segunda-feira, 14 de maio de 2007

ENTREVISTA EXCLUSIVA: GREAT LAKES!


GREAT LAKES - THE GREAT LAKES / THE DISTANCE BETWEEN

Por Marina Nantes

Tenho sonhado com Great Lakes. Aperitivos sonoros cuidadosamente armazenados em meu subconsciente. Acordo e lembro-me de "A Little Touched". Faço o café. Se você colocar um pouco mais de açúcar, não faz mal. É sempre a medida certa paraum new-psychedelic saboroso... Antes de sair de casa, MP3 ligado em "Storming". Dois minutos para a aula começar, um momento para "Posters for the Theater". Ônibus lotado, assobiando "An Easy Life". Deixe a cabeça livre de preocupações. Chego em casa e meu estéreo me acolhe com "Now is When " em seus contornos suaves irradiando The Zombies... No dia seguinte, decidi demorar-me na cama; não levantaria para trabalhar. Mas o despertador não resistiu e soou. Eu, já pensava na canção que seria a trilha sonora de mais um dia de minha vida.


A Entrevista.

Chame-os de saudosistas, deslocados, antiquados, lunáticos fora de contexto. A trupe da Elephant Six abraça com coragem todos esses rótulos, ainda que reivindique, para sua arte, uma expressão admiravelmente inefável. E quem disse que os Great Lakes não se orgulham disso?


Power Pop Station: Grande prazer e honra entrevistá-los!

Dan Danahue: O prazer é todo nosso.

PPS: O que seus colegas do colegial escutavam e diziam enquanto você e Ben absorviam a atmosfera sessentista?

Dan: O que ouvíamos de psicodélico no colegial era Spacemen 3 e os primeiros discos do Flaming Lips. Mas minha primeira experiência realmente psicodélica foi assisitir Yellow Submarine quando era criança!

Ben Crum: Na verdade nós não estávamos completamente mergulhados em 60's music. Claro que tínhamos conhecimento mas ainda não amávamos Zombies, por exemplo. Eu ainda estava na fase de tirar as músicas do Bob Dylan na guitarra. Também curtíamos Galaxie 500 e Jesus and Mary Chain. Mas, pelo menos para mim, quando conheci bandas como Flaming Lips e Teenage Fanclub - bandas que reconheciam a influência de Beach Boys, Beatles, Big Star, entre outros - comecei a me interessar em olhar para trás e descobrir as 'oldies' que não estavam nas rádios. Como resultado, simplesmente gravitamos em torno de coisas 60's psicodélicas, pelo menos na época em que ainda morávamos em Athens e que ainda estávamos ligados com a Elephant 6.


PPS: Ouvir Great Lakes é como ouvir um concerto sinfônico! Pode nos dizer quais instrumentos vocês usaram nas gravações do álbum de estréia?

Ben: Um monte! Piano, órgão, uma porção de sintetizadores analógicos, guitarra, baixo, bateria, banjo, flauta, clarinete, trompete, tuba, guitarra slide, violino, violoncelo, um despertador que canta uma musiquinha em árabe, uma espátula (que soa como um theremin), uns tubos plásticos que faziam um barulho legal, pianos de criança, xilofones, gaita, acordeão, melodica, uma tonelada de instrumentos de percussão. Basicamente, tudo o que encontrávamos pelo caminho.


PPS: É possível levar essa estrutura e o conceito original da gravação para cima do palco, e reproduzir a proposta psicodelizante?

Ben: É possível sim. Tentamos há alguns anos, às vezes funcionava bem. Depende muito da acústica do lugar. Mas parece um pouco desleixado ter 9 ou 10 pessoas em cima de um palco, como já fizemos. Sinceramente, adoro psicodelia e grandes produções, mas não estou interessado em realizar um show de efeitos especiais. Prefiro simplesmente tocar bem e ver a reação do público, são essas sutilezas de se tocar junto que não se consegue com uma banda muito numerosa. É um espetáculo visual para o público, mas não compensa em termos musicais.


PPS: Acho "Storming" extremamente vigorosa! Às vezes a música tem esse poder de canalizar em poucos minutos toda a beleza do mundo. Qual o efeito que vocês esperam provocar em nós ouvintes?

Ben: Musicalmente, tentei levá-la para um território ambíguo. A própria dinâmica é indicativa de como melhor trabalhamos juntos. Quis que essa canção definisse o tom do álbum, entre outras coisas. “Storming” tem uma intro majestosa, quase pedindo pro ouvinte levar a música a sério. Depois vem um verso fervoroso encorpando o refrão. E o final vai se construindo devagar chegando num súbito crescendo psicodélico. Existe uma tensão percorrendo a canção, com um final redentor. Para obter esse efeito, gravei uma série de faixas com teclados nas quais acrescentei várias notas dissonantes, e no final estava quase pressionando 12 teclas, e oitavas, pianos, órgãos e sintetizadores! Uma técnica emprestada da música clássica. Também tem um toque de "A Day in The Life". Talvez o efeito possa ilustrar musicalmente a sexualidade da própria letra.

Dan: Pra mim não tem nada de sexy, Ben. Foi sobre como esquecer uma antiga paixão e aceitar o fato de que ela me trocou por outro cara. A música curou as feridas.


PPS: Em alguns momentos, vocês soam descaradamente Zombies. Foi um desafio graver "This Will Be Our Year" e as outras covers do The Distance Between? (em tempo: "Morning of my life" do Bee Gees e "Some of Shelley's Blues" de Michael Nesmith.) Os Great Lakes já conheceram alguns de seus ídolos?

Ben: Sim, um desafio e tanto! De todas as covers, estou mais orgulhoso pelo resultado de "This Will Be Our Year", e ironicamente, mais envergonhado por ela. Adoro a produção. As mixagens e gravações relembram uma gravação de um pequeno estúdio de 1968 ou algo de tipo. Mas odeio meu vocal. Queria ter lançado essa como instrumental, talvez assim vocês pudessem ouvir todos os barulhinhos cool que acontecem nessa faixa. Como uma faixa instrumental à la Pet Sounds.

Dan: Encontrei Lou Reed e simplesmente congelei. O que eu ia dizer pro cara?


PPS: A Elephant 6 inclui Great Lakes no chamado território E6 Costa Leste, ao lado de grandes nomes como Sunshine Fix, The Circulatory System e Elf Power. Realmente é uma benção ter todos esses artistas reunidos em um só lugar! Com quem costumam tocar? Existe uma filosofia subjacente a todas as bandas da Elephant 6, uma espécie de pacto comunitário?

Ben: Bem, não estamos mais no mesmo lugar. Moramos agora em Nova York. Mas foi bom enquanto durou. Valorizávamos a gravação caseira, assim como auto-expressão como pura arte. Mas diria que quase todos nós que estávamos associados com a E6 abandonamos muitas das idéias originais, pelo menos até certo ponto. As pessoas estão gravando em grandes estúdios agora, em vez de seus quartos.

Dan: Sinto falta deles todos, especialmente de Will Westbrook que faleceu recentemente. É difícil falar sobre isso agora.


PPS: Como está sendo a aceitação do terceiro e tão aguardado álbum, Diamond Times (lançado em 2006, seis anos depois do auge criativo da dupla Dan Donahue/Ben Crum no disco homônimo)? O All Music Guide classificou o disco como fruto de "uma banda classic rock", e não mais como resultado da imaginação confusa de uma banda pop em seu quarto bagunçado. Great Lakes se olha no espelho e percebe que a maturidade chegou ou não vê problema algum em soar eternamente rebelde?

Ben: Muitos críticos tentam compará-lo a Camper Van Beethoven, o que parece um tanto estranho pra mim. Não era nada disso o que estávamos pensando! Dan e eu nos olhamos no espelho, figurativamente e literalmente, e aceitamos que estamos amadurecendo. A música acaba refletindo isso. Num show recente no Brooklyn, uma fã que amava o primeiro álbum se aproximou depois do show e mencionou que antes
Great Lakes parecia a banda mais feliz do mundo, e agora as músicas novas estão bem tristes. Quando ela perguntou o que tinha acontecido, eu disse simplesmente que a vida tinha acontecido, só isso. Mas também podemos ser rebeldes e vivos agora, mais do que nunca. Somos um trio, eu nos vocais e guitarras, Kyle Forester no baixo e backing vocals e Kevin Shea na bateria. Esses caras podem ser um tanto rock n' roll e bombásticos às vezes!

Dan: É uma nova direção para a banda. Hoje em dia, só há espaço para fazer o que se gosta e esperar que as pessoas certas encontrem os discos. Aqueles que amam a música pela música, não os penteados, os barbas ou figurinos.


PPS: Sabemos que o Dan cuida das letras e da parte gráfica. Poderia descrever o processo musical-visual e sua interdependência?

Dan: A música é uma arte de contar estórias, transformar um sentimento em algo tangível. Foi sempre o que quis fazer da vida.


PPS: Em junho de 2006, o site da Elephant 6 idealizou um projeto para um lançamento de DVD compilando as bandas da gravadora, e incentivou fãs que tivessem gravações de shows e raridades a enviarem material. Acredito que em breve teremos um belíssimo resultado... O que acham da iniciativa? Você acredita que possa ser um documentário ao estilo de DIG! ? (Nota: Lançado em 2004, o longa-metragem vale a pena pelo tom realístico ao mostrar o conturbado relacionamento de duas bandas-irmãs, Dandy Warhols e Brian Jonestown Massacre).

Ben: Com quem eu entro em contato?!!! Tenho uma porção de coisas! Seria maravilhoso, sempre lembrarei dessa época como a melhor.


PPS: Quais os próximos passos do Great Lakes? Não se esqueça de incluir: "Turnê pelo Brasil" dessa vez!

Ben: Fazer alguns shows pela Europa, talvez nos EUA na primavera.

Dan: Minha promessa é escrever o máximo possível. O Brasil é meu sonho!!! Você pode nos levar?


PPS: Como vocês gostariam de serem lembrados pelas gerações futuras?

Ben: Como uma boa dupla de compositores, como artistas apaixonados e envolvidos e que buscaram fazer o que amam todos esses anos. Isso seria suficiente.


PPS: Aliás, vocês têm algum disco brasileiro?

Dan: Jorge Ben!!!! Os Mutantes!!! Veloso!!!

Ben: Amei todos os discos da Tropicália que ouvi, mas não sei bem o que se passa aí nesse momento. Mas também não sei muito o que se passa em Nova York, e eu moro aqui!

Dan: Obrigado pelo interesse, precisamos da ajuda de todos vocês!


Para ouvir e saber mais:

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