas – Pet Sounds é formidável, eu gosto de Revolver e Rubber Soul. Gosto também do primeiro álbum do Keane, lançado alguns anos atrás, chamado Hopes and Fears. Você entende o que o cara diz quando ele canta e as melodias são ótimas.

PPS: Somando seus três primeiros álbuns, você vendeu 4.000 cópias. Qual sua expectativa de vendas para Obsessed?

Brookings: Vendas de Obsessed? Não tenho certeza quanto vou vender, eu vendi por volta de 400 cópias até agora, e um total de 4000 cópias da minha discografia durante 6 ou 7 anos. Eu continuo com meu próprio selo. Obsessed saiu somente em 7 de janeiro, mas eu já começo a trabalhar no novo álbum mês que vem e continuarei fazendo discos até alguém dizer “ponham esse cara para excursionar com uma banda”.

PPS: Aos 28 anos você tem quatro álbuns no currículo, esposa e uma filha. Quais seus planos para o futuro?

Brookings: Meus planos futuros são trabalhar no Sun até conseguir um contrato com uma gravadora. Eu gostaria de viajar mais. Fiz uma tour de duas semanas na Inglaterra, há alguns meses atrás, que foi muito divertida. Toquei em 10 cidades diferentes e estive com pessoas que conheci no Sun. Também quero continuar fazendo mais discos e mais composições. Vou à Califórnia fazer alguns shows em setembro. Acho que a única coisa a fazer é prosseguir e não desistir, então é o que eu tenho feito, apenas continuo tocando e compondo.

PPS: Mande uma mensagem aos brasileiros.

Brookings: Os brasileiros são ótimos, eu conheci vários no Sun, mas esta é minha primeira entrevista para o Brasil. Eu espero que vocês gostem das músicas, o site é http://www.davidbrookings.net/ E o Paolo é um bom homem, ele faz boas perguntas. Espero encontrar vocês e tocar aí algum dia, em breve.

www.myspace.com/davidbrookings

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