Se houve uma banda no mundo capaz de livrar o power pop do seu complexo de underground e alcançar o topo das paradas mundiais, essa banda foi o Greenberry Woods. Nunca o estilo teve um representante tão apto às rádios, ao cinema, às séries de TV, à cultura jovem, sem soar brega ou comercial – apenas jogando com a capacidade da conexão emocional de uma boa melodia pop. Mas, depois de lançar seu segundo disco, em 1995, e obra mestra, Big Money Item, a banda desmoronou pela própria incapacidade de sobrepor as aspirações coletivas às individuais. Acabou alimentando crendices como a “maldição do power pop”, já que, aliado ao forte potencial pop, tinha apelo visual e uma grande gravadora por trás e, mesmo assim, sucumbiu (argumentações que agora provam-se definitivamente falíveis, já que melodias pop podem não ser populares e majors que não apóiam, atrapalham).
Das cinzas do Greenberry (ou na verdade antes delas, como descobriremos na entrevista) os gêmeos Matt Huseman (guitarra e vocais) e Brandt Huseman (bateria e vocais) deram vida definitiva, em 1996, ao Splitsville, adicionando à formação o técnico de guitarra Paul Krysiac (baixo e vocais) e, cinco anos depois, o guitarrista Tony Waddy. Mesmo soando menos pop e mais power que o Greenberry, a banda de Baltimore manteve a habilidade em compor canções de melodias envolventes e refrãos ganchudos. E por mais irônico e contraditório que possa parecer, o Splitsville, no mundo real, chega mais próximo aos desejos da juventude moderna em termos musicais - ao forjar seu som com um sotaque punk, menos polido, mais ferino e incisivo - que o antigo grupo dos Huseman.
Com exceção da homenagem ao pop sessentista cristalizada no álbum The Complete Pet Soul de 2001, considerado o ponto alto artístico do Splitsville. Ali o quarteto produziu magistralmente uma sonoridade híbrida entre os clássicos eternos Pet Sounds e Rubber Soul, reproduzindo o clima inventivo e emotivo sem apresentar-se como um pastiche.
Em 11 anos de carreira, a banda americana gravou cinco álbuns cheios e duas coletâneas “com o melhor de”, sendo que a segunda Let’s Go! The Best Of Splitsville acaba de sair nos Estados Unidos e Austrália. Power Pop Station conversou, com exclusividade, com Paul Krysiac, Matt e Brandt Huseman, que contaram os motivos para o fim do Greenberry Woods, opinaram sobre o “fracasso comercial” do power pop, falaram a respeito do processo de criação e gravação da obra-prima The Complete Pet Soul e de seus planos futuros.
Power Pop Station: Que tipo de música a família Huseman ouvia em casa? Quando Matt e Brandt começaram a mostrar suas habilidades musicais?
Brandt Huseman: Me lembro que quando criança eu ouvia muito os musicais da Broadway. O primeiro disco de 45’ que eu comprei foi Sgt. Pepper e Matt comprou um single dos Beach Boys. Nós éramos grandes fãs de Beatles na infância, e meus pais trouxeram as versões inglesas dos discos quando viajaram para a Grã-Bretanha. Também éramos muito fãs do Police. Mais tarde, na adolescência, Matt começou a ouvir Elvis Costello, enquanto eu descobria The Replacements e Hüsker Dü.
PPS: O Greenberry Woods foi uma das maiores bandas de power pop dos últimos 15 anos. O álbum Big Money Item parece até um “the best of”... vocês assinaram com uma grande gravadora (Sire/Warner) e tinham um grande potencial para alcançar o topo das paradas. Mas banda se separou. O que houve?
Brandt: Esta é uma longa e complexa história, e, resumidamente, nós não éramos prioridade para a gravadora e a banda não tinha ainda uma sólida base para ir em frente. É difícil manter uma banda junta com três compositores e sem um líder efetivo – se conseguíssemos ser melhores conjuntamente do que individualmente e acreditado naquilo que estávamos fazendo, provavelmente teríamos superado a falta de comprometimento da Sire/Warner e seguido em frente.
PPS: Fale-nos sobre o processo de transição entre o Greenberry Woods e o Splitsville.
Brandt: Isso é muito simples: um dia, enquanto esperávamos a decisão da Sire sobre onde iríamos fazer o segundo álbum do Greenberry Woods, eu disse ao Matt que poderíamos começar uma nova banda somente para nos divertir. E assim fizemos.
Paul Krysiak: Nós escrevemos todo o primeiro álbum do Splitsville em três ou quatro tacadas. Com Brandt mudando do baixo para a bateria e eu indo da guitarra para o baixo... íamos gravando antes de saber como tocar as canções.
PPS: Quais suas principais influências e referências? E quais novas bandas vocês recomendam?
Brandt: Quando o Splitsville começou éramos unidos pelo amor ao Guided By Voices. Todos nós gostamos de diferentes tipos de música, mas temos muito em comum. Paul nos mostrou o novo álbum do Midlake, do qual gostamos muito. Eu tenho ouvido jazz clássico, então não posso recomendar muitas bandas novas.
Paul: Eu acho que o Who e o Jam também tiveram grande influência sobre nós, especialmente seus primeiros álbuns.
Algumas novas bandas têm tocado bastante na minha casa, como The Decemberists e Arcade Fire – ambos artistas ambiciosos. E tem uma grande banda power pop de Los Angeles chamada The World Record.
PPS: Por que um gênero como o power pop (cheio de ganchos, melodias colantes, harmonias aeradas e guitarras rascantes) não alcança o “sucesso comercial”?
Paul: Por alguma razão, as pessoas parecem sentir que não podem levar o estilo a sério.
Brandt: Provavelmente não é (o power pop) “afiado” o suficiente para a maior parte das pessoas. Na verdade eu também não estou certo do que este rótulo significa...
PPS: Como funciona seu processo de composição?
Brandt: Cada canção é diferente. Escrevemos músicas juntos e separadamente. Algumas nós compomos no estúdio e algumas nós mapeamos cada parte de antemão.
PPS: Na minha opinião o álbum de The Complete Pet Soul é sua obra-prima. Conte-nos sobre o processo de gravação, as músicas, as histórias...
Matt Huseman: Originalmente gravamos as canções “Overture”, “Sunshiny Daydream”, “Caroline Knows” e “The Love Songs Of B. Douglas Wilson” no Invisible Sound Studio, usando o tempo livre da gravação de um anúncio para um jornal local. Ali não houve nada programado, nós só queríamos nos sentir tentando algo diferente. Acho que foi Brandt quem sugeriu a idéia de fazermos um som como os Beach Boys e os Beatles faziam na metade dos anos sessenta, mas não me lembro de nenhuma intenção verdadeira em lançar as músicas. Nosso selo na época gostou muito do trabalho e mandou prensar cópias para serem distribuídas gratuitamente no festival Poptopia, em Los Angeles. Nós chamamos o EP de Pet Soul, como um amálgama de Rubber Soul e Pet Sounds.
Como o disco foi muito bem recebido, nós decidimos suceder Repeater com uma versão longa do EP. Terminamos gravando as faixas restantes no estúdio de Andy Bopp. Ele trabalha rápido e nós queríamos que as gravações tivessem um sentimento de espontaneidade.
Eu peguei canções que já havia escrito e aplicamos à elas uma produção pop dos anos 60. Acredito que Paul e Brandt compuseram especificamente para o álbum.
Paul: Sim, eu acho que Brandt e eu tentamos escrever nosso material especificamente, com o som de Pet Sounds e Rubber Soul em mente. Eu apenas me perguntava como eu comporia se estivesse tentando colocar uma canção em um disco dos Herman's Hermits ou do Association. No caso de “You Ought To Know” tentei imaginar que era uma canção saída das sessões de gravação de Revolver.
PPS: Incorporated, seu último álbum de inéditas (lançado em 2003), alterna gemas pop com canções realmente rascantes. Como a crítica e fãs nos Estados Unidos receberam o álbum?
Matt: Foi bem recebido tanto pela crítica como pelos fãs, mas nós confundimos a todos lançando como sucessor de nossa homenagem retrô aos sixties (The Complete Pet Soul) um álbum que estava mais para o sucessor natural de Repeater.
PPS: Agora vocês estão promovendo seu novo lançamento, a coletânea Let’s Go! The Best Of Splitsville. Fale-nos sobre o disco e onde pretendem levar a turnê. Planos para um álbum de inéditas?
Brandt: Nós estamos sacudidos com a idéia de gravar um álbum com novas canções. Não queremos dar uma data, temos medo de comprometimentos.
Não temos planos para uma turnê americana, mas temos esperança de visitar a Austrália, e possivelmente o Japão, no começo do ano que vem. A coletânea é sólida e uma ótima maneira de se conhecer a banda.
PPS: Uma mensagem para os fãs brasileiros:
Splitsville: Obrigado por ouvir nosso trabalho!!!
http://www.splitsville.com/
www.myspace.com/splitsville
Das cinzas do Greenberry (ou na verdade antes delas, como descobriremos na entrevista) os gêmeos Matt Huseman (guitarra e vocais) e Brandt Huseman (bateria e vocais) deram vida definitiva, em 1996, ao Splitsville, adicionando à formação o técnico de guitarra Paul Krysiac (baixo e vocais) e, cinco anos depois, o guitarrista Tony Waddy. Mesmo soando menos pop e mais power que o Greenberry, a banda de Baltimore manteve a habilidade em compor canções de melodias envolventes e refrãos ganchudos. E por mais irônico e contraditório que possa parecer, o Splitsville, no mundo real, chega mais próximo aos desejos da juventude moderna em termos musicais - ao forjar seu som com um sotaque punk, menos polido, mais ferino e incisivo - que o antigo grupo dos Huseman.
Com exceção da homenagem ao pop sessentista cristalizada no álbum The Complete Pet Soul de 2001, considerado o ponto alto artístico do Splitsville. Ali o quarteto produziu magistralmente uma sonoridade híbrida entre os clássicos eternos Pet Sounds e Rubber Soul, reproduzindo o clima inventivo e emotivo sem apresentar-se como um pastiche.
Em 11 anos de carreira, a banda americana gravou cinco álbuns cheios e duas coletâneas “com o melhor de”, sendo que a segunda Let’s Go! The Best Of Splitsville acaba de sair nos Estados Unidos e Austrália. Power Pop Station conversou, com exclusividade, com Paul Krysiac, Matt e Brandt Huseman, que contaram os motivos para o fim do Greenberry Woods, opinaram sobre o “fracasso comercial” do power pop, falaram a respeito do processo de criação e gravação da obra-prima The Complete Pet Soul e de seus planos futuros.
Power Pop Station: Que tipo de música a família Huseman ouvia em casa? Quando Matt e Brandt começaram a mostrar suas habilidades musicais?
Brandt Huseman: Me lembro que quando criança eu ouvia muito os musicais da Broadway. O primeiro disco de 45’ que eu comprei foi Sgt. Pepper e Matt comprou um single dos Beach Boys. Nós éramos grandes fãs de Beatles na infância, e meus pais trouxeram as versões inglesas dos discos quando viajaram para a Grã-Bretanha. Também éramos muito fãs do Police. Mais tarde, na adolescência, Matt começou a ouvir Elvis Costello, enquanto eu descobria The Replacements e Hüsker Dü.
PPS: O Greenberry Woods foi uma das maiores bandas de power pop dos últimos 15 anos. O álbum Big Money Item parece até um “the best of”... vocês assinaram com uma grande gravadora (Sire/Warner) e tinham um grande potencial para alcançar o topo das paradas. Mas banda se separou. O que houve?
Brandt: Esta é uma longa e complexa história, e, resumidamente, nós não éramos prioridade para a gravadora e a banda não tinha ainda uma sólida base para ir em frente. É difícil manter uma banda junta com três compositores e sem um líder efetivo – se conseguíssemos ser melhores conjuntamente do que individualmente e acreditado naquilo que estávamos fazendo, provavelmente teríamos superado a falta de comprometimento da Sire/Warner e seguido em frente.
PPS: Fale-nos sobre o processo de transição entre o Greenberry Woods e o Splitsville.
Brandt: Isso é muito simples: um dia, enquanto esperávamos a decisão da Sire sobre onde iríamos fazer o segundo álbum do Greenberry Woods, eu disse ao Matt que poderíamos começar uma nova banda somente para nos divertir. E assim fizemos.
Paul Krysiak: Nós escrevemos todo o primeiro álbum do Splitsville em três ou quatro tacadas. Com Brandt mudando do baixo para a bateria e eu indo da guitarra para o baixo... íamos gravando antes de saber como tocar as canções.
PPS: Quais suas principais influências e referências? E quais novas bandas vocês recomendam?
Brandt: Quando o Splitsville começou éramos unidos pelo amor ao Guided By Voices. Todos nós gostamos de diferentes tipos de música, mas temos muito em comum. Paul nos mostrou o novo álbum do Midlake, do qual gostamos muito. Eu tenho ouvido jazz clássico, então não posso recomendar muitas bandas novas.
Paul: Eu acho que o Who e o Jam também tiveram grande influência sobre nós, especialmente seus primeiros álbuns.
Algumas novas bandas têm tocado bastante na minha casa, como The Decemberists e Arcade Fire – ambos artistas ambiciosos. E tem uma grande banda power pop de Los Angeles chamada The World Record.
PPS: Por que um gênero como o power pop (cheio de ganchos, melodias colantes, harmonias aeradas e guitarras rascantes) não alcança o “sucesso comercial”?
Paul: Por alguma razão, as pessoas parecem sentir que não podem levar o estilo a sério.
Brandt: Provavelmente não é (o power pop) “afiado” o suficiente para a maior parte das pessoas. Na verdade eu também não estou certo do que este rótulo significa...
PPS: Como funciona seu processo de composição?
Brandt: Cada canção é diferente. Escrevemos músicas juntos e separadamente. Algumas nós compomos no estúdio e algumas nós mapeamos cada parte de antemão.
PPS: Na minha opinião o álbum de The Complete Pet Soul é sua obra-prima. Conte-nos sobre o processo de gravação, as músicas, as histórias...
Matt Huseman: Originalmente gravamos as canções “Overture”, “Sunshiny Daydream”, “Caroline Knows” e “The Love Songs Of B. Douglas Wilson” no Invisible Sound Studio, usando o tempo livre da gravação de um anúncio para um jornal local. Ali não houve nada programado, nós só queríamos nos sentir tentando algo diferente. Acho que foi Brandt quem sugeriu a idéia de fazermos um som como os Beach Boys e os Beatles faziam na metade dos anos sessenta, mas não me lembro de nenhuma intenção verdadeira em lançar as músicas. Nosso selo na época gostou muito do trabalho e mandou prensar cópias para serem distribuídas gratuitamente no festival Poptopia, em Los Angeles. Nós chamamos o EP de Pet Soul, como um amálgama de Rubber Soul e Pet Sounds.
Como o disco foi muito bem recebido, nós decidimos suceder Repeater com uma versão longa do EP. Terminamos gravando as faixas restantes no estúdio de Andy Bopp. Ele trabalha rápido e nós queríamos que as gravações tivessem um sentimento de espontaneidade.
Eu peguei canções que já havia escrito e aplicamos à elas uma produção pop dos anos 60. Acredito que Paul e Brandt compuseram especificamente para o álbum.
Paul: Sim, eu acho que Brandt e eu tentamos escrever nosso material especificamente, com o som de Pet Sounds e Rubber Soul em mente. Eu apenas me perguntava como eu comporia se estivesse tentando colocar uma canção em um disco dos Herman's Hermits ou do Association. No caso de “You Ought To Know” tentei imaginar que era uma canção saída das sessões de gravação de Revolver.
PPS: Incorporated, seu último álbum de inéditas (lançado em 2003), alterna gemas pop com canções realmente rascantes. Como a crítica e fãs nos Estados Unidos receberam o álbum?
Matt: Foi bem recebido tanto pela crítica como pelos fãs, mas nós confundimos a todos lançando como sucessor de nossa homenagem retrô aos sixties (The Complete Pet Soul) um álbum que estava mais para o sucessor natural de Repeater.
PPS: Agora vocês estão promovendo seu novo lançamento, a coletânea Let’s Go! The Best Of Splitsville. Fale-nos sobre o disco e onde pretendem levar a turnê. Planos para um álbum de inéditas?
Brandt: Nós estamos sacudidos com a idéia de gravar um álbum com novas canções. Não queremos dar uma data, temos medo de comprometimentos.
Não temos planos para uma turnê americana, mas temos esperança de visitar a Austrália, e possivelmente o Japão, no começo do ano que vem. A coletânea é sólida e uma ótima maneira de se conhecer a banda.
PPS: Uma mensagem para os fãs brasileiros:
Splitsville: Obrigado por ouvir nosso trabalho!!!
http://www.splitsville.com/
www.myspace.com/splitsville
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