Olhando em retrospecto, e com a perspectiva histórica devidamente calibrada e estabilizada, não poderia parecer surpresa. Mas não se trata, somente, de atestar a relevância e força replicadora do pop sessentista através do tempo. Muito menos de colocarmos na mesa o fato de o passado – os legados, as experiências – estar ali, à distância de um clique no computador.
O que impressiona aqui é o encontro surpreendente no espaço-tempo que se dá de forma assombrosamente natural. O rio Mersey que sopra macio suas harmonias até as águas do rio Sergipe. As melodias californianas que brilham plenas nas areias brancas de Aracaju. E os meninos inquietos que querem soar doces e agradáveis, chegar perto do belo e celestial através de adoráveis canções.
A rebeldia juvenil de Arthur Matos, Lelo Soares, Marcel César, Ravy Bezerra e Rafael Eugênio, não é chocar com a distorção mais pesada, os gritos mais agudos ou a bateria mais nervosa. É se apresentar como uma banda sergipana e não tocar forró. É vir do nordeste e não se atolar em regionalismos de manguezal. É serem pós-adolescentes da era digital interessados em sonoridades clássicas e atemporais.
É por isso que quando a faixa título “Tempo” soou nas ondas da rádio Cultura FM, em uma noite chuvosa de Brasília, disse um ouvinte: “não sabia que bandas nacionais faziam esse tipo de som...”. E isso não foi como dizer “eu não sabia que o rio Sergipe era afluente do rio Mersey”. Foi muito mais como “eu nunca imaginei que a garota de Ipanema ouvia Beatles e Beach Boys...”.
Porque é disso que se trata o EP debute do quinteto de Aracaju: a confecção de canções de melodias doces e ao mesmo tempo emocionais; a lapidação de harmonias vocais intrincadas para adornar peças sonoras pop; e a expectativa única de levar ao ouvinte a sensação elevada de bem-estar. Se a herança sessentista de Beatles, Beach Boys, Byrds e Zombies imprime forte marca no trabalho autoral do Daysleepers, os ecos reprocessados e modernizados daquela época pelos Wondermints, Travis, Nelson Bragg e outros, também influenciaram a feitura de “Tempo’.
Dos céus verdes da capa do EP desce a cítara indiana que se condensa em violões na entrada da faixa título. Logo depois, órgãos são cobertos por harmonias vocais até os falsetes de Arthur no inspirado refrão – que remete aos mestres do pop psicodélico Olivia Tremor Control e Sunshine Fix. A contagiante “Na Sua Janela” mostra o capricho dos rapazes nas harmonizações de voz e a climática “Velha Estante” valoriza o encanto melódico do pop barroco aprendido com os fundamentais Zombies.
“Do Outro Lado” continua exibindo a riqueza harmônica do Daysleepers, em atmosferas de sonho que orgulhariam Brian Wilson. E a beleza profunda e reflexiva de “Cidades Coloridas”, que em meio aos descaminhos e a solidão encontra uma ponta de esperança disfarçada em “tchu-tchus” altamente pop. O ingênuo e sincero amor colegial aparece na singela “Aos Dez Anos”, exaltando o poder atemporal que uma canção pode ter.
Porque, no fim das contas, não interessa de onde ou quando vêm as mais bonitas canções, e sim o bem que elas podem te fazer. Que o álbum cheio dos meninos de Aracaju venha recheado delas, pois o mundo ainda não pode prescindir do valor curativo de uma simples canção pop.
Para baixar o EP:
http://www.ladonorte.net/netlabel/net-daysleepers.html
www.myspace.com/daysleepersbr
O que impressiona aqui é o encontro surpreendente no espaço-tempo que se dá de forma assombrosamente natural. O rio Mersey que sopra macio suas harmonias até as águas do rio Sergipe. As melodias californianas que brilham plenas nas areias brancas de Aracaju. E os meninos inquietos que querem soar doces e agradáveis, chegar perto do belo e celestial através de adoráveis canções.
A rebeldia juvenil de Arthur Matos, Lelo Soares, Marcel César, Ravy Bezerra e Rafael Eugênio, não é chocar com a distorção mais pesada, os gritos mais agudos ou a bateria mais nervosa. É se apresentar como uma banda sergipana e não tocar forró. É vir do nordeste e não se atolar em regionalismos de manguezal. É serem pós-adolescentes da era digital interessados em sonoridades clássicas e atemporais.
É por isso que quando a faixa título “Tempo” soou nas ondas da rádio Cultura FM, em uma noite chuvosa de Brasília, disse um ouvinte: “não sabia que bandas nacionais faziam esse tipo de som...”. E isso não foi como dizer “eu não sabia que o rio Sergipe era afluente do rio Mersey”. Foi muito mais como “eu nunca imaginei que a garota de Ipanema ouvia Beatles e Beach Boys...”.
Porque é disso que se trata o EP debute do quinteto de Aracaju: a confecção de canções de melodias doces e ao mesmo tempo emocionais; a lapidação de harmonias vocais intrincadas para adornar peças sonoras pop; e a expectativa única de levar ao ouvinte a sensação elevada de bem-estar. Se a herança sessentista de Beatles, Beach Boys, Byrds e Zombies imprime forte marca no trabalho autoral do Daysleepers, os ecos reprocessados e modernizados daquela época pelos Wondermints, Travis, Nelson Bragg e outros, também influenciaram a feitura de “Tempo’.
Dos céus verdes da capa do EP desce a cítara indiana que se condensa em violões na entrada da faixa título. Logo depois, órgãos são cobertos por harmonias vocais até os falsetes de Arthur no inspirado refrão – que remete aos mestres do pop psicodélico Olivia Tremor Control e Sunshine Fix. A contagiante “Na Sua Janela” mostra o capricho dos rapazes nas harmonizações de voz e a climática “Velha Estante” valoriza o encanto melódico do pop barroco aprendido com os fundamentais Zombies.
“Do Outro Lado” continua exibindo a riqueza harmônica do Daysleepers, em atmosferas de sonho que orgulhariam Brian Wilson. E a beleza profunda e reflexiva de “Cidades Coloridas”, que em meio aos descaminhos e a solidão encontra uma ponta de esperança disfarçada em “tchu-tchus” altamente pop. O ingênuo e sincero amor colegial aparece na singela “Aos Dez Anos”, exaltando o poder atemporal que uma canção pode ter.
Porque, no fim das contas, não interessa de onde ou quando vêm as mais bonitas canções, e sim o bem que elas podem te fazer. Que o álbum cheio dos meninos de Aracaju venha recheado delas, pois o mundo ainda não pode prescindir do valor curativo de uma simples canção pop.
Para baixar o EP:
http://www.ladonorte.net/netlabel/net-daysleepers.html
www.myspace.com/daysleepersbr
3 comentários:
Paolo, parabéns pelo post,gostei muito! Além de muito bem escrito,está repleto de elogios para uma banda maravilhosa.
Você conseguiu fazer a descriçaõ, para mim, perfeita sobre a banda:
'a confecção de canções de melodias doces e ao mesmo tempo emocionais; a lapidação de harmonias vocais intrincadas para adornar peças sonoras pop; e a expectativa única de levar ao ouvinte a sensação elevada de bem-estar.'.
E com certeza, Brian Wilson ficará muito feliz!
Espero que a Daysleepers consiga levar o nome do nosso grande Sergipe ao rio Mersey, pois eles tem esse potencial!
Enfim, recomendo a todos uma 'lida' nesse Blog e uma 'escutada' de coração aberto nesse EP encantador da Daysleepers!
Abraços.
Maravilha de resenha pra um disquinho também maravilhoso, que me tocou profundamente. Esses caras de Sergipe são bons demais!!!
cara, tem uma banda que se chama daysleepers.
Não viaja!
http://www.myspace.com/daysleepers
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