domingo, 4 de maio de 2008

"2007": STARFISH100!

Talvez o grande objetivo de uma banda da chamada era “tecno-científica” não é ser conhecida pela melhor técnica – músico que toca melhor. Nem pelo sucesso comercial – grupo que vende mais. É provável que em um cenário inundado por grupos sem rosto, ser reconhecido por características particulares, assuma o papel de ‘alvo’ das novas bandas. Assim traduzo: passou o tempo de ouvir Starfish100 porque “lembra Oasis” ou porque “eles beberam na fonte dos Beatles”. Quando você ouve 2007 pela segunda vez, está querendo ouvir Starfish100.

Grupo paulista que chega ao terceiro disco em uma decisiva fase de transição, de letras em inglês para o português; do brit pop clássico para o guitar pop amplo. E foi também essa troca de língua que trouxe uma singularidade ao Starfish: seu vocalista-guitarrista Demys Schneider é alemão, o que acaba dando um toque original às canções com seu sotaque peculiar. E dá até um certo prazer ver a lógica da língua imperialista subvertida... Completam o quarteto Angelo Bijelli (guitarra/vocal), Néo (baixo) e André Semeone (bateria).

Abrindo o disco “Por Mais Que” já mostra um Demys dominando os fonemas do português para encaixá-los com perfeição na lógica do pop gringo, mas, claro, no final ele não se agüenta e solta umas frases em bom inglês – tão bom que eu quase pensei que era Pixies... Confissões amorosas em tom reflexivo, mas entrecortadas por guitarras flamejantes e batida invocada nos requebros. A recepção de ‘uh-uh-uh-uhs’ de “Não Volta Mais” é um bom prenúncio para belos acordes, melodia clássica e distorção no talo. Em “Geração”, guitarras plugadas e desplugadas fazem a tabelinha entrosada até o refrão colante de alto potencial radiofônico “essa é a minha geração/essa é a nossa canção/eu digo olá pra todo mundo” – mas aqui cantada por Bijelli.

Nesse ponto a consistência sônica em 2007 está clara: a potência das guitarras não deixa o traquejo melódico se perder; a massa sonora é harmônica e contundente – o pop pode não ser tão inofensivo quanto pode parecer. “Memórias” ameniza a pegada, traz um piano/teclado emoldurando a melodia grandiosa e refrão perfeito: agora você simplesmente quer mais Starfish100. Cristalino é o sotaque de Demys na semi-acústica “Boas Estórias”, que entremeia algo de pop brasileiro – a primeira parte parece estruturada para o português - com britânico. A levada psicodélica passeia livre em “Nenhum Lugar” sobre bases pesadas de rock setentista que podem lembrar algumas bandas lisérgicas gaúchas – e onde Bijelli assume novamente os vocais principais.

“Problemas” sobrepõe os violões com forte riff de guitarra que remete à fase fuzz do Teenage Fanclub. Só não canto junto no refrão porque, pela primeira vez, não entendo o português de Demys. Depois seguem-se faixas em inglês retiradas de seus dois primeiros álbuns, Starfish100 e Defaced: “Far Away” – o grande clássico do Starfish100 (e uma mescla perfeita de Stone Roses+Teenage Fanclub+Oasis), “Fish Tatoo”, “Untrue” e “Slow Motion”. Que servem para se perceber o quanto o Starfish100 permanece sólido na sua bagagem musical, como seu domínio sobre o pop de guitarras evoluiu e como, nesse contexto, um sotaque alemão pode fazer toda a diferença.

www.starfish100.com.br
www.myspace.com/starfish100

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