quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Power Pop: The Early Years - NAZZ! (Parte 1)

Por Daniel Arêas

Há um consenso em se afirmar que, apesar de ser um daqueles raros artistas que não têm qualquer receio em experimentar novas direções em suas carreiras, Todd Rundgren é figura de grande importância para o power pop. Álbuns clássicos como The Ballad Of Todd Rundgren e Something/Anything? são apenas algumas provas disso. O que nem todos sabem é que suas primeiras – e fundamentais - contribuições para o estilo haviam acontecido alguns anos antes, ainda na década de 60, como membro do quarteto americano Nazz.

Todd Rundgren (lead guitar) e Carson Van Osten (baixo) criaram o Nazz (que muitas vezes é equivocadamente chamado de The Nazz – o nome correto não possui o artigo definido) na Philadelphia em 1967 recrutando Thom Mooney para a bateria e Robert “Stewkey” Antoni para o vocal e teclados. A banda estreou nos palcos em julho daquele ano (abrindo para o The Doors) e alguns meses depois assinavam com John Kurland para este ser seu empresário. Só que logo ficou claro que as pretensões de Kurland para o Nazz eram bem diferentes das da própria banda.

Kurland optava por preservar a banda, evitando agendar shows crendo que com isso aumentaria o interesse e a curiosidade em torno dela. Ele também queria apresentar o Nazz como uma boy band pré-fabricada, direcionada para o público teen (a banda chegou a aparecer em algumas revistas da época, destinadas ao público adolescente). Foi divulgando essa imagem que Kurland conseguiu um contrato para a banda com a Screens Gems Columbia Records, que à época buscava um “novo Monkees”. Mas desde o início o Nazz demonstrou que tinha ambições muito diferentes das que lhe eram impostas.

Nazz, o primeiro disco, saiu em outubro de 1968, apoiado pelo single “Open My Eyes”/“Hello It’s Me”. Embora ambos fossem esplêndidos, tanto o álbum quanto o single não alcançaram sucesso comercial (“Hello It’s Me” anos depois seria regravada por Todd Rundgren e incluída em Something/Anything?, tornando-se um hit). Na verdade o single podia ser visto como uma síntese do disco. Se “Open My Eyes” expunha a faceta rocker, mais pesada da banda (junto com canções como “Back Of Your Mind”, “Wildwood Blues”, “When I Get My Plane”), “Hello It’s Me” - uma linda balada embelezada por cuidadosas harmonias vocais de três partes – era uma amostra do seu lado mais suave (a exemplo de canções como “See What You Can Be”, “Crowded” e “If That’s The Way You Feel”)

Fortemente calcado no brit-rock sessentista (as referências mais claras incluem The Who, The Beatles, The Move, Cream) mas com suas influências mescladas em canções de forte apelo pop, Nazz antecipava o power pop em alguns anos. É também o disco em que o talento e as habilidades de Todd Rundgren (como músico, compositor e produtor) começaram a aflorar. Das dez canções de Nazz, oito eram assinadas por ele, que fez ainda todos os arranjos e remixou o primeiro single da banda. Rundgren naturalmente assumia a condição de líder da banda; e isso em pouco tempo provocaria conflitos com os demais membros.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Fondness Makes The Heart Grow Distant": CHARIOTS OF TUNA!

Aqui continuamos nosso trabalho em desencavar os segredos e tesouros mais bem guardados da América. E não estamos falando em procurar nas altas montanhas de picos nevados ou desertos profundos onde só sobrevivem serpentes e bases aéreas secretas. Bandas também se escondem no centro mundo, mais precisamente no Brooklyn, Nova Iorque.

E é de lá que vem o Chariots Of Tuna. Há 10 anos Ben Morss trocou a capital da Califórnia, Sacramento, pela capital do mundo e resolveu trazer seu antigo grupo à vida novamente. Com a ajuda de Shawn Setaro, Rus Wimbish e Dan Davine, preparou este EP de três faixas, onde prevalece o clima de maciez indie pop. Algo entre Belle & Sebastian e Brian Wilson.

“War Hero” abre o EP com placidez acústica, delicados coros vocais e os acetinados falsetes de Morss. “Save Me Maryann” segue por paisagens oníricas e teclados sobrepondo texturas. A brianwilsoneana “Air” é levada por teclados vintage e a voz de Ben apenas cantando um coro, fazendo jus ao nome da faixa. Esperemos que, quando as novas canções do Chariots Of Tuna ganhem vida, não precisemos chamá-los mais de “segredo bem guardado do Brooklyn”.

www.myspace.com/chariotsoftuna

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Redemption # 39": MICHAEL CARPENTER!

Talento e paixão. Quando um sujeito tem a capacidade - e a benção divina – de unir as duas palavras e reverter o resultado a seu favor, não há quem segure. É o caso do australiano de Sidney Michael Carpenter. O cantor, compositor, multiinstrumentista, produtor, engenheiro de som, fez da música a sua vida e do pop a sua paixão. E Carpenter é do tipo que maneja com a mesma maestria as cordas da guitarra ou os botões de uma mesa de som; consegue surrar uma bateria com a potência inversamente proporcional a que aplica às doces harmonias vocais.

Não é de hoje que Michael Carpenter conhece os atalhos para se chegar à canção pop perfeita. Redemption # 39 é seu oitavo álbum solo – fora seus projetos com outras bandas e artistas – onde o músico escreveu todas as canções, tocou todos os instrumentos, gravou e produziu. Aqui o pop atemporal está a serviço da emoção, onde estórias de relacionamentos frustrados podem ser contadas em meio a belos acordes e climas reconfortantes.

A empolgante faixa de abertura “Can’t Go Back” tem aura de hit sessetista, mas ganha roupagem moderna na energia vital impressa por Carpenter. “Workin’ For A Livin’” é um country endiabrado com pegada blues, enquanto o piano guia a doce e bela “I’m Not Done With You” – pop perfeito para ondas do rádio, trilhas de filme ou seriados de TV. E piano, intervenções orquestrais e harmonizações vocais intricadas à la Jellyfish/ELO para a incrível “The King Of The Scene”.

Segue a balada “Don’t Let Me Down” e o cativante power pop “I Want Everything”; “Sinking” capricha nos falsetes do refrão e “‘Til The End Of Time” fecha o disco com sua base acústica e raiz norte-americana. Redemption # 39 reafirma Michael Carpenter como um dos grandes nomes do power pop atual, tanto dentro de um aquário de gravação como fora, controlando plugs, carrapetas e botões.

www.mcarp.com
www.myspace.com/michaelcarpenter

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

"How To Choose A Sweethart": PETER & THE PENGUINS!

Nem o mais arguto analista de cenários futuros, nem o mais charlatão futurologista do mercado poderiam prever. Muito menos as 350 bandas que ensaiavam em porões, tocavam em night clubs e participavam sem saber – em plena Liverpool de 1962 – da criação de um estilo que mudaria, definitivamente, os rumos do rock e do pop. Ninguém foi capaz de antever que, quase cinquenta anos depois, o merseybeat continuaria influenciando gerações. O beat sobrevivendo na era dos bits e bytes.

O rio Mersey nunca banhou a Noruega, mas a batida nascida em Liverpool continua contagiando os escandinavos. How To Choose A Sweeetheart é o primeiro álbum do quarteto da cidade de Moss e revela toda paixão de Eyvind Lindberg, Rune Johnsen, Stig Joraholmen e Fredrik Hagen pelas sonoridades sessentistas. A referência básica são as bandas da invasão britânica, mas as harmonias celestiais dos Beach Boys/Brian Wilson e o brilho inconfundível das Rickenbakers, imortalizado pelos Byrds, também contribuem para a feitura das jóias do Peter & The Penguins.

E a coleção de gemas se inicia com a belíssima “Barefoot”, com suas harmonizações vocais angelicais como prece de elevação. “Sweetheart” já abre com seu refrão incrivelmente colante e memorável, um monumental hit sessentista que, na verdade, nunca esteve lá. “The Walk” contagia no jogo esperto de vocais e decide a partida no refrão auto-adesivo. A energética beatleaneana, fase iê-iê-iê, “I Want You” emenda com a cruelmente divertida “There Goes Pete Best” – que diz ser o primeiro baterista dos Beatles “o bastardo mais azarado do mundo”.

A envolvente “She Took Me By Surprise” condensa Beatles, Beach Boys e Byrds em uma só e perfeita peça. Para o baile sixtie a adorável “If You Wanna Leave Me”. Já a faiscante “Here I Go Again” é cover dos Spongetones.“There’s No Living Here Without You” soa como um clássico eterno dos Beach Boys e “We Don’t Wanna Fall In Love”, levanta defunto com seu pop ultra-ganchudo. Enquanto “That Day Will Come” encanta power poppers com suas doces harmonias vocais e progressão de acordes viciantes.

A power-ballad “Give Me A Clue” encerra How To Choose A Sweetheart, provando que a força replicadora do sixtie pop transcende, pula de ano em ano, e vence o próprio tempo. E continua a avançar em terreno hostil de mundos virtuais e paisagens digitais – enquanto o juízo final das máquinas não vem.

www.myspace.com/peterthepenguins

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

"Midnight Matinee": BRASS BED!

Lafayette está encravada no coração da Louisiana francesa. Região onde surgiu a cajun music - tradicional estilo interiorano que utiliza acordeon, violino, banjo, bandolim e promove festas pra lá de animadas. A proximidade com o Texas absorveu elementos da country music vizinha, enriquecendo a experiência e tradição local. E em meio a esse cenário de raiz, três amigos resolveram trazer à tona suas experimentações sonoras.

Christiaan Mader, Jonny Campos e Peter DeHart juntaram suas referências sessentistas como Beatles e Brian Wilson; atuais como Flaming Lips, Wilco e o coletivo Elephant 6; com a herança da sua Louisiana natal. Harmonizaram tudo num caldeirão sônico, transformando-se numa verdadeira orquestra pop-psicodélica-country-espacial. O moderno e o tradicional, o atemporal e contemporâneo, realçando as diferenças ao mesmo tempo que se complementam

A bela “BBC Midnight Broadcast” abre o disco climatizada por pianos, pedal steel, acordeon, tubas e trumpetes. Já a energética “On The Road”, traz o kit tradicional de guitarra, bateria e baixo, com noises e metais adicionais aqui e acolá. A espacial “Intro To Tony” viaja em vibrafones e, “Olivia”, remete ao desleixo genial dos Flaming Lips. “So I Shrugged My Shoulders” vem com belas harmonias vocais e uma steel guitar chorosa com embalo à la Roy Orbinson.

A pequena e refinada instrumental “It Smarts” reflete o legado de Brian Wilson; e o piano voluntarioso de “James Fellows Jr.” cativa. A macia “Make Me Cry” é guiada por piano e bandolim, enquanto o experimento cósmico-noisy-psicodélcio “Killer Bees” encerra Midnight Matinee. Numa amostra concisa de que os garotos de Lafayette gostam de talhar a tradição musical com cortes angulosos, modernos e inusitados.

www.myspace.com/brassbed

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"Give Me A Look": MARK & THE SPIES!

Não precisamos recorrer a filmes de ficção científica, laboratórios especializados em nanotecnologia ou sessões de hipnose regressiva. Nada de micro-chips implantados no córtex cerebral ou plugs ligados direto na nuca. Memórias do que não vivemos podem ser conseguidas numa simples imersão nas sonoridades dos holandeses do Mark & The Spies. O beat-garage do power trio nos carrega, flutuando, para o reino dourado da música sessentista, com um disco lançado em pleno 2009.

Give Me A Look – segundo álbum de Arjan Spies, Mark Wesseloo e Gerrit Sholten – reproduz com fidelidade a aura dos anos sessenta, tanto na gravação/produção, como na utilização de instrumentos vintage. Uma viagem espetacular onde o transporte é alimentado pela energia juvenil e primária do garage e a paisagem pintada nas cores adoráveis do beat. E a primeira parada é a elétrica e contagiante “Gimme Your Love”, seguida por “Ain’t Got No Time” e seu órgão retrô espetando os grudentos “no,no,nos” e “hey, hey, heys”.

A levada de balada sixtie envolve “You Got It” enquanto a crueza garageira de “We Fell In Love” e “Mers To Keep” eletrizam o ar. O órgão vintage e a melodia memorável cativam na sensacional “Please Think It Over” e, o refrão emocional da canção título, sobe para respirar em meio à profusão de teclados. Possível hit sessentista, com guitarra marcada, intervenções de sax, refrão harmônico e colante: “Won’t Work On Me”. Riff adesivo, melodia pop assobiável e coros celestiais para mais um hit em potencial em “It Don’t Matter Yo You”.

A rocker e quebrada “I Want More” antecede o invocado merseybeat “It’s True (I Need You) e, “Give Me A Look (reprise)”, encerra o álbum do Mark & The Spies. Que não é só um disco, mas um bilhete de ida para o mundo encantado do sixtie pop; uma passagem sonora capaz de, no fim do passeio, nos deixar com saudades de lugares onde nunca estivemos.

www.markandthespies.nl
www.myspace.com/markandthespies

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"All Haunt's Sound": THE ALICE ROSE!

Você conseguiria ser sofisticado, sincero, lírico, direto, melancólico, reflexivo, animado e emotivo em apenas três minutos? Ser simples sem ser simplório ou ser complexo sem ser prolixo? O The Alice Rose consegue. Sem esforço e soando natural o quinteto de Austin, Texas, traz seu conjunto de gemas pop, trançadas com arranjos inteligentes e melodias adesivas. All Haunt’s Sound, segundo álbum dos americanos, se inspira em Beatles, mas com um corte Big Star; admira Squeeze, mas também pode se aproximar do Toad The Wet Sprocket.

A inspiração dos texanos respira forte o pop setentista, mas o carisma do vocalista, guitarrista e principal compositor JoDee Purkeypile dá alma e personalidade ao Alice Rose. Sua poesia dolorida e sincera soa verdade pura na emoção de sua doce voz. Sem perder a maciez e a aderência da verdadeira canção pop. Como na abertura “She Did Command”, de bateria quebrada, violões vívidos e teclados climatizando. A batida envolvente conduz a melodia auto-adesiva em “Waste Away” e, o clima acústico e reflexivo de “Agony Aunt”, é emoldurado com delicadeza pelos falsetes de Purkeypile.

“Maybe A Ride” mostra que o pop pode ter arranjos bem tramados e continuar simples e agradável. As cativantes e ganchudas “Slumbrella” e “It’s All Allowed” antecedem a leve e refrescante “Rags Of Autumn”. A balada orquestrada com jogos de cordas “I Know Your Ghost” e a bela “There’s No One In The Theme” mostram que o Alice Rose sabe adicionar com maestria a dose certa de refinamento ao seu pop. E que All Haunt’s Sound não precisa mais do que 38 minutos para provar que o pop poder ser eloqüente, relevante e emocional.

www.myspace.com/thealicerose